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MI, UMA GAROTA MUITO ESPECIAL!

MI, UMA GAROTA MUITO ESPECIAL!

lucystar

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10
Capítulo

Esse livro conta a história de um personagem do livro "Retorno ao Paraíso" que eu não podia deixar passar em branco. Ela é realmente muito especial, mesmo antes de nascer. Foi muito amada, antes, durante e depois do nascimento e vai provar que quando a gente é amado de coração, tudo é possível na nossa vida. Vamos a aventura? Espero que se divirtam!

Capítulo 1 MI, UMA GAROTA MUITO ESPECIAL!

MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL!

Primeira postagem: São Paulo, 19 de MAIO de 2.021.

Bom dia! Olha eu aqui ‘traveis!

Espero que não tenham enjoado de mim. Eu não me canso de conversar com vocês! Sério!

Não me lembro muito bem de quando surgiu a ideia de fazer este romance, mas ele não é totalmente uma ideia nova. Ele é continuação, doze anos depois, de... Ah, não vou falar muito pra não estragar a novidade. Vocês vão perceber logo. Quem leu pelo menos um pouquinho de alguns dos meus livros, eu sei que vai. Mas esse romance conseguiu ficar quase maior que o último postado, "Retorno ao Paraíso".

Vem mais aventura por aí. Espero que, você que ler, tenha a cabeça aberta e o espírito receptivo pras coisas que a gente não acredita muito porque não compreende, mas sabe ou pelo menos desconfia que exista. Quem leu o romance “Leo/Leonel” vai compreender e gostar, tenho certeza!

“Eu não acredito em bruxas, mas que ela existem, existem.”

Essa frase não é minha... porque eu acredito em bruxas, mas é por aí.

“Eu acredito na alma humana e tenho absoluta certeza de que ela existe”

e é disso que se trata esse romance.

Vamos, portanto, ao “MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL”. Vocês sabem que é a Mi, não sabem? Se não sabem vão saber... Se querem saber do começo, leiam "Retorno ao Paraíso".

Esse romance não tem capítulos, mas é imenso... Portanto, eu peço que sigam esse padrão: são duas partes de mais ou menos dez páginas por dia, ok?

Para os que lerão, meus respeitos e meu obrigada de coração.

Honra enorme ter vocês comigo sempre!

Continuem sonhando com o que quer que seja e obrigada por sonhar comigo.

Deus abençoe a todos!

Vera Lucia Moreira

(Velucy)

MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL! (DOZE ANOS DEPOIS) - PARTE I

O PARAÍSO NA TERRA

Maria Cecília está chegando do pasto a galope montada em Diamante e o cavalo para bem perto de Wagner, que não se afasta um milímetro do lugar onde estava para ver até onde ela iria. A menina de doze anos, cabelos soltos, longos e negros, olhos pretos e pele clara, ri a valer, ao constatar novamente o autocontrole que o cavalo ainda tem, apesar da idade. Ela só não descobriu ainda se é pelo respeito ao comando dela nas rédeas ou se é pelo respeito ao tio, a quem conhece a mais tempo que ela.

- Consegui de novo! Oi, dindo!

Wagner segura as rédeas do cavalo, tentando manter-se sério, diante das traquinagens da única sobrinha, a quem ama mais que tudo no mundo desde que o irmão Cláudio faleceu em setenta e oito.

- Qualquer dia você me mata ou despenca de cima desse cavalo e eu quero ver gente com um braço ou uma perna quebrados.

- O Diamante não ia me deixar cair, não é, menino? - ela diz, acariciando o pescoço do animal e beijando seu dorso. – E nem mataria você. Ele te ama também.

- Sua avó está esperando você pra almoçar a meia hora, Mi.

- Já cheguei! Eu avisei pra ela que ia até a represa. Só demorei porque encontrei o Claudinho e ele foi comigo. A gente ficou conversando e eu esqueci do tempo. Você sabe que eu gosto de conversar com ele.

- E cadê ele?

- Ficou com o pai dele no pasto.

Ela desce do cavalo, beija o tio e vai levar o animal para a cocheira. Wagner vai com ela e a ajuda a retirar a sela. Ela o coloca perto da tina de água para que o animal se refresque.

- Obrigada, Diamante. Amanhã a gente passeia de novo.

Ela dá três tapinhas no dorso de Diamante e se afasta dele, se enganchado no braço do tio e saindo com ele da cocheira, indo em direção da casa.

- Eu queria te perguntar uma coisa, dindo.

- Pergunte.

- O Cláudio falou que foi meu pai que fez o parto dele. É verdade?

- O parto dele não, o parto da mãe dele.

- Você entendeu.

- É verdade sim. Seu pai e... sua mãe.

- Que legal! A mamãe nunca me falou sobre isso.

- Você sabe que tudo que faz lembrar seu pai é muito doloroso ainda pra sua mãe.

- Eu ainda não entendo por que. Faz tanto tempo que ele morreu.

Eles sobem os degraus da varanda e ouvem o barulho de um carro se aproximando. É Mônica chegando do trabalho. Ela continua uma mulher muito bonita. Ainda tem os cabelos bem curtos e o rosto ainda lembra o rosto de menina, mas possui agora um ar maduro e uma ponta de tristeza que nunca mais saiu de seu rosto desde a morte de Cláudio.

Ela desce do carro e sorri, aproximando-se dos dois. Beija a filha na testa e Wagner no rosto. Depois abraça a filha, enlaçando seus ombros e alisando seus cabelos longos.

- O que os meus amores estão fazendo aqui fora ainda? Pensei que já estivessem almoçando.

- A gente estava esperando você, ela diz.

- Isso não é totalmente verdade, Wagner desmente.

- Ah, dindo... Não...

- Hum... sinto cheiro de travessura no ar... diz Mônica, com ar divertido.

- Eu estou de férias, mamãe. Só fui até a represa um pouquinho...

- Montada no Diamante e sozinha, Wagner dedura.

- Filha, eu já pedi pra você não fazer isso. O Diamante já não tem a mesma energia de antes e ele não aguenta mais o seu pique. Pode acontecer de ele tropeçar em algum tronco de árvore caído no chão ou...

- Não vai acontecer nada disso, mãe. Eu tenho cuidado com ele. Eu sei quando ele está cansado e quando está aborrecido e não quer cavalgar mais. Não precisa se preocupar. E outra... eu sinto que quando estou com ele, meu pai está comigo. Nada pode me acontecer.

Mônica e Wagner se olham e Mônica suspira, sem ter como ir contra o que a filha sempre alega.

- Mesmo assim. Prometa que vai ter cuidado.

- Palavra de escoteiro! - a menina diz, colocando os três dedos do meio em riste, rente

a testa, como fazem o escoteiros.

- Você não é escoteiro e nunca foi, garota, diz Wagner.

A menina ri, gostoso, e entra correndo na casa. Wagner e Mônica entram depois dela.

Na sala, Maria Cecília vê o avô descendo as escadas e fica esperando por ele. Leonardo se aproxima da menina e a abraça, beijando sua testa.

- Tudo bem, minha princesa?

- Tudo, vô. Quer jogar xadrez comigo depois do almoço?

- Eu não. Você sempre ganha de mim. Já estou cansado de apanhar.

- Mas o importante não é ganhar, é o espaço entre o começo e o fim do jogo que é divertido.

- Você tem um jeito muito especial de me enrolar, menina. Tudo bem. Depois o almoço a gente joga. Agora vamos logo que a sua avó...

Magda aparece vindo da cozinha e nervosa, chama:

- Mas será possível que ninguém mais vai comer aqui hoje? A comida está esfriando, gente!

Maria Cecília corre até ela e a abraça.

- Eu já estou aqui, vó.

- Já estava pensando em buscar você em Aguaí, mocinha. Vamos comer.

Todos se reúnem à mesa e Maria Cecília sente falta da tia mais velha.

- A tia Diana não vem almoçar hoje?

- Ela foi até Campinas, buscar a revelação de umas fotos que encomendou na semana passada. Vai chegar mais tarde, diz Wagner. - A tia Elis foi fazer um trabalho de escola com uma colega de classe em Casa Branca.

- Isso eu sei. Ela falou comigo antes de sair. Ah, a vó Lucila vem aqui hoje, vó Magda.

Magda e os outros olham para ela surpresos.

- Maria Cecília, foi não foi até a casa dela sozinha, foi? - Leonardo pergunta.

- Não, claro que não.

- E como você sabe que ela vem? - pergunta Wagner.

- Meu pai me falou, ela diz, sorrindo.

Mônica olha para filha rapidamente.

- Quem? - Leonardo pergunta.

- Meu pai, vô.

- Como... seu pai pode ter te falado isso, filha? - Mônica pergunta.

- Como sempre fez. Ele está sempre comigo. Eu já te disse isso.

A menina termina seu almoço e pede:

- Posso sair da mesa, vó?

Magda quase não consegue responder, mas Mônica segura seu braço e a impede de se levantar.

- Explica isso direito, Maria Cecília... Onde você viu seu pai?

- Na cocheira. E ele está sempre lá na biblioteca enquanto eu faço a lição de casa ou estou lendo.

- Você deve ter se confundido, diz Wagner. – Olhou pro retrato dele e imaginou que estivesse falando com ele...

- Não, não é, dindo? Eu não sou tão boba assim. Era meu pai mesmo. Ele se senta na poltrona do vovô e conversa comigo um tempão. Você acha que eu não sei a diferença de um retrato pra alguém conversando comigo? Retrato não fala. Dã... Eu vou escovar os dentes.

Ela se levanta, beija a mãe e corre para a escada, subindo. Mônica olha para todos e coloca a mão no peito, sentindo algo estranho.

- Você precisa conversar com ela, Mônica, diz Wagner. – Tem alguma coisa estranha aí.

- Ela disse que já tinha falado com você sobre o fato de conversar com o pai, diz Magda. – Isso é verdade, Mônica?

- É... Ela, uma vez... me falou algo assim, mas ela tinha cinco anos. Me falou que o viu na capela. Um homem todo de branco que era muito parecido com o retrato do Cláudio na biblioteca e no porta retratos que ela tem no quarto dela. Mas eu levei aquilo como fantasia de criança. Ela tinha só cinco anos... Eu nem comentei nada com ninguém por que... não achei que fosse totalmente real.

- Procure conversar com ela novamente, filha, diz Magda. – Ela tem doze anos agora e pelo modo como ela falou... bem, ela não costuma mentir.

- Eu vou tentar...

Alguém bate à porta e Matilde vai abrir. É Lucila, que entra com ela. Magda se ergue e vai recebê-la, abismada, sem saber se é uma coincidência com o que a menina disse ou não.

- Bom dia, Magda, diz Lucila. – Eu sei que vocês já estão almoçando, mas tomei a liberdade de trazer uns bolinhos de aipim que eu fiz. Eu sei que a Maria Cecília adora...

- Ah, obrigada, Lucila. É muito gentil da sua parte.

- Dona Lucila, a Maria Cecília esteve na sua casa hoje? - Wagner pergunta.

- Não, hoje não. Faz uma semana que eu não a vejo. Estou até com saudades. Trouxe os bolinhos como desculpa mesmo para vê-la. Eu sei que ela não pode ir até lá sozinha e nem eu quero que vá. Por quê?

- Não... por nada.

- Mas você sabe que sempre que quiser vê-la, pode vir até aqui. Não precisa de desculpas pra isso, diz Leonardo.

- Eu sei.

Maria Cecília aparece no alto da escada e exclama:

- Vó Lucila!

A menina desce as escadas correndo, muito contente ao ver a avó paterna na sala e se joga em seus braços, abraçando-se a ela.

- Que saudade, minha florzinha, diz Lucila, beijando sua testa e acariciando seus cabelos.

- Me leva na sua casa? Eu posso ir, mãe?

- Pode, filha, mas eu preciso conversar com você antes, pode ser?

- Conversar o quê? O que foi que eu fiz?

- Você não fez nada. Vem comigo até a biblioteca, meu amor. É só um minutinho.

- Eu volto já, vó.

- Eu espero você aqui, meu anjo.

- Vem aqui na cozinha comigo, Lucila, me dar a receita desses bolinhos que eu acho que a Matilde perdeu.

As duas entram na cozinha, Mônica vai com a filha para a biblioteca e Leonardo fica com Wagner na mesa, ambos intrigados com o que aconteceu.

- O que você acha disso, pai? A Mi não é de mentir. Será verdade que ela fala com o pai mesmo?

- Não sei... Vamos esperar que a Mônica fale com ela. De qualquer modo, a gente sabe que ela tem uma ligação muito forte com Cláudio desde antes de nascer.

- Mas você acredita nisso? Que ele apareceria pra ela com essa facilidade que ela diz? Eu sempre soube que meu irmão tinha um pé na terra e outro no céu, mas... a esse ponto...

- Não me surpreenderia nada se isso for verdade. Ele amava demais essa menina.

Na biblioteca, Mônica coloca a filha sentada na cadeira atrás da mesa e fica em pé diante dela.

- Filha, você disse lá na sala que seu pai disse pra você que sua avó Lucila vinha até aqui... Quando isso aconteceu?

- Hoje cedo. Eu fui pegar o Diamante pra passear com ele um pouco e ele foi me ajudar.

- Seu pai... foi te ajudar...

- Ele sempre aparece, quando eu estou sozinha.

Mônica olha para o quadro com o retrato de Cláudio na parede a sua frente e sente um arrepio percorrer seus braços.

- Desde quando? Quando foi a primeira vez que você o viu?

- Ah, eu tinha... uns cinco anos. Eu lembro de ter contado isso pra você, mas acho que você não acreditou muito.

- Conta de novo?

- Ah, eu nunca me esqueci disso. Eu estava com a vó Magda rezando lá na capela do Rosário e, como eu não sabia muito bem o que ela estava fazendo, fiquei brincando sentada no chão na frente do lugar onde colocam água benta, no fundo da capela. Eu quis subir pra pegar um pouco da água e me pendurei na pia, mas só consegui erguer o corpo e não consegui mais descer. Alguém me desceu e quando eu me voltei pra ver quem tinha me ajudado, ele estava sentado no último banco e sorriu pra mim. Ele era um homem muito bonito, todo vestido de branco que me estendeu a mão, mas eu me lembro de não querer pegar a mão dele, porque a vó Magda, você, meu padrinho e o vô Leonardo sempre diziam pra eu não pegar a mão de estranhos e como eu não conhecia ele... Como eu não me mexi, dei as costas e continuei brincando, ele riu e sentou do meu lado, cruzando as pernas como um índio. Começou a conversar comigo. Perguntou meu nome. Eu não disse, nem dei atenção. Mas aí ele mesmo me chamou pelo meu nome e eu comecei a prestar atenção nele. Ele falou que conhecia você, me disse o seu nome, o nome da vó Magda, do vô e disse que gostava muito de todos aqui. Eu comecei a confiar nele e perguntei que ele era e ele disse que era meu pai. Quando a vó Magda começou a se benzer, quando terminou de rezar e ia se aproximar de mim, ele se levantou e foi se sentar de novo no banco. A vó Magda pegou minha mão, mas acho que ela não viu ele. Enquanto a gente saía da igreja, ele acenou pra mim e eu pra ele. Ela deve ter pensado que eu estava acenando pra santa no altar e riu. Desse dia em diante, ele nunca mais deixou de vir me ver.

Os olhos de Mônica estão cheios de água, quando ela termina seu relato. Maria Cecília se aproxima dela.

- Você está chorando, mãe. Não faz isso.

Mônica se abraça a ela, emocionada e olha para o quadro.

- Você não acredita em mim, não é? Ele pede sempre pra eu não dizer nada a ninguém porque as pessoas não acreditariam em mim...

- Eu acredito! Eu acredito, sim, meu amor. Eu acredito. Só... gostaria muito de estar no seu lugar... Sinto muita saudade do seu pai. Você nem imagina quanto...

- Ele fala muito de você.

- Fala?... O quê?

- Que ainda te ama muito. Eu perguntei por que ele só aparecia pra mim e ele disse que ainda não tem permissão de se mostrar pra você, mas que ele te vigia e te protege, como faz comigo. Não deixa que nada de mal te aconteça.

Mônica chora mais ainda e abraça a filha.

- Ele também diz que não gosta quando você chora. Que ele está bem. Está feliz e que você devia fazer o possível pra ser feliz também.

- Eu não sei como... Não sei ser feliz sem ele.

- Pois devia, mamãe. Ele já não está mais com você há tanto tempo. Ele também precisa que você seja feliz.

- Eu posso até tentar... mas... é complicado.

- Então só pensa que ele está bem. E está feliz, como...

Maria Cecília para de falar como se estivesse confusa sobre o que ia dizer.

- Como o que, amor?

- Ele disse que eu disse que ele seria feliz, pouco tempo antes de ele morrer. Eu não entendi muito isso. Como eu posso ter falado com ele, antes de ele morrer?

Mônica puxa pela memória e se lembra do sonho que Cláudio teve com a filha, meses antes de falecer. Ela sorri entre as lágrimas.

- Ele sonhou com você, quando você ainda estava na minha barriga. E falou mesmo que você disse a ele que ele seria muito feliz. Nós não entendemos bem na época, mas como era um sonho, não demos tanta importância.

- Bizarro! Você acredita nisso?

- Tenho que acreditar. Você está me contando.

Maria Cecília dá de ombros e sorri. Beija o rosto da mãe e pede:

- Eu posso ir na casa da vó Lucila?

- Pode, mas não conte a ela ainda isso que você contou pra mim. Não conte a ninguém.

- Não vou contar. Ele me disse pra não contar pra ninguém por enquanto. As pessoas poderiam interpretar do jeito errado. Isso poderia não ser bom pra ele.

- E por que você me contou?

- Porque você perguntou. Se você perguntou é porque de alguma forma você acredita que ele está vivo e porque você o ama muito também.

- Amo... muito...

- Então não espalha. Com o tempo ele vai me dizendo mais coisas e eu passo pra você. Só põe na cabeça que ele está bem. Ah...

A menina toma um ar sério.

- O que foi, filha?

- Ele disse... que o Diamante vai morrer... em pouco tempo.

- Mesmo? Isso é muito triste.

- Mas não é por doença nem nada. É que ele está velhinho e cansado. Vai descansar e ficar com ele lá onde ele está.

Mônica sorri maravilhada com aquelas palavras. Se atreve a perguntar:

- E onde é que ele está. Você pode me dizer?

- Você não tem ideia? Ele está no paraíso.

Mônica abraça a filha com força e chora, agora um choro de felicidade.

- Eu acredito nisso, meu amor.

- Mas agora para de chorar. Eu vou na casa da vó Lucila, mas volto logo.

Ela beija a mãe e vai para a porta, saindo.

Mônica apoia as mãos sobre a mesa e olha para o quadro de Cláudio.

- Eu sei que talvez eu não mereça... mas eu queria poder falar com você também...

Ela está tão distraída em seus pensamentos que se assusta, quando sente uma mão tocando seu ombro. Volta-se assustada e vê Wagner atrás dela.

- Desculpa... ela diz, enxugando o rosto.

- Me desculpa você. Você estava tão longe. Eu cheguei a te chamar...

- Eu estava longe mesmo. Eu estava com ele por um instante...

- O que foi que a Mi te disse?

Mônica vai até a poltrona de Leonardo e fica olhando para ela, mas não senta.

- Ela disse... como se fosse a coisa mais natural do mundo... que conversa com o pai... desde que tinha cinco anos.

Wagner olha para o retrato do irmão, depois ri baixinho, abaixando a cabeça.

- Eu o mataria de novo, se ele já não estivesse morto... A gente não merece isso?

- Não diz bobagem...

- Estou brincando. É até compreensível que ele se manifeste só pra ela. Mas não entendo por que ela só falou isso agora. Se ele conversa com ela há sete anos...

- Ele pediu pra não contar. As pessoas não acreditariam nela. Ela contou pra mim... mas eu não dei ouvidos. Era uma coisa... forte demais na época pra eu pensar nisso. Pensei que fosse coisa de criança. Um amiguinho imaginário. E eu ainda não estava curada da falta que ele me fazia. Como pareceu pra ela que eu não acreditei, ela achou quem ninguém mais acreditaria.

- Faz sentido. E agora? Você acredita?

Mônica olha para o quadro de novo.

- Acho que sim. Maria Cecília não mente pra mim.

- Pra ninguém. Ela é irritantemente verdadeira como o pai era.

Mônica se levanta.

- Vou voltar pro hospital. Acho que trabalhar um pouco vai me ajudar a esquecer tanta novidade... pelo menos por um tempo.

Ela o beija e sai da biblioteca.

Maria Cecília vai com a avó até sua casa e passa a tarde toda com ela.

Lucila mora sozinha numa casa de alvenaria que foi construída ao lado da tapera de Salomão, pouco depois dele morrer, em agosto de setenta e oito.

Também foi feito um calçamento sobre todo o caminho da casa até o jardim da fazenda, e mais árvores frutíferas e roseiras foram plantadas, dando continuidade ao jardim de Salomão e a esse jardim foi batizado justamente esse nome: "Jardim de Salomão".

Maria Cecília gosta muito de brincar nesse jardim ou fica lendo, sentada num caramanchão, sob as árvores, enquanto a avó faz algum doce ou alguma guloseima gostosa para ela. E é lá que ela está agora, deitada na grama de bruços, lendo o livro "A Moreninha".

Durante a leitura, ela subitamente se sente observada. Levanta o rosto e olha para o caramanchão. Vê o pai sentado no mesmo lugar onde ela fica, olhando para ela com o mesmo olhar tranquilo de sempre. Ela se deita de costas, apoia a cabeça no livro e flexiona as pernas, com um sorriso maroto nos lábios.

- Eu sabia que ia te encontrar hoje aqui. Oi, pai.

- Oi, ele responde, sério.

- Vai me dar bronca?

- Eu já fiz isso alguma vez?

- Não, mas... eu fiz uma coisa que acho que você não queria que eu fizesse.

- E o que foi que você fez?

- Ah, você sabe. Você sempre sabe de tudo que eu faço. Chega a ser irritante.

Cláudio ri.

- Eu falei pra minha mãe que falo com você.

- Não tem problema.

- Não ficou zangado?

- Não, claro que não. Eu só ficaria triste se ela brigasse com você.

- Minha mãe quase não briga comigo. Só se eu faço alguma coisa muito, muito, muito grave.

- Tipo...?

- Ficar dois dias sem fazer a lição da escola, ir nadar na represa sozinha ou... comer muita jabuticaba antes de almoçar ou jantar e depois perder o apetite ou ficar com dor de barriga.

- É... isso realmente é grave.

- Ah, mas quem resiste àquelas bolinhas pretas deliciosas que nascem no nosso quintal. Eu não resisto, só se não tiver olhando pra elas. E quem manda esse país ser tão quente? A gente tem uma represa deliciosa também no quintal de casa e eu sei nadar. Nada me aconteceria lá.

- E a lição? Que desculpa você tem pra isso?

- Aí... é preguiça mesmo, ela diz com uma careta. – Não suporto Geografia e História. São as únicas matérias que eu sinto preguiça de fazer lição. São muito maçantes.

- Você ainda é muito jovem para ficar rejeitando alguma matéria da escola. Tem que aprender de tudo, pra poder decidir do que vai gostar quando crescer.

- Isso eu já decidi faz tempo. Eu vou ser médica, que nem você. Que nem minha mãe.

- Sua mãe não é médica. É enfermeira.

- Dá no mesmo. Ela ajuda a curar as pessoas, como você também fazia e é isso que eu quero fazer quando crescer. Ajudar as pessoas quando doer alguma coisa nelas.

Cláudio sorri.

- Ainda acho que é muito cedo pra decidir isso. Mas não foi por isso que eu vim falar com você.

Maria Cecília se senta e cruza as pernas, feito índio, olhando para o pai com atenção.

- E por que foi?

- Daqui um tempo, eu... não vou poder mais vir te ver.

- O quê?! Por quê? O que foi que eu fiz?

- Nada. Você não fez nada. Você vai fazer treze anos, não é?

- É... dezesseis de abril, e daí? Não posso mais fazer aniversário?

- Claro que pode. Por mim você vai fazer muitos aniversários ainda, mas eu não vou poder ficar vendo você a vida inteira.

- Por que não?

- Ainda não posso te contar, mas... eu vou estar sempre com você, enquanto você pensar em mim.

Os olhos dela se enchem de água.

- Não gostei dessa notícia. Foi a notícia mais chata que você já me deu. Eu não quero ficar sem conversar com você. Ainda preciso que você me proteja.

- Você tem muita gente pra te proteger aqui. Sua mãe, seu padrinho, seus avós, e eu vou estar aqui também, de outro jeito, mas vou.

- Pra onde você vai?

- Não posso dizer, mas eu talvez vá estar mais perto de você do que agora.

- Você vai estar mais perto de mim do que agora? Eu vou poder... tocar você?

- Acho que sim... mas não me pergunte mais nada. Vai ficar tudo bem. Você vai entender com o tempo.

- E quando vai ser isso? - ela pergunta, enxugando os olhos.

- Logo...

- Eu pensei que você fosse aparecer pra minha mãe também. Ela ainda sente muito a sua falta.

- Eu te disse que ainda não posso. Não desse modo.

- Mas ela te ama muito e você não disse que ama minha mãe também?

- Amo, muito, mas existem vários tipos de amor. Você precisa entender isso pra seguir sua vida. A gente esquece de algumas coisas quando cresce, mas eu queria que você não esquecesse disso nunca.

- Meu padrinho também ia gostar muito de ver você.

- Ele também parou a vida dele, porque não conseguiu se desligar do passado.

- A avó Magda diz que ele ainda sente falta de uma namorada que ele teve antes de eu nascer. Ela morreu na Inglaterra. Uma moça chamada Linda. Por isso, nunca quis se casar. Só namora muito, mas não se liga em ninguém.

- Ele se sente culpado pela morte dela ainda, mas não foi culpa dele. A gente pode até tentar, mas não pode fazer nada pra impedir mortes como a dela.

- Eu posso falar isso pra ele?

- Não... Acho melhor não. Seu padrinho tem a cabeça meio dura, como a do seu avô Leonardo. Vai demorar um pouco, mas ele vai encontrar alguém que vai aliviar o coração dele dessa falta que ele sente da Linda. Alguém que ele nem imagina. Alguém que vai precisar muito mais dele. Mas se você quiser consolar um pouquinho seu tio, diz pra ele que a Linda está bem.

- Como você?

Cláudio sorri.

- Isso.

Maria Cecília fica pensativa e deita novamente, olhando para o céu.

- É legal aí?

- Você já me perguntou isso umas duzentas vezes e eu já respondi todas elas.

- Eu não me canso de ouvir você responder.

- É tão bom quanto aqui. São o mesmo lugar. A gente está no mesmo lugar, só não está na mesma frequência. A diferença é que aqui... quando se procura a felicidade dos outros, ela vem pra você. O que também não é muito diferente daí, só que aí demora um pouquinho mais.

- Isso eu mais ou menos entendi. Mas tem algumas coisas que não são iguais aqui. Por exemplo... Você disse que vê o bisavô Salomão. Que ele está bem também, mas a vó Lucila vive rezando por ele e disse que tem muita saudade dele também. Mas ela não consegue vê-lo.

- Não é muito difícil de entender. Eu já te falei sobre isso.

- Explica de novo.

Cláudio respira fundo.

- Você não tem vontade de ir até a Inglaterra, visitar a casa do seu padrinho lá?

- Muita. Ele disse que um dia me leva lá, mas esse dia nunca chega.

- E você uma vez não tentou ir sozinha até lá montada no Diamante? - ele pergunta com um leve sorriso no rosto.

- Não ri de mim, eu tinha sete anos. Não tinha estudado Geografia ainda e pensei que fosse pertinho daqui. Não sabia ainda que era do outro lado do mundo.

- Pois é. Se não fosse o Diamante ser muito esperto e conectado comigo, vocês estariam em sérios apuros, mocinha. Você ainda não pode ir até lá, sozinha. Não tem essa autorização de ir, por ser perigoso pra você que ainda é uma criança, nem tem tanta necessidade assim de ir até lá. O caso do Salomão é mais ou menos o mesmo. Ele está com a filha sempre, mas ela não tem tanta necessidade assim de vê-lo. Ela esteve sob a proteção dele a vida inteira e nunca vai deixar de estar. Tem coisas que não precisam acontecer pra serem possíveis e existirem de fato.

- É por isso que você vai me deixar?

- Eu não vou te deixar. Não vou te deixar nunca... nem que você se esqueça de mim.

- Nunca... ela diz se levantando e estendendo a mão para tocá-lo, mas recolhe a mão e a encosta no peito. - Desculpa...

Cláudio sente também uma grande necessidade de tocar a filha.

- Tenha paciência. Peça e pense. Tudo pra Deus é possível.

Os dois ouvem Lucila chamar:

- Maria Cecília, vem, filha! O arroz doce já está pronto.

A menina olha para a casa e depois para ele de novo.

- Vou ter que ir...

- Vai.

- Você ainda volta, não é?

- Volto. Eu vou te avisar quando for a hora. Eu te amo, filha.

- Eu também te amo, pai.

Ela beija a palma da mão e sopra o beijo para ele. Cláudio fecha os olhos, sorri e desaparece na frente de seus olhos. Lucila sai na porta e vê a menina parada, olhando para o caramanchão.

- Vem, filha! O que foi que houve? Viu algum esquilo no jardim?

Maria Cecília se volta e corre na direção da avó.

- Foi, vó. Foi isso, ela responde, mentindo.

Mais tarde, ela está com o prato de arroz doce diante de si, mas está pensativa diante dele, batendo com a colher no fundo. Lucila está escolhendo feijão para cozinhar depois e acha estranho que ela esteja tão apática diante da sobremesa que tanto gosta.

- Está sem fome, Maria Cecília? O arroz ficou ruim?

Ela olha para a avó como se acordasse e diz, sorvendo mais uma colherada:

- Não, vó, está uma delícia. Tudo que a senhora faz é muito gostoso.

- Então por que você está demorando tanto pra comer?

A menina não responde, mas vem com outra pergunta.

- Por que eu tenho duas avós, vó Lucila?

Lucila fica surpresa ao ouvir aquela pergunta.

- Eu pensei que já tivessem explicado isso pra você na casa grande.

- Não... Acho que é porque eu nunca perguntei. Me bateu essa curiosidade agora. As minhas colegas de escola também têm duas avós. Mas uma é mãe da mãe delas e a outra é a mãe do pai delas. No meu caso... não dá pra ser assim, porque a minha mãe não tem mais a mãe dela há muito tempo. Minha vó Lorena morreu quando ela era pequena. Por que então que eu tenho duas avós mães do meu pai?

Lucila para de escolher o feijão e cruza os dedos das mãos sobre a mesa, ensaiando o que dizer sem embaralhar a cabeça da neta.

- Eu sou sua avó paterna de verdade... porque eu sou a mãe biológica do seu pai.

- E a vó Magda? Ela também não é mãe do meu pai? Ela é casada com meu avô Leonardo...

- Não... A vó Magda é mãe dele só de coração.

- Por quê?

Os olhos da menina ficam fixos nela, cheios de curiosidade. Lucila fica sem palavras para resumir uma história tão longa.

- Você não devia ser casada com meu avô Leonardo?

- Mas não sou...

- Por quê?

- Filha, essa é uma história muito longa e eu acho que só seu avô deveria contar pra você.

- Você não pode contar?

- Posso... mas se eu lhe dissesse que moro nessa casa hoje pela bondade do seu avô e do seu pai em me receberem aqui com muito carinho, depois de alguns anos de separação... você ficaria satisfeita?

- Mais ou menos... Você ama meu avô, como a vó Magda ama?

Lucila respira fundo e sorri, olhando para o feijão, percebendo que não vai poder fugir da curiosidade da neta.

- Não como ela ama. O meu amor por ele se resume no fato dele ser pai do seu pai. É a coisa mais forte que nos liga um ao outro.

Maria Cecília fica olhando para ela pensativa e ela dá uma nova colherada no arroz doce.

- Coma seu arroz doce, florzinha. Está esfriando.

Lucila volta a escolher o feijão, satisfeita por ter dado um termo satisfatório à conversa. Alguém bate no batente da porta já aberta e as duas se voltam para ela. É Wagner.

- Posso interromper a conversa? Boa tarde, dona Lucila.

- Boa tarde, Wagner. Vamos entrando.

Ele entra e se aproxima de Maria Cecília, segurando e acariciando os seus cabelos longos.

- Sua vó Magda está chamando, Mi.

- Já?

- São quase seis horas. Até chegar na fazenda, já passou da hora do seu banho.

- Não quer um prato de arroz doce? - Lucila oferece.

- Não, obrigado.

- De qualquer forma, a Maria Cecília está levando uma tigela pra vocês na fazenda, não é, filha?

A menina balança a cabeça afirmativamente, enquanto termina seu prato, vai até a pia, lava o prato, coloca no escorredor para que seque e corre até a avó, aplicando-lhe um estalado beijo.

- Obrigada, vó. Te amo.

- Também te amo, minha boneca. Não demora muito a vir me ver, viu?

- Não demoro. Tchau.

- Tchau. Dê um beijo na vó Magda e agradeça a ela por ter deixado ela vir comigo, Wagner.

- Claro.

Wagner sai da casa com a sobrinha-afilhada pela mão e, já fora da casa, ela vê Diamante parado ao lado do cavalo do padrinho.

- Diamante, você veio! Você trouxe ele com você, dindo! Obrigada!

Ela corre para o animal e Wagner a ajuda a montar no bicho, montando em seu cavalo também. Logo estão voltando para a casa grande.

- Vamos apostar uma corrida, padrinho?

- Não, eu quero ir devagar. O Diamante já não pode ficar correndo tanto. Tem pena do coitadinho.

- Tá bom, tá bom... Vamos devagar, não é, garoto?

Ela aplica umas batidinhas leves no dorso do cavalo e o beija no alto da cabeça.

- Eu estou sendo injusta com ele mesmo. Prometo não abusar mais dele. É verdade que ele só deixava meu pai montar nele, dindo?

- A mais pura verdade. Eu montei nele uma vez, mas foi a força.

- À força? Por quê? Isso não é judiação também?

- De certa forma sim, mas eu estava bastante triste naquele dia.

- Por quê?

- Ah, porque... era noite de Natal... seu avô estava doente, internado na Santa Casa... Eu estava bem triste e zangado ao mesmo tempo.

- E meu pai?

- Ele e sua mãe estavam em São Paulo.

- São Paulo? Longe pra burro. Por quê?

- Ah, Mi, essa é outra história. E acho que era justamente por isso que eu quis descontar minha zanga, minha raiva justamente no Diamante. Como ele só aceitava a montaria do seu pai, eu quis provocar a raiva dele, quando alguém que não fosse ele tentava montá-lo e fui até a cocheira e quis montar justamente ele.

Wagner acaricia a crina do animal.

- Você já me perdoou, não é, garoto?

- E como ele reagiu?

- Quase me matou, diz ele, rindo. – Tentou pelo menos. Empinou as patas dianteiras, revoltado, e tentou me derrubar, mas não conseguiu.

- Caramba! diz a menina admirada.

- A gente saiu a galope da cocheira e ele só parou na divisa com a fazenda do Juarez.

- Nossa! Longe pra dedéu!

- Pois é... Quando a gente chegou lá e eu vi que tinha sido demais pra ele, eu desci e ele voltou em disparada de volta pra fazenda e me deixou sozinho.

- Que barato... E como você voltou? A pé?

O rosto de Wagner fica triste por um momento.

- Não... Eu voltei... com a Linda. Ela tinha me visto sair com ele e foi com a minha moto atrás de mim. Ficou preocupada que acontecesse alguma coisa comigo.

Maria Cecília fica olhando para o padrinho, e percebe que ele ficou pensativo e triste, com aquela lembrança. Quando acorda de suas divagações, ele percebe que a sobrinha está do seu lado e olha para ela, estranhando seu silêncio. E é ela que inicia o diálogo:

- Voltou pra terra?

Wagner sorri.

- Desculpa, lindinha... Eu prometi pra mim mesmo que não ia mais fazer isso, mas...

- Não tem problema. Mas ela está bem. Não ficar triste. A culpa não foi sua.

Wagner faz o cavalo parar.

- O quê? O que você disse?

Maria Cecília também faz Diamante parar e repete:

- Não gosto quando você fica triste por causa dessa moça Linda.

- Não... O que você disse antes?

- Disse que ela está bem. Não foi culpa sua.

- Quem te disse isso?

A menina coloca o cavalo em movimento e não responde. Wagner desce do cavalo e vai até ela, segurando as rédeas de Diamante e fazendo-o parar.

- Quem te disse isso, Maria Cecília?

- Você está zangado comigo?

- Não... Só quero saber quem te disse que ela está bem e que não foi culpa minha.

- Eu disse isso?

- Disse... O que não foi culpa minha?

- A morte dela.

- Como você pode saber disso? Não era nem nascida quando a Linda morreu.

Maria Cecília se cala. Wagner a segura pela cintura e a faz apear.

- Eu não quero descer, dindo!

- Então responde.

Ele bate na anca de Diamante e o cavalo dispara para longe deles, juntamente com Apache que se assusta e o segue.

- Olha o que você fez... ela diz aflita, querendo chorar.

- Só me responde, Mi, ele diz, segurando-a pelo braço. - Eu não estou zangado. Me diz só como você pode saber disso?

- Meu pai me falou... ela diz, num sussurro.

Wagner solta o braço dela e se afasta lentamente, indo sentar-se na grama pouco adiante.

Maria Cecília se aproxima dele e senta-se a seu lado, colocando a mão sobre seu joelho.

- Não fica assustado nem triste. Eu não quero que você fique assim... nem meu pai.

Wagner olha para ela e acaricia seu rosto com carinho.

- Por que você nunca disse pra gente que falava com ele?

- Ele pediu... acho que por causa dessa reação que você teve agora. Pra mim é tão normal falar com ele que eu não imaginei que fosse tão difícil pra vocês entenderem. Agora eu estou começando a entender.

- Sobre o que vocês conversam?

- Tudo. No início era sobre... porque ele só aparecia pra mim. Eu sempre perguntava.

- Ele disse por quê?

- Porque eu precisava dele e é o que ele queria fazer, se não tivesse morrido. Que teria vindo bem antes, mas não tinha como ainda, por isso só conseguiu se aproximar de mim quando eu já tinha cinco anos. Mas que eu tinha ficado em boas mãos, com minha mãe, você e meus avós cuidando de mim.

- E... por que ele achou que você não seria cuidada por nós depois do cinco anos?

- Ele não pensou isso. É que eu já começava a andar muito pra longe da casa grande e aqui tem alguns lugares meio perigosos pra uma criança pequena andar sozinha. Como a mamãe começou a trabalhar no consultório dela na cidade, eu ia ficar um pouco mais sozinha. A vó Magda podia não ter muito tempo pra cuidar sempre de mim, apesar de ser muito cuidadosa. Tia Diana começou a fazer faculdade de fotografia e a tia Elis começou a fazer o ginásio. Ele quis ajudar de alguma forma, pra eu não ficar tão sozinha... além da saudade que ele disse que sentia de mim. Como eu já sabia falar direitinho, ele podia conversar comigo.

- É a cara do seu pai... ele diz quase num sussurro.

- O quê?

- Nada... E o que mais vocês conversam? Ele... não está aqui agora, está?

- Não. Ele só aparece pra mim em alguns momentos. Ele disse que pode estar em vários lugares, onde alguém pensar nele, mas isso é meio complicado de explicar. Ele só quer que eu saiba que ele vai estar comigo sempre que eu precisar muito.

- Eu até posso entender um pouco o que ele quer dizer. Tem a ver com merecimento e amor descomprometido, como o seu por ele.

- Des... Descon... o quê?

- Pra explicar melhor, amor de criança. Teu amor por ele é inocente e puro. E ele deve estar num lugar onde só isso é importante. Amor puro e intenso. O amor que todo mundo devia sentir aqui não terra, mas muita gente não consegue.

- Eu posso falar da Linda agora?

Os olhos de Wagner brilham e ele balança a cabeça, confirmando. Ela pega a mão do padrinho.

- Ele disse... que ela está bem. Ele não a vê muito, mas ela está numa vibração muito boa e está feliz. Que ele cuidou por um tempo dela. Ela sofreu bastante quando desen... desenca...

- Desencarnou...

- Isso. Quando morreu daquele jeito triste, mas que se recuperou aos pouquinhos e agora está bem. Sente sua falta também e não quer que você sofra por causa dela, porque nada do que aconteceu com ela foi sua culpa.

Wagner chora ainda mais e beija a sobrinha.

- Como ela morreu, tio?

- Não interessa mais, amor. Só interessa isso que seu pai te disse. Que ela está feliz.

- Meu pai gostaria que você refizesse sua vida. Esquecesse a Linda e olhasse pra outras pessoas, tentando encontrar em outra garota o que via nela. Ele diz que tem alguém nesse mundo já esperando por todo esse amor que você tem dentro de você e que você perdeu muito tempo sofrendo por nada.

- Até morto ele quer me dar ordens, caramba... ele fala em voz baixa, enxugando o rosto.

Maria Cecília sorri.

- Ele disse que é por isso que não aparece e não fala com você. Você é muito cabeça dura.

- Ah, ele disse isso, é?

Wagner olha para o céu.

- Não precisa se preocupar comigo. A minha vida é muito mais tranquila sem você pegando no meu pé, egoísta.

Maria Cecília ri e se abraça ao padrinho, que se abraça com ela também, chorando de novo. Chico se aproxima deles e fala, ofegante.

- Meu Deus! Graças a Deus vocês estão aqui. A dona Magda ficou muito preocupada quando a gente foi avisar que o Apache e o Diamante chegaram na fazenda sozinhos sem vocês. Ela está esperando vocês pra jantar, seo Wagner.

Os dois se levantam, limpam as roupas e riem.

- Acho melhor a gente correr. Se não nós dois vamos apanhar!

MI, UMA GAROTA MUITO ESPECIAL - PARTE 1

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