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As lágrimas em meus olhos me cegam por completo e a estrada parece um nevoeiro sem fim, apesar de estar uma noite quente e limpa. Escuto buzinas desesperadas e quando tenho um mínimo de visão possível, faróis altos se direcionam de frente pra mim e tudo acontece em questão de segundos. A batida é inevitável. Fecho meus olhos e apenas sinto a dor e meu corpo ser lançado para todos os lados. O carro roda e então para.
Sinto o ar faltar do meu peito e a dor consumir até minha alma. O grito que antes estava entalado em minha garganta explode junto com o choro. Seguro firme o cinto que me mantém preso ao banco encarando o chão, já que o carro parou de ponta cabeça. Escuto vozes ao redor do carro, mas nada que consiga entender.
- Você está bem?
Olho para a janela ao meu lado e um senhor me surge apavorado. Solto um gemido alto de dor, buscando fôlego para falar.
- Dói...
Sussurro gemendo.
- Qual o seu nome?
O senhor pergunta olhando para dentro do carro. Talvez tentando achar algo para me soltar.
- Vitor!
- Vou tentar te soltar, Vitor.
Passa pelo espaço da janela e tenta não me tocar, para achar a ponta do cinto. Grito de dor quando ele toca meu peito e meu braço.
- Desculpa!
Se afasta muito rápido e bate de novo em meu braço, me arrancando outro grito.
- Seu braço está fraturado.
Fecho meus olhos, tentando controlar a dor que só aumenta. A adrenalina da batida está deixando meu corpo e isso significa que a dor vai ser dilacerante, dependendo do quanto estou ferido.
- Vou precisar de ajuda.
- Não... Não me deixe!
Digo com medo e abro meus olhos. O senhor tenta me tranquilizar pelo olhar.
- Sou Jorge! Prometo que não vou te deixar. Vou ver se já chamaram o resgate e se alguém pode me ajudar a te soltar.
- Não podem me soltar antes do resgate chegar. Eles precisam estar aqui caso precise de socorro imediato saindo do carro.
Ele olha em volta do carro, vendo se alguém está por perto. Provavelmente estão fugindo de qualquer problema que eu possa dar. Ninguém quer ser responsável pela minha morte. O que eles não sabem é que morri no dia em que Elisa me deixou. Escuto alguém falar com o senhor.
- Minha mulher ligou para o resgate. Não devem demorar pra chegar.
Seguro meu cinto com mais força, sentindo frio. Muito frio eu diria. Meus dentes se chocam e os tremores vão aumentando.
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