Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
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Um forte trovão despertou Aurora que dormia como uma pedra por passar mais uma noite atormentada emocionalmente, e dessa vez com uma garrafa de vodka na metade, e um copo com um pouco de líquido do resto da noite anterior.
Ela acordou assustada, ainda com os olhos fechados, e uma terrível dor de cabeça que nunca tivera sentido antes.
Havia um boato que dizia que beber fazia aliviar as dores emocionais. E essa foi a primeira vez que ela teve que recorrer, pois não queria encarar a realidade que lhe cercava.
Ainda com os olhos embaçados, colocou as mãos debaixo do seu travesseiro, e pegou o seu celular.
Se sentou na cama e abriu as suas notificações, e viu que havia várias mensagens da sua amiga Dafne:
‘Cadê você?’
‘Deu certo identidade falsa?’
‘Estou muito preocupada, você saiu para comprar bebida e não voltou a falar comigo mais.’
‘Pq não me responde? Já vou denunciar na rede social desaparecida' - então, Aurora fechou as mensagens e foi logo ao aplicativo verificar.
‘Não, não, não…’ Pensou Aurora, desesperada abrindo o Facebook, ciente que Dafne era capaz de fazer coisas impulsivas quando era dominada pelas suas preocupações.
Logo, suspirou aliviada vendo que não iria passar mais essa vergonha nessa cidade. Em seguida, digitou:
‘Você quase me mata do coração!!! Ufa, ainda bem que você não postou nada. Desculpe não ter te respondido ontem, sei que você se preocupa comigo, mas eu queria ficar um tempo sozinha. Estou bem, e hoje vou voltar ao trabalho. Vou começar a me arrumar aqui’. E clicou em enviar.
Respirou fundo antes de criar forças para levantar e se olhar no espelho.
Seu rosto estava completamente abatido, seco e pálido, logo sentiu o seu bafo, e foi direto para o banheiro tomar um banho para ver se recuperava um pouco mais da sua dignidade.
Ela não estava preparada para voltar a sua rotina normal.
Há uma semana atrás perdeu a sua avó por um maldito câncer, ela era a única que cuidava do jeito que podia dela, logo após a morte da sua mãe que faleceu quando Aurora tinha doze anos de idade.
Essa semana, ela completaria dezessete.
Mas isso só despertava mais tristeza, pois ela se lembrava daqueles momentos com avó e a mãe na cozinha fazendo bolo, e docinhos. Momentos que não existirão mais no presente, só na memória.
Enquanto pensava nisso no banho, chorava o que lhe restava de lágrimas e sua dor de cabeça piorava cada vez mais.
Pensava que podia ter feito mais, conseguido mais dinheiro, se tivesse utilizado mais recursos, poderia ter salvado a sua avó.
Essa culpa havia consumido o seu coração.
‘Droga, Aurora! Seja forte, a sua avó lhe disse para você ser resistente…agora ela e a minha mãe continuarão me guiando pelos céus’. Pensou, passando a mão nas suas bochechas e lavando o seu rosto.
Assim que terminou o banho, ela se enrolou na toalha, e se olhou no espelho novamente.
Seu rosto estava todo vermelho, logo, ela começou a passar uma base com mais cobertura, e fez uma maquiagem de rotina para ir trabalhar: base, rímel, blush, e um batom cor nude.
Ela trabalhava desde os catorze anos como atendente em uma pequena cafeteria no período da tarde, guardava as suas economias em uma poupança, e também ajudava com as despesas de casa.
Mas agora ela não teria ajuda da sua avó para ajudar nas despesas, e o salário de meio período não era o suficiente para manter a vida todas as necessidades da sua vida.
A sua avó tinha deixado duas casas de herança, uma tinha sido vendida para as despesas médicas, e outra ficou na condição judicial para o irmão da sua mãe - George, que é o seu tio.
Ela não podia ter muitas esperanças perante alguma herança, sabia o gênio de George, ele esperava o momento para colocar a mão do que era por direito da sua avó, e também não tinha forças para entrar em qualquer luta judicial nesse momento.
Por ora, Aurora morava no apartamento que George considera seu, pois ele morava na capital, e ainda não havia retornado para falar nada depois do funeral.
Depois da maquiagem, Aurora hidratou o seu corpo, penteou o seu cabelo, vestiu uma calça jeans, t-shirt branca, colocou uma jaqueta preta de couro por cima, calçou a sua bota coturno.
Foi em direção a área de serviço procurar um guarda-chuva, e teve um leve susto quando ouviu a campainha.
‘Dafne tinha que me visitar agora?’ Ela pensou enquanto revirava os olhos.
Ela foi em direção da porta com uma postura hesitante já pensando no que iria falar para não enrolar e não chegar atrasada no trabalho.
Quando ela e Dafne se uniam era assunto que não acabava. Ela amava a sua presença, mas precisava encarar a realidade hoje.
Abriu a porta, e cambaleou para trás, incrédula, sem acreditar no que estava vendo.
“P-p-pai?” Ela arregalou os olhos e ainda recuperava a respiração do susto.
“Olá Aurora, quanto tempo…não é mesmo?” Ele sorriu com um rosto inexpressivo.
Mesmo não acreditando no que estava vendo, assumiu uma postura ereta, olhou para o rosto dele, e perguntou:
“O que você está fazendo aqui?”
“Nossa, você não vai nem me dizer ‘olá’, ou me convidar para entrar?” O pai dela disse já empurrando a porta com força, arrastando a filha para dentro, e colocando o seu guarda-chuva molhado encostado na parede perto da entrada.
Depois de fazer isso, completou:
“Não importa, vamos nos sentar na sala, trouxe aquele café para você.”
Hanzel suspirou pesadamente, e proferiu com um tom amargo na voz pensando alto:
“Veja só esse lugarzinho…não mudou nada.”
Ela olhou para o saco que o pai carregava com a logomarca da empresa de café do seu atual emprego, e se perguntou o que ele foi fazer lá já que nunca havia pisado os pés dentro da casa da sua avó enquanto ela era viva.
Se sentindo muito desconfortável com a situação, ela ignorou toda essa entrada, cruzou os braços, e esperou até que ele começasse a falar.
O que podia vir daquele homem não era boas intenções, mesmo sendo o seu pai, ela tinha um mal pressentimento.
Após um momento de silêncio, ela já estava impaciente.
Aurora reparou que ele ainda observava o ambiente, e retirava dois copos de café recicláveis do saco.
“Por que foi no meu local de trabalho? Por que veio me procurar? Já te adianto, não quero nada de você.” Ela exprimiu com ansiedade, esperando que ele fosse embora dali o mais rápido possível.
Se pudesse ignoraria o resto da vida que àquele homem à sua frente era o seu pai.
Hanzel, pai de Aurora, era dono de bordéis, motéis, casas noturnas, de jogos, e bares na cidade, e também nas pequenas cidades interioranas aos arredores.
Seus negócios guardavam os segredos mais podres das famílias de alta classe até as mais miseráveis.
A sua diversão era pregar peças e manipular tudo à favor de ganhar mais dinheiro, e conquistar mais poder.
Era um homem que ganhava algum dinheiro, mas gastava na mesma proporção. Um péssimo administrador, por isso, os seus negócios estavam sempre à um triz.
Ele sempre precisava de investidores ou fazia alguma ameaça para conseguir o que precisava.
A reputação do seu pai afetava diretamente a vida social de Aurora, desde quando ele tinha voltado do exterior e começado a ameaçar diversas famílias . E acontecia desde quando ela tinha sete anos de idade.