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POV Selene Castiel
Transei ontem com o filho de um senador.
Hoje, a noiva dele tá me xingando nos comentários da rede social.
Em francês. Acho sexy.
Acordo às dez e quarenta com a notificação estourando no celular como um tapa da realidade. Ressaca. Boca seca. O batom vermelho ainda intacto — o que, sinceramente, diz muito sobre mim.
A manchete do dia: “Selene Castiel é flagrada deixando hotel com acompanhante misterioso. Herdeira ou devoradora?”
Devem achar que me ofendem com isso.
Dou um gole no espumante esquecido na cabeceira e rio. A câmera pegou meu lado bom. De novo.
Mas não demora muito até o jogo virar.
Às 14h, a noiva aparece.
Sim, a legítima. De salto, óculos escuros e ódio espumando entre os dentes. Me encontra saindo de uma cafeteria no centro, onde fui apenas buscar um croissant e fingir que tenho rotina. O segurança tenta intervir, mas ela já tá na minha frente.
— Sua vadia! — ela grita. Em francês. Com sotaque de Paris Fashion Week e o drama de uma novela mexicana.
Sorrio.
— Bonjour, madame. Ele não me contou que estava ocupado.
Ela me empurra. Os flashes estouram. Três fotógrafos surgem do nada. Eu tropeço, mas não caio. Rodo sobre os saltos e sorrio pra câmera.
— Eu não brigo por homem. Principalmente um que goza em dois minutos.
#SeleneCastiel sobe nos trending topics.
"Vergonha da elite", "tempestade de batom", "desastre natural mais sensual da Europa".
Quando chego em casa, o escândalo já tem versão editada e legendada em três idiomas.
Bianca me liga:
— Você conseguiu ser capa e rodapé ao mesmo tempo. Na verdade, já estão chamando você de "tempestade de batom". Teve editorial sobre você numa coluna do El País. Falaram que você é “o desastre natural mais sensual da Europa”. — ela sorri. — Achei poético.
— Eu tenho talento.
— E falta de juízo. O conselho vai surtar. — ela suspira. — Selene... Um dia, um desses homens vai tentar te domesticar.
— E vai levar uma mordida. — dou de ombros. — Eu não nasci pra coleira.
Ela ri, divertida, mas com aquele fundo de quem me conhece melhor do que eu mesma.
— Sabe o que é pior? Eu acho que você acredita nisso de verdade.
— Porque é verdade. — ando até a varanda, olho em volta. A cidade aos meus pés, o mundo ao alcance dos meus saltos. — Eu não preciso de amor. Eu preciso de liberdade. Amor demais sufoca. Contrato demais, prende.
— Mas você é dona de uma empresa inteira.
— Exato. Por isso mesmo não tenho tempo pra um homem chorando porque eu não respondi uma mensagem em dez minutos.
***
No dia seguinte, a empresa finge normalidade. Mas os olhares são flechas. Os corredores, campos minados. Na sala da diretoria, uma reunião com acionistas começa gelada.
— A imagem da presidente afeta o valor das ações — um deles diz, ajeitando a gravata com dedos tensos.
— O que afeta o valor das ações é a incompetência. E nesse ponto, eu garanto: estou bem distante disso. — meu tom é afiado como meu salto de 12cm. — O lucro do último trimestre cresceu 17%. E sabem por quê? Porque escândalos vendem. Porque o mundo inteiro fala de mim. E onde quer que eu vá, a minha marca vai junto.
Silêncio. A tensão mastigável. Um deles tenta retrucar, mas só consegue tossir.
Saio da sala com a cabeça erguida. A mídia me odeia. A internet me deseja. A empresa me teme.
***
A noite caiu, e com ela, a minha paciência.
Precisei respirar. O silêncio do apartamento estava me engolindo, e o espumante na taça já não fazia mais efeito. Então vesti um blazer por cima do vestido preto justo, amarrei o cabelo num coque displicente e desci. Sem seguranças, sem roteiro. Só eu e minha sede de qualquer coisa que não fosse controle.
O bar era pequeno, escondido entre ruas ricas e corações podres. Luz baixa, jazz de fundo, e garçons que sabiam calar com elegância.
Sentei no balcão. Pedi um martíni seco, dois goles de distância da sobriedade. Vesti um blazer por cima do vestido colado, como quem brinca de respeitável. Mas nada em mim era domesticável.
Foi aí que vi ele. Sentado no canto do bar, como quem não devia estar ali, e ainda assim, dominava o ambiente inteiro. Alto. Ombros largos. Camisa preta com as mangas dobradas até os cotovelos, revelando antebraços fortes e veias marcadas. A barba por fazer desenhava o maxilar afiado, e o cabelo escuro caía de leve sobre a testa, num desalinho cuidadosamente natural. Parecia o tipo de homem que não tenta chamar atenção, mas chama mesmo assim, com o corpo, com o olhar, com o silêncio.
Os olhos dele... castanhos, fundos, atentos. Como se pudessem desarmar alguém só com a presença. Ele tinha aquele tipo de beleza bruta, que não vem da vaidade, mas da intensidade.
E o jeito como ele segurava o copo? Quase sensual. Quase perigoso. Era o tipo de homem que fazia a gente esquecer o nome e lembrar do toque. Não me reconheceu. Não tentou impressionar. Não sorriu por obrigação. E isso… foi o que mais me prendeu.
Arrogância ou timidez? A curiosidade me puxou como um imã.
— Sozinho? — perguntei, virando levemente na direção dele.
Ele me olhou. Olhos castanhos, intensos. Não ficou impressionado. E isso, honestamente, foi o primeiro sinal de perigo.
— Não mais, pelo visto. — respondeu, com uma calma irritante.
— Costuma responder com charme ou é só hoje?
— Costumo observar antes de escolher.
Arqueei a sobrancelha, interessada.
— E o que está vendo agora?
Ele virou o copo devagar, antes de falar:
— Uma mulher tentando parecer entediada... quando, na verdade, está só cansada de prever o final de tudo.
Ri.
— Que romântico.
— Que realista.
Ficamos em silêncio por segundos longos o suficiente pra parecerem íntimos. A música no fundo parecia lenta demais, ou talvez fosse só o jeito como ele me olhava.
— Nome? — perguntei.
— Caius. E você?
— Ainda estou decidindo.
Ele sorriu.
— Tudo bem. Gosto de mistérios.
— E eu, de perigos.
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