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Capítulo

Amy Levine é uma colunista social que fará de tudo em nome da matéria perfeita - até mesmo saltar para o parapeito da sacada do prédio onde mora para espionar seu vizinho bonitão e suas atividades amorosas. Conhecido pelo grande público por manter um relacionamento tumultuado com sua família multimilionária, seu vizinho figura no topo da M.I, a lista exclusiva da mídia das pessoas Menos Interessantes. Entretanto, Amy está convencida de que escrever uma matéria a seu respeito fará com que o exigente editor do The Grand Journal perceba que ela é a pessoa ideal para cobrir a sessão investigativa. John Smith nunca tivera problemas com seus vizinhos até o dia em que o apartamento em frente ao seu foi ocupado por uma atraente jornalista e seu cachorro irritante. Discreto e reservado, John tenta levar uma vida simples como investigador da polícia. Apenas não contava com a audácia de sua vizinha em publicar uma matéria tendenciosa - e mentirosa - a seu respeito. Quando Amy finalmente tem a chance de trabalhar como repórter investigativa, em uma colaboração direta com a polícia, ela e John terão de deixar as trocas de farpas de lado e ignorar a irresistível atração que sentem um pelo outro.

Capítulo 1 A Vida e a Morte da Mosca Viajante

— Quero a matéria do contrabandista chinês na primeira página! Agora mesmo! — berrou o Sr. Larry, acrescentando: — Vamos! O que está esperando? Bando de estagiários incompetentes! Qualquer dia tenho um ataque por causa deles!

O Sr. Larry era uma dessas pessoas que não gostavam de cometer erros e, como tal, esperava o mesmo comportamento de seus subordinados. Era editor-chefe de uns dos mais conceituados jornais do país, o The Grand Journal. Sua dedicação ao trabalho era tamanha que continuou a escrever furiosamente em seu relatório antes mesmo do garoto com quem gritara sair apavorado da sala.

Amy Levine não sabia ao certo como deveria interromper seu chefe. Entrara minutos antes em sua sala — paredes revestidas por antiquados painéis de madeira, grande janela aos fundos — e quando iam começar a discutir o assunto que a trouxera até ali, foram interrompidos por Carl, o novo estagiário da redação.

O editor-chefe do The Grand Journal era um homenzarrão de formas incrivelmente largas. Idade: casa dos cinquenta - se a pessoa fosse muito generosa. Aparência: hostil com cabelos e olhos pretos e um bigode tão imponente que teria feito Hercule Poirot se contorcer de inveja.

Por um momento, Amy ficou indecisa sobre o que fazer. A julgar a maneira como seu chefe, tão gentilmente, gritara com Carl - tinha certeza de que o pobre estagiário saíra da sala com os olhos marejados -, seu humor encontrava-se no nível mais perigoso do que ela e seus colegas de trabalho se referiam como a "Escala Larry de Socialização Segura". Após um instante de consideração, em que pesou meticulosamente os prós e os contras, resolveu arriscar.

— Sr. Larry — Amy chamou, receosa com a reação que o grande homem à sua frente teria.

Sem resposta.

Amy clareou a garganta e tentou mais uma vez. O que diziam sobre estar no inferno e abraçar o diabo?

— Sr. Larry?

O grande homem à sua frente, debruçado sobre um monitor de tubo tão velho e ultrapassado quanto sua tia-avó Meredith, apertava as teclas do teclado com tal entusiasmo que Amy teve a impressão de que os objetos em sua mesa saltavam a cada golpe furioso de seus dedos compridos e encorpados.

Por fim, o Sr. Larry ergueu os olhos com uma expressão azeda no rosto. Provavelmente, não havia tomado sua dose matinal de Mountain Dew.

Amy varreu os olhos rapidamente por sua mesa e, para sua completa infelicidade, não encontrou nenhuma latinha do refrigerante. Pensou ter avistado algo que lembrava uma embalagem de metal, mas era apenas o telefone fixo vermelho do Sr. Larry. Maldisse a si mesma em pensamento. Teria sido uma excelente manobra trazer uma lata de Mountain Dew. Era a única coisa capaz de abrandar o péssimo ânimo de seu editor-chefe.

— Ah, você. — O Sr. Larry declarou com desdém antes de recomeçar sua ladainha: — Estagiários incompetentes! Carl é o pior de todos. Sem nenhum tino jornalístico, é o que digo! - Deu um grande soco na mesa, o que fez com que vários itens de escritório voassem para o chão. Amy teve que se desviar para não ser atingida por um cortador de papéis com cabo emborrachado. Ou talvez fosse couro. Difícil dizer. — Não veio até a minha sala para falar sobre os estagiários, Levine.

A última frase de seu editor soou como uma crítica. Amy decidiu não se intimidar.

— Está certo, Sr. Larry. — Curvou o corpo cautelosamente em direção à mesa. Seus pés tocaram o chão pela primeira desde que se sentara na cadeira. Uma desvantagem que atribuía a sua baixa estatura.

— O que há agora? — grunhiu o Sr. Larry ao retirar os óculos de armações finas para pousá-los sobre o teclado do computador. Amy reparou que havia uma grande depressão no lugar em que seu chefe batera com a mão, tão habitual era o gesto.

— Gostaria de saber quando poderei cobrir as matérias policiais. — Ao notar o franzir de sobrancelhas, nada agradáveis, Amy acrescentou depressa: — Não interprete a questão de forma equivocada. Gosto muito — grande ênfase na palavra — de colaborar com a coluna social. Mas pensei que seria interessante partir para... voos mais altos.

— Voos mais altos?

O nível de desdém do Sr. Larry acabara de atingir um novo limite. Contudo, não estava disposta a abandonar a batalha.

— Eu poderia começar com a sessão de roubos - sugeriu com um sorriso atraente que Judy sempre dizia acabar com qualquer argumentação. — O que acha?

O Sr. Larry nada disse, apenas a fitou como se ela se tratasse de um rasgo impertinente em seu sapato preferido.

— A sessão de tráfico, talvez? — tentou Amy, ampliando o sorriso. O que provavelmente a deixara com cara de psicopata a julgar a expressão cautelosa que surgiu no rosto de seu editor. — A sessão de desaparecidos?

— Já conversamos a respeito, Levine — o Sr. Larry respondeu em um tom desagradável. — E não me olhe com essa cara de indignação! Muito em breve darei a você a oportunidade de cobrir locais de assassinatos com muito sangue e pessoas baleadas e esfaqueadas como deseja, mas, por enquanto, continuará escrevendo a coluna social.

Amy saiu irritada da sala de seu editor, contendo a vontade de bater a porta como se fosse a protagonista de uma novela mexicana muito ruim - ou estupidamente muito boa, a depender da pessoa que fizesse a avaliação.

Esta era a quarta vez que conversava com o Sr. Larry a respeito de cobrir as matérias policiais e obtinha a mesma resposta. Já não sentia a mesma satisfação de quando começara escrever a coluna social há três anos. O que importava ao mundo se o melhor jogador de baseball da temporada havia trocado de carro? Ou se aquela modelo horrorosa, que todo mundo achava linda, resolvera mudar a cor dos cabelos?

Queria contar ao mundo histórias densas, com conteúdo. Algo que tocasse o coração das pessoas. Ser uma jornalista investigativa seria como alcançar o topo de sua curta carreira. Um sonho que há muito desejava transformar em realidade. Costumava devorar romances policiais desde que se conhecia por gente. E, por mais mórbido que pudesse ser, gostava da ideia de seguir a polícia a fim de checar um assassinato ou outra barbárie qualquer. Talvez devesse ter feito aquele curso de detetive particular, afinal. Com certeza estaria se divertindo com flagrantes amorosos de relacionamentos infiéis e não definhando em uma morte lenta e entediante por escrever fofocas em um jornal.

Sentou-se de cara amarrada na frente de seu computador, o que não deixou de ser reparado por Judy Bryce, sua amiga e colega de trabalho.

— Não conseguiu dobrar o velho Larry, acertei?

— Sim — respondeu enquanto passava rapidamente os olhos sobre as anotações que fizera em um papel timbrado a respeito de sua próxima matéria sobre o reencontro do elenco de Friends. — Por que eu não poderia ser uma repórter investigativa? Escrevi uma excelente matéria quando cobri a ausência de Raymond. Aposto como o editor-chefe do The Chronicles ficaria honrado se eu me apresentasse para uma entrevista de trabalho.

A amiga riu.

— Certamente ficaria, mas conhecemos o tipo de pessoa que trabalha naquele jornal, não é mesmo?

Judy deu uma pequena piscadela para Amy, fazendo com recordasse sua antagonista da faculdade, Christine Jeffrey, que a atormentara desde a primeira vez em que a vira.

— Não desanime, Amy. O velho Larry sabe o que faz. Em um belo dia você chegará à redação, tomando seu café expresso, e irá descobrir que foi promovida. — Amy a encarou com descrença. — O que acha de se juntar a mim e ao Richy? Iremos ao cinema e depois jantar naquele restaurante mexicano onde servem tequila em doses absurdamente grandes.

Ao ouvir a menção a tequila, Amy realmente se sentiu tentada. Entretanto, deixaria o convite para outro momento. Adorava a companhia de Judy e Richy, mas os dois eram um casal. Não era exatamente divertido.

— Não, obrigada — recusou a oferta. — Ficarei mais um tempo. Quero terminar a matéria sobre aquela socialite que investiu dinheiro em um SPA para cachorro.

Amy revirou suas anotações, procurando a que queria. Organização não era o seu forte.

— Quer que eu espere para lhe dar uma carona até em casa? — Judy perguntou, apesar de estar com a bolsa pendurada no ombro esquerdo, prestes a deixar a redação.

— Onde eu coloquei? — Amy levantou um livro intitulado "A Vida e a Morte da Mosca Viajante", mas não havia nenhuma anotação ali que se parecesse remotamente com uma referência a uma milionária excêntrica. Ergueu um post-it cor rosa-choque, estreitando os olhos. Resmungou ao perceber que não era o que procurava. Seu olhar encontrou o de Judy que a observava com paciência e um traço de riso nos olhos verdes, destacados com uma quantidade exagerada de rímel. — Agradeço a oferta, mas irei pegar o metrô hoje. Preciso passar no supermercado e... Ará! Aqui está você.

Amy encontrou a anotação embaixo de uma pilha de press release.

— Nos vemos amanhã. — Judy abotoou o casaco e se afastou da mesa.

— Amanhã não — Amy replicou com um sorriso luminoso. — Tenho o fim de semana de folga.

— Levine! — O grito do Sr. Larry reverberou na sala de redação vazia, fazendo com que Amy se sobressaltasse. — Sua mãe ao telefone. Quantas vezes precisarei dizer que este número é o da minha sala e não o seu?

Amy revirou os olhos enquanto se debruçava sobre a mesa para atender a chamada.

— Desculpe Sr. Larry. Eu a avisarei novamente.

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