Eu era a principal analista financeira da emissora, minhas previsões eram lendárias. Mas uma manhã, meu marido, Augusto, e sua amante estagiária, Bia, armaram uma sabotagem ao vivo que pulverizou minha carreira. Fui forçada a uma licença, apenas para ser chamada de volta para preparar Bia - a mulher que estava me substituindo. Naquela noite, uma mensagem anônima chegou. Era um arquivo de áudio de anos atrás: a voz em pânico de Bia confessando um atropelamento e fuga, e a voz calma de Augusto prometendo encobrir tudo. A vítima era minha mãe. O acidente que a deixou aleijada não foi um acidente. Meu marido, o homem que me consolou, protegeu a agressora dela o tempo todo. Ele achou que tinha me quebrado. Mas enquanto eu ouvia suas mentiras, eu soube que minha antiga vida tinha acabado. Peguei o telefone e liguei para meu antigo mentor. "Elísio", eu disse, minha voz tremendo de ódio. "Estou pronta para processar. Vou tirar tudo deles."
Eu era a principal analista financeira da emissora, minhas previsões eram lendárias. Mas uma manhã, meu marido, Augusto, e sua amante estagiária, Bia, armaram uma sabotagem ao vivo que pulverizou minha carreira.
Fui forçada a uma licença, apenas para ser chamada de volta para preparar Bia - a mulher que estava me substituindo.
Naquela noite, uma mensagem anônima chegou. Era um arquivo de áudio de anos atrás: a voz em pânico de Bia confessando um atropelamento e fuga, e a voz calma de Augusto prometendo encobrir tudo.
A vítima era minha mãe. O acidente que a deixou aleijada não foi um acidente. Meu marido, o homem que me consolou, protegeu a agressora dela o tempo todo.
Ele achou que tinha me quebrado. Mas enquanto eu ouvia suas mentiras, eu soube que minha antiga vida tinha acabado. Peguei o telefone e liguei para meu antigo mentor.
"Elísio", eu disse, minha voz tremendo de ódio. "Estou pronta para processar. Vou tirar tudo deles."
Capítulo 1
Ponto de Vista de Clara:
Meu mundo sempre girou no eixo dos números, das previsões e dos cálculos precisos. Por dez anos, eu fui o oráculo infalível das finanças na emissora, minhas projeções raramente erravam o alvo. Mas esta manhã, ao vivo, minha reputação não foi apenas estilhaçada; ela foi pulverizada. O mercado, uma fera que eu pensei ter domado, rugiu de volta com uma vingança, rasgando cada previsão que eu fiz, cada pedaço de análise cuidadosamente construída.
As linhas vermelhas nos gráficos da bolsa sangravam pela tela, um contraste violento com o azul frio e confiante que eu geralmente apresentava. Minha voz, normalmente firme, falhou. Minhas mãos, treinadas para acalmar, tremeram levemente enquanto eu apontava para os números em queda livre. Não foi apenas um dia ruim; foi um dia impossível. Parecia que as próprias leis da economia haviam sido reescritas da noite para o dia, só para me afrontar. Quando a transmissão terminou, o rosto de pedra do diretor foi toda a crítica que eu precisei. Meu quadro foi um desastre. Um desastre público, humilhante e absoluto.
Os cochichos começaram antes mesmo de eu chegar ao meu camarim. Eram como veneno, corroendo as bordas da minha compostura. "Você viu aquilo? Clara Oliveira, errou feio." "Ela era tão boa. O que aconteceu?" "A esposa de Augusto Carvalho, né? Talvez ela esteja perdendo o jeito, vivendo na mordomia." A implicação não dita pairava pesada no ar: meu casamento com Augusto, o tubarão dos fundos de hedge da Faria Lima, me deixou acomodada, incompetente. A ironia tinha um gosto amargo na minha boca.
Mais tarde naquele dia, o e-mail oficial chegou na minha caixa de entrada: uma licença obrigatória. "Para o bem-estar da emissora e para permitir que você se recupere", dizia. Recuperar de quê? Da sabotagem habilmente orquestrada da minha carreira? Eu sabia quem estava por trás disso. Eu sempre soube. Augusto. Ele gostava dessas pequenas demonstrações de poder. Ele adorava me ver contorcer, para depois aparecer com um presente luxuoso, um pedido de desculpas vazio, me fazendo sentir em dívida, controlada.
Eu o encontrei em seu escritório em casa, banhado pelo brilho frio de múltiplos monitores exibindo dados enigmáticos do mercado. Ele não desviou o olhar da tela quando entrei, mas o canto de sua boca se contraiu, um sorriso sutil que revirou meu estômago.
"Precisamos conversar", eu disse, minha voz plana, desprovida de emoção.
Ele finalmente olhou para mim, seus olhos, da cor de gelo glacial, desprovidos de calor. "Sobre o quê, Clara? Seu probleminha ao vivo? Não se preocupe, querida, eu vou dar um jeito. Um carro novo? Uma viagem a Paris? O que você quiser." Ele se recostou, cruzando os braços, um retrato de arrogância insuportável.
"Sobre o divórcio", eu esclareci, cada palavra uma pedra caindo em um poço silencioso.
Seu sorriso desapareceu. Sua mandíbula se contraiu, um músculo saltando em sua bochecha. Ele riu, um latido curto e agudo que não continha humor. "Divórcio? Não seja ridícula. Você está chateada, eu entendo. Seu orgulho está ferido. Mas você vai superar, você sempre supera."
Meus olhos encontraram os dele, inabaláveis. "Não. Desta vez não. Cansei, Augusto. Eu quero o divórcio."
O ar na sala engrossou, de repente pesado. O zumbido dos computadores pareceu se amplificar, preenchendo o silêncio. A casa geralmente movimentada do lado de fora da porta do escritório ficou estranhamente quieta, como se até os funcionários prendessem a respiração, sentindo a mudança na atmosfera.
Augusto se levantou devagar, deliberadamente, sua altura de repente opressiva. Ele caminhou em minha direção, seu olhar penetrante. "Você acha que pode simplesmente ir embora?", ele perguntou, sua voz baixa, perigosa. "Depois de tudo? Depois que eu salvei sua reputação quando o acidente da sua mãe quase te destruiu? Quando aquele atropelamento te deixou tão transtornada que você quase jogou sua carreira fora? Eu estava lá, Clara. Eu limpei a bagunça. Não se esqueça disso."
Suas palavras me atingiram como um golpe físico. Minha respiração engasgou. A memória era uma ferida antiga, enterrada fundo, mas que inflamava instantaneamente. Foi anos atrás, mas a dor era tão fresca quanto ontem. Aquela noite caótica... Minha mãe, vibrante e cheia de vida, reduzida a uma sombra frágil. A injustiça daquilo, as perguntas sem resposta, a forma como meu mundo desmoronou. Augusto esteve lá, sim. Ele foi a mão forte e firme, aquele que navegou pelo labirinto legal, aquele que me ajudou a organizar os cuidados de longo prazo da minha mãe. Ele me fez sentir em dívida, para sempre em dívida por sua suposta bondade. Agora, ele empunhava essa dívida como uma arma.
Lembrei-me dos primeiros dias da minha carreira na emissora, antes de me tornar um nome conhecido. Augusto, então apenas um ambicioso gestor de fundos com influência crescente, me apresentou à sua estagiária estrela em ascensão, Bia Vilela. Ela era jovem, recém-saída da faculdade, ansiosa. Eu vi o jeito que ele olhava para ela, a admiração mal disfarçada. Aquilo me incomodou, mesmo naquela época. Ele começou a cobrir Bia de oportunidades, empurrando-a para os holofotes, muitas vezes às minhas custas. Um incidente em particular ainda queimava. Eu deveria moderar um debate econômico de alto perfil. Augusto, de surpresa, anunciou que Bia seria co-moderadora comigo, posicionada diretamente ao lado dele. Ele deixou claro, com um beijo público na bochecha dela e um aceno displicente para mim, que ela era sua nova favorita.
Naquela noite, consumida por uma raiva que raramente me permitia sentir, dirigi para casa rápido demais, imprudentemente demais. Bati com o punho no painel do carro, de novo e de novo, até meus nós dos dedos sangrarem. Foi um ato de rebelião estúpido e fútil. Na manhã seguinte, acordei com a mão latejando e uma dor de cabeça lancinante, a culpa da minha raiva descontrolada um peso pesado. Mais tarde naquele dia, minha mãe, tentando me consolar pela humilhação pública, teve uma tontura por causa do estresse e caiu da escada de nossa antiga casa de família, quebrando o quadril e agravando uma condição neurológica existente. Augusto, sempre o salvador, me culpou. "Seu melodrama, Clara. Sempre acaba machucando as pessoas ao seu redor." Ele me fez sentir como se minha raiva, minha dor, fosse uma força tóxica.
Ele ainda estava falando, sua voz um rosnado baixo. "Você acha que pode simplesmente ir embora? Depois de todos os sacrifícios que eu fiz? As oportunidades que eu te dei? A riqueza que você desfruta?" Ele gesticulou ao redor do escritório opulento, como se fosse uma gaiola dourada que ele pessoalmente construiu para mim. "Você quer jogar tudo fora por um ego ferido? Por algumas más previsões de ações?" Ele se esticou para sua mesa, pegou uma caixa de veludo pesada. Ele a abriu. Dentro, um colar de diamantes, brilhando sob as luzes embutidas. "Aqui. Uma oferta de paz. Esqueça o divórcio. Vamos esquecer que esta manhã aconteceu."
Meu olhar permaneceu fixo no colar. Era ofuscantemente lindo, impossivelmente caro. Um suborno. Uma coleira. Arranquei a caixa da mão dele, o veludo quente contra minha palma. Então, com uma torção súbita e violenta do meu pulso, eu a arremessei através da sala. Ela bateu na parede com um baque surdo, os diamantes se espalhando como lágrimas congeladas pelo chão de mármore polido.
Augusto olhou para as joias espalhadas, depois virou lentamente a cabeça para mim, seu rosto uma máscara de pura fúria. "Sua VADIA!", ele rugiu, sua voz abalando as próprias fundações da sala. Ele avançou, fechando a distância entre nós em duas passadas furiosas. Sua mão disparou, agarrando meu queixo, seus dedos cravando dolorosamente. "PUTA ingrata e mimada! Você sabe o que eu posso fazer com você? Eu posso te destruir, Clara. Não apenas sua carreira. Sua vida inteira." Ele torceu meu rosto bruscamente, forçando minha cabeça para trás. Eu arquejei, a dor um branco agudo e ofuscante.
"Não se atreva a esquecer quem você é", ele cuspiu, seu hálito quente contra meu rosto. "Você é Clara Oliveira-Carvalho. E se você me deixar, você não será nada. Menos que nada. Eu vou me certificar disso." Ele me soltou com um empurrão, e eu tropecei para trás, meu queixo doendo, um hematoma já se formando. Senti o gosto de sangue na minha boca.
Naquele exato momento, o celular dele vibrou, um toque suave que cortou o silêncio carregado. Ele olhou para a tela, e toda a sua postura mudou. A fúria derreteu, substituída por uma expressão suave, quase terna. Ele limpou a garganta, passou a mão por seu cabelo perfeitamente penteado. "Bia?", ele murmurou no telefone, sua voz de repente suave, encantadora. Uma transformação completa. "Sim, querida. Só terminando aqui. Chego aí em vinte minutos." Ele desligou, me deu um último olhar frio, e então saiu, me deixando sozinha no silêncio estilhaçado, os diamantes espalhados um testemunho zombeteiro da minha vida estilhaçada.
Meu queixo latejava. Meu coração martelava contra minhas costelas. Mas sob a dor, um novo sentimento estava se enraizando: uma resolução gélida. Ele achava que podia me quebrar. Ele achava que podia me controlar. Mas ele tinha acabado de me dar minha liberdade. Meus dedos procuraram meu próprio telefone. Meu polegar pairou sobre um contato. Elísio Mendes. Meu antigo parceiro. Meu mentor. O homem que me fez prometer, cinco anos atrás, que se eu quisesse sair, ele estaria lá.
"Elísio", sussurrei no receptor, minha voz crua, quebrada, mas firme. "É a Clara. Preciso de você. Estou pronta."
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