Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
5.0
Comentário(s)
26
Leituras
15
Capítulo

podemos não sair vivos desta vez. Explosões ressoam no céu e nas minhas calças. Estou encharcada de suor. Ian, de inıćio, estava vestindo uniforme camulado, mas eu o arranquei com os dentes. E por isso que sei que estou sonhando — minha boca não é tão hábil assim. Na vida real, eu quebraria um dente no zıṕer dele. O despertador berra outra advertência. Minha mente despertando grita: Levanta ou vai se atrasar! Eu me envio mais ainda sob as cobertas, e meu inconsciente vence. Ian dos Sonhos me joga por cima do ombro, como se estivesse tentando ganhar uma Medalha de Honra, e então caıḿos em um beliche de metal. Outra indicação de que isso é um sonho é o fato de que a parte carnuda da minha bunda bate na quina do beliche, mas não dói. Ele se esfrega em mim e balança a cama. Eu arranho suas costas. — Nós vamos ser pegos, soldado — eu gemo. Sua boca cobre a minha, e ele me lembra: — Aqui é uma zona de guerra; podemos fazer quanto barulho quisermos. Uma saraivada de tiros de metralhadora soa do lado de fora. Botas pesadas fazem barulho rumo à porta trancada. — Rápido, precisamos fazer uma barricada! — eu imploro. — Mas como? Não há nada de útil aqui, apenas aquele chicote de couro e meus coturnos que vão até os joelhos! Ele me puxa contra a porta, e nós nos olhamos. A solução de repente se torna clara: teremos de usar nossos corpos como um bloqueio sexy. — Ok, toda vez que eles chutarem a porta, eu vou entrar em você, entendeu? No três: um, dois... Assim que meu sonho chega à parte boa, meu celular começa a tocar “Islands in the Stream”, de Kenny Rogers e Dolly Parton. O country pop dos anos 80 soa no volume máximo. Ouço sintetizadores. Eu gemo e me forço a abrir os olhos. Ian mudou meu toque novamente. Ele faz isso algumas vezes por mês. A anterior era outra música boba de dois velhos malucos. Pego o celular e o puxo para baixo das cobertas comigo. — Tá, tá — eu respondo. — Já tomei banho e estou passando da porta. — Você ainda está na cama. A voz profunda e rouca de Ian dizendo a palavra “cama” faz com que coisas engraçadas aconteçam no meu estômago. Ian dos Sonhos está se misturando com o Ian da vida real. Um deles é um tenente bonitão com braços de aço. O outro é meu melhor amigo, cujos braços são feitos de um metal que nunca tive o prazer de sentir. — Dolly Parton desta vez? Sério? — pergunto. — Ela é um tesouro nacional, assim como você. — Como você arruma essas músicas? — Eu tenho uma playlist no celular. Por que você está respirando com tanta dificuldade? Parece que você daria conta de embaçar um espelho. Ai, meu Deus. Eu me sento e me livro dos resquıćios do sonho. — Adormeci vendo as reprises de M*A*S*H novamente. — Você sabe que há outros programas para ver, não sabe?! — Sim, sei, só que ainda não encontrei um homem que me excite como Hawkeye. — Você sabe que Alan Alda está na casa dos 80, certo? — Ele provavelmente ainda tá com tudo em cima. — Se você diz, Hot Lips… Eu gemo. Assim como acontecia com a Major Houlihan, esse apelido me irrita... um pouco. Afasto os cobertores e planto os pés no chão. — Quanto tempo eu tenho? — O primeiro sinal toca em trinta minutos. — Parece que vou ter que pular aquela corrida matinal de mais de dez quilômetros que estava pretendendo fazer. Ele ri. — Arram. Começo a vasculhar o armário, procurando um vestido e um cardigã que estejam limpos. Os requisitos de vestimenta dos funcionários da nossa escola me obrigam a me vestir como a versão feminina do sr. Rogers. Hoje, meu vestido de verão é vermelho-cereja, e meu cardigã é rosa-claro, apropriado para o primeiro dia de fevereiro. — Alguma chance de você ter enchido uma garrafa térmica extra com café antes de sair de casa? — pergunto, esperançosa. — Vou deixar na sua mesa. Meu coração palpita de gratidão. — Quer saber, eu estava errada — eu provoco, fazendo um tom afetado e apaixonado

Capítulo 1 Quero isso

Hoje, meu vestido de verão é vermelho-cereja, e meu cardigã é rosa-claro, apropriado para o primeiro dia de fevereiro. — Alguma chance de você ter enchido uma garrafa térmica extra com café antes de sair de casa? — pergunto, esperançosa. — Vou deixar na sua mesa. Meu coração palpita de gratidão. — Quer saber, eu estava errada — eu provoco, fazendo um tom afetado e apaixonado. — Há um homem que me excita mais do que Hawkeye, e seu nome é Ian Flet... Ele geme e desliga. A Oak Hill High School a cinco minutos de bicicleta do meu apartamento.

Também a cinco minutos de bicicleta da casa de Ian. Poderıámos fazer o trajeto juntos, mas temos rituais matinais drasticamente diferentes. Eu gosto de tentar a sorte e forçar a barra com o despertador. Me causa emoções boas dormir até o último segundo. Ian gosta de acordar com o padeiro. Ele está inscrito em uma academia e faz valer a mensalidade todo dia pela manhã. Seu percentual de gordura corporal é próximo dos de adolescentes. Eu estou inscrita na mesma academia, e minha carteirinha está escondida atrás de um amado cartão de recompensas do Dunkin’ Donuts. Ele olha feio para mim cada vez que mando para dentro uma rosquinha com cobertura de morango ao meio-dia. Aquelas engenhocas bárbaras na academia me intimidam. Certa vez, torci o pulso tentando alterar o peso em uma máquina de remada, e você já viu todos os diferentes tipos de puxadores, cordas na máquina com aquela polia? Metade dos equipamentos parece se resumir a brinquedos sexuais para cavalos. Em vez de me submeter a ir para a academia, premiro minhas corridas diárias de bicicleta. Além disso, não há como lutar contra minha fisiologia neste momento. Eu sou uma mulher de 27 anos, ainda aproveitando a onda de que meu shape vem naturalmente com a juventude e com o planejamento alimentar que um professor pode custear. Os únicos #gains que existem em minha vida são as maratonas do programa Do Velho ao Novo, com Chip e Joanna Gaines. Ian diz que sou muito dura comigo mesma, mas no espelho vejo joelhos nodosos e bojos pequenos quase não preenchidos. Em dias bons, tenho um metro e sessenta. Acho que posso fazer compras na Baby Gap. Quando chego à escola (dez minutos antes do primeiro sinal), encontro uma barra de granola ao lado da garrafa térmica de café na minha mesa. Na pressa de chegar à escola, esqueci de pegar algo para o café da manhã. Eu me tornei previsıv́el o ciente para que Ian tenha guardado belisquetes em cima e dentro da minha mesa. Posso abrir qualquer gaveta que sei que vou encontrar alguma coisa — nozes, sementes, biscoitos de manteiga de amendoim. Tem até um Clif Bar colado com adesiva embaixo da minha cadeira. Meu arsenal é mais para o bem dele do que para o meu. Eu sou a pessoa mais ansiosa que você já conheceu. Quando meu açúcar no sangue cai, eu me transformo na Jean Grey versão destrutiva. Eu engulo a barra de granola e tomo meu café, mandando uma mensagem rápida para agradecê-lo antes que os alunos comecem a lotar a sala de aula para o primeiro tempo. SAM: Obg pelo café da manhã. O café tá O AUGE. IAN: o blend que você comprou na semana passada. Seus alunos estão te ensinando novas gıŕias de novo? SAM: Eu ouvi ontem na hora da saıd́a. Ainda não tenho certeza se sei usar. Trago mais detalhes em breve. — Bom dia, senhoura Abrams! — meu primeiro estudante cantarola. E Nicholas, o editor-chefe do jornal de Oak Hill. E o tipo de garoto que usa suéter na escola. Ele leva minhas aulas de jornalismo muito a sério — ainda mais a sério do que leva sua paixonite por mim, o que significa muita coisa. Dou a ele um olhar de reprovação. — Nicholas, pela última vez, é senhorita Abrams. Você sabe que não sou casada. Ele sorri muito abertamente, e seu aparelho reluz. Ele mandou botar os elásticos com cores alternadas, azul e preto, as mesmas da escola. — Eu sei. Eu só gosto de ouvir você dizer isso. — Que garoto implacável. — E se me permite dizer, o tom do seu vestido está muito apropriado. O vermelho quase combina com o seu cabelo. Com um estilo desses, você vai virar uma senhoura casada muito em breve. — Não, não permito que você diga isso. Sente-se. Outros alunos estão começando a entrar na minha sala. Nicholas se senta na frente, bem no centro, e eu evito contato visual com ele o máximo possıv́el enquanto começo minha aula. Ian e eu temos empregos drasticamente diferentes na Oak Hill High. Ele é professor de Quıḿica Aplicada II. Ele tem mestrado e trabalhou na indústria após terminar a faculdade. Durante a pós- graduação, ajudou a desenvolver uma tira adesiva para a lıńgua que alivia queimaduras de coisas como café quente e pizza pegando fogo. Parece estúpido — o SNL até zombou disso —, mas despertou muito interesse no mundo da ciência, e essa experiência faz com que os alunos o admirem. Ele é o professor maneiro que arregaça as mangas da camisa até os cotovelos e explode as coisas em nome da ciência. Sou apenas a professora de jornalismo e coordenadora de equipe do Oak Hill Gazette, um jornal semanal lido por exatamente cinco pessoas: eu, Ian, Nicholas, a mãe de Nicholas e nosso diretor, o sr. Pruitt. Todo mundo acha que eu me enquadro na categoria “se não sabe fazer, ensine”, mas na verdade gosto do meu trabalho. Ensinar é divertido, e eu não fui feita para o mundo real. Jornalistas sérios não são muito de fazer amigos. Eles entram em ação, pressionam, cutucam e expõem histórias importantes para o mundo. Na faculdade, meus professores me davam broncas por apenas produzir “textos muito arrumadinhos”. Tomei isso como um elogio. Quem não gosta de coisas fofas? De qualquer forma, estou orgulhosa do jornal e dos alunos que ajudam a administrá-lo. Começamos cada semana com uma “Reunião Geral”, como se fôssemos um jornal real e funcional. Os alunos apresentam suas ideias para matérias ou me informam sobre o andamento dos trabalhos. Quase todo mundo leva isso a sério, exceto os poucos garotos que procuraram o jornalismo para tirar boa nota facilmente — o que, cá entre nós, acontece mesmo. Ian diz que sou meio bestalhona. Estou conversando com uma aluna que se enquadra na segunda categoria agora. Acho que ela não entregou uma tarefa sequer desde que voltamos das férias de Natal. — Phoebe, você pensou em uma história para o jornal da próxima semana? — Ah, ahn... sim. — Ela estoura uma bola de chiclete. Sinto vontade de tirá-lo de sua boca e enviá-lo em seu cabelo. — Acho que vou perguntar por aı ́ se os zeladores estão se dando bem depois do expediente ou algo assim. — Você me deixe o pobre do sr. Franklin em paz. Vamos lá, o que mais você tem aı?́ — Ok, que tal... Almoço escolar: saudável ou não? Interiormente, eu envio as unhas nos meus globos oculares. Esse tipo de texto já foi escrito tantas vezes, que a merendeira da escola e eu criamos um sistema. Eu mantenho os alunos longe de sua cozinha e, em troca, ganho todas as batatas fritas que quiser. — Não há nenhuma novidade nesse tema. A comida não é saudável. Nós todos sabemos disso. O que mais? Ouço algumas risadinhas. As bochechas de Phoebe ficam vermelhas, e seus olhos se estreitam. Ela está chateada porque dei uma bronca na frente de toda a classe. — Ok, tá. — Sua voz está carregada de um tom atrevido e cruel, como só a de uma adolescente consegue ser. — Que tal eu fazer algo mais saliente? Talvez um artigo sobre amor proibido entre professores? Fico tão entediada, que bocejo. Rumores sobre Ian e eu são notıćias velhas. Todo mundo presume que, como somos melhores amigos, estamos saindo. Não tem como ser menos conectado com a realidade. Eu sinto vontade de dizer a eles: Sim, eu QUERO ISSO, mas sei que não sou o tipo de Ian. Aqui

Continuar lendo

Você deve gostar

Outros livros de claudia maria

Ver Mais
Capítulo
Ler agora
Baixar livro