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ME AME ENQUANTO PUDER

ME AME ENQUANTO PUDER

RENATA PANTOZO

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5.2K
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30
Capítulo

Um amor com data para terminar. O amor nem sempre cura. O amor nem sempre supera o medo e a dor. Amá-la enquanto podia, era o que lhe restava.

Capítulo 1 -1

NARRAÇÃO MIGUEL

Paro o carro em frente à casa de Elias. Respiro fundo antes de sair da minha paz e ir para a agitação do mundo. Daqui do carro posso ouvir o som alto da música de sua casa. Se ele não fosse noivo da minha irmã Luana, teria dito que não viria a essa maldita festa. Aliás! Nenhuma festa dele presta. Sempre cheio de amigos escandalosos, mulheres fúteis, bebida demais, cigarro pra todo lado e não só os normais. A verdade é que venho mais para ficar de olho em Luana. Temo que ela se torne uma fútil, viciada em drogas e acabe com sua vida. Venho para vigia-la! Graças a Deus em todas as festas ela evita contato com os viciados.

Elias não é uma má pessoa. Ele apenas possui amigos estranhos demais e não evolui como homem. Parece ser ainda o idiota universitário que Luana começou a namorar na universidade há quatro anos atrás. Meu Deus! Não parece que faz tanto tempo assim que estão juntos. Quando vou abrir a porta do carro pra sair, meu celular toca. Respiro fundo antes de atender o Pedro. Espero que não seja nada com a Geovana.

- O que foi?

Sua risada alta me irrita.

- Só pra saber se está tudo bem na festa, mas pela sua voz não está nada bem.

Ri ainda mais e minha vontade é de ir até a casa dele e soca-lo. Somos mais velhos que Luana e nos revezamos nessas festas, para vigia-la. Mas como Geovana está no fim da gestação, meu irmão fica com ela e tenho que fazer esse papel de guarda costas de irmã sozinho.

- Vou entrar agora. Quando terminar aqui te ligo. Para de me encher a porra do saco.

- Cuidado pra não cair na lábia de uma das amigas do Elias. Já imaginou se apaixonar por uma mulher fútil e novinha?

- Vai se ferrar Pedro! Sabe muito bem que não existe essa possibilidade. Depois te ligo.

Saio do carro e seguro firme minha garrafa de vinho. Se vou ter que ficar aqui, que seja com uma boa bebida e não aquelas misturas estranhas que fazem. Paro em frente à porta da casa e dou algumas batidas. Duvido que com esse som alto, consigam me ouvir. Seguro a maçaneta e antes que consiga girar, ela roda bruscamente na minha mão e a porta se abre rapidamente.

- Você é um babaca, Diogo!

Uma loira passa por mim chorando e a vejo correr em direção à rua. Quando penso em tentar ajuda-la, entra em um carro e vai embora cantando pneu.

- Mulheres!

Escuto uma voz masculina e olho para ver quem é. Um homem bem alto, talvez uns centímetros a mais do que eu, e sorri como um cretino. Tem os cabelos castanhos e olhos verdes.

- Vai entrar?

Pergunta me encarando, nunca o tinha visto antes nas festas do meu cunhado.

- Sim.

- Então fecha a porta.

Diz se virando e indo embora. Deus! Me dê sabedoria para entrar e sair daqui sem socar um idiota como esse. Entro e fecho a porta. Começo a procurar pela minha irmã e encontro Elias antes.

- Miguel!

Vem todo sorridente e me abraça.

- Que bom que veio.

- Trouxe um vinho.

Olha minha bebida como se fosse um veneno. Graças a Deus, pois assim poderei beber sozinho.

- Se me der uma taça, me viro com ele.

- Temos apenas copos plásticos. Não queremos ter que lavar e limpar nada depois da festa.

Aponta para o balcão cheio de latas e garrafas de cervejas, misturado a copos plásticos. Prefiro beber meu vinho no bico a tomar nesse copo ridículo.

- Eu me viro. Onde está Luana?

- Conversando com algumas amigas.

Aponta para um canto e a encontro falando com algumas fúteis que odeio. Vou esperar estar sozinha para me aproximar.

- Vou ali. Precisa de alguma coisa?

- Não...

Elias some e me pego sozinho com meu vinho, em meio a uma enorme muvuca de desconhecidos.

************

Já faz meia hora que espero Luana sair de perto das amigas e nada. Tomei meia garrafa de vinho no bico e preciso me sentar. Olho em volta e nada. A casa está toda socada de gente. Me lembro da varanda do quarto do Elias. Tem uma mesinha e duas cadeiras. Lugar perfeito para me esconder e aparecer no fim da festa para ver se Luana está sóbria. Ando em direção a escada e subo um pouco escondido, para ninguém me seguir. Só espero que não tenha um casal trepando na varanda. Na festa passada entrei no banheiro e peguei duas mulheres na maior pegação. O mais constrangedor foi tentar sair do banheiro com as duas querendo me enfiar na safadeza delas. Disse que era gay e tinha nojo de mulher. A maior blasfêmia que já falei. Sou completamente apaixonado pelo corpo feminino. Entro no quarto do Elias e sigo para a varanda. A porta já está aberta.

A cortina balança com o vento que entra e vou seguindo para fora. Passo pela porta e ando em direção à grade de ferro que cerca o pequeno espaço. O vento bate em meu corpo e solto um longo suspiro aliviado. Ainda posso ouvir a música, mas parece que estou longe o suficiente pra ficar em paz.

- Acho que não sou a única pessoa fugindo da festa.

Uma voz doce surge atrás de mim. Me viro e vejo uma linda mulher sentada em uma das cadeiras.

- Me desculpa! Não sabia que já tinha gente se escondendo aqui.

Digo e fico paralisado em seguida, vendo um belo sorriso crescer em seus lábios. Mas o que me paralisa não é seu sorriso. São seus lindos e enormes olhos azuis.

- Estava procurando silêncio e paz. Muita agitação pra mim lá embaixo.

- Então acho que vou procurar outro lugar pra fugir também.

Ando em direção à porta da varanda.

- Não.... Fica!

Pede com a voz delicada e nos olhamos.

- Sou Priscila Perez !

- Miguel Novaes!

Ando até ela e estendo minha mão. Priscila coloca a dela sobre a minha e apertamos firme, mantendo os olhos conectados. Meus olhos memorizam cada detalhe de seu rosto. Lábios carnudos e nariz pequeno e delicado. Pequenas sardas encantadoras e claro, olhos azuis perfeitos.

- Amiga do Elias?

Nega com a cabeça e solta minha mão.

- Amiga da Luana!

- Da Luana?

Pergunto em choque. Minha irmã nunca falou nada sobre uma amiga Priscila. Na verdade nunca vi essa mulher em nada da Luana.

- Trabalhamos juntas. Na verdade comecei a trabalhar com ela essa semana.

- Arquiteta, também?

- Sim...

Sorri como se fosse algo que a deixasse cheia de orgulho. Olha minha mão e ri alto.

- Qual a graça?

Pergunto sem entender nada e ela aponta com a cabeça o chão. Tem uma garrafa idêntica a minha ao lado dela. Mesmo vinho e pelo que vi, também bebe no bico.

- Acho que me unirei a você na bebida.

- Fique a vontade.

Me sento na cadeira ao lado da dela e em silêncio, bebemos nosso vinho e olhamos a noite estrelada no céu. Nosso silêncio é quebrado por um suspiro pesado dela.

- Muitas pessoas amam o sol e a beleza que sua luminosidade trás.

Olho para ela que está encarando a lua.

- Gosto da noite.

Vira a cabeça e me olha.

- Gosto da forma como ela encobre tudo e faz parecer que tudo é um mistério.

- Então você gosta de coisas escondidas e misteriosas?

- Gosto da incerteza das coisas e de ser surpreendida por aquilo que os olhos não enxergam.

- Estranho ouvir isso de uma arquiteta. Imagino que ver o seu trabalho é algo fundamental para você.

Digo e estamos os dois rindo.

- Sou uma arquiteta diferente.

Pisca para mim e começamos a falar sobre tudo e nada ao mesmo tempo. As horas vão se passando e não estou nem um pouco entediado. Priscila é linda, inteligente e... perfeita.

- Miguel!

A voz de Luana ecoa na varanda e ela aparece em seguida. Olha para mim e depois para Priscila, que se levanta da cadeira, um pouco sem graça.

- Você é o irmão da Luana? Devia ter ligado o nome à pessoa.

Sorri sem graça.

- Acho que vou embora. Nos falamos no trabalho.

Anda até Luana e parece querer fugir. Beija seu rosto e vai até a porta.

- Tchau, Miguel!

Diz desaparecendo, sem dar tempo de me deixar responder.

- Fique longe dela!

Luana fala rapidamente e olho pra ela sem entender.

- O que?

- Fique longe da Priscila!

- Por que?

- Porque você vai se machucar.

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