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Yan Fu Zhao estava de frente a Gao Lian Fa. Ela olhava o jovem parado na beira do penhasco e ela tinha medo que, se ela olhasse com um pouco mais de atenção, ela pudesse ser capaz de ver todas as espadas do medo, da dor, da perda e do arrependimento firmemente atravessando o peito do outro. Ela olhava para Gao Lian Fa como se fosse a primeira vez, mas aquela estava longe de ser a primeira vez.
Yan Fu Zhao ainda podia se lembrar do jovem alegre e sorridente que ela conheceu naquela noite, a noite caótica no Pavilhão do Primeiro Nível do Inferno, na qual ela conheceu o homem que nunca mais deixou o seu coração. Ela sentia o cipreste amargo deixando sua boca seca, mas a realização do luto ainda nem havia a alcançado. A-lian ainda estava ali, tão perto, mas tão distante quanto jamais havia estado.
No final, Yan Fu Zhao notou que sempre esteve olhando para ele, desde o primeiro dia onde ele sorria inocentemente, até este fatídico dia onde o sorriso dava lugar às lágrimas e as palavras “você violou quatro regras do clã Yan”, ofertavam lugar às palavras “A-lian, volte”.
Quando Gao Lian Fa caiu do penhasco, Yan Fu Zhao ainda olhava para ele. Mas ela sentiu, naquele momento, o cipreste envolvendo todo o seu ser e ela soube que não olharia mais para o homem.
— A-lian! — Meng Shan acordou inopinadamente, com aquele nome tão conhecido em sua boca. Sua cabeça doía e suas cicatrizes passadas ardiam em contato com suas vestes, ela colocou uma mão sobre seu rosto e chorou. Ela chorou pelas lembranças, ela chorou por não ter sido capaz de fazer nada, ela chorou por simplesmente amar aquele mesmo homem antes e agora, e ainda assim não saber onde ele estava. — A-lian, por quê eu continuo sonhando com isso depois de tudo? — Meng Shan tirou a mão de seu rosto e observou as lágrimas que ficaram nela, escorrerem e caírem desoladamente sobre sua coberta. Ela poderia estar triste por ainda chorar por aqueles temíveis acontecimentos, mas ela estava feliz por não ser Gao Lian Fa a chorar aquelas lágrimas.
Meng Shan tinha sonhos misteriosos com um garoto chamado Gao Lian Fa, ao qual ela chamava de A-lian, desde que era criança. Sua primeira palavra foi, coincidentemente, “patético”, a palavra que mais aparecia em seus sonhos além do nome Gao Lian Fa. Seus pais, incrédulos com a situação, não sabiam se ficavam felizes com a filha ter dito sua primeira palavra apenas aos quatro meses de idade, ou se ficavam preocupados em descobrir onde ela havia escutado aquela palavra e como ela havia a aprendido tão facilmente. Meng Shan se desenvolveu rapidamente, e apesar de ser uma criança quieta e calma, seu vocabulário aos três anos era mais vasto que o de muitos adultos. No começo, ela tinha sonhos incompreensíveis onde ela apenas ouvia palavras como “Yan Fu Zhao”; “Clã Yan”; “FuFu-jiejie”; “Gao Lian Fa”; “A-lian” e “Artesão de Almas”, e até seus quatro anos ela não conseguia entender nada do que acontecia nesses sonhos. Porém, quando Meng Shan completou cinco anos, os sonhos começaram a ter imagens e ela começou a entender um pouco do que os sonhos queriam transmitir.
O problema é que em alguns meses os sonhos começaram a seguir a cronologia correta, e assim ela acabou entendendo que não eram apenas sonhos, eram as lembranças de quando ela viveu muitos anos atrás. Ela começou a reconhecer as pessoas e compreender sua própria história passada, e a trágica história de seu pai e sua mãe. Com isso, por ainda ser muito nova, ela acabava levando as questões do passado para sua vida atual e fazia perguntas aos seus pais e, aconteceu de uma vez ela chorar no colo de sua mãe com medo de perdê-la mais uma vez. Ela também perguntava ao seu pai onde Zhu Liu estava, mas seu pai não se lembrava de ter tido outra filha, a única que se lembrava da irmã era Meng Shan. Poucas semanas antes de completar seis anos, ela sonhou brevemente que estava passeando com seu tio, o céu estava cinza e neve caía por toda parte. Estava tão frio que ela precisava usar vários mantos e roupas externas o máximo possível, mas quando ela olhou para um beco sem saída daquele lugar, havia um pequeno garotinho com o cabelo totalmente bagunçado, brincando com alguns bonecos de palha. Entretanto, não foi o tipo de brinquedo que chamou a atenção dela, mas sim a maneira como o garoto estava vestido: ele usava apenas um manto do tipo externo, nada mais. “Ele não está com frio?”, foi a pergunta que passou pela cabeça dela e, antes que seu tio pudesse impedí-la, Yan Fu Zhao correu até o garoto e ofertou-lhe o único brinquedo que ela tinha. Ela não costumava ter muitos brinquedos e pegou aquele depois de muita insistência de sua irmã. Ela queria muito dar roupas ao pequeno garoto, mas tudo que poderia oferecer naquele momento era o brinquedo e, para a sua felicidade, o garotinho estendeu a mão e pegou o brinquedo, depois daquilo o garoto sorriu e foi como se todo o coração dela se enchesse de alegria.
Meng Shan, naquela altura das lembranças que vinham em forma de sonho, já tinha conhecimento que seu nome era Yan Fu Zhao em sua vida passada. Depois do sonho com aquele menino, ela sonhou que havia voltado naquele mesmo beco e não havia mais ninguém lá. Deste modo, ela se virou para ir embora, mas, exatamente quando o vento bateu em seu corpo, ela viu o garoto no colo de Gao Xuan Zhen, o líder do clã Gao e um grande amigo de seu tio. Sem que ele percebesse, o garoto se virou no colo de Gao Xuan Zen e olhou para ela, logo após sorrindo e acenando para Fu Zhao com as mãozinhas pequenas onde a ponta dos dedos estavam mais escuras devido ao frio. Seu sonho terminou com o Senhor Gao dizendo “A-lian, não precisa ficar com medo de voltar para lá, eu vou cuidar de você agora”.
Desde aquele dia, Meng Shan repetia e repetia que precisava, com urgência, encontrar Gao Lian Fa, ela dizia aos seus pais que precisava saber se o menino estava bem ou não. Houveram dias de inverno, onde Meng Shan fazia bonequinhos de papel e os nomeava de “Yan Fu Zhao” e “Gao Lian Fa”, ela pegava pequenos pedaços de pano e fazia a boneca “Yan Fu Zhao” entregá-los ao boneco “Gao Lian Fa” como se ela mesmo estivesse oferecendo cobertas ao menino de seus sonhos. No final, não importava quantas vezes ela seguisse aquele ritual de dar as cobertas para o boneco, nunca foi o verdadeiro Lian Fa aquele que recebera tal atenção.
Ela começou a ir frequentemente ao hospital depois de completar seis anos, permanecendo internada durante dias e ficando em observação por todo esse tempo. O caso dela começou a ser estudado, porque por mais que procurassem algum Gao Lian Fa, era como se a história tivesse se perdido no tempo. Ela carregava marcas de sua vida passada, mas nenhuma delas a levou até quem ela queria.
Ao findar, ela continuou tendo sonhos sequenciais até compreender toda a história, seus sonhos só foram completados no seu vigésimo segundo aniversário. De fato, ela ainda teve tempo de aproveitar o resto de sua vida ao lado de Lian Fa e, apesar de ambos tomarem aquela derradeira decisão aos seus sessenta e poucos anos, Meng Shan como Yan Fu Zhao em sua outra vida, nunca havia deixado de se sentir culpada pelas outras coisas que a levaram a perder Gao Lian Fa para a queda do penhasco.
Agora, depois de vinte e dois anos sonhando todas as noites com sua vida passada, ela não poderia se sentir mais solitária. Há alguns meses, ela havia chegado ao final de suas lembranças e agora alguns trechos de sua vida passada repetiam todas as noites, como lâminas grossas cortando sua pele. Infelizmente, para seu azar, as únicas cenas que se repetiam eram as vezes em que ele amou, amou e perdeu seu “FaFa”.
Não importava quanto tempo passasse, ela sempre amava, amava e perdia Gao Lian Fa.
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