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Ame ou deixe-me

Ame ou deixe-me

Mag Danfrer

5.0
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47
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1
Capítulo

Diana não sonhava há tempos, suas noites eram longas e solitárias. Estava perdida em meio ao rancor, medo e desejo por seu marido em seu casamento arranjado. Lúcifer se recusava a tocar nela, mas também não aceitava abrir mão do acordo. O que ela poderia fazer além de aguardar que aquele maravilhoso e arrogante bruxo se cansasse das manipulações e tomasse posse do corpo e coração dela?

Capítulo 1 Sob a luz da lareira

Em meio ao caos que reinava em seu quarto, Diana procurava desesperadamente onde havia colocado aquela maldita caixinha. Se recusava a usar a aliança, já que seu casamento era apenas de faixada. Mas seu marido irascível fizera um escândalo quando a viu sem o anel dourado na última vez que veio a mansão. Para evitar mais surtos de cólera, a moça decidiu que o mais sensato seria usar a joia quando Lúcifer estivesse presente e seguiria sem ela quando ele saísse em mais uma das suas longas viagens de estudos.

Bufou ao pensar no esposo. Por certo o homem fazia jus ao nome que carregava. Era um demônio perverso, manipulador descarado, um depravado indecente, sem falar que era também um tirano impiedoso, um bruto egoísta... além de ser desgraçadamente atraente.

Não tinha um dia se quer que não se arrependia do maldito "sim" que dissera diante do Julgador. Deveria ter gritado "NÃO", cuspido na cara blasé do seu noivo, corrido o mais rápido possível para fora daquele lugar insípido e fugido com seus poucos pertences para fora do país. Mas é claro que tudo isso não passava de uma fantasia absurda. Sabia muito bem que sua família e seu marido seriam capazes de acha-la em qualquer lugar que se escondesse. Não havia para onde correr, existia apenas aceitar seu destino e se conformar com a vida medíocre que levaria até o fim dos tempos.

Respirou fundo e tentou se recompor. Nunca acharia a sua aliança se não se concentrasse em procurar. Havia roupas e objetos espalhados por todo o enorme e luxuoso quarto. Tudo estava revirado e fora do seu devido lugar. Estava cada vez mais desesperada, pois podia jurar que havia guardado a aliança no seu cofre de joias, mas quando colocou a senha no dispositivo e o abriu, percebeu que o seu pequeno anel não estava lá. A conclusão lógica é que Diana pensou ter guardado, mas provavelmente colocou em algum outro canto do quarto. Vivia fazendo isso, era naturalmente desorganizada. Nunca lembrava onde colocava cada coisa, perdia seus pertences com facilidade, sem contar que não conseguia achar nada que procurava.

Ouviu o despertador do seu celular tocar. Eram exatamente dez para às sete da noite. O jantar seria servido em breve e ela deveria estar sentada ao lado de seu marido em poucos minutos.

Tinha que dar o braço a torcer, apesar de todos os defeitos, o esposo era um homem de rotina. Todo primeiro domingo do mês ele chegava na mansão às quatro da tarde. Subia para o seu quarto e lá ficava até o horário do jantar, do qual fazia questão que participassem juntos. Eles sentavam a mesa, vestidos formalmente e passavam cerca de 30 minutos comendo e bebendo em absoluto silêncio. Quando terminavam, Lúcifer pedia que algum criado colocasse mais vinho em sua taça e ao se levantar, estendia a mão para ela em um convite que não aceitava recusas. Ele os guiava para a enorme biblioteca, sentava em sua poltrona em frente a lareira e ela no sofá mais distante dele. Ali ficavam novamente em calados até Lúcifer terminar sua taça e se retirar para seu quarto. No outro dia de manhã, quando Diana acordava, ela recebia a notícia através de algum empregado que o patrão já tinha ido embora na alvorada.

Mas hoje tinha sido diferente. Ela perdeu sua aliança e não poderia descer enquanto não a achasse e a devolvesse para seu dedo. Xingava em voz alta todos os palavrões que conhecia e amaldiçoava cada vez que revirava alguma gaveta e não encontrava o pequeno objeto.

- Procurando algo? – falou uma voz grave e calma vinda da porta dos aposentos.

Diana soltou um grito de susto. Esperava tudo, menos encontrar o marido parado em pé na soleira observando todo o quarto.

- Normalmente é tão bagunçado assim? – continuou ele, sereno.

Diana limpou a garganta e tentou recuperar a compostura. Estava suada pela correria e estresse dos últimos minutos. Seu cabelo que havia sido cuidadosamente prendido em um coque baixo estava cheio de frizz.

- Não – respondeu a moça – Estou apenas procurando... uma coisa.

Ficou com medo de contar que perdeu a aliança. Preferia mentir. Ou melhor, omitir. Torcia para que ele não desse atenção ao caso e seguisse em frente com o jantar. Mas do pouco que conhecia o marido, sabia que ele não deixaria o assunto passar em branco tão facilmente.

- Que coisa? – perguntou ele. Uma sobrancelha levantou para enfatizar a pergunta. Por Deus, como ele era bonito. Seu tez morena combinava com o rosto anguloso e a boca volumosa. Não gostava de barba, por isso a cicatriz no maxilar era sempre visível. Seus olhos negros perscrutavam tudo, atentos a todos os mínimos detalhes. Seus cabelos cacheados eram mantidos curtos, sempre bem cortados. Era um homem de classe, firme. Sempre carregava um ar arrogante de superioridade. Era um exemplar perfeito de poder e disciplina.

- Nada de importante – respondeu fingindo um ar casual, desejando profundamente que ele ignorasse o assunto – Com fome? – emendei.

- Se não é importante, por que se atrasou para o jantar? – continuou ele.

A moça fez um movimento com a mão, fingindo indiferença.

- Perdi a noção do horário. Peço desculpas pelo meu descuido – sorri para ele – Vamos?

A presença de Lúcifer aliada a desordem no ambiente, fizeram Diana se sentir sobrecarregada, nervosa... quase arisca. Tentou passar por ele para sair do quarto, mas ele deu um passo e bloqueou sua saída.

- Ainda não me respondeu: o que você está procurando? Me diga e eu permito que você desça para jantar – seu corpo se impôs sobre o dela. Era um homem alto, de corpo atlético e magro, cheio de vigor. Sua proximidade causavam arrepios na esposa, quisera ela poder dizer que eram arrepios de medo.

Diana respirou fundou. Pensou em mentir novamente, mas sabia que esse seria seu pior recurso. Seus pensamentos corriam rapidamente e apesar do medo, decidiu por seguir o caminho da verdade. Lidar com as consequências do seu erro seria o mais justo dada a situação.

- Minha aliança – respondeu a moça com a voz fraca – Eu guardei em algum lugar e agora não faço ideia de onde pode estar.

Permaneceu de cabeça baixa, sem coragem de encarar o marido nos olhos. Para sua surpresa, Lúcifer deu um passo para o lado, liberando caminho para que ela saísse do quarto. Sem pensar muito, a jovem se encaminhou para a sala de jantar. Pelo barulho dos paços, sabia que ele caminhava próximo a ela.

Como de costume, sentaram-se a mesa e jantaram em silêncio. Diana permaneceu atenta, rígida na cadeira. Cada pequeno movimento do homem a seu lado lhe causava um pequeno sobressalto. Ela se sentia como se estivesse no corredor da morte, tensa, apenas aguardando seus últimos suspiros chegarem. A comida parecia borracha na boca, sem sabor, para engolir fazia grande esforço. Evitou o vinho, pois sabia que seu nervosismo a faria beber além da conta.

Quando terminaram, seu esposo esticou a taça para a jovem empregada perto dele. A mulher encheu o copo, ele se levantou, estendeu a mão para Diana e encaminhou os dois para a biblioteca.

Mas ao chegar no cômodo grande cheio de livros nunca lidos, ao invés de soltar sua mão para que a esposa pudesse se esconder no seu sofá habitual, Lúcifer levou ela até a outra poltrona próximo da lareira. Com medo de dizer não, a moça apenas sentou quieta. Não sabia o que esperar, nem como agir. Permanecia atenta a cada movimento dele.

Durante alguns minutos muito longos os dois permaneceram calados. Até a voz grave de Lúcifer preencher o ambiente.

- Quase consigo ouvir seus pensamentos, Diana. O que te aflige?

A jovem arregalou os olhos e prendeu a respiração. Todo seu corpo implorava para que ela corresse dali e se escondesse em algum buraco pequeno e escuro. Tentou se recompor. Respirou fundo, limpou a garganta, apertou as mãos junto ao colo e permaneceu encarando a lareira que crepitava inocente.

- Nada me aflige – mentiu ela.

Alguns segundos de silêncio se seguiram. Ela podia sentir o olhar do marido sobre si.

- Estou apenas preocupada por você ter se irado com meu atraso – continuo a moça.

- Eu pareço irado para você? – questionou ele.

Diana dirigiu o olhar ao homem. Definitivamente não parecia alguém irado. Estava relaxado na poltrona, havia desabotoado o colarinho e dobrado as mangas da camisa até os cotovelos. O paletó estava no espaldar da poltrona. Estava tão enervada na própria ansiedade que não notou quando o marido despiu o mesmo.

Balançou a cabeça negativamente em resposta.

- Em relação a aliança, – começou a moça – vou falar com a Betina. Aposto que ela encontrou onde deixei e guardou em algum lugar seguro. Prometo a você que não irei tirar mais da mão para evitar coisas desse tipo no futuro.

Por alguns segundos Lúcifer encarou sua esposa. O corpo pequeno dela estava absurdamente tenso, contido em um lindo vestido de cetim vermelho. O tecido revelava mais do que escondia, a cor luxuriosa conversava muito bem com sua pela oliva. Sua esposa estava tão bela naquela noite que sua própria existência era um elogio a vida.

- Não se preocupe em incomodar a governanta – disse ele enquanto levava a mão ao bolso da calça. De lá tirou uma pequena caixa de veludo preto. Em seu interior estava aninhado a aliança de ouro branco que dera a esposa no dia de seu casamento.

Diana arregalou os olhos quando viu o que ele carregava.

- Estava com você o tempo todo? – questionou ela, sua voz inflexível.

- Eu peguei no seu cofre quando cheguei hoje a tarde. Você estava na piscina ou algo assim. Minha maior dúvida é o por quê você não a está usando.

Diana cravou seu olhar em Lúcifer. Apesar de saber que deveria sentir medo do marido, naquele momento estava furiosa. O motivo de todo o tormento ansioso que passou na última hora foi a intromissão do marido. Por culpa da sua arrogância se correu de culpa por achar que tinha sido desleixada e perdido um bem valioso.

Num acesso de raiva contida, a moça respondeu:

- Não estou usando a aliança, por que não sou casada – sua voz firme não deixava dúvidas de seu descontentamento – Por mais que você goste de manter a aparência de casal feliz para as pessoas e pra si mesmo, eu não suporto carregar todos os dias um lembrete de que amarrei a minha vida ao homem mais frígido que já colocou os pés nessa terra!

Para espanto de Diana, Lúcifer sorriu.

- De todas as coisas que já me acusaram de ser, frígido nunca foi uma delas – ele olhou para o teto como quem pondera algo – Mas me esforçando um pouco consigo ver porque decidiu escolher essa palavra. Enfim... – pausou sua fala pra finalizar o vinho em um único gole – Espero que agora cumpra sua promessa.

Lúcifer levantou e saiu da biblioteca, mas ante de ir, deixou no braço da poltrona a caixa da aliança. O anel reluzia sob a luz bruxuleante do fogo.

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