Mafioso indomável

Mafioso indomável

renata medeirosM

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Capítulo

Correndo feito uma barata tonta, eu confiro pela milésima vez se a porta do meu quarto está trancada. Sentindo a adrenalina percorrendo minhas veias eu tento controlar os batimentos cardíacos e as mãos trêmulas enquanto esborrifo um pouco de perfume, por pouco não derrubo o frasco no chão ao desviar minha atenção para o tubo de batom vermelho mate. Reaplico uma camada nos meus lábios já rubros e confiro se não manchei os dentes (sou mestre em fazer isso!), aproveitando para checar meu hálito ao assoprar na minha mão em concha. Eu estou tão agitada que não percebo o ridículo daquilo, não faria diferença alguma se eu estivesse cheirosa ou com bafo afinal! Espio meu corpo para ter certeza se meu conjunto de lingerie está devidamente em seu lugar, ajustando o fio dental no meu bumbum um pouco incomodada com a sensação dele atochado lá no meio, mas ao mesmo tempo admirada com a forma como ele acentua meus quadris outrora estreitos. Prazer em finalmente te ver, bundinha! Penso enquanto me empino e olho minha forma por trás do ombro. Realmente pareço ter mais bunda do que de costume!

Capítulo 1 Abstinência

Correndo feito uma barata tonta, eu confiro pela milésima vez se a

porta do meu quarto está trancada. Sentindo a adrenalina percorrendo minhas

veias eu tento controlar os batimentos cardíacos e as mãos trêmulas enquanto

esborrifo um pouco de perfume, por pouco não derrubo o frasco no chão ao

desviar minha atenção para o tubo de batom vermelho mate. Reaplico uma

camada nos meus lábios já rubros e confiro se não manchei os dentes (sou

mestre em fazer isso!), aproveitando para checar meu hálito ao assoprar na

minha mão em concha. Eu estou tão agitada que não percebo o ridículo

daquilo, não faria diferença alguma se eu estivesse cheirosa ou com bafo

afinal!

Espio meu corpo para ter certeza se meu conjunto de lingerie está

devidamente em seu lugar, ajustando o fio dental no meu bumbum um pouco

incomodada com a sensação dele atochado lá no meio, mas ao mesmo tempo

admirada com a forma como ele acentua meus quadris outrora estreitos.

Prazer em finalmente te ver, bundinha! Penso enquanto me empino e

olho minha forma por trás do ombro. Realmente pareço ter mais bunda do

que de costume!

Coloco a playlist para tocar num volume médio e então meu estômago

embrulha quando percebo ter chegado a hora. Eu estou prestes a fazer algo

inimaginável, pelo menos para mim, e por um segundo cogito desistir.

Inspiro fundo, soltando lentamente o ar pela boca. Desistir agora não é opção.

Acalme-se, Candy! Você está no controle.

Posiciono-me de frente ao notebook, mais precisamente em frente à

câmera, e fito a tela do monitor.

Ali eu leio a seguinte mensagem:

Clico nela e já faço uma pose sensual, a qual tive que ver bastantes

vídeos eróticos para imitar. Não só as poses, como também todas as

encenações e gestos sexies o suficiente para atrair a atenção dos homens.

Acredita que até a maneira correta de gemer eu treinei? Calma, é claro que eu

sei mostrar o meu prazer quando estou excitada, mas digamos que sou meio

discreta, nunca havia permitido me libertar à ponto gritar antes. Ainda mais

por dividir o apartamento com a minha amiga, imagine se ela me ouvisse do

outro lado das finas paredes do nosso humilde cafofo estudantil?

Quando o momento começa a se aproximar, posso sentir a minha

coragem vacilando enquanto meu estômago pesa com a ansiedade. No

entanto, não tenho outra opção.

Não pense como Candice! Você agora é a Candy.

XXLcock: Nossa, baby! Você é gostosa!

Forço um sorriso sedutor e respondo numa voz doce, utilizando o

microfone.

- Obrigada, baby!

Não posso deixar de me sentir um pouco sem jeito. Ainda não estou

acostumada com isso, é o meu segundo dia fazendo show nesse site, mas

preciso deixar meu pudor de lado se quero ganhar dinheiro sendo modelo de

webcam.

Para falar a verdade, estar ali nem é tão horrível assim... No fundo, é

bom se sentir desejada. Mas veja bem, masturbar-me entre quatro paredes

quando tenho necessidades é uma coisa, ter de fazer strip-tease e me

masturbar em frente à câmera é outra e, posso não ser nenhuma santa, mas

aquilo estava me deixando morta de vergonha!

Se não fosse meu desespero... se eu tivesse escolha...

Bigd1ck: WOW! Você é a mais gata de todo o site!

Bigd1ck: Adoraria ver esses peitos, Candy! Mostre os seus

mamilos, aposto que estão durinhos.

Após ler as mensagens, eu brinco um pouco com a alça do meu sutiã

para provocar. Sinto o meu rosto esquentar, mas continuo com o show, me

movimentando no embalo da melodia.

- Querem ver os meus seios? - pergunto docemente e deslizo um

dos lados do sutiã, quase deixando um seio à mostra, mas logo o cubro

novamente.

Dessa vez várias pessoas respondem no meu chat dizendo que sim. Eu

sorrio genuinamente agora. Eles estão se entretendo e isso quer dizer que

tenho mais chances de ganhar desejos, como é chamada a moeda do site.

- Hm... Enviem gorjetas para pedidos, babies! - respondo e me

deixo levar pelas batidas eróticas da música "Every body here wants you" de

Jeff Buckley.

Desperto assim que ouço o som de moedas titilando. Alguém acabou

de me pagar! Olho para a tela, procurando avidamente pelo nome da pessoa.

SeuChefe – gorjetas enviadas! (100 desejos)

Até que enfim alguém que não use nada referente ao tamanho do pênis

no nome de usuário! E olhe, ele me pagou 100 desejos de primeira! Isso

equivale a dez dólares.

- Obrigada, SeuChefe! Quer fazer algum pedido que esteja incluído

no menu? - digo, sorrindo para a câmera, como se estivesse olhando em

seus olhos. Esse pensamento me faz corar, mas tento não transparecer minha

timidez.

SeuChefe: Continue dançando, Candy.

Fico sem reação por um momento. Ele só quer que eu continue me

movimentando da maneira que eu estava fazendo antes. Outros usurários

pedem outras coisas, a maioria querendo que eu tire uma das peças da minha

lingerie, mas para isso eles teriam que me enviar gorjetas. Portanto atendo

somente ao pedido do SeuChefe e fecho os olhos por um instante, deixando a

música me embalar. O ritmo é tão sensual e doce que, inevitavelmente, me

sinto da mesma forma.

Percorro as mãos pelo meu corpo, sentindo o contato suave da luva de

seda contra a pele, e me arrepio com a sensação deliciosa. Posso sentir a

minha calcinha molhar com o tesão.

SeuChefe – gorjetas enviadas! (200 desejos)

MilkXtreme – gorjetas enviadas! (80 desejos)

Abro os olhos, saindo do transe com o barulho das moedas e verifico

quem foi que pagou dessa vez. Foram dois! O SeuChefe deu a maior gorjeta,

porém não posso deixar de dar atenção para o outro cliente.

- Obrigada, SeuChefe! Obrigada, MilkXtreme!

Tento não revirar os olhos ao falar o último nome. Seu username

significa leite extremo!

- Quais desejos vocês gostariam que eu realizasse?

MilkXtreme: Me deixe ver seus peitos gata!

Ele pagou o valor exato que estipulei para retirar o sutiã, então vou

conceder o seu pedido. Porém, estou curiosa por saber o que o SeuChefe quer

pedir antes.

- E você, SeuChefe? Quer me pedir algo?

Mordo os lábios à espera de sua resposta, pela primeira vez animada

com o que estou fazendo. Leio o seu nome novamente e me pergunto o

porquê dele o ter escolhido. Será que é no sentido de ser dominador? Mas até

agora não fez questão de nada estranho...

SeuChefe: Dance para mim Candy, e sorria para a câmera. Eu

amo o seu sorriso.

Eu não faço ideia de como ele é, mas pelo modo como fala parece ser

sério e, ao mesmo tempo, gentil. O seu comando, diferente do outro cliente,

me deixa excitada. Cruzo as pernas ao sentir o calor aumentar entre elas,

seguido de um leve espasmo. Meu corpo todo está ardendo em desejo,

inebriando todos os meus sentidos e intensificando a vontade de ser

estimulada. Tento imaginá-lo me tocando onde eu mais necessito e deixo o

fogo me consumir de vez.

SeuChefe: Também amo quando enrubesce dessa maneira.

Sua mensagem me lembra de que ainda estou parada sem fazer nada,

perdida em pensamentos devassos! Ajeito-me e volto a dançar, dessa vez é

"Turn me on" da Norah Jones que está tocando e simplesmente adoro! Retiro

a peça de cima bem lentamente e libero meus seios empinados, deixando em

evidência os meus mamilos rosados.

SeuChefe – gorjetas enviadas! (300 desejos)

SeuChefe: Retire as luvas, meu doce.

Seu pedido singelo me deixa ainda com mais tesão e assinto com

anseio, querendo lhe agradar. Não respondo em voz alta, simplesmente faço o

que me pediu. Imito os movimentos que havia visto em um vídeo de dança

burlesca, mordisco as pontas da luva e puxo devagar o braço num gesto que

espero estar sendo sensual! Posso sentir o meu rosto esquentando de novo.

Concentre-se, Candy!

Pisco para a câmera e repito a ação com o outro braço, liberando-me

totalmente das luvas de seda preta.

Recebo várias mensagens, mas meus olhos só procuram por ele.

Assusto-me ao perceber que tem mais de cem pessoas me assistindo. Não

imaginei que teria tantas visualizações logo de início.

A aba do meu chat pisca alertando o recebimento de uma mensagem

privada.

SeuChefe: Doce Candy, você faz show privado?

Meu sorriso se alarga quando vejo quem é a pessoa que me enviou a

mensagem. O meu cliente mais pagante!

Não quero que os outros me ouçam, então eu digito.

Candy: Aceito sim. Você me quer por quanto tempo?

SeuChefe: Eu só tenho alguns minutos... E realmente preciso gozar

antes de ir embora.

Candy: Hummm...

O que ele quer que eu responda? Fico sem saber o que falar até receber

sua próxima mensagem.

SeuChefe: Eu pago 2000 desejos por vinte minutos.

UAU! Eu tenho a plena consciência de que não ganharia tantas

gorjetas se continuasse meu show em público. Prendo o meu lábio inferior

contra os dentes enquanto penso na sua proposta. E se ele for um cara

totalmente bizarro e me pedir coisas estranhas?

Eu estou no controle. Esse show é meu.

Antes mesmo que eu perceba, os meus dedos já estão batendo contra

as teclas.

Candy: Fechado, SeuChefe. Sou sua por vinte minutos!

SeuChefe te convida para um show privado. Aceitar / Recusar

Clico em aceitar e me preparo para o seu próximo pedido.

SeuChefe: Obrigado, doce menina. Agora aperte seus deliciosos

mamilos com força.

Ofego em antecipação e os belisco com força, a mistura de dor com

prazer é o suficiente para me fazer gemer alto. Arrepio-me toda com a

deliciosa sensação que percorre meu corpo, ficando cada vez mais molhada.

SeuChefe: Isso... acho que não vou aguentar vinte minutos. Você

me deixa duro, Candy. Vou gozar a qualquer momento se continuar

gemendo desse jeito.

Fito o seu comentário, atônita. Eu nunca, em todos os meus poucos

relacionamentos, me senti tão... tão desejada e poderosa!

Gemo baixinho, involuntariamente. Esse cliente está me excitando

tanto e eu nem esperava por isso! Achei que naquele dia precisaria fingir,

encenar tudo, mas esse homem está me tirando dos eixos. A dor do prazer me

atinge e eu preciso... preciso acabar com essa angústia!

Deslizo umas das mãos do seio até o ventre, e continuo aventurando os

meus dedos até mais em baixo, chegando ao meu íntimo ensopado. Faço

pressão contra o clitóris e estremeço.

É tão gostoso!

SeuChefe: Como você sabe que é gostoso se não provou? Será que

seu gosto é tão doce quanto o seu nome?

Eu estava tão consumida pela sensação que nem percebi que pensei em

voz alta! Sem tempo e vontade de ficar sem graça, continuo me tocando com

mais urgência, mas paro de me movimentar quando leio sua nova mensagem.

SeuChefe: Lamba seus dedos melados, Candy. Quero que me diga

qual é o seu sabor.

Meus olhos se arregalam um pouco, pasma com o seu pedido. Eu

nunca havia me provado antes!

Levo os dedos até meus lábios e timidamente toco a ponta da língua

neles, com medo de ficar com nojo do sabor... mas por incrível que pareça

não é tão ruim assim. Na verdade, é agridoce, não sei ao certo como explicar.

Enfio os dois dedos inteiros na boca e os chupo todos, ronronando de

excitação.

SeuChefe: Estou me estocando tão forte agora! Fale qual é o seu

sabor, quero saber antes de esporrar, mirando nessa sua boquinha!

O tom da sua mensagem me surpreende. Parece mais desesperado,

urgente.

- Parece com... - Lambo os lábios buscando resquícios do meu

gosto neles.- parece com nata de coco, mas é um pouco salgado também...

cremoso...

SeuChefe: Abra sua boca e coloque a língua pra fora, vou gozar!

Seu comentário me atinge com força total. Separo os lábios e mostro a

língua devagar, como se estivesse acariciando o seu pau se ele estivesse aqui

comigo. Meus dedos se movem com intensidade contra o meu clitóris e sinto

os espasmos aumentarem junto com a sensação inebriante do orgasmo

iminente. Arquejo de prazer e solto um longo gemido, ainda com a boca

aberta para receber o seu jorro, mesmo que virtualmente. Esse pensamento

me faz ter outra contração, tão forte que flexiono os dedos dos pés quando o

segundo orgasmo chega.

SeuChefe: Candy... Obrigado pelo show. Você me fez gozar tanto

que sujei em parte não só o monitor, como minha mesa do escritório.

Terei que limpar essa bagunça.

Sorrio ofegante ao ler seu comentário.

- Você não tem medo de perder o emprego?

SeuChefe: Não. Essa é a vantagem de ser Chefe ;)

Não consigo segurar o riso! Perco totalmente a compostura e todo o

meu disfarce de mulher sedutora vai para o ralo quando começo a rir do meu

modo natural. Isso quer dizer que não pareço nada sexy no momento!

SeuChefe: Adoro o seu riso, doce menina.

Mordo os lábios sem saber o que responder e posso sentir o rubor

tomar conta da minha face.

- Obrigada. Será que... posso saber o seu nome?

Ele demora alguns segundos antes de responder.

SeuChefe: James.

- Obrigada, James...

SeuChefe: O prazer foi meu, Candy. Literalmente.

Transmissão encerrada.

Demoro um pouco para me recompor. Pisco algumas vezes para

desanuviar a visão, ainda ofegante e febril depois de uma sessão

surpreendentemente quente com um homem totalmente desconhecido. Eu

nem ao menos sei como ele é fisicamente! Mas aquele mistério todo era ainda

mais excitante, eu poderia imaginá-lo do jeito que eu quisesse, ganhar uns

bons orgasmos e ainda receber dinheiro por isso!

Aposto que está se perguntando como eu fui parar de paraquedas nessa

profissão. Bem, para isso eu preciso voltar alguns dias...

Capítulo 1

Passo os dedos trêmulos pelos meus longos cabelos, prendendo-os

numa trança lateral. Confiro pela última vez o meu reflexo no pequeno

espelho do banheiro e suspiro.

Eu não queria ir nesta festa!

- Não adianta mudar de ideia agora, Candice! Você vai nem que eu

tenha que te arrastar pelo campus!

Gemo de frustração e encaro a minha amiga, que está me observando

da porta com as mãos no quadril.

- Nathy, eu deveria estar estudando para a minha prova de

Constitucional! - tento arrumar uma desculpa, mas, ainda que ambas

estudemos Direito, ela não se atenta muito com as notas como eu. Ela estala a

língua e revira os olhos, ignorando as minhas palavras.

Além de ser minha melhor amiga, Nathy divide o apartamento comigo,

e por mais que sejamos totalmente diferentes e nos irritemos uma com a outra

de vez em quando, nos amamos como irmãs.

- Você prometeu que iria nessa festa comigo. Deixe de ser CDF pelo

menos um dia! Suas notas são sempre ótimas. E tem uma coisa, acha que não

sei que essa prova só será na próxima semana?!

- É... - fico sem graça, pega no flagra. - Mas eu gosto de estudar

com antecedência... - digo sem jeito, sabendo que estou ficando sem

argumentos.

- E outra coisa, a mais importante: você me PROMETEU! Então

termine de se arrumar logo que o pessoal já está nos esperando – ela

completa e aponta para o meu quarto, como se fosse uma mãe a me dar

ordens.

Olho para baixo, para as roupas que estou vestindo, sem entender.

- Mas eu já estou pronta!

- Ah não! Você não vai sair desse jeito comigo nunquinha! Nathy

agarra a minha mão e sai me arrastando pelo quarto. Abre o closet, jogando

várias roupas sobre a cama. Olho horrorizada para as peças que ela escolheu.

Com certeza estavam faltando alguns metros de pano por ali.

- Esses aqui vão ficar perfeitos em você! Troque logo essa roupa sem

graça. Estou te esperando na sala.

Seguro a minissaia jeans e o top preto nas mãos, imaginando se daria

muito na cara se, naquele instante, eu fingisse que estava passando mal...

Talvez de uma doença instantânea e contagiosa...

- E solte esses cabelos! - ela grita da sala. - Não entendo por que

você vive prendendo eles desse jeito, são lindos!

Reviro os olhos antes de retirar a minha calça jeans e a camiseta

cropped do corpo. Visto a minissaia e o top preto com relutância, sentindo-

me muito exposta e totalmente diferente do que sou. Não tenho medo de

mostrar um pouco de pele, mas aquilo já beirava a periguetice e, para piorar,

eu não fui abençoada com um corpão como a minha amiga.

Só estou fazendo isso porque, como Nathy jogou na minha cara há

instantes atrás, eu havia prometido. Estava bêbada quando fiz a promessa,

mas ainda assim eu dei minha palavra...

- Satisfeita? - Adentro a sala do nosso minúsculo apartamento

estudantil, dando uma voltinha, sem graça e me sentindo um pouco ridícula.

Ela sorri, aparentemente satisfeita. Porém, quando seus olhos pousam

no meu rosto, ela enruga o nariz. Nathy se aproxima de mim com um olhar

determinado. O que será que está acontecendo? Fico até com medo e dou um

passo para trás, mas ela me alcança. Liberta as minhas longas mechas loiras

da trança e me bagunça os cabelos. Eu quase tenho um ataque de fúria com

esse gesto, porém ela não me dá nem tempo para respirar. Antes que eu

reclame, sou jogada no sofá.

- Fique quieta que eu vou dar um jeito nessa sua carinha de boneca.

Sinto as cerdas do rímel passando pelos meus cílios repetidas vezes, o

pincel do blush contornando as maçãs do meu rosto e, por fim, o gloss

besuntar os meus lábios.

- Está gata demais! Agora sim está pronta pra a balada.

Reviro os olhos, achando que ela está exagerando. Ela me leva até o

banheiro, e quando vejo o meu reflexo no espelho fico pasma.

Essa sou eu?

Meu rosto, que antes aparentava ser tão delicado como o de uma

boneca de porcelana, agora parece mais maduro e bem sensual. Caramba, eu

estou incrível!

- Vamos! - Nathy me desperta do meu momento narcisista. Sorvo

uma grande lufada de ar e a solto lentamente pela boca, embaçando o

espelho, antes de seguir minha amiga porta afora.

***

- Minha prima me contou que largou o emprego só para fazer isso!

Estava dando mais dinheiro do que o salário de merda dela. - Kate gesticula

animadamente enquanto fala. Tento me afastar um pouco para não ser alvo

do líquido que beira em seu copo, prestes a ser derramado.

Escuto a conversa dos meus amigos quieta, enquanto beberico a minha

cerveja. A música alta, o burburinho e os gritos de vitória das pessoas

jogando bilhar na ampla sala abafavam as nossas vozes. Por isso não fico tão

constrangida com o tópico da vez, já que ninguém fora do círculo consegue

escutar.

Meus olhos fazem uma varredura no ambiente, estamos em um canto

da sala de TV do casarão, minhas costas estão apoiadas na parede cor de

creme que se estende por toda a casa. Daqui consigo ver o centro do aposento

onde se encontram quatro sofás marrons em corino assentados em um

semicírculo em frente à tela plana. Ninguém parece estar assistindo à partida

de football, os assentos estão ocupados por um grupo de pessoas rindo e

conversando enquanto bebem e alguns casais com as línguas enfiadas nas

gargantas de seus respectivos parceiros.

- Deixa eu ver se entendi direito... A sua prima se prostitui? -

Michael pergunta, curioso. Giro minha cabeça bruscamente ao voltar minha

atenção para o meu amigo.

- Não! Não é se prostituir! Ela não dorme com ninguém... Ela só faz

shows virtuais. É como se fosse... É como se fosse strip-tease, mas ela vai

além de tirar a roupa, sabe? Usa brinquedinhos e tal.

- Caraca! E isso dá certo?! - Nathy parece mais interessada do que

deveria. Quando percebe isso, tenta disfarçar: - Quero dizer, como ela sabe

que vai ganhar o dinheiro se é virtual?

- Então, pelo que entendi o site é bem organizado e confiável. As

pessoas que assistem aos shows compram créditos, e os gastam em forma de

gorjeta toda vez que gostam do show. Se quiserem fazer algum pedido

especial, elas pagam a modelo usando os créditos e ela recebe o dinheiro na

conta!

- Não sei se eu teria coragem de fazer algo assim... Usar o meu corpo

em troca de dinheiro? E se algum cara me pagasse e pedisse algo que eu

considerasse nojento? - Nathy diz, fingindo se arrepiar de nojo.

- Amiga, você é a dona do show. Ninguém te obriga a fazer nada!

Tem até como você colocar uma espécie de menu, com as coisas que faz e as

que não, sem perigo algum... Sabe, eu estava pensando em fazer também,

mas tenho medo que alguém me reconheça - confessa.

- O que você acha, Candice? Quase me engasgo com a cerveja e

encaro Nathy, com vontade de dar uns tapas naquela carinha linda dela. Ela

sabe muito bem que sou envergonhada demais para falar desses assuntos...

Bom, deixa eu me explicar. Não sou nenhuma santa, que isso fique

bem claro. Já tive um namorado sério e saí com alguns homens. Mas não me

sinto à vontade para falar de certas coisas.

- Se ela não se importa em usar sua imagem como instrumento de

trabalho, nem de que algum dia alguém poderá reconhecê-la, manchando para

sempre seu futuro e ferrando com sua vida... Então, que ela seja feliz.

- Nossa, Candice! Você é muito dramática.

- Sou realista. - Encolho os ombros e volto a beber o conteúdo do

meu copo de papel.

Meu celular começa a vibrar no bolso da saia. As únicas pessoas que

têm meu número são os meus amigos, que por sinal estão todos aqui, e meu

pai. Saio correndo até o lado de fora da fraternidade, fugindo do barulho e

atendo.

- Alô? - minha voz soa um pouco sem fôlego.

- Senhorita Greece?

Não sei o porquê, mas a voz feminina e sóbria no outro lado da linha

me faz arrepiar.

- Sim... sou eu.

- Estamos ligando pois a senhorita é o contato de emergência do

senhor Thomas Greece...

Sinto o meu sangue gelar e meu coração bater erraticamente. A

pressão nos meus ouvidos é ensurdecedora, mas eu faço uma força e tento

entender o que a mulher está falando.

- ... Sofreu ataque cardíaco essa noite e está hospitalizado. Seu estado

é grave. Conseguimos estabilizá-lo, mas ele precisa de tratamento e se não

houver melhoras, uma cirurgia será necessária.

Meus olhos se enchem de lágrimas e minha garganta se fecha.

Imaginar o meu pai sozinho numa maca de hospital me sufoca de dor.

- Onde ele está? Eu estou a caminho, só me diga... por favor... me

diga que ele está bem.

- Como eu disse, ele está estável agora, mas sua condição não é das

melhores. Seu pai precisa de tratamento, mas infelizmente não podemos fazer

muita coisa, pois o plano de saúde não cobre...

Minha náusea piora e me dobro com ânsia de vômito, ainda com o

celular colado na orelha.

O que posso fazer? Meu pai é a única família que tenho.

- Eu... eu vou dar um jeito. Estou indo para o hospital.

Anoto tudo e só após encerrar a ligação, me permito vomitar na grama.

As pessoas que passam por mim me olham enojadas, provavelmente achando

que estou caindo de bêbada. Lágrimas escorrem quentes por meu rosto e mal

consigo respirar com a dor pesando no peito, mas ergo a cabeça e me levanto

com as pernas trêmulas. Limpo minha boca rudemente com as costas da mão

e vou andando para o meu apartamento, à poucas quadras de onde está

rolando a festa, mas ainda assim longe para uma caminhada.

Corro pela rua escura com as calçadas ladeadas por árvores, sempre

tive medo de me aventurar pelo campus à noite e sozinha, mas eu estou tão

nervosa que mal penso na possibilidade de ser atacada. Chegando em casa a

primeira coisa que faço é trocar de roupa. Não posso aparecer lá vestida dessa

forma!

Com minha bolsa à tira colo eu busco por meus documentos e o meu

cartão contendo todo o dinheiro que eu havia guardado nos últimos meses na

poupança. Quando enfim acho que tenho tudo em mãos eu respiro fundo e

tento raciocinar.

A cidade onde eu fui criada fica a três horas da faculdade onde estudo.

Pego as chaves do carro da Nathy em cima do balcão da cozinha sem nem

pensar duas vezes e vou embora às pressas. Minha amiga deve me perdoar

quando souber o motivo do sumiço do seu precioso carro. Ou pelo menos,

assim espero.

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tamborilava o tampo de vidro da mesa do escritório com uma caneta de cem dólares sem importar-me em danif ci á-la. Aquele caso estava me tirando do sério. O cliente insistia em uma ação que não tinha mérito e que não nos levaria a lugar algum - apenas a f alência do escritório. Não estava nada interessada em perder o único emprego decente que tinha conseguido desde o f im do tratamento. Já tinha pesquisado todos os precedentes possí veis e ainda não tinha encontrado uma brecha que pudesse signif icar sucesso na demanda. Meus olhos estavam cansados de tanto olhar para a tela do computador, mesmo estando de óculos o dia inteiro. Respirando f undo, levantei-me e caminhei até a cozinha. Precisava de um caf é bem forte e provavelmente os pensamentos iriam clarear. Enquanto esperava a ruidosa caf eteira preparar-me um expresso, lembrei-me da primeira vez em que pisei no Metcalf e & Matthews Advogados Associados. Tinha acabado de sair de uma clí nica de reabilitação. Nunca tinha usado drogas nem nunca tinha bebido além do admissí velem sociedade. Eu tinha dois problemas que me levaram a f icar internada para tratamento por um ano - era maní aco-depressiva e tinha tentado o suicí dioduas vezes. Na segunda vez a f amí liaachou que deveria importar-se comigo e conseguiu uma ordem judicial para me trancar em uma clí nicae f orçaruma medicação que eu não desejava. Foi um ano excelente. No iní cio, detestei o lugar e as pessoas com quem tinha que conviver. As regras eram insuportáveis. Com o passar do tempo, a compreensão do problema e o vislumbre de que sairia curada f ez com que aceitasse o tratamento. Meus antecedentes, no entanto, não auxiliaram na busca por trabalho. A f amí lianão iria me sustentar; eu já tinha vinte e nove anos, então. O namorado não iria mais me aturar depois de ter tido que lidar com meu comportamento por quase três anos. Meu único bem, um apartamento, f oi vendido para pagar o tratamento. Eu precisava de um emprego que me garantisse uma renda razoável para alugar um novo apartamento e sobreviver. - Terra chamando Layla. - A voz de Melanie me tirou do transe de vários minutos. O caf éjá estava pronto há bastante tempo, mas eu continuava divagando sobre o passado recente. - Está tudo bem com você? Melanie era a melhor amiga desde minha contratação pelo Metcalf e& Matthews. A vida tinha mudado completamente - eu era mais f eliz e tinha relacionamentos mais saudáveis. Melanie era parte f undamental naquele processo. - Sim, é o caso Gandini que está me tirando do sério. Não sei por que aceitaram esse cliente nem por que me passaram esse pepino. - Jura que não sabe? - Melanie baixou o tom de voz e também serviu-se de um caf é. - Olson não gosta de você. Ele vai f azer de tudo para te sacanear e mostrar que você não é capaz de dar conta do cargo que assumiu. - Ele tinha pretensões para a minha vaga, não é? - Recordei- me que Jeremy Olson, um advogado que estava há mais tempo no escritório, ansiava pela vaga de advogado júnior que eu consegui apenas alguns meses depois de contratada.

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O que Taylor Magnus está fazendo aqui? Me encostei na parede com a saia subindo pela minha bunda enquanto me ajeitava na áspera parede de estuque. Eu não a ajeitei. O belo anfitrião, vestido incrivelmente bem, definitivamente percebeu. Enquanto lambia os lábios e andava na minha direção, eu sabia que ele se perguntava se eu estava usando calcinha. - É o bar mitzvah do melhor amigo da filha dele. O que você está fazendo aqui? Senhorita... Ele inclinou a cabeça para baixo e leu o nome no meu crachá de imprensa. Fitzpatrick? Aprendi com o tempo a não ficar nervosa; as pessoas farejam aproveitadoras de longe. Respirei fundo para afastar o medo. - Essa é uma festa e tanto. Trabalho na coluna de sociedade, sabe? Noticiando todo mundo que é alguém. Dei meu sorriso característico, uma expressão bem ensaiada de inocência com uma pitada de sedução. - Muito ousada, você não devia estar aqui. Essa é uma festa particular! Estava claro que ele não ia me dedurar. - Não se eu for convidada. Me abaixei um pouco na parede, fazendo minha saia subir ainda mais. - Clara Fitzpatrick, disse ele, lendo meu crachá. - Um nome muito judeu... - Vem da minha mãe. Então, você acha que Taylor vai passar o projeto da educação? Aquele dá àqueles garotos uma chance real de se educar... com faculdade, alimentação e moradia gratuitos? Eu sabia que estava pressionando, mas o cara sabia muito mais do que estava dizendo. Acho que ele esperava algo do tipo. - Ele deve assinar essa noite. Tem algo a dizer? Endireitei a gravata dele, que estava realmente torta. - Quero dizer, você é o anfitrião do pós Bar Mitzvah, recebendo na própria casa uma lista de convidados muito exclusiva".

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Romance

5.0

Ela não conseguia decidir. Quando ele estava entre suas pernas, gemendo seu nome, ela não se importava. Sua mãe sempre a advertiu sobre homens como ele. O - bad boy. - O cara que vai te foder e te esquecer em um piscar de olhos. Mas quando você se apaixona por alguém, as coisas raramente são simples. Eles estavam fazendo amor ou apenas fodendo intensamente um ao outro? Ela só tinha certeza de uma coisa. Ela aproveitaria cada segundo com ele. ... e aguentaria cada centímetro. Kara: Não acredito que estou fazendo isso Kara: Estou com tanto medo, Meg Megan: Kara Megan: pense bem nisso!!! Megan: e se Max disser não?! Kara: Eu tenho que tentar Kara: Tô cansada de esconder a verdade Megan: ok... Megan: não importa o que aconteça... Megan: eu te amo. Kara: (emoji de coração) Kara: Eu sei, Meg Kara: Vamos torcer para que Max sinta o mesmo KARA Kara entregou sua carteirinha de estudante ao funcionário da universidade. Prendeu a respiração e olhou para o refeitório, onde sabia que encontraria Max. Mesmo tendo pago pela refeição, agora a comida era a última coisa na mente de Kara. Ela estava prestes a dizer a Max, seu melhor amigo desde o primeiro ano, que sentia algo por ele. Talvez fosse só um crush. Talvez fosse algo mais. Mas Kara sabia de uma coisa com certeza - ela estava cansada de esconder isso. Desde que Max voltou para Minnesota, depois de estudar um período fora do estado na Universidade do Texas, ela estava tentando encontrar uma maneira de dizer a ele. Deveria tentar algum grande gesto romântico? Ou deixá-lo dar o primeiro passo? E se ele não sentisse o mesmo por ela? Kara finalmente decidiu que usaria suas palavras. Ela só esperava que finalmente tivesse coragem suficiente para fazer isso. Quando entrou no refeitório, cheio de estudantes universitários desnutridos, ela logo o avistou. Aff. O menino era lindo. Um grande sorriso travesso, olhos castanhos comoventes e um corpo atlético, embora um tanto compacto - ele era tudo que Kara sempre quis. Seu - Cara Certo. - Seu cavaleiro de armadura brilhante. O escolhido. Ela acenou para ele e ele sorriu, acenando de volta. Aqui vai, ela pensou.

Faminto e sedento

Faminto e sedento

Romance

5.0

- Está morto? - Ouço uma voz perguntar, mas ela parece vir de muito longe. - Quase, mas ainda respira. O que quer que eu faça com ele? Posso acabar com a agonia do garoto com uma única bala. - Não. Valorizo a lealdade. Ele foi contra o próprio pai para proteger a Organização. Esse aí entendeu que a Irmandade[4] está acima da família. - Dizem que ele é meio maluco. - Quem de nós não é? De qualquer modo, o rapaz é corajoso. Não é qualquer um que enfrentaria um avtoritet[5] para cumprir com seu dever de lealdade ao Pakhan[6]. - Não costuma ser tão generoso, Papa[7]. Alguns diriam que um fruto nunca cai longe da árvore. E se for como o pai? - Nesse caso, por que não permitiu que o maldito seguisse com o plano para me matar? Não, o menino é água de outra pipa. E o que estou fazendo não tem a ver com generosidade, mas com pensar no futuro. Conto nos dedos de uma mão quantas pessoas morreriam realmente por mim e por minha família. É mais novo do que os meus netos. Um dia, Yerik e Grigori[8] vão estar no comando e precisarão de homens de verdade ao lado deles. Eu acho que eles continuam conversando, mas não tenho certeza. Acordo e perco a consciência várias vezes. Entretanto, entendo que o Pakhan acha que eu fiz o que fiz por ele, mas não foi. Minha decisão não teve nada a ver com alguém, mas com algo. Regras. É por elas que eu vivo. Eu nunca as quebro. Elas são o meu verdadeiro deus, muito acima do que as pessoas chamam de sentimentos ou emoções. Não tenho amor e nem raiva dentro de mim. Não consigo entender esses conceitos, já as regras, são simples: siga-as ou quebre-as. Há sempre somente duas escolhas. Preto ou branco. O cinza é uma impossibilidade e também uma desculpa para quem não consegue se manter fiel à sua palavra. Não me ofendo com xingamentos ou me dobro à tortura. Não temo a morte e nem sinto medo de nada, a não ser ter minha vida fora de padrões que estabeleci. Eu preciso dos padrões e os procuro em qualquer lugar. Quando descobriu essa minha habilidade de pensar em cem por cento do tempo de forma lógica, meu pai usou-a por muito tempo em seu trabalho na Organização. O que ele não entendeu, é que essa não era apenas uma característica minha, mas quem sou. Em tudo, todas as áreas da minha vida, busco padrões. É assim que consigo compreender o mundo ao meu redor. Foi assim que descobri a traição dele. Ele não estava somente roubando, planejava entregar o Pakhan nas mãos dos inimigo e isso desordenaria meu plano de continuar servindo à Organização. Atrapalharia as entregas de carregamentos de armas, cujas rotas calculei com precisão matemática. Traria um novo chefe para a Irmandade, que talvez quisesse modificar a planilha de lucro. Iniciar guerras desnecessárias. Eu odeio mudanças. Qualquer alteração me desestabiliza. Até mesmo uma solução alternativa para mim, tem que ser analisada de antemão. Tusso e me sinto sufocar. O ar está impregnado com uma mistura esquisita. Um dos odores é sangue, eu sei. Estou acostumado a esse cheiro desde pequeno. Aos treze anos, matei pela primeira vez. Uma ideia destorcida do meu pai para que eu fosse iniciado dentro da Organização. O outro odor, acredito que seja álcool, então acho que devo estar em um hospital. Eu não me importo, só quero ficar curado. Preciso que me costurem para que eu possa seguir com o meu trabalho. Se demorar muito, vai atrapalhar meu cronograma e eu não tolero imprevistos.

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