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Assim que entrou na calma rua do bairro, Poço da Panela, Gabriela Cavalcante pediu ao motorista de taxi que parasse em frente ao velho casarão. A casa em estilo colonial português tinha dois portões de ferro batido ladeando-a. Davam passagem a um jardim de plantas tropicais e no fundo do quintal a piscina. Como todas as casas no estilo, foi construída na linha divisória da calçada, expondo quatro grandes janelas e uma porta balcão que se enfileiravam vigilantes para a rua.
A casa era composta por dois andares, mais um sótão, que não tinha a extensão de toda casa. Uma pequena janela era a única visão da rua. Gabriela tem morado lá, nos últimos cinco anos. Quando não estava viajando com sua tia e patroa, Issa Cavalcante, importante atriz brasileira.
Ela voltou à realidade. Ainda estava na calçada. Olhou a praça em frete a casa e viu um pobre e magricelo cachorrinho. Apiedou-se do pequeno animal. Um barulho de carro entrando em alta velocidade, na pacata rua de pedras irregulares, chama-lhe a atenção. E o pequeno se assustou também. Correu atravessando a rua. O motorista freou em cima do pobre animal.
Gabriela gritou quando viu que ele seria atingido. O cachorrinho ganiu alto e o barulho do carro parando foi um espetáculo à parte, na tranquila tarde do Recife. O rapaz que saiu do carro para ver as condições do pobre animal. Parecia um modelo de propaganda. A roupa evidenciava um corpo trabalhado na musculação. Braços fortes levantaram o pequeno, que assustado se encontrava encolhido entre o pneu do carro e o meio fio. As mãos do rapaz passaram pelo corpo do cachorro, até tocar a pata dianteira direita. O pobrezinho protestou com um som fraco.
Foi quando a voz possante disse:
- Acho que machucou a pata.
Até aquele momento, impactada pelo incidente a moça não conseguia falar nada. Seu rosto lívido mostrava que a qualquer momento iria desmaiar. Sentou-se na calçada. As pernas estavam tremulas. O coração em disparada. Seu vestido verde era curto e levantou um pouco quando ela se sentou. As pernas bronzeadas pelos cinco dias de praia chamaram a atenção do rapaz que veio até a garota, com o filhote nos braços. O pequeno vira lata branco e marrom com um sinal na testa em forma de gota olhava assustado ao redor.
O moço se sentou ao lado da moça na calçada e perguntou:
- Você está bem? Se estive? Gostaria de saber onde encontro um veterinário para nosso amiguinho, aqui.
A voz dela quando saiu foi muito fraca:
- Pode deixar. Meu vizinho é veterinário e vem comumente para ver a gata da casa. Eu vou ligar para ele e peço que venha ver o pequeno.