"Observei seu rosto, o tesão refletido ali me enchia o ego. Beijando acima da renda da calcinha, fiquei arrepiada, e não tirou, só jogou para o lado.
A plateia vibrava quando sentei na frente de um garoto engomadinho,
com um ar debochado, que era campeão invicto de xadrez nos últimos dez
anos. Quando cheguei à última rodada, meus colegas disseram para desistir
porque ele vencia todo mundo.
Ninguém tinha uma mente tão controlada quanto a de Aquiles
Megalos, um grego intercambista que assustava a maioria dos nossos colegas
com seu humor um tanto irritado.
Ele me desafiou com o olhar antes de sinalizar para trazer nossas
garrafas de água. Era a final. Eu ou ele. Disputa acirrada. Nós dois
vencemos a temporada inteira e com isso, aquela batalha tinha um gosto
diferente.
Terminei minha garrafa e olhei para o meu irmão caçula, sentado na
primeira fileira, segurando sua mochila com os fones do walkman
pendurados no pescoço. Nate ergueu os dedos cruzados, torcendo por mim.
Não havia ninguém além dele torcendo de verdade pela minha vitória.
Aquiles iniciou a partida e por um tempo, ele se vangloriou dos seus
feitos, fazendo floreios, agindo rápido para me confundir e desestabilizar.
Meu pai, antes de ir embora, me disse que o mundo iria me tirar do eixo se
eu permitisse.
Ele segurou meu queixo e falou para não chorar, ter a mente forte,
pensar antes de agir e analisar a verdade por trás das ações das pessoas.
"Elas são o que tem dentro do coração. Descubra o que tem lá e irá
vencê-las".
Eu era o que tinha dentro de mim? Desejo de vencer, era certo.
Focado, ignorando a existência dos outros alunos, professores e até mesmo
do próprio Aquiles. Me entreguei ao jogo, dando o máximo do meu cérebro
para analisar seus movimentos e me deixei levar.
Era como se outra pessoa estivesse movendo meus braços e dedos,
porque me sentia fora do corpo. Por um instante, eu estava diante da minha
mente, ouvindo suas palavras cruéis sobre não ser inteligente o suficiente
para vencê-la.
Se eu o vencesse, ninguém ficaria na minha frente.
Aquiles parou quando, surpreendentemente, lhe dei um xeque-mate.
- Seu rei não pode mais se mover - falei com calma. Os professores
estavam agitados, olhando e Aquiles me encarou, assentindo.
- Você venceu, Arthur Baxter.
- Nós chegamos até aqui, então... acho que nós vencemos. - Peguei
o troféu e coloquei entre nós. - Podemos ser amigos.
- É claro. - Ele sorriu e olhou para a torcida. - Eu vou te vencer
de novo.
Dei de ombros.
- Você pode tentar.
Capítulo 1 | Arthur.
Nova Iorque era o meu lar. Eu amava a cidade, mesmo quando decidi
que deveria construir minha vida longe de tudo que minha família tinha aqui.
Morei na Califórnia por muitos anos, até que, inevitavelmente, fui atraído
como uma mariposa para assumir uma sociedade lucrativa em um escritório
de advocacia.
Seguindo a contramão dos meus antepassados, que eram formados em
Economia, Administração de Negócios e coisas relacionadas, mergulhei no
Direito como se a minha vida dependesse disso.
Queria algo diferente de todos os filhos mais velhos da família Baxter.
Queria ser mais que o herdeiro dos Fitzgerald. Eu tinha a junção de dois
sobrenomes muito poderosos. Amava ser um advogado figurão com um
honorário caro e que recebia quando os clientes simplesmente respiravam ao
meu redor. Por quase dez anos, essa foi a minha carreira: mil dólares a hora,
mais taxas e alguns extras, dependendo do caso em minhas mãos.
Me orgulhava de todos os meus apelidos, até mesmo de filha da puta
miserável, estripador de divórcios e o importante: tio mais legal do mundo,
do único caso familiar que peguei, do meu amigo de longa data, Stuart
Hedrer[1].
No entanto, a vida nunca é do jeito que planejamos: com minha mãe
doente, meu irmão na puta que pariu atrás de um rabo de saia da sua ex-
mulher e a empresa necessitando de atenção, larguei minha carreira para ser
o que todos os filhos mais velhos da minha família foram: um fodido CEO.
Uma das minhas amigas mais próximas (e ex-namorada dos tempos
remotos da faculdade) soltou uma gargalhada quando lhe contei. Ela disse
que minha vida se encaixava perfeitamente em um romance que a Amazon
vendia. Pensando nela, caminhou na minha direção junto com sua esposa.
- Olá, Sr. Fitzgerald. - Brianna abriu um sorriso. - Você não disse
que ia parar de beber? - Ela ajeitou minha gravata e passou a mão em meu
cabelo.
Nina, sua esposa, olhou para minha roupa. Ela era minha personal
stylist.
- Não escolhi essa calça para esse tipo de evento, mas está bom.
- Vocês duas me matam - resmunguei, virando meu copo.
- Vamos buscar uma bebida e procurar a nossa mesa. Sente-se
conosco. - Nina continuou. Ela sabia que eu estava atrás das pilastras por
um motivo e segurava a risada.
- Saiam daqui. - Bufei. Elas não aguentaram e caíram na
gargalhada, o que chamou ainda mais atenção de quem estava ao redor.
Percebendo que algumas cabeças viraram, dei um passo para a escuridão.
- Vamos encontrar nossa mesa, não demore. - Bri sorriu e foi
embora. Nina ainda me olhou, em um misto de preocupação e zombaria, mas
seguiu adiante.
Eu tinha que tomar coragem e sair daquele lugar. A realidade era que
não queria enfrentar o pesadelo que andava de saltos altos pela festa.
- Por que está se escondendo aí? - Juliet Blackburn[2], esposa do
meu mais recente amigo e anfitriã da noite, me encontrou. Era uma mulher
linda, de tirar o fôlego e os quadros com fotografias espalhados pelo salão
eram de sua autoria. - Fugindo de alguém? - Arqueou a sobrancelha com
diversão. Lhe dei um olhar irritado e ela riu. - Sinto muito, os convites já
tinham sido enviados quando tudo aconteceu. Me ofereça seu braço que nós
atravessaremos o salão sem nenhum problema. Ela tem medo de mim desde
que "sem querer" - fez sinal de aspas com os dedos - enviou uma foto
sensual para o Romeo.
- Se vocês sabem que ela é assim, por que diabos a convidaram?
- Ela faz boas doações. Não é minha amiga e se eu soubesse, teria
avisado que estava caindo em uma cilada. - Soltou uma risada.
Ofereci meu braço e Juliet pegou. Caminhamos sem pressa pelo salão
até o outro lado, onde Brianna e Nina conversavam com um grupo de amigos
em comum. Romeo se juntou a nós, tentando não rir, mas falhando ao
perceber meu nível de estresse.
Meu problema no momento se chamava: Meghan Winslet. Uma
mulher linda, de corpo estonteante e que sabia como deixar um homem como
eu maluco de tesão. Não nego que gostei muito da nossa noite.
O problema? Ela se recusava a permitir que fosse uma única noite.
Entendi que como éramos adultos, a coisa toda foi consensual e acabou ali,
no meio da madrugada, quando fui embora para minha casa e a deixei no
hotel. Na manhã seguinte, acordei dentro de um pesadelo que sempre evitei:
minhas fotos seminu em todo lugar.
Meghan tirou diversas fotos e postou na internet. Quando neguei seus
avanços e explodi com meus advogados para cima dela, o inferno começou
de verdade.
A mulher estava me perseguindo com sua fúria. Só queria que me
deixasse de lado. Tive diversas namoradas ao longo da vida, casos, sexo
casual e nunca tive problemas. Não sou perfeito, provavelmente fui um
escroto com mais de uma, quebrei corações e tive o meu quebrado, mas
nunca fui mentiroso. Nunca prometi nada que não pudesse dar.
Nunca fui exposto e estava no interesse da mídia graças a uma mulher
que eu mal conhecia. Esse era o problema de não manter o pau dentro das
calças, foi o que minha mãe disse e ela tinha a porra da razão. Sempre fui
cuidadoso. Nunca – em nenhuma hipótese – me envolvi com uma mulher
famosa. Culpava a bebida. Estava na merda, já bem bêbado, não
inconsciente, porém, em um nível que minha decisão foi imprudente.
- Fugindo de mim, baby? - Meghan finalmente conseguiu me
abordar.
- Foda-me. O que você quer, satã?
- Acho que isso é um elogio, vindo de um homem chamado de diabo
pela maioria. - Abriu o sorriso que quando a conheci, achei encantador. -
Ainda chateado comigo, lindinho?
- Desaparece da minha frente, Meghan.
- Talvez devesse me ouvir. - Inclinou o torso e seu decote
exagerado ficou no meu campo de visão. - Eu posso ter mais algumas fotos.
- Meghan, eu sei que você faz dinheiro expondo homens ricos com
quem se envolve. Infelizmente, eu posso ter me fodido ao ir para cama com
você, mas não pense nem por um segundo que eu mesmo não possa expor
meu pau na internet. - Peguei um copo de uísque que o garçom estava
servindo. - Não vai tirar um centavo. Fique longe do meu caminho ou eu
posso esquecer a cordialidade e começar a devorar tudo que tem. De todos
os homens que se envolveu, eu sou o único que não tenho nada a perder em te
destruir.
Ela abriu a boca e voltei a falar.
- Aproveite enquanto mantenho meus advogados cuidando do caso,
tenho mais o que fazer. Quem recolhe segredos por aí também deixa a bunda
de fora. Como será que a alta sociedade vai reagir ao ler no café da manhã o
que seu pai ganha nos bastidores da polícia? - Dei um gole e seu olhar
ficou um tanto amedrontado. - Será que ele vai ficar feliz em ter seu
cuidadoso castelo de lavagem de dinheiro em ruínas por que a filha é uma
mimada que gosta de atenção?
Meghan colocou o cabelo atrás da orelha.
- Não falaremos mais sobre isso.
- Fique bem longe de mim. - Sorri bem cínico ao vê-la se
afastando.
Porra. Eu fui... um Arthur. Era o que todos me chamavam com reações
assim. Arthur sendo Arthur passou a significar ser agressivo com as
palavras, ameaçador, um tremendo cuzão. Como advogado, não permitia
ninguém no meu caminho e como um ser humano que paga as contas e
mantém os impostos em dia, não gostava que me enchessem o saco.
Virei minha bebida de uma vez só e assim que foi possível assinar meu
cheque de doação, entreguei ao mestre de cerimônias e saí pelos fundos,
onde meu motorista me aguardava.
- Direto para casa, Dave. Amanhã temos que estar no aeroporto às
seis horas - falei com ele, relaxando no banco enquanto confirmava que
minha agenda estava em ordem.
Cheguei em casa tarde da noite. Morava em um apartamento em um dos
prédios mais bonitos da cidade porque eu amava a visão esplêndida da
varanda. Sou um homem nascido e criado no Upper East Side, que estudou
em escolas que usavam uniformes engomadinhos e ganhou um carro
importado aos dezesseis anos porque minha mãe se sentia culpada por nunca
estar por perto.
Podia parecer que tinha tudo na vida, mas eu era o típico pobre menino
rico. Tanto, que me afastei da família, fui privilegiado em ter educação de
primeira e oportunidades que muitos não tinham, mas, quis lutar minhas
batalhas longe da confusão e no final, não adiantou de nada. Fui sugado para
dentro da empresa tão rápido que ainda estava me perguntando como tudo
mudou tanto.
Não dormi muito, preocupado com as reuniões que enfrentaria nos
próximos dias e antes de amanhecer, malhei na academia do prédio, terminei
de arrumar minha bagagem e estava pronto dez minutos antes do horário
programado com meu motorista. Essas viagens eram um saco,
desconfortáveis. Mal tinha tempo para respirar.
- Tenha uma boa viagem, Sr. Baxter - Dave falou ao me deixar no
aeroporto, diretamente na pista. Ele não me acompanharia e a empresa
disponibilizou um funcionário local. Peguei minha bagagem e embarquei,
com a equipe trabalhando nos procedimentos.
Durante o voo, me concentrei no trabalho, lendo os relatórios e
preparando as apresentações que faria em uma das nossas filiais mais
lucrativas. Segundo minha mãe, os funcionários pareciam cães ferozes em
busca da melhor comissão e uma posição de trabalho. Pelo menos,
entregavam bons resultados e isso me satisfazia.
No escritório de advocacia, eu era o chefe inacessível, quase não
falava com os outros advogados e muito menos comparecia a reuniões de
grupos. Eu era o homem que a secretária impedia de chegar perto, entrava e
saía, passava pelos corredores como um raio e não dava atenção para quem
me fazia perder tempo.
Afinal, tempo sempre foi dinheiro e eu gostava de ganhar um bom
salário. Podia recriminar muitas coisas na minha família, mas não podia
fugir do meu DNA e tanto os Baxter quanto os Fitzgerald adoravam ser
ricos.
- Seja bem-vindo a Atlanta, senhor - Peter, o funcionário designado
para me acompanhar, cumprimentou. - Sua assistente, a Sra. Santopolo já
foi instalada e se encontra na empresa neste momento. Gostaria que o
levasse para o hotel ou para o escritório?
- Escritório primeiro. - Entreguei a ele minha bagagem e entrei no
banco de trás, já com meu telefone na mão.
Se a minha vida fosse reproduzida em uma tela, certamente
aconselharia que os espectadores acelerassem o meu dia no trabalho.
Participei de duas reuniões muito longas, uma apresentação de funcionários
e ainda tive um embate com o diretor de operações local que me irritava
profundamente. No final da tarde, estava calmo, depois de passar pelo
estágio de fúria, quase assassinato e a beira de um ataque cardíaco.
Estava louco por uma boa refeição e relaxar na cama do hotel, mas eu
tinha uma reunião noturna em uma boate local, que pertencia a um conhecido
de longa data, Yerik Vassiliev[3]. O lugar era requintado e cheio de mulheres
bonitas. Após uma rápida passada no meu quarto e me preparar para a noite,
encontrei um amigo da faculdade que estava interessado em incorporar sua
empresa em uma das minhas.
- Se não é o homem mais detestável do universo. - Carick me
recebeu com um sorriso. - Aproveitando a estadia aqui em Atlanta?
- Não tive tempo de olhar para a janela, dirá aproveitar qualquer
coisa. - Sinalizei para o garçom antes de sentar. - Fixou residência aqui
ou ainda pretende voltar para Nova Iorque?
- Por enquanto, tenho motivos para ficar aqui. - Pegou seu copo de
tequila e virou. Uma escolha bem pesada para começar. Minha bebida foi
entregue e sem delongas, fui direto ao assunto. Não tinha tempo para perder,
mesmo sendo uma reunião do meu interesse.
Nos serviram uns petiscos da casa e ele parou de falar quando uma
loira alta, bem bonita, parecendo modelo de passarela se aproximou,
determinada.
- Oi, baby. - Ela se inclinou e deu-lhe um beijo. Aquele era um
motivo e tanto para que ele não quisesse sair da cidade de jeito nenhum.
Bebi, observando-os com interesse. A mulher me deu um olhar simpático. -
Olá!
- Querida, esse é meu amigo, Arthur Baxter.
- Oi, eu sou Érica Petrov. - Esticou a mão delicada e apertei,
tranquilamente. - Não quero atrapalhar sua reunião, vou ficar no bar perto
da pista de dança. - Ela lhe deu um beijo e se afastou.
Carick seguiu a mulher com o olhar e voltou a me encarar com um
sorriso. Balancei a cabeça negativamente, o homem estava dominado e nem
disfarçava. Eu ia falar alguma gracinha sobre a coleira que estava enrolada
no seu pescoço por uma bela modelo russa quando uma morena passou pela
nossa mesa, mexendo em seu telefone. Quase quebrei meu pescoço para
acompanhar.
Puta que pariu! Que beleza! Que bunda... que tudo! Virei no banco,
acompanhando o rebolar hipnotizante do seu quadril.
Seus longos cabelos negros eram lisos, estavam jogados de lado e ela
usava um vestido preto, justo, delineando seu corpo cheio de curvas
maravilhosas. Girando na pista de dança, percebi que era ainda mais bonita
do que reparei ao passar por mim.
Prometi a mim mesmo, que depois do desastre com Meghan, iria
manter meu pau nas calças e tirar um tempo de sexo sem compromisso com
desconhecidas. Esqueci absolutamente tudo, focado na mulher dançando
sensualmente no meio da pista. Ela ergueu os braços, brincando com a loira
que namorava Carick. Bebi sem desviar o olhar. Ela não deu atenção aos
homens que se aproximaram, se divertindo e roubando meu fôlego.
Deixei meu copo em cima da mesa e decidi que era o momento de
conquistar aquela mulher.
Capítulo 2 | Sarah
Se existia a possibilidade de um fotógrafo profissional ser bem da
cabeça, eu estava fora das estatísticas ao me pendurar em uma árvore no
meio de um parque, na tentativa de ter o clique perfeito de um dos meus
casais de clientes favoritos. Meu assistente estava com os braços esticados,
como se seu corpinho de quem não aguentava carregar dois quilos
conseguisse me aparar caso caísse.
A intenção era boa. Ele reclamava de carregar as mochilas com
equipamento, me perguntava o quanto reclamaria se precisasse me carregar.
Rindo sozinha, tirei mais algumas fotos e tomei muito cuidado ao descer.
Apoiei a câmera em cima da caixa de equipamento e o casal ficou
empolgado com as prévias no computador. Amava fotografar famílias e
casais, não fazia os eventos por ter conseguido uma cartela de clientes boa o
suficiente para ter alguns luxos.
E o meu luxo era não enfrentar horas de casamento, festas, aturando
familiares e chegando em casa tão cansada que não conseguia pensar em
mais nada além de dormir. Ensaios externos também me deixavam exausta,
mas não tanto quanto uma festa.
Eu tinha sonhos muito ambiciosos e apesar de muitos seguidores nas
redes sociais em meu perfil profissional, ainda não recebi uma boa proposta
para vender minhas fotos. Apenas em sites de banco de imagens, que dava
um bom dinheiro, mas não o tanto que eu queria. Bastava ter a oportunidade
certa e tudo mudaria.
O casal foi embora depois de acertarmos o pagamento e me alonguei,
sentindo tudo estalar. Chegaria em casa, pediria comida e prepararia um
banho bem gostoso antes de virar a noite editando as fotografias tiradas no
dia.
- Mandou muito bem, chefa. Essas fotos ficaram lindas - Tony, meu
assistente, soou animado. - Vou recolher o material para irmos embora.
Morava em Atlanta há quatro anos e ainda não sentia que ali era o meu
lugar. Ao mesmo tempo, construí uma carreira e amizades, por isso ficava
receosa em me mudar para outra cidade. Não tinha pretensão de voltar para
meu país de origem.
Nascida no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, fui criada
na região oceânica de Niterói até minha mãe se casar novamente e morarmos
no Leblon. Minha mãe cresceu na periferia e fez muito sucesso como
passista de escola de samba.
Madrinha de bateria desde os seus treze anos, ela vivia para escola,
mas também fez carreira com trabalhos fotográficos, filmes, programas de
televisão entre outras coisas. Meu pai era um empresário paulista, judeu,
casado e com dois filhos. Ele e minha madrasta casaram cedo, se separaram
por três anos e foi nesse período que ele conheceu minha mãe. Namoraram,
engravidaram, nasci, não deu certo e ele voltou para sua antiga esposa. Dois
anos depois, nasceu minha irmã caçula.
Sou bastarda, mas não muito, já que não fui fruto de nenhuma traição.
Tenho um irmão mais velho, chamado Pedro Rafael e uma irmã mais nova,
chamada Rafaella. Meu nome destoava dos meus irmãos, porque minha mãe
se recusava a fazer parecer que era filha da esposa do meu pai. Ela venceu
ao escolher Sarah, mas perdeu no sobrenome.
Meus pais eram como água e óleo, não fazia ideia de como um dia
conseguiram ficar juntos. Hoje em dia, não se falavam nem cordialmente, já
que me tornei adulta e não precisavam se comunicar por minha causa. Não
morava com minha mãe desde meus doze anos, quando o ritmo de vida dela
estava atrapalhando meus estudos e meu pai pediu a guarda na justiça.
Passava apenas férias e algumas datas comemorativas.
Cheguei em casa cansada, liguei a secretária eletrônica que ainda
usava e ouvi os recados dos clientes. Eu possuía um número comercial em
um aplicativo de conversas, porém, alguns dos meus clientes eram antigos e
gostavam de deixar recados. Ouvi todos enquanto escolhia o que iria comer.
Anotei o que precisava resolver no dia seguinte e desliguei tudo, entrando no
meu final de semana de folga para atendimento e com muito trabalho interno.
Esperei a comida chegar jogando conversa fora no meu grupo de
amigas. Érica estava falando sobre Carick estar cozinhando algo com cheiro
esquisito e rimos. Ela o conheceu na balada, foi o sexo de uma noite que já
estava durando por oito meses. Éramos três melhores amigas. Eu cheguei
para estudar e conheci Cristina, que era uma produtora de moda e em um dos
ensaios conheci Érica, que estava no país há pouco tempo e precisava de um
lugar para morar.
Stacey, a primeira garota que conheci na sala de aula e se tornou
minha melhor amiga, tinha o seu próprio lugar de moradia. Isso não impedia
de nos divertir muito. Quando conheci Marcus e me apaixonei perdidamente,
acreditei que minha vida estava em um estágio de perfeição que só os filmes
conseguiam reproduzir.
Até que peguei Marcus no sofá da casa de Stacey com a boca entre as
pernas dela e pelo visto, aquilo acontecia desde o segundo dia do nosso
namoro. Ainda bem que eu tinha a amizade feroz de Cristina e a calmaria de
Érica para me sustentar. Ficamos inseparáveis.
Por três anos, moramos juntas, até que Cris casou. Alguns meses
depois, enquanto procurávamos um novo lugar, Érica conheceu Carick e ele
deu a entender que tinha um espaço em seu armário para ela. Com isso, por
sorte, rapidamente encontrei um lugar de dois quartos bem agradável, em um
bom bairro, arejado e em um prédio relativamente silencioso.
Enfiada na banheira, relaxei. Meus pés estavam tão doloridos que
latejavam. Minha vida fora do Brasil era uma loucura. Trabalhava o dobro,
porque era dona do meu próprio negócio e tinha que correr atrás para fechar
a contabilidade necessária no mês. Apesar de saber que podia contar com
ajuda dos meus pais se precisasse, eu tinha vinte e três anos, estava mais que
na hora de cuidar da minha vida sem interferência de ninguém.
Longe de casa, me sentia bastante solitária. No Brasil, tinha meus
amigos, a família da minha madrasta que era enorme e que havia me
acolhido como se eu fizesse parte. Tinha primos, colegas da escola e depois
da pandemia, com tanto tempo de isolamento, acabei me afastando dos
amigos que fiz na cidade e não encontrei uma ligação novamente.
A verdade era que aquele período me marcou muito e eu mudei.
Se não fosse minhas melhores amigas, me sentiria totalmente
deslocada. Ser imigrante em qualquer país era bem difícil. Havia outros
brasileiros na cidade, de vez em quando, encontrava um e trocava uma boa
conversa em português. Se quisesse ficar em um estado com mais
brasileiros, era só me mudar para Miami.
Dormi um pouco e acordei às três da manhã, liguei o computador e
comecei a editar as fotos. Érica passou pela minha porta com compras de
mercado logo que amanheceu, preparando café quentinho e disparando a
falar com seu sotaque carregado. Ela me irritava com sua roupa de frio fina
em pleno dezembro em Atlanta.
- Carick tem uma reunião com um amigo de Nova Iorque em um
clube bem badalado e pensei que nós duas poderíamos dançar um pouco. -
Começou a preparar panquecas. - Tem muito trabalho acumulado? Trouxe
um vestido que Cristina mandou na mala de roupas novas. Pode ficar um
pouco justo com esse corpo aí, isso não será um problema.
Érica era alta, magra como as passarelas exigiam e linda de tirar o
fôlego. Quando parou de desfilar, ganhou um pouco mais de peso, mas fazia
parte do seu biotipo ter quase dois metros de perna e pouca gordura no
corpo. Ela fez bastante dinheiro, porém, queria ser dona do seu próprio
negócio e não viver na rotina maluca dos bastidores da moda. Atualmente,
trabalhava em uma emissora local, como comentarista de estilo e juntava
dinheiro para ter sua agência de modelos.
Érica era bem ativa na comunidade russa local e provavelmente,
iríamos a um clube do meio. Eu não me importava nem um pouco. Só queria
me divertir.
- Preciso desesperadamente sair. - Continuei editando fotos
enquanto ela cozinhava. - Como foi o jantar?
- Convenci o homem a pular uma etapa. Fomos direto para a cama.
- Balançou as sobrancelhas loiras. - Hoje cedo tentei recuperar o que
sobrou. Os irlandeses tem um jeito muito esquisito de cozinhar.
- Cada país tem a sua cultura. Eu, particularmente, gosto da comida
do meu. Sinto muita saudade. Quando vou para casa, minha madrasta faz tudo
que quero comer e quando vou para o Rio, minha avó capricha na feijoada
- falei meio salivando. Estava morrendo de saudades da minha família, mas
só iria para o Brasil no aniversário do meu pai, e faltava algumas semanas.
- Ainda vou na casa dessa sua avó comer. Eu adoro a feijoada que
faz. - Ela sorriu e serviu nossos pratos. - Larga o computador, está
parecendo um zumbi, e vem comer para descansar um pouco. Esse seu ritmo
de trabalho é muito louco.
- Não é igual a dela e aqui é difícil achar tudo que preciso. O
mercado é muito longe... - Deixei meu computador na mesinha de centro e
fui atraída pelo cheiro da comida. Ovos com queijo, torrada, panquecas, café
gostoso e conversa boa. Era a melhor maneira de começar um final de
semana. - Ainda quero fazer mais pratos brasileiros, porém, acho que
podemos fazer uma viagem juntas.
- Cristina casou e ficou desanimada. - Érica riu.
- Desanimada para sair de cima do marido, você quer dizer. Ela
ficou tanto no "escolhi esperar" que quer recuperar o atraso. - Soltei uma
risada.
- Ninguém pode culpar a mulher por querer transar. - Érica me
deu um olhar engraçado. - Você sabe o que é isso? Ainda lembra o que é
sexo?
- Engraçadinha. - Bufei.
Capítulo 1 Ainda lembra o que é sexo
17/02/2022
Capítulo 2 Vou dar o meu melhor
17/02/2022
Capítulo 3 Mão boba
17/02/2022
Capítulo 4 A cintura dela....
17/02/2022
Capítulo 5 Sua mãe era mulher do meu pai
17/02/2022
Capítulo 6 Fui a amante
17/02/2022
Capítulo 7 Eu a magoei
17/02/2022
Capítulo 8 Deixá-lo maluco
17/02/2022
Capítulo 9 Brigas
17/02/2022
Capítulo 10 Nosso bebê
17/02/2022
Capítulo 11 Quer jogar este jogo
17/02/2022
Capítulo 12 Vazou a informação
17/02/2022
Capítulo 13 O pai do meu bebê
17/02/2022
Capítulo 14 Leu o meu recado
17/02/2022
Capítulo 15 Responsabilidades...
17/02/2022
Capítulo 16 Sedentos por vingança
17/02/2022
Capítulo 17 Jogou minha calcinha longe
17/02/2022
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