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Lara Sinclair
A marcha nupcial ecoa pelo espaço sagrado, e o som dos primeiros acordes estremece as paredes centenárias da igreja. O lugar é imponente, erguido em pedra clara, com vitrais altos, arranjos de rosas brancas e lírios que perfumam o ar com sua pureza delicada.
O perfume doce das flores parece se misturar com o peso que aperta meu peito…e mesmo com tanta beleza ao meu redor, tudo dentro de mim parece prestes a desmoronar.
Cada passo ao lado do meu pai parece segurar o tempo pela garganta. Ele segura meu braço com uma doçura que tenta esconder o que o corrói por dentro. A mão dele treme, não de emoção, mas de algo que o está vencendo.
Sempre fomos nós dois.
E hoje… ele me entrega porque já não pode me proteger por muito mais tempo…
Marlon Shert me espera no altar, imponente, impecável e inalcançável.
O melhor amigo do meu pai, o único homem em quem ele confia a minha vida.
O homem que me viu crescer. Nunca me olhou como mulher, e não olha agora.
O meu primeiro e único amor.
Meu pai para diante dele. A voz falha, pesada como despedida:
— Marlon… cuide da minha menina. Você sabe por quê. Só você pode protegê-la.
Minhas pernas vacilam. Quando ele solta minha mão, sinto como se arrancassem uma parte de mim. Marlon a segura em seguida, firme. A frieza de quem cumpre um dever e não um desejo.
Digo “SIM” com a alma tremendo.
Ele diz “SIM” com o coração blindado.
E quando o juiz declara que agora somos marido e mulher…
Marlon beija minha testa.
Uma carícia paternal.
Um gesto público de... rejeição? Humilhação?
Eu passei a vida inteira esperando que ele me visse… e hoje, ele olha para mim como se eu fosse uma obrigação.
O sorriso que eu mostro para as câmeras é só fachada.
Um aperto no peito, seguido por um arrepio que não vem do frio, é a minha intuição avisando, baixinho, que tem alguma coisa errada chegando…
Tento sorrir, parecer feliz. Mas por dentro, a sensação de vazio me esmaga. Fotos. Brindes. Cumprimentos. Apenas aparências.
E então começa a valsa.
Marlon coloca a mão em minha cintura e me guia pelo salão como se conduzisse uma peça rara, com respeito e ternura.
Ainda assim, por um segundo, permito-me acreditar. Fingir que existe algo ali, mesmo vendo nitidamente a tormenta nos seus olhos azuis.
Mas então vejo ela.
Uma mulher parada ao fundo.
Olhar afiado.
Uma presença tão intensa que atravessa o salão e corta minha pele.
Ela não me encara.
Ela o encara.
Marlon.
E o ódio que sai dos olhos dela é tão puro que chega a me gelar.
Os convidados logo se juntam a nós na pista, depois, lanço o buquê… mas aquela mulher não sai da minha mente.
Após todas as formalidades, finalmente chega a hora de fugir. Marlon segura a minha mão com firmeza e diz em tom baixo:
— Está na hora, precisamos sair daqui.
O caminho até a mansão é tenso. Ele dirige como se fugisse de si mesmo.
Quando o carro para, diante da mansão Shert, iluminada por refletores e rodeada por jardins perfeitos, sinto aquele arrepio percorrer meu corpo mais uma vez.
Essa será minha nova casa. A casa de um homem que acha que me conhece...
Ele abre a porta para mim e entra à frente, a postura ereta, quase militar. Eu o sigo, meu coração bate tão alto que tenho certeza de que ecoa nas paredes.
E ele nem olha para trás ao dizer:
— Esse é o seu quarto. O meu é ao lado.
Meu riso é incrédulo.
— Na noite de núpcias?
Ele engole seco.
— É melhor assim. Evita... confusões.
Mas quando peço ajuda com o vestido, ele congela. Vejo sua luta interna. Sua hesitação. Sua vergonha. Ele abre o zíper devagar, como se o toque queimasse. E talvez queime mesmo, em nós dois.
Assim que termina, foge. Literalmente.
Sozinha, escolho uma roupa confortável, retoco a maquiagem, solto os cabelos e desço.
A noite está silenciosa, a luz da piscina tremula na água, e Marlon está lá, segurando um uísque como se fosse escudo.
— Aceito uma dose — digo, quebrando a distância.
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