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Por toda a eternidade

Por toda a eternidade

Maria Juliana

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Capítulo

Domênico descobre em sua terceira vida que é uma alma espírita que reencarna em várias vidas com a missão de pregar a paz. Depois de estudar e procurar sobre reencarnação, ele também descobre que tem uma alma gêmea que nasce sempre que ele reencarna, mas não estão predestinados a ficarem juntos até a morte. Para tentar mudar o destino, em sua sexta reencarnação ele resolve procurar por ela ao invés de esperar que o destino os unisse, e encontra sua alma gêmea reencarnada na jovem Aurora, uma recém graduada de medicina cética e completamente diferente de suas outras vidas. Entre aventuras, choro, raiva e beijos, Domênico irá descobrir que há certas coisas em sua missão que não podem ser mudadas. Ou será que podem?

Capítulo 1 O PRIMEIRO EVENTO SOBRENATURAL

Ano atual - Espanha

Domênico se despedia de seus colegas enquanto terminava de arrumar o salão de reuniões de oração. Seu amigo Tobias não parava de tagarelar o quanto estava cansativo nos últimos dias pregar a palavra de Deus para jovens do mundo, e Domênico apenas sorria de suas reclamações.

- Há alguns dias um jovem de dezesseis anos me parou na saída do salão e me perguntou: eu posso viver no pecado a vida inteira e no último segundo me arrepender e me entregar a Jesus, para ser salvo?". - Tobias imitou a voz do garoto. - Dá pra acreditar nisso?

Domênico não segurou as risadas.

- E o que você respondeu? - Ele estava curioso.

- Que eu não sou Deus, e por isso não poderia responder o que Ele faria. - Tobias respondeu como se fosse óbvio.

- Resposta sensata. - Domênico aprovou.

- Mas disse também que se eu fosse Ele, não o aceitaria nem para ver o céu de longe.

Domenico virou-se para ele, mudando de expressão rapidamente e Tobias fingiu não reparar.

- Eu espero que você seja menos impulsivo da próxima vez.

- Não vai ser preciso, ele não veio mais então provavelmente não vai ter próxima vez. - Tobias sorriu mesmo sabendo que ia levar uma bronca do amigo.

Domênico balançou a cabeça negativamente mas também sorriu.

- Nós estamos aqui para aproximar as pessoas de Jesus e não afastá-las mais. Você, mais do que todos deveria entender.

- Eu não tenho culpa se o garoto escolheu o outro caminho. Ou talvez ele só não saiba os verdadeiros benefícios de seguir Jesus ainda. E você, mais do que todos, deveria saber que tudo é no tempo certo de Deus. - Tobias sorriu mais uma vez, orgulhoso de si.

Domênico pegou sua bolsa e deu dois tapinhas no ombro do amigo.

- Eu vou relevar dessa vez.

***

Os dois caminharam próximo a Playa de los Balmins da pequena cidade de Sitges, província de Barcelona, onde moravam os dois desde os dezoito anos quando os pais de Tobias convidaram Domênico para visitar o município e fazer seu trabalho magnífico de pregação cristã. Domênico ficou maravilhado com o lugar e não quis mais voltar para o Brasil, para a tristeza de Agamenon e Vitória, seus pais.

A linda praia foi o primeiro lugar que Tobias apresentou ao amigo.

- Minha mãe me ligou hoje para perguntar se eu vou passar as festas de final de ano com ela. - Domênico contou a Tobias.

- E você vai? - Ele não estava nem um pouco animado com a ideia de continuar com as reuniões de oração sozinho, nem de ficar longe de seu melhor amigo.

Pelas expressões de Domênico, Tobias percebeu que ele também não parecia animado.

- Já fazem tantos anos. E não quero abandonar nosso trabalho aqui, agora que parece que as coisas estão melhorando.

- Ei, eu posso dar conta sozinho. - Tobias ergueu seus braços em protesto. Apesar de tudo, ele não queria que o amigo achasse que ele era incapaz de cuidar do projeto. E o fato de ele ter afastado pelo menos uns 5 jovens das reuniões com suas respostas nada incentivadoras não significava nada para ele.

Mas para Domênico significava.

- Eu não disse que você não poderia, só que eu acho que seria melhor nós dois continuarmos com o projeto juntos pra não desandar. Sempre fizemos isso, mudar agora pode não ser bom, teríamos que mudar muitas coisas...

- Você e suas palavras bonitas. Eu já entendi. - Tobias virou o rosto para olhar pela paisagem da praia. Domênico se calou. - Mas você não respondeu minha pergunta, vai voltar ao Brasil pra passar as festas?

Ele pensou por alguns segundos enquanto também admirava a paisagem da praia. Observou alguns jovens jogando voleibol na areia enquanto outros acompanhavam e torciam. Observou casais trocando beijos, crianças correndo e se molhando na água. Apenas distração, pois Domênico não prestava atenção em nada daquilo. Sua preocupação com a viagem de volta ao Brasil não se limitava apenas em abandonar o projeto cristão, que não seria por mais de algumas poucas semanas. Havia algo um pouco mais intenso que o impedia de voltar para lá.

Aos cinco anos de idade, Domênico presenciou seu primeiro evento sobrenatural relacionado à suas vidas passadas. Ele não estava fazendo terapia, pois até então não havia precisado. Aparentemente ele era uma criança normal com uma imaginação fértil, que gostava de desenhar lugares que ele nunca havia visto, descrever pessoas que ele não conhecia, dizer nomes que ele nunca havia ouvido. Ele estava apenas brincando no balanço do parque que ficava no bairro onde morava com os pais, quando seu corpo pareceu saltar de um lugar para outro, mudando não só o lugar onde estava, mas o clima, a época, as pessoas ao redor. Ele viu um jovem alto e forte, portando algumas malas e vestindo roupas estranhas de soldado, numa estação de trem antiga, entrando em um vagão enquanto se despedia de uma moça linda de cabelos curtos, vestidos coloridos e sorriso triste. Ele não entendeu nada e naquele momento não conseguia explicar aos pais o que havia visto, mas a cena ficou em sua cabeça por longos anos. Até que as suspeitas de seus pais, que são espíritas, o convenceram a fazer sessões de regressão para tentar descobrir quem eram as pessoas que ele havia visto em sua visão. Foi então que Domênico desvendou todo o mistério por trás de seus desenhos e de seus sonhos. As pessoas em suas pinturas, os nomes que vinham em sua mente, as imagens que ele desenhava eram vislumbres de lugares e pessoas que fizeram parte de suas vidas anteriores, e ele era um sortudo - ou não - por conseguir lembrar de absolutamente tudo. E aquele soldado se despedindo da linda moça na estação de trem era apenas ele, em sua outra vida, dando o último adeus para sua esposa antes de morrer durante uma batalha na primeira guerra mundial, na França.

Domênico sofreu muito em busca de respostas sobre suas vidas passadas através da regressão, e ele não parou até entender porque a sua primeira visão aos cinco anos o deixava tão angustiado e desorientado.

Quando ele descobriu que tinha uma alma gêmea, um amor eterno, verdadeiro, com paixão e companheirismo e que eles sempre se encontravam em suas vidas, um novo sentido tomou conta dele. Mas seu mundo desabou quando as peças se encaixaram ao perceber que ele sempre morria jovem, deixando seu amor para trás, desamparado. Quando ele finalmente cumpria sua missão, ele voltava para o seu lugar no céu, se juntando às outras almas espíritas para esperar uma nova oportunidade de descer à terra e fazer novamente o seu trabalho.

Domênico não poderia viver com o seu amor até o fim das suas vidas humanas. Não estava predestinado.

Mas ele entendeu que era o seu dever cumprir a sua missão de pregar a palavra e aproximar as pessoas de Deus. E ele continuou. Mas o medo de encontrar o seu amor e viver tudo novamente era algo que ele não conseguia mudar.

- Ei? - Tobias cutucou o amigo. - Dá pra voltar pra cá?

Ele sorriu.

- Não, eu não vou. Ainda não posso. - Domênico respondeu, baixando a cabeça.

- E por que não?

- Cara, você sabe. Eu te contei tudo quando criamos o projeto espírita. Das outras vezes eu a encontrei no mesmo lugar que nasci. Na mesma cidade, no mesmo bairro...

Tobias sabia muito bem do que Domênico falava, mas não se conformava em ver o amigo fugindo de algo que estava destinado a ele para sempre.

- Você sabe que um dia vai encontrá-la, não pode evitar.

- Mas posso adiar. Eu não quero que ela passe por isso de novo, queria poder mudar mas a única coisa que eu posso fazer é continuar fingindo que não falta nada na minha vida. Até chegar a hora e eu não puder mais adiar. - Domênico deu um sorriso desanimado para Tobias e voltou a olhar em direção à praia.

- Eu gostaria muito de saber se você era assim nas outras vidas. Se você também resistia ao seu amor ao invés de lutar por ele. - Tobias deu uma risada como se tivesse dito algo absurdo.

Domênico pareceu se lembrar de algo.

- "Lutar" você quer dizer procurar, buscar por ela ao invés de esperar que a gente se encontre?

- Não... quer dizer, sei lá. - Tobias ficou confuso. - No que você está pensando?

Domênico pareceu revirar suas memórias enquanto ficava em silêncio.

- Até onde eu me lembro, sempre nos reencontramos por acaso, sem que nenhum dos dois estivesse esperando. E seu eu procurasse por ela? Será que alguma coisa pode mudar se eu investigasse seu paradeiro e descobrisse quem ela é...

- Ah sim, seria uma ótima ideia você ir procurá-la sem nenhuma explicação lógica, o que você ia dizer pra ela? "Olá, você é a minha alma gêmea que fica viúva de mim em todas as nossas vidas? É um prazer te encontrar de novo..."

Domênico acompanhou as risadas do amigo.

- Não seria exatamente assim mas confesso que minha primeira ideia seria contar tudo pra ela. - Domenico admitiu.

- Se fizer isso com certeza as coisas serão diferentes.

- Você acha? - Domênico pareceu animado.

- Claro, ela vai ficar com medo, vai fugir de você e você morrerá sem deixar ninguém viúva e sem viver nenhum relacionamento. Vai voltar pro céu como um santo virgem que não conseguiu nem dar uns beijinhos na alma gêmea. - Tobias ria entre as palavras.

- Isso é sério, é a minha vida, para de brincar com isso. - Apesar das reclamações, Domênico também ria.

- Vamos esperar que ela pelo menos também acredite em reencarnação, senão você vai ter mais uma missão pra cumprir. - Tobias o incentivou.

- Das outras vezes ela acreditou, por que seria diferente dessa vez? - Domênico parecia questionar a si mesmo ao invés de perguntar ao amigo.

Tobias apenas deu de ombros e os dois seguiram pela praia rumo a casa de Safira, mãe de Tobias.

***

Ano atual - Bairro Campolim, área nobre de Sorocaba - SP(Brasil)

Aurora estava há tanto tempo planejando sua tão esperada festa de formatura, que nem se deu conta de que havia marcado para o dia do aniversário de sua melhor amiga. É claro que depois do "incidente", ela precisou remarcar a data e avisar a todos individualmente para garantir que os convidados soubessem da nova data e confirmassem presença.

Ela conversava com uma das convidadas de sua mãe que insistia que ela deveria deixar a data anterior para não ser tão próxima do feriado de natal, o que estava deixando Aurora irritada com a ousadia da senhora de se intrometer em um assunto tão particular dela.

- A senhora só precisa me dizer se vai poder vir ou não, porque infelizmente eu não posso deixar na antiga data pois tenho outro compromisso importante. - Ela repetiu pela enésima vez.

Dona Izabel tagarelava o mesmo sermão novamente enquanto Aurora fazia caretas desrespeitosas sem nem ouvir o que ela dizia.

- Mesmo que eu quisesse deixar para o dia onze de dezembro, seria daqui a quatro dias e está muito em cima pois reorganizei tudo para o dia dezoito. Depois dessa data só poderia fazer alguma coisa depois da segunda semana do próximo ano e eu quero começar dois mil e vinte e dois salvando a vida de pessoas e não fazendo festa de formatura atrasada, então a senhora me confirma por favor se vai poder vir...

Aurora diminuiu seu diálogo quando a porta de seu quarto abriu e sua mãe, que parecia saber exatamente com quem ela estava falando, apareceu e fez menção de pegar o telefone de suas mãos.

- Sinceramente, eu não acharia nada ruim se ela decidisse não vir. - Ela cochichou enquanto entregava o próprio celular à mãe.

- Cecília está te esperando lá em baixo. - Agatha cochichou para a filha, sorrindo.

Aurora correu como se fosse caso de vida ou m*rte para encontrar a amiga e dizer que estava tudo certo para a formatura uma semana depois de seu aniversário. Mas Cecília parecia mais desanimada do que o normal considerando que ela adorava festas comemorativas.

Aurora sentou-se ao lado dela e olhou bem para a amiga antes de falar qualquer coisa.

Cecília estava de cabeça baixa deixando a franja do seu cabelo curto cobrir quase cem por cento do rosto, com as mãos inquietas cruzando e descruzando os dedos, e tremendo as pernas como se estivesse com frio. Aurora pegou em sua mão, e percebeu que ela estava suando.

Ela sabia que tinha alguma coisa errada.

- E então? - Aurora perguntou a Cecília.

A amiga levantou lentamente o rosto e revelou o olhar triste.

- Cancelei a festa de aniversário porque minha avó teve uma daquelas visões estranhas dela e minha mãe resolveu viajar. - Ela atropelou as palavras torcendo pra amiga não ficar chateada.

- Você quis dizer "surto psicótico"? - Aurora revirou os olhos.

- Você sabe que a gente morre de medo dessas coisas. - A voz de Cecília estava trêmula.

- Eu te falei várias vezes que vocês precisam levar sua avó para um asilo ou pelo menos uma clínica psiquiátrica. Ela não pode ficar sozinha naquela casa e nenhum de vocês tem condições psicólogicas para cuidar dela. - Aurora parecia verdadeiramente indignada.

- As coisas que ela vê acontecem de verdade, e você já viu, não sei porque não acredita. - Cecília se acalmou.

- Eu acredito que sua avó pode causar um desastre quando entra em surto psicótico. Como naquele dia, na rodovia, quando ela atrapalhou o trânsito e quase foi atropelada enquanto berrava umas palavras estranhas. - Ela levantou-se e caminhou até a cozinha.

Cecília a seguiu.

- Foi no dia que aconteceu o incêndio que destruiu a feira de literatura. Se ela não tivesse criado esse tumulto não teríamos saído do pátio e todo mundo teria pegado fogo junto com os livros. - Cecília lembrava bem desse dia.

- Isso foi uma coincidência. - Aurora voltou a revirar os olhos, pois não suportava esse fanatismo pela sobrenaturalidade. - Mas vamos ao ponto principal da conversa. Você não quer fazer seu aniversário porque sua avó falou algumas bobagens...

Ela parou quando a amiga a repreendeu com um olhar.

- Porque ela teve uma... "visão"? - Aurora perguntou com um tom de deboche que sua amiga não reparou.

Cecília apenas confirmou com a cabeça.

- E o que ela disse afinal? - Ela perguntou enquanto abria a geladeira e observava atentamente o que havia dentro.

- Eu prefiro não falar. - Cecília se posicionou ao lado da amiga em frente a geladeira aberta.

- Ué, por que? - Aurora não entendeu o porque do mistério.

- Eu só vim te dizer que também não vou chegar a tempo para a sua festa de formatura.

Houve silencio por alguns segundos enquanto Cecília esperava a amiga processar o que ela havia dito. Somente depois que Aurora demonstrou tamanha decepção ela percebeu que não tinha como ela aceitar numa boa o fato da sua melhor amiga não comparecer ao evento mais importante dela após 6 anos de estudos de medicina.

- Me desculpa, não é por querer...

Aurora segurou nas mãos da amiga logo depois de fechar a geladeira.

- Eu sei que você tem medo dessas... "coisas", mas dessa vez eu quero pedir pra você confiar em mim. São duas festas muito importantes pra nós duas, eu quero muito participar do seu aniversário de vinte e cinco anos e quero que você faça parte da minha festa de formatura. Por favor, fiquei aqui na minha casa enquanto os seus pais viajam e eu te ajudo a organizar sua festa.

Cecília pensou por alguns segundos mesmo sabendo que não poderia negar isso a sua amiga, nem a ela mesma. Mas ela se preocupava.

Se preocupava com o fato de que a última visão se a sua avó tinha uma ligação direta com Aurora, mas ela tinha medo de falar e a amiga continuar achando que elas são louc*s. Ela decidiu por fim, não dizer nada e ficar na casa da amiga para sua festa e para a formatura.

- Tudo bem, eu fico. Mas se alguma coisa acontecer não me culpe. Não é porque você não acredita que as coisas vão deixar de acontecer. - Cecília soltou as mãos da amiga de forma delicada, e voltou a abrir a geladeira.

- Não vai acontecer nada. - Aurora sentou na cadeira mais perto dela.

As duas ouviram passos apressados, que só poderiam ser de Agatha. Ela entrou na cozinha entregando o celular para a filha.

- Infelizmente a dona Izabel decidiu não vir para a festa. - Agatha deu uma piscadela para Aurora.

- Que trágico. - Aurora sorriu. - Um a menos não vai fazer diferença.

- Na verdade, tem uma pessoa que pode vir. Ele é filho de Vitória, que trabalha no Centro Espírita ao lado da minha clínica e me ajuda nas sessões de regressão.

- A senhora quer transformar a minha festa num culto? - Aurora não resistiu em debochar.

- Que exagero. - Cecília riu.

- Ele é um jovem bem influente, mas ainda está decidindo se vem passar o final de ano com os pais. Ele mora na Espanha há muitos anos. - Agatha ajudou Cecília a tirar alguns potes de comida congelada da geladeira.

- Bom, eu não me importo, pode reservar o convite pra ele então. - Aurora deu de ombros.

- Tudo bem. Vocês dão conta do jantar sozinhas? Está ficando tarde e preciso ir para a casa.

As duas balançaram a cabeça positivamente.

- Um cheiro pra vocês então. - Agatha pegou a bolsa e caminhou para fora da cozinha.

- Tia? - Cecília chamou. Ela parou e virou-se. - Qual o nome dele?

- Do filho da Vitória? Domenico, por quê? - Agatha achou estranho a pergunta.

- Nada não, achei que o conhecia. - Cecília voltou a mexer nos potes quando Agatha saiu, e começou a destampá-los para esquentar no micro-ondas.

A pergunta dela não passou despercebida por Aurora.

- Que importância tem o nome do cara? - Ela perguntou sem rodeios.

- Nada, já disse. Pensei que conhecia ele. - Cecília deu um sorriso discreto.

- Tá bom. - Aurora não engoliu a resposta da amiga, mas deixou para lá.

Cecília se lembrava bem das palavras da avó quanto à visão que ela teve. "Um enviado divino chegará no dia do Senhor ao amanhecer para fortificar a fé abalada." Ela não sabia o que significava mas também tinha medo de descobrir. Só precisava disfarçar para Aurora não continuar perguntando e chamando de bobagens as previsões da avó.

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