Eu estava no final da cama de Amira observando-a dormir através da escuridão, olhos cansados. O vazio no meu coração mais uma vez se espalhando por deixar seu calor. Ela gemeu, como se pudesse sentir minha ausência também, mesmo em seu sono. Eu escolhi passar os últimos minutos que me restava com ela, absorvendo tudo, do seu longo cabelo bagunçado e indisciplinado cobrindo parcialmente o rosto, até os lábios carnudos e inchados, inchados pelo meu implacável e insaciável ataque. Sua pele nua e rubra, apenas uma lembrança de quantas vezes eu me perdi dentro dela. O cheiro de sexo flutuando pesado no quarto, só alimentou as memórias de quantas vezes eu fiz dela verdadeiramente minha. Sua beleza me manteve cativo. Ela estava brilhando. Serena. De tirar o fôlego.
O sol começou lentamente a aparecer pela janela. Cada raio de luz que
caia em seu rosto bonito incitava a bomba-relógio no meu corpo. Apenas me
lembrando de que eu não tinha muito tempo com ela.
Eu precisava ir. Eu tinha que sair.
Finalmente me afasto do único amor que eu já conheci.
Nós nunca tivemos uma chance juntos. Nem um momento, nem um
segundo, nem um beijo roubado ou carícia provocada pelos meus lábios.
Pelo meu toque.
Pelo meu amor.
Pelo fogo dentro de mim que só pertenceria a ela.
Meu coração cada vez mais preso quanto mais eu ficava lá. Apertando
tudo ao meu redor, produzindo uma dor penetrante que eu carregaria
comigo para o resto da minha vida.
Mais culpa, Mais memórias.
Mais. Fodidos. Demônios.
Eu estava certo sobre uma coisa e somente uma - quando eu saísse da
sala, eu estaria levando o amor dela...
Sua devoção...
Sua inocência e virtude...
Comigo.
Toda história tinha um final... E esse era o nosso.
Isso a destruiria.
Eu Iria Destruí-la.
De uma forma que eu nunca pensei que pudesse.
Eu fiquei lá lutando contra o desejo de abraçá-la, dizer a ela que a amava
uma e outra vez, e fazer amor com ela uma última vez, mesmo que eu tenha
passado a noite inteira dentro de sua doce boceta. Adorando-a pra caralho,
totalmente consciente do fato de que eu estava arruinando-a para todos os
outros homens, e não dando uma merda enquanto fazia isso. Mas não foi o
suficiente... Nunca seria suficiente. Nada entre nós já foi.
-Mmm... Damien-, ela se mexeu como se sentisse minhas intenções
imperdoáveis. Eu me agachei até o rosto dela, murmurando em seu ouvido:
-Shhh... sou eu, Muñeca. Estou aqui, shhh... estou aqui. Eu estou sempre
aqui.- Inadvertidamente fechando meus olhos, senti meu remorso me
engolindo inteiro. Levando-me em cativeiro. Seria o único demônio que eu
procuraria conforto e refúgio.
Amira.
Eu lentamente abri meus olhos, seguindo em frente com a verdadeira
razão pela qual voltei para a casa em primeiro lugar. Pegando Yuly da parte
de dentro do meu casaco, eu caminhei até o lado da cama onde estava
deitado e gentilmente coloquei a boneca ao lado dela. Colocando uma nota
em cima de Yuly, com cuidado para não acordar Amira. Antes que eu
soubesse o que estava fazendo, a parte de trás dos meus dedos acariciava o
lado do rosto dela. Minha mão gravitava em direção a ela como se estivesse
sendo puxada por uma força que nenhum de nós jamais entenderia. Uma
força que sempre foi muito maior, muito mais poderosa que a gente.
Uma conexão trazida pela escuridão tornou-se a única luz em minha
vida. Mesmo em seu sono, ela derreteu em meu toque quando eu murmurei:
-Eu sinto tanto, sempre amarei você, Muñeca. Sempre te amarei pra caralho.
-Tocando a ponta do seu nariz, eu dei uma última olhada em seu corpo
imóvel, e bem quando eu estava prestes a virar e sair, ela murmurou de
volta,- Sempre te amarei também-, em seu sono.
Eu fiz uma careta, a dor me atravessando enquanto experimentava um
tormento sombrio cair sobre mim. Ele correu pelas minhas veias, bombeando
através do meu sangue quando eu virei de costas e a deixei dormindo com
sua maldita virtude espalhada nos lençóis.
Por bem ou por mal, agora pertencia a mim junto com o seu coração.
-Sempre te amarei também.- Seriam as últimas palavras que ela me
diria. Um lembrete constante do que sempre seria meu.
Ela.
A escuridão da minha alma me consumiu, ofuscando o nosso amor no
qual eu queria tão desesperadamente me segurar.
Agora, tudo o que restava de nós eram lembranças. Memórias eram o
que me consumiam agora, rolos de imagens da vida estilhaçadas na minha
cabeça.
-Amira, meu nome é Damien. Você pode me olhar, por favor? Eu preciso que
você olhe para mim... Você pode fazer isso por mim?
-Yuly?- Ela finalmente falou. Seus olhos se encheram de lágrimas frescas,
não acreditando no que estava vendo. A visão da pequena boneca restaurando um
pequeno pedaço do que restava de seu coração.
O mesmo coração que eu tinha acabado de quebrar além do reparo
quando fui aquele que havia consertado para ela, a princípio.
Quando dei por mim, eu estava batendo a porta do meu carro, mudando
para a primeira marcha e dando o fora dali. Eu tentei me livrar dos meus
pensamentos implacáveis, tocando a música o mais alto possível. O sistema
de som explodindo 'Carol of the Bells' através dos alto-falantes. Batendo alto
e forte em minha mente, imitando as batidas do meu coração e o zumbido
nos meus ouvidos. Eu estava a mais de oitenta quilômetros por hora,
chegando a noventa, chateado com o que eu tinha acabado de fazer. Furioso
por permitir que isso acontecesse novamente. Eu não consegui fugir rápido o
suficiente.
Não da minha mente.
Minhas ações.
Minha merda de vida...
Amira.
-Temos de ir.
Eu trouxe sua atenção de volta para mim. -Onde? Para onde eu vou? - Ela
sussurrou alto o suficiente para eu ouvir.
-Deixe que eu me preocupe com isso.- Eu levantei, estendendo minha mão
para ela pegar.
-Você promete... você promete que não vai me machucar? Estou segura com
você? Dos monstros...
Pela terceira vez esta noite, senti como se tivesse levado mais uma bala ao meu
maldito coração. Então eu simplesmente respondi: -Você está segura comigo,
Muñeca.
Ela nunca esteve segura comigo. Nem um dia ela esteve segura comigo.
Ou... de mim.
Eu voei de carro após carro em todos os cruzamentos. Meu pé pesando
no acelerador a cada segundo passado, indo mais e mais rápido até que tudo
por onde eu passava fosse simplesmente um grande borrão. Troquei de faixa,
desviando e mal notando os veículos no meu caminho. Buzinas soaram de
todas as direções, mas não me pararam.
Nada poderia me parar.
Nem antes.
Nem agora.
Nunca.
-Você sabe tanto quanto eu... Ela não é mais uma garotinha. Quanto mais
velha ela fica, mais ela vai entender a verdade. Um dia, em breve, não serei o homem
que a salvou. Eu vou ser apenas mais um maldito monstro que assombra seus sonhos.
Eu fiz uma curva acentuada a esquerda em uma via de retorno, fazendo
meu carro derrapar. Quase atingindo um pedestre enquanto eu corria colina
acima para evitar o tráfego da hora do rush matutino. Meus pneus
levantaram o cascalho quando fiz a curva, sem soltar o acelerador. Mudando
para o ponto morto, derrapando lateralmente e imediatamente empurrando o
câmbio com força para a terceira e quarta marcha. Acelerando para a saída do
meu maldito inferno pessoal. A música não faz nada para abafar meus
pensamentos impiedosos.
Eu tentei, eu tentei tão duro levá-la para um lugar seguro. Sabendo que
ela nunca teve uma chance ao meu lado.
Ninguém tinha.
-Eu prometo que vou ouvir tudo o que você diz e me mandar fazer. Eu juro que
vou parar de te provocar. Vou parar de acordá-lo no meio da noite. Eu farei o que for
preciso para você não me mandar embora- ela implorou, sua voz se quebrando
profusamente. Ofegando por sua próxima respiração.
-Jesus Cristo, Amira. Não tem nada a ver com isso.
-Então por quê? Por que você está fazendo isso? É porque seu pai sabe de
mim? Ele não vai contar. E se ele fizer, não importa. Eu vou me esconder! Eu sou boa
nisso, você mesmo disse! Eu não vou sair de casa. Eu ficarei no meu quarto. Eu não
me importo!
-Que tipo de vida você teria?
-Uma que é com você! E Rosarío! A única vida que eu conheço!
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