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Sr Carter, Eu quero Você

Sr Carter, Eu quero Você

VicFigueiredo

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275
Capítulo

Ele é herdeiro de uma das mais poderosas empresas de advocacia do país e um advogado com a carreira em ascensão; Ela esforça-se para terminar a faculdade; Ele mora em uma mansão digna dos filmes de Hollywood; Ela mora em uma casa anexada à mansão dele, trabalhando vez ou outra junto à mãe cozinheira para servir a influente família dele. Dois mundos diferentes se entrelaçam e proporcionam a descoberta de um sentimento intenso. Se o amor realmente supera barreiras, eles terão que descobrir.

Capítulo 1 01

A noite estava fria, o vento forte fazia com que as folhas das árvores balançam violentamente, indicando que certamente uma chuva intensa começaria a cair a qualquer minuto.

Embora a temperatura estivesse baixa, frio era o que eu menos sentia naquele momento, haja vista que eu não parava um minuto sequer, pois me desdobrava entre colocar champagne nas luxuosas taças de cristal e arrumar os quitutes sofisticados na bandeja, a fim de que todos fossem levados dali pelos garçons e garçonetes contratados para aquele típico evento da classe alta.

Olhei aquela cozinha abarrotada de pessoas que corriam de um lado para o outro, todas focadas em fazer o seu trabalho da maneira mais impecável possível, levando em conta que aquela era mais uma das tantas exímias festas da brilhante e popular família Carter, conhecida por sua tradição no ramo de advocacia, onde Kyara e Henrico Carter formavam o casal mais prestigiado nesta área.

Kyara é a advogada mais influente na área de Direito de Família, onde possui muito reconhecimento atuando com divórcios litigiosos – divórcios que ocorrem de forma não amigável, ou seja, onde há conflitos na vida conjugal e isso resulta em uma ação judicial – e já recebeu diversos prêmios, sendo, também, sócia de um renomado escritório. Henrico é advogado criminalista e dono de um dos mais poderosos escritórios de advocacia do país, adquirindo reconhecimento defendendo – e ganhando – casos famosos que obtinham cobertura jornalística, portanto, sendo recorrentemente citado pela mídia.

Os dois tinham um filho, John, que também decidiu seguir carreira em Direito, tendo se formado há pouco mais de três anos. Eles eram, definitivamente, louváveis neste quesito.

Olhei para o lado e vi que a minha mãe passava a mão na testa e suspirava, cansada, enquanto terminava de cortar alguns tomates. Fui até ela e gentilmente peguei a faca de sua mão, recebendo um olhar confuso em resposta ao meu ato.

- Deixa que eu faço isso, mãe. Senta um pouco. - Falei, já começando a cortar os tomates em pequenos cubinhos.

-Não precisa, filha. Você já está ajudando muito, nem era pra você estar fazendo isso. E tome cuidado, a faca está afiada. - Ela argumentou, tentando pegar a faca da minha mão, porém, eu a impedi.

- Você acha que eu sou tão desastrada a ponto de não conseguir cortar alguns tomates?- Ela me olhou com deboche, como se nem precisasse me responder.

Fitei-a boquiaberta.

- Eu quero ajudar, não seja teimosa, dona Mary! - Soltei uma risadinha com a cara resignada dela, já sabendo que eu não desistiria. Observei-a sentando-se em um dos bancos espalhados pela enorme cozinha e voltei à minha tarefa anterior, tomando cuidado para não me cortar.

Minha mãe trabalhava há muito tempo como cozinheira na casa dos Carter, possuo diversas lembranças de vê-la cozinhar enquanto eu desenhava e fazia a lição sentada na mesa.

Após a morte do meu pai, passei a acompanhá-la ao seu local de trabalho diariamente. No momento em que comecei a escolinha, minha mãe me levava e, de lá, seguia para o trabalho; Já na volta, uma amiga dela me buscava e ia junto comigo até a mansão, o que se tornou desnecessário ao passo em que eu completava mais idade, adquirindo a possibilidade de ir e vir sozinha.

Nesse tempo, eu via John poucas vezes andando pela casa, afinal, ele sempre tinha diversas atividades para fazer, e comumente ouvia-se a dona Kyara o apressando para a aula de natação, hipismo, violão e tudo mais o que você pode imaginar.

Eu nunca consegui entender essa fixação que gente rica tem de enfiar os filhos em milhões de tarefas.

Com a morte do meu pai, a nossa situação financeira foi de mal a pior, chegando ao ponto em que nós corríamos risco de sermos despejadas da nossa casa devido à falta de pagamento do aluguel. Aquela época foi horrível, eu ainda era criança, não entendia ao certo o que havia de errado, contudo, via a minha mãe constantemente desesperada e sofrendo para conseguir quitar as dívidas. Isso não era possível somente com o seu salário, então, a dona Kyara ofereceu a casa dos fundos da mansão para que nós morássemos, contanto que isso não atrapalhasse o rendimento da minha mãe no trabalho.

Era um anexo, tipo uma casa de caseiro que localizava-se aos fundos da moradia principal. Ela prontamente aceitou e moramos aqui até hoje. O dinheiro que ia para o aluguel e outras despesas foi investido na minha educação junto a uma quantia que ficava em uma poupança da qual meu pai deixara para mim, exatamente para este propósito, e, com isso, no primeiro ano do ensino médio, pude entrar em um ótimo e renomado colégio.

No começo eu tive bastante dificuldade para conseguir acompanhar o ritmo do ensino – que era extremamente puxado – e, outra situação bem chata se deu ao fato de ter que lidar com os meus colegas de classe e até alunos de outros períodos. A grande maioria – senão todos – os alunos do colégio usufruíram de uma excelente vida financeira e viviam confortavelmente, e quando me questionavam a respeito da ocupação dos meus pais, eu ficava insegura em dizer-lhes que eu era bem diferente deles neste aspecto, afinal, as pessoas não sabiam lidar com desigualdades sociais e isso originava piadinhas e comentários maldosos. Mesmo assim, eu decidi falar, pois jamais tive vergonha da minha mãe ou de sua profissão.

Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio John havia acabado de entrar na faculdade, optando por não se mudar para estudar em outro lugar, haja vista que, nessa época, a dona Kyara desenvolveu sérios problemas de saúde e, como o senhor Henrico viaja constantemente para fora do país, não quis deixar a mãe sozinha. John passou em Direito em uma ótima faculdade – uma das melhores do país e que se localizava na cidade –, sendo, coincidentemente, a faculdade da qual eu sempre quis fazer parte. Tendo isso em mente, estudei muito, atormentei meus professores, fiquei dia e noite focada nos livros – muitas vezes levando bronca da minha mãe pela minha falta de descanso – e, finalmente, consegui a minha tão sonhada vaga. Agora eu me encontrava caminhando para o fim do curso de Psicologia, ansiando cada vez mais pelo dia em que eu concluiria a faculdade e, claro, pelo dia da minha tão sonhada formatura.

Eu terminei de cortar o último tomate no momento em que o bendito escorregou, fazendo a faca ir de encontro ao meu dedo indicador, formando um corte um tanto quanto feio. Soltei um murmúrio de dor, vendo que o sangue saía descontroladamente do corte ao mesmo tempo em que sentia uma ardência latejante nele.

- Helena, o que foi que eu te disse? - Minha mãe brotou ao meu lado, olhando minuciosamente o meu dedo machucado.

- O tomate escorregou! - Choraminguei fazendo uma careta de dor, indo para a pia a fim de lavar o sangue.

- Toma, coloca esse papel pra controlar o sangramento! - Ela me entregou o papel e eu o enrolei no dedo. - Vou procurar um band-aid e merthiolate.

- Mary , será que você poderia me ajudar aqui? - Uma moça pediu, apontando para um amontoado de panelas.

- Tudo bem, mãe. Deixa que eu vou procurar. - Saí da cozinha e segui para o pequeno banheiro que ficava perto da área de serviço.

Abri os armários e busquei por todos os lugares, não encontrando nem o band-aid, tampouco o merthiolate. Bufei, segurando o papel mais firmemente em meu dedo e fui para a despensa onde ficavam os medicamentos e produtos para banheiro.

Abri a porta e entrei no local, iniciando novamente a minha busca, sentindo o meu dedo latejar cada vez mais. Estava distraída mexendo nas prateleiras até que percebi uma movimentação no lugar. Virei-me e dei um pulinho idiota de susto ao ver que alguém havia entrado.

John estava parado perto da porta, me olhando com a maior cara de interrogação possível.

Ele vestia uma blusa social justa da cor branca e as mangas estavam dobradas nos cotovelos; a gravata e a calça jeans eram pretas e, o sapato social, marrom escuro. Seu cabelo continha uma mistura de charme e rebeldia. Estava bonito e...

Opa, espera aí.

Mas o quê...?

É, eu estava o analisando demais.

Franzi o cenho com a minha atitude e saí do mundo da lua, voltando à realidade.

Percebi que o seu olhar encontrava-se direcionado para algo, segui a sua observação e vi que ele encarava o meu dedo machucado onde o papel estava amassado e manchado de sangue. Por instinto, eu recolhi a mão e lancei-lhe um sorriso sem graça quando ele voltou a me encarar com a sua costumeira expressão séria. Virei-me novamente para a prateleira, agradecendo aos céus por finalmente encontrar o band-aid e o merthiolate. Peguei ambos e John ainda estava parado perto da porta, passando os olhos pelas prateleiras, parecendo perdido ao procurar por algo enquanto me esperava sair, já que o lugar não era grande o suficiente para nós dois.

- Eu posso ajudar? - Perguntei sutilmente a ele, que desviou os olhos da despensa e voltou a me fitar.

- Não, pode ir! - sua voz grossa sutilmente rouca fez-se presente. Assenti e saí, querendo fazer o curativo o mais rápido possível. -Tá tudo bem? - a voz grave soou novamente. Parei de andar e olhei pra trás, confusa. Ele permanecia parado perto da porta, porém, agora, suas mãos estavam no bolso de sua calça e o seu semblante permanecia sério. Percebendo que eu não entendia sobre o que ele estava falando, John apontou com a cabeça para o meu dedo machucado.

- Ah, sim. Tudo bem. É só um cortezinho. - respondi acenando com a mão como se aquilo não fosse nada. Percebendo o seu silêncio, sorri em despedida, pronta para, definitivamente, sair de lá. Ele retribuiu com um aceno de cabeça e eu voltei a andar, apressada para cuidar do corte e tornar a ajudar a minha mãe.

Eu morava aqui há muitos anos, e, em todo esse tempo, o máximo que John e eu falávamos um para o outro era "bom dia", "boa tarde" e "boa noite". Bom... Às vezes ele também me perguntava se eu sabia onde estava algo.

De vez em quando eu tinha a impressão de que ele não ia muito com a minha cara, e a ideia de incomodá-lo me deixava incomodada.John passava o dia inteiro no escritório e eu, na faculdade. Aos sábados, eu trabalhava meio período em uma loja de discos, chegando à tarde, e dificilmente via o carro de John na garagem. Terminei de colocar o band-aid no meu dedo e parei com os devaneios, voltando para a cozinha e encontrando todos da mesma forma: trabalhando.

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