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AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

lucystar

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Capítulo

E a vida de Marco e Amanda continua... Novas emoções, novos sonhos e novas esperanças vão surgir, como em todas as vidas. Também novos problemas e novos desafios que eles terão que superar. A vida é assim, não? Obrigada pela companhia! Maravilhoso você estar aqui comigo de novo. Divirta-se! Que Deus abençoe a nós todos. Saúde! Se cuida!

Capítulo 1 PRÓLOGO - DECISÃO

AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

PRÓLOGO – DECISÃO - (Fevereiro de 1989)

O coração de Marco batia acelerado no minuto em que o carro parou diante na matriz de Santo Amaro. Ele desligou o motor e olhou para a igreja, podendo ver suas torres olhando majestosas para ele convidando-o a entrar. Respirou fundo e não conseguiu sair do carro, sequer colocar a mão na maçaneta da porta. As pessoas andavam pela rua, algumas apressadas, outras, indo ou voltando dos seus afazeres diários, cada um com sua cota de preocupação na cabeça.

Já tinha nove meses que ele havia se casado com Amanda no hospital e uma semana depois ela havia acordado do coma no qual havia ficado por quase um mês depois do acidente. Tinha sido quase um milagre e os mais românticos da família, como Dalva e Laila, acreditavam que se devia justamente a isso, ao fato que, de alguma forma, a moça havia sentido isso e havia voltado para ele, sentindo a esperança de estar de volta a seu lado sem a interferência de Otávio atrapalhando suas vidas.

Nesse quase um ano, os dois tinham vivido como jovens solteiros, morando cada um em sua casa, ao lado de seus pais, por serem ainda muito jovens para assumirem uma relação adulta como marido e mulher. Amanda ainda terminava o colegial e Marco tinha acabado de prestar e passar no vestibular da Universidade Anhembi/Morumbi para cursar Publicidade e Propaganda, animado pela prima Rita que o incentivara depois de descobrir em Amanda um rosto bonito e perfeito o suficiente para fazer comerciais de televisão e de revistas.

Mas para Marco aquilo já estava ficando irritantemente monótono. Ele amava Amanda demais e queria poder usufruir dos seus direitos de homem casado. Afinal, ele era um homem casado. O casamento acontecido no hospital havia sido de verdade. Foi celebrado por um padre católico de verdade. A aliança que estava no dedo anular de sua mão esquerda não era apenas de compromisso, como muitos casais costumavam usar para simbolizarem seu amor. Era de ouro e significava muito mais do que um compromisso. Significava que ele e Amanda estavam unidos no céu por Deus e ninguém mais podia separá-los.

Ele tocou a aliança e a acariciou com carinho. Ficou girando a argola no dedo e a tirou para ver escrito na parte de dentro dela o nome de Amanda. Ele a beijou e colocou de novo, fechando a mão dentro da mão direita como se não quisesse nunca mais tirá-la dali.

Respirou fundo mais uma vez e saiu do carro. Olhou novamente para as duas torres da matriz e andou devagar na direção da igreja. Subiu a escadaria e parou diante da porta aberta. Já conseguia ver de longe o Cristo crucificado no altar. A respiração estava irregular e ele suava um pouco, com o coração acelerado. O que quer que ele fosse fazer ali naquele dia poderia dar uma reviravolta em sua vida. Seu pai jamais concordaria com aquilo. Antônio não esperava e nem queria que ele se casasse com menos de vinte e um anos. Já tinha sido difícil ele ter concordado com o casamento dele com Amanda, mesmo ela estando em coma. Quando ela acordou, Antônio tinha deixado bem claro que ele só se casaria depois de formado, com emprego fixo e já com a faculdade engatilhada, casa pronta para morar e todos esses pré-requisitos necessários para um casal viver razoavelmente tranquilo. Foi sua condição para não anular o casamento, condição com a qual José, pai de Amanda, havia concordado plenamente.

Por um momento, ele pensou que aquilo seria realmente uma loucura, mas por outro lado, sabia que nem seu pai nem o pai dela se oporiam se pensassem que era aquilo que os dois queriam realmente para ser felizes. Eles eram filhos únicos e sua felicidade era o único objetivo de seus pais. Pelo menos era assim que ele imaginava que as coisas fossem.

Respirou fundo mais uma vez e entrou na igreja. O ambiente solene de dentro da matriz o fez estremecer levemente e um arrepio estranho desceu sua espinha. Sentiu os pelos dos braços levantarem e cruzou as mãos sobre eles como se estivesse com frio, embora lá fora estivesse calor de pelo menos uns vinte graus. O outono começaria só no mês seguinte.

Não entrou direto pela nave central, mais ou menos no meio do início dela, fez o sinal da cruz e resolveu ir pela lateral. Algumas pessoas estavam sentadas nos bancos e rezavam ajoelhadas, pedindo, agradecendo ou simplesmente fazendo suas orações diárias.

Ele já conhecia bem a igreja. Tinha ido até ali várias vezes com os pais quando criança e Laila era amiga do padre Orlando, desde que ele tinha sido batizado e tinha feito sua crisma e sua primeira comunhão naquela igreja, com onze anos.

No altar havia uma senhora de cabelos brancos, toda vestida de preto que parecia estar ajeitando o altar, arrumando as flores nos vasos grandes de porcelana que o enfeitavam e tirando o pó da superfície quase imaculada do mármore que o revestia.

- Boa tarde! - ele cumprimentou quase sem voz, tal era a solenidade que o ambiente pedia naquele momento.

A senhora se voltou e apertou os olhos como se fizesse um esforço para enxergá-lo.

- Sim? No que posso ajudar?

- Eu preciso falar com o padre Orlando. Ele está?

Ela pegou os óculos que estavam pendurados em seu peito por uma cordinha de nylon e os colocou no rosto, parecendo assim enxergá-lo melhor. Sorriu.

- Ah, boa tarde! Ele está sim. Está na sacristia, recebendo confissões de umas pessoas. Você veio se confessar também?

- É... Mais ou menos. Eu posso entrar?

- Claro! Ele gosta muito de receber jovens que vêm conversar com ele.

- Eu sei, ele disse, sorrindo. – Eu estive aqui no ano passado e ele foi muito... receptivo.

- Então entre, entre. Ele vai gostar de recebê-lo.

- Obrigado, desculpe incomodá-la.

- Sem problemas. Eu estou fazendo o que faço todo dia. O mármore está quase ficando transparente de tanto ser limpo por mim, ela disse, rindo gostoso, mas colocando a mão sobre a boca e fazendo o mínimo de barulho para não incomodar o silêncio do templo.

Marco sorriu também e em seguida entrou pelo corredor atrás do altar e chegou à porta da sacristia. Parou e viu o padre Orlando sentado em uma poltrona conversando em voz muito baixa com uma senhora. Eles estavam inclinados um para o outro como se a conversa fosse muito reservada e particular. Padre Orlando o viu por cima do ombro da mulher e balançou a cabeça sorrindo, como se a dizer que o tinha percebido, mas sem interromper a senhora. Marco esperou, parado no mesmo lugar, sem querer interrompê-lo. Depois de alguns segundos, Padre Orlando colocou a mão sobre o ombro da senhora, lhe disse algumas palavras em seu ouvido e fez o sinal da cruz em sua testa e em voz um pouco mais alta disse:

- Deus a acompanhe e a abençoe grandemente, filha.

- Amém, padre, ela disse, beijando a mão que ele lhe estendeu.

Ela se levantou e saiu, passando por Marco e colocando o véu de novo na cabeça.

Padre Orlando cruzou as mãos nos joelhos e fechou os olhos com a cabeça curvada para frente, mantendo o leve sorriso quase imperceptível nos lábios.

Marco ficou parado, olhando para ele, como se ainda não pudesse entrar e esperou que ele o chamasse. O padre, ainda de olhos fechados, levantou a mão e o chamou apenas com um movimento dos dedos. Com a outra, bateu no acento do banco ao lado dele onde a mulher havia estado sentada, como a pedir que ele sentasse também. Marco entrou e lentamente foi sentar-se no lugar onde ele indicava. Como o sacerdote continuava de olhos fechados, numa atitude que parecia indicar que estava rezando, ele não se atreveu a dizer nada.

Padre Orlando abriu os olhos e olhou para ele, respirou fundo e colocou as duas mãos em sua cabeça. Marco fechou os olhos.

- Deus o abençoe, filho.

- Amém, ele sussurrou, num suspiro.

- O que veio fazer aqui? - o padre perguntou com voz suave e o mesmo sorriso benevolente nos lábios.

- O senhor se lembra de mim?

- Claro, claro que me lembro. Você é o menino que eu casei no ano passado com um anjo adormecido.

Marco sentiu a garganta apertar e uma vontade grande de chorar com aquelas palavras, mas segurou a emoção, apertou as mãos e continuou:

- Isso mesmo...

- E como você está agora?

- Bem... Porque meu anjo acordou, padre.

- O Senhor seja louvado! - o padre disse, com fervor, fechando os olhos e o abençoando novamente, fazendo o sinal da cruz no ar diante dele.

- Pra sempre, Marco respondeu, com a voz embargada, arrepiando-se inteiro.

- E como é que ela está?

- Bem... muito bem, graças a Deus.

Padre Orlando abriu os olhos azuis e o fitou e depois olhou para a aliança na mão esquerda de Marco.

- Vocês vivem bem? São felizes juntos?

Marco pensou que o padre imaginasse que ele e Amanda vivessem juntos desde então e esclareceu:

- A gente está feliz. Está tudo bem comigo e com ela, mas... a gente não vive junto, padre.

- Não?

- Não...

- Por que, não? - padre Orlando perguntou com uma pequena ruga na testa.

- Foi a condição que nossos pais me deram pra poder me casar com ela. Se ela voltasse, a gente ia esperar um pouco pra... viver junto. A gente ainda era... é... muito jovem.

O padre balançou a cabeça, assentido lentamente, como a ponderar o caso.

- Entendo... E no que eu posso ajudá-lo agora?

- Eu... quero me casar com ela pra valer... na sua igreja.

Padre Orlando estreitou os olhos ainda sorridentes e os fixou nos olhos de Marco que se sentiu vasculhado por dentro e seu coração acelerou novamente temendo que o religioso fosse lhe dar mesmo o sermão que esperava ouvir do pai, se ele contasse para ele.

- O que seus pais pensam disso... Marco Antônio, não é?

- Isso mesmo, ele confirmou, descobrindo que o padre tinha realmente boa memória.

- O que eles pensam disso?

- Eles... Eles não sabem dessa minha decisão, padre.

- A decisão então é só sua?

- É...

- Por quê?

Marco baixou os olhos e olhou para a aliança que acariciava, nervosa e quase que involuntariamente. Levantou a cabeça e respondeu:

- Porque eu amo a Amanda, como amava no ano passado; porque eu já tenho dezoito anos e já sou dono da minha vida e porque o senhor já nos casou. Nós já somos casados diante de Deus.

- E porque ela não está aqui com você nesse momento tão importante das suas vidas?

Marco ficou sem fala. A pergunta era pertinente. Por que ele não tinha trazido Amanda? Seria porque ela não sabia de nada? Porque ele tinha decidido sozinho? Que era outra loucura nascida em sua cabeça num momento de desespero como antes havia acontecido?

- Porque... eu imaginei que o senhor... não fosse concordar.

O rapaz não conseguiu levantar os olhos para encará-lo. O padre apertou os lábios, segurando um sorriso e levantou-se, dando alguns passos até o pequeno altar onde havia um genuflexório usado para as confissões dos fieis. Ficou olhando para a imagem de Santo Amaro e pergunto:

- Você entende o tamanho da responsabilidade em que está querendo entrar, filho? - perguntou o padre com seriedade.

Marco ergueu a cabeça, pensou por um momento e respondeu:

- Entendo tanto quanto qualquer pessoa que tenha se casado antes de mim entende, padre. Eu sei que a maioria não entende muito, porque... todo mundo tem problema, mesmo sabendo muito sobre isso e... mesmo sendo mais velho e experiente que eu. Ninguém nunca sabe tudo. Tem gente que se casa, vive dez anos casado e... de repente se separa porque alguma coisa não era como pensava no início. Ninguém sabe nada sobre isso totalmente.

- E você está disposto a, daqui dois anos descobrir, que sua decisão estava errada e ter que se separar da Amanda porque ela não era o que você pensava?

- Eu não quero me casar com ela porque daqui a dois anos eu posso me separar dela. Eu quero me casar com ela porque parece que eu já a conheço há séculos e a gente se reencontrou agora... pra continuar vivendo junto pro resto das nossas vidas. Eu quero viver com ela o resto da minha vida, padre.

Padre Orlando respirou fundo.

- Isso era o que Romeu e Julieta pensavam... e os dois morreram por isso... Você chegaria a esse extremo?

Marco não respondeu. O padre se voltou para ele.

- Você morreria por ela, como Romeu fez?

- Não... o rapaz respondeu.

- Você quis se casar com ela enquanto ela estava à beira da morte. Não é quase a mesma coisa?

Marco balançou a cabeça negando, sentindo a garganta arder com aquelas lembranças.

- Se ela morresse, você morreria também? - o padre insistiu.

A respiração de Marco estava alterada e ele sentiu as lágrimas virem aos olhos quase sem controle.

- Não!... Mas ia ficar bem difícil viver sem ela, ele respondeu finalmente. – O senhor se importaria de não falar mais sobre isso. Não é uma coisa de que eu goste de me lembrar.

Padre Orlando ficou olhando para ele com admiração e sentou-se de novo a seu lado.

- Desculpe, filho... mas você não acha melhor conversar com seus pais e o pai dela primeiro?

- Não, disse Marco, enxugando o rosto. - Eles não permitiriam.

- Não tem ninguém morrendo agora, não é?

O rapaz não respondeu.

- Só uma última pergunta...

- Faça... Marco disse.

- E se a Amanda não quiser oficializar o casamento com você?

Ele olhou para a aliança novamente e sorriu.

- Eu acho meio difícil isso acontecer. Se ela quisesse isso... já tinha pedido pra mim ou pro pai. Ela me ama... como eu a amo.

- Mas ela pode mudar de ideia. Já se passaram muitos meses depois do casamento. Ela pode agora achar que é realmente muito cedo pra assumir um compromisso tão sério com tão pouca idade. Ela só tem... dezesseis anos? É isso?

- Dezessete... Marco respondeu, olhando para o padre, imaginando se ele estava realmente querendo que ele mudasse de ideia ou estava só testando se era aquilo mesmo que ele queria.

- Hum... fez o padre, parecendo ponderar a questão e olhando para o chão.

- Padre, nós já somos casados. O senhor fez a cerimônia, lembra? Eu só quero que o senhor faça a mesma coisa novamente, só que agora na igreja. Ou aquilo não valeu de nada?

O padre levantou a cabeça e arregalou os olhos, confirmando, taxativo.

- Claro que valeu! Foi uma cerimônia legítima, com total validade aqui ou em qualquer país católico do mundo. Não ouse duvidar disso, menino.

- Mas eu não duvido. Nunca duvidei e é por isso que eu estou aqui. Eu me sinto casado com ela pra valer e sei que ela se sente do mesmo jeito. A gente conversa muito sobre isso e gosta da ideia. O sentimento não é unilateral. Eu só estou aqui sozinho, porque ela não pensou nisso ainda. Ou talvez tenha pensado, mas... Acho que, na cabeça dela, seria como desobedecer ao pai que espera que ela se case mais madura, formada e tudo mais... e ela nunca pensou em fazer algo que ele não quisesse, que não aprovasse... mas a gente já é casado, queiram nossos pais aceitem isso ou não.

- Você não engravidou a moça, não...?

- Não! - Marco respondeu, prontamente. - Claro que não, padre. Nós nunca tivemos nada sério a esse ponto.

- Nunca?

- Não, nem antes do casamento.

Padre Orlando viu sinceridade em seus olhos e sorriu, aproximando mais o rosto do dele.

- Mas esse seria um dos motivos pra você querer apressar as coisas, não seria? - padre Orlando ergueu as sobrancelhas e adotou um ar malicioso, com um leve sorriso nos lábios.

Marco corou levemente e não conseguiu encará-lo. Sorriu e pigarreou.

- Pode me dizer, filho, você aqui está praticamente se confessando. Eu não diria pra ninguém, tenha certeza.

Marco ficou sério novamente.

- Padre, eu não quero apressar as coisas. Eu já sou casado com ela. Já poderia ter... – ele olha para a imagem do santo – com todo respeito... transado com ela, se quisesse, mas eu não quis, porque eu sei que na cabeça dos nossos pais isso não seria certo, por mais direitos que a gente tenha de fazer isso. E foi outra condição... que eu tive que aceitar pro meu pai deixar o casamento acontecer e não anular tudo depois que ela acordou.

Padre Orlando balançou levemente a cabeça e molhou os lábios, pensativo, depois concluiu:

- Seu pai o ama muito.

Marco engoliu em seco e respirou fundo.

- Eu sei... há dezoito anos... mas ele não vai ser responsável por mim a vida inteira. É a lei da vida, mesmo que nunca deixe de me amar. Eu tenho que fazer o meu caminho... sozinho... não é?

O padre sorriu e respirou fundo também.

- E pra quando você quer que seja seu novo casamento?

Marco abriu um sorriso e olhou para as mãos, aliviado, mal acreditando que o sacerdote iria ceder.

- Não é pra já. Eu... só vim falar com o senhor pra ver o que o senhor pensava disso... se concordaria. Eu não estou tão desesperado assim.

Os dois riram juntos e Marco passou as mãos pelo rosto, tentando quase tirar o vermelho que teimava em voltar ao rosto.

- Você sabe que há muitos trâmites que devem ser seguidos antes que isso possa acontecer, não sabe?

- Eu sei, ele respondeu rapidamente, voltando a ficar sério. – Eu não quero apressar nada... quer dizer... quero que tudo seja feito da maneira correta. Sem atropelos.

O padre respirou mais uma vez, balançou a cabeça e levantou, dando alguns passos pelo aposento.

- Você já tem dezoito anos.

Aquilo não tinha sido uma pergunta.

- Tenho, faço dezenove em junho. E eu gostaria que o casamento fosse no segundo semestre. De preferência, depois que ela fizesse dezoito... em outubro.

- Outubro...

- É, pode ser... Minha mãe está grávida e meu irmão vai nascer em julho. Eu não quero que ela tenha preocupações com isso por enquanto.

- Você não vai contar pra ela sobre isso?

- Não... nem pro meu pai... Só depois que o bebê nascer.

O padre voltou a se sentar e cruzou as mãos sobre o colo.

- Isso é um tanto perigoso...

- Mas é possível?

O padre coçou a nuca, pensando por um instante.

- Você vai mentir para seus pais, rapaz?

- Eu não vou mentir, só vou... omitir. Não vou contar nada... por enquanto... Marco disse, devagar, analisando as feições do padre.

Padre Orlando deu um longo suspiro, olhou para ele novamente e se levantou, indo até uma escrivaninha no meio da sala. Abriu uma gaveta na mesa e retirou dela um grande livro que abriu sobre a mesa. Marco mal conseguiu se mover, mas imaginou que aquele seria um livro onde se anotavam os compromissos da igreja e podia ser que padre Orlando fosse atender seu pedido.

O padre passou o dedo pela página aberta e ergueu a cabeça perguntando:

- Primeiro sábado de outubro: sete. Pode ser?

Marco fechou os olhos sentindo toda tensão sair de seu corpo e sorriu um sorriso largo.

- Pode. Pode sim. Está ótimo. Obrigado, padre.

- Só que eu quero que a garota venha até aqui o quanto antes confirmar que realmente quer se casar com você... de novo, combinado?

Marco se levantou e se aproximou da mesa.

- Claro. Ela vai vir.

- Você deve me trazer também seus documentos, os documentos dela, os dados dos seus pais e do pai dela e nomear os padrinhos que podem ser um ou dois homens e mulheres...

- Vão ser os mesmos que estiveram no hospital. Meu melhor amigo e a melhor amiga dela, por enquanto.

- Muito bem, muito bem... Mas não se esqueça de pedir pra ela vir até aqui falar comigo o quanto antes.

- Não vou esquecer, disse o rapaz, com um sorriso enorme nos lábios.

Num impulso, segurou as mãos do padre e as beijou, demoradamente.

- Obrigado, padre.

O padre sorriu e colocou a mão na cabeça dele.

- Você é um bom rapaz. Vai ser um bom marido.

Marco sorriu timidamente e sussurrou:

- Espero...

- E... Marco Antônio?

O rapaz esperou e ficou sério. Muito raramente alguém o chamava pelos seus dois nomes.

- Tenha paciência com seu pai, quando ele souber que... você fez isso a revelia dele. Você é o filho único dele há dezoito anos. Eu imagino que vai ser difícil pra ele assimilar que vai perder você ou pelo menos... a sua companhia em casa.

Marco respirou fundo. Os olhos brilharam.

- O senhor não pode imaginar o quanto eu vou sentir falta da companhia dele. Ele também foi meu único pai por dezoito anos. Meu maior amigo, pode ter certeza. E seria ótimo estar ao lado dele e da minha mãe a vida inteira, mas o senhor sabe melhor do que muita gente que a vida não é assim. Eu tenho que sentir isso por um filho também e ele, com certeza, vai querer ter netos. Ele merece isso.

- Mas o jeito que você está fazendo...

- Eu sei... mas as coisas aconteceram desse jeito na minha vida e eu... eu sinto que... se eu fui empurrado a fazer isso... se a Amanda tinha que entrar na minha vida dessa forma... o senhor não acha que isso pode ser coisa de Deus também?

O padre apenas olhou para ele e balançou a cabeça levemente.

- Não se preocupe, padre. Outubro está longe ainda. Eu espero que meu pai fique muito mais ligado no meu irmão que vai nascer e tente esquecer um pouco que eu existo pra ficar... menos estressado quando eu contar pra ele que vou me casar. Afinal de contas... isso já começou em maio passado, não foi? Não tem mais volta, tem?

A garganta de Marco ardia. Ele se levantou e deu as costas indo para a porta, para evitar a emoção que já chegava. Voltou-se e concluiu:

- Tudo vai dar certo, padre Orlando. Graças ao senhor e... graças a Deus. Obrigado. A Amanda vem aqui essa semana ainda. Até mais...

DECISÃO – Fevereiro de 1989

AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

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