Se apaixonar na adolescência é algo quase obrigatório, não é mesmo? Muitas vezes nos apaixonamos mais pelo fato de estarmos apaixonados que pela pessoa em si, Além disso, quantas de nós temos o prazer, às vezes duvidoso, de reencontrarmos nosso primeiro amor? Eu tive essa experiência e, sinceramente, espero vocês se saiam melhor que eu. Ou talvez eu devesse dizer que, ao invés de sonharem em reencontrar seu primeiro amor, procurem pelo último, esse sim, valerá à pena. Mas... Sabrina Para toda princesa existe mesmo uma bruxa? No caso de Sabrina, embora ela não seja uma princesa, a bruxa esteve presente durante toda sua infância, tornando sua vida um inferno e tirando dela coisas e pessoas que ela jamais poderia substituir ou esquecer. Sabrina morou com a avó dos oito aos quatorze anos e conheceu tudo o que era possível sobre dor, desprezo, tortura e medo. Quando conheceu Caleb, ela finalmente descobriu o que significava ser alguém para alguém, ele era seu melhor amigo, seu consolo, sua força, seu amor. Mas amor de adolescência é, na maioria das vezes, o primeiro aprendizado e Sabrina aprendeu, muito, sobre tudo o que havia de melhor e de pior em amar e ser amada, perder e se ver perdida. Expulsa da única casa que já conhecera e da cidade onde nascera, ela vai precisar de todas as suas forças para crescer, amadurecer, superar tudo e uma vez isso feito, ela nunca mais voltaria a Abati, nunca mais veria a avó, nunca mais caminharia pela mata, subiria até o alto da cacheira ou veria Caleb. Mas ela sobreviveria e conseguiria tudo a quilo que desejara desde que os pais haviam morrido. Forte, independente e segura de si, ela precisa voltar à cidade de Abati quando a avó morre. Enfrentar os fantasmas do passado e superar toda aquela história não seria fácil, mas ela se preparara por mais de dez anos e aceita o desafio de reencontrar a família que tanto a desprezara e a cidade que amava e odiava ao mesmo tempo. Ela só não esperava encontrar um novo amor e reencontrar o homem graças ao qual ela conseguira sobreviver, nem que seu novo amor, a prima mais nova, fosse a pessoa mais intrometida e manipuladora que ela já conhecera. Caleb Na adolescência, entre passar as férias na casa do motorista de seu pai, ao lado de seu melhor amigo e viajar pelo mundo com os pais, ele sempre escolhia a primeira opção. Na cidade de Abati ele se sentia livre das pressões de ser o herdeiro de Álvaro Pontes e podia caminhar pela floresta, comer frutas das árvores e mergulhar no rio. Ali, naquela pequena cidade, ele vive os melhores momentos de sua infância e adolescência. Esses momentos se tornam ainda mais especiais quando ele conhece a garota de seus sonhos. Com ela, Caleb vive o mais lindo, intenso e inesquecível primeiro amor. Junto com ela, ele aprende tudo sobre amar, ser amado e a viver uma paixão de todas as formas possíveis mas, também é com ela que ele descobre a insuportável dor de ter seu coração partido em milhares de pedaços, de ser rejeitado da forma mais fria e insensível e aprende também a odiar. Aquele sentimento o acompanhou por anos, ele desprezava a 'vadia interesseira' que o trocara por outro e se odiava por ainda pensar, sonhar com ela. Queria, mais que tudo, poder arrancá-la de seus pensamentos, de seus sonhos, de seu coração. Queria ser capaz de seguir em frente, conhecer uma mulher que o fizesse esquecer de sua patética primeira e única tentativa de amar alguém. Mas não conseguia se livrar dela. Depois de mais de dez anos odiando Sabrina, sua hipocrisia, suas mentiras e seu falso amor, ele descobre que ela não era culpada pela separação deles, pior, descobre que a culpa de tudo o que acontecera de ruim entre os dois e com ela, era toda dele. Como, depois de todos aquele anos, ele poderia se reaproximar dela e tentar fazê-la se apaixonar por ele de novo? Como dizer para a mulher cuja vida você quase destruiu, que você a quer de volta? Que precisa dela de volta à sua vida? Ele está disposto a fazer qualquer coisa para que ela o perdoe, para que lhe dê uma nova chance, mas será que ela está disposta a sequer falar com ele novamente? E ele poderia condená-la se ela simplesmente o mandasse para o inferno? Bem, ele vivera num inferno todos aqueles anos e não havia nada que Sabrina pudesse fazer para tornar sua vida pior. Então...
Caleb ergueu a cabeça assim que a porta se abriu, estava cansado, com fome, com sede e com dor de cabeça. Em suma, estava profundamente irritado.
- Se eu dependesse da sua pontualidade para viver, não teria passado dos dez anos. – Reclamou num tom seco e frio que teria amedrontado qualquer um dos outros funcionários da Inter Options, menos o que estava diante dele. Pedro apenas riu e se sentou na cadeira diante da escrivaninha de aço e vidro.
- Minha pontualidade depende diretamente da quantidade de coisas que você me obriga a fazer, Cal. Pare de reclamar e vamos almoçar, estou morto de fome. – Caleb resmungou algo inaudível e se levantou, vestindo o paletó e lançando um olhar zangado para Pedro.
- Você paga o almoço. – Decretou, caminhando para a porta, sendo seguido por um Pedro risonho.
- Foi assim que ficou bilionário? Explorando os pobres? – Eles ouviram a risada da secretária de Caleb, que mordeu o lábio ao receber um olhar furioso do chefe.
- Não sou bilionário, nem você é pobre. Afinal, como foi mesmo que ficou rico? – A voz dele indicava que o mau humor estava passando e Pedro deu outra risada.
- Graças a você, é claro! Afinal, para que ter um amigo mago das finanças, se não puder, pelo menos fazer um dinheiro extra enquanto me mato de trabalhar para ele? – Quando o elevador estava quase se fechando, eles ouviram a secretária executiva, falando com a secretária dela.
- Esses dois parecem um casal de idosos. – A risada deles ecoou pelo elevador.
Enquanto ria, Caleb levou a mão à testa, apertando com força; a dor de cabeça estava piorando rapidamente. Pedro observou o gesto e apertou os lábios.
- Enxaqueca de novo? – Perguntou, dessa vez sua voz estava dois tons mais baixo, sabendo que qualquer barulho piorava a situação do amigo.
- Preciso parar na farmácia. – Disse ele, tirando os óculos escuros do bolso interno do paletó e sentindo o alívio assim que os colocou sobre os olhos.
- Foi uma semana infernal. – Isso explicaria a dor de cabeça, assim como a dor que Pedro sentia nos ombros, a tensão da semana estava cobrando seu preço, mas no caso de Caleb isso não era verdade. As enxaquecas eram periódicas.
O motorista os esperava com o Toyota SW4 blindado na porta do prédio como sempre.
- Pare em uma farmácia, Jorge, depois... – Inclinou e olhou para Caleb, que já estava recostado no bando traseiro do carro e de olhos fechados. – L´atelier du Cuisinier ou Lilia?
- Liga para o Gambbiano, pede para eles prepararem algo para viagem, quero ir direto para casa. – Pedro entrou no carro, olhando para o amigo, preocupado. Sabia que não podia fazer nada para ajudá-lo e isso sempre o irritava.
As dores de cabeça eram mais frequentes do que um ser humano normal poderia aguentar, mas Caleb não era normal. Aos vinte e dois anos havia ganhado seu primeiro milhão, embora o pai bilionário não o tivesse ajudado em nada. A imprensa especializada o chamava de "Einstein do mercado financeiro" ou "mago das finanças" e não era sem razão, Caleb parecia ter o toque de Midas e, seis anos depois de abrir sua empresa de serviços financeiros, ele podia se dar ao luxo de recusar investidores. Todos queriam investir em qualquer negócio que Caleb se envolvesse. Pedro perdera a conta de quantas ofertas recebera para tentar convencer Caleb a aceitar esse ou aquele investidor. Ele poderia estar milionário se aceitasse metade daquelas "ofertas", mas ao invés disso se tornara sócio do amigo e eles continuavam apoiando um ao outro sempre que precisavam.
Pedro recostou e fechou os olhos também, já que não poderiam conversar, o melhor era tentar relaxar também.
Apesar da aparente imobilidade, Caleb não conseguia adormecer, queria, precisava, mas não conseguia. A dor estava aumentando.
Sentiu quando o carro parou, ouviu Pedro descer e voltar logo depois colocando dois comprimidos em sua mão e um copo com água gelada na outra.
Tomou o remédio e até conseguiu sorrir, ainda de olhos fechados.
- Valeu, Pedro. – Murmurou. Não viu o amigo dar de ombros, nem os olhares preocupados trocados entre ele e Jorge.
Tentou escapar dali, do balanço, ainda que suave, do carro, do barulho do trânsito, do Rio de Janeiro, do trabalho... De sua vida atual.
Ele estava no alto da cachoeira, bem na beirada, pensando no que aconteceria se pulasse lá embaixo. Com certeza seus ossos se partiriam em milhões de pedaços e ele não sobreviveria. Suspirou.
E depois? Sua mãe, com certeza, derramaria uma ou duas lágrimas, só o suficiente para demonstrar sua dor, mas não o bastante para estragar a maquiagem sempre impecável. Outro suspiro.
Seu pai... Ele ficaria furioso com a burrice do filho em se deixar morrer de forma tão estúpida e pela inconveniência de ter que providenciar, criar e preparar outro herdeiro. Seus avós por parte de mãe chorariam de verdade, mas seu outro avô culparia seu pai por não tê-lo educado direito. De resto...
Não, melhor não pular. Podia imaginar a dor que isso causaria a tia Zoé, tio Eliseu e Pedro, sem contar que seu pai seria capaz de culpar tio Eliseu pela sua morte e demiti-lo.
O melhor era aproveitar as férias e deixar para pensar nos problemas quando voltasse ao Rio. Mais um suspiro.
- Você suspira demais, sabia? – A voz era doce e melodiosa, como a voz de um anjo. Ele se voltou e olhou para ela.
Parada, segurando a barra da blusa formando um tipo bolso onde se via um punhado de amoras, estava a garota mais linda que ele já vira.
Os cabelos escuros, desgrenhados, caíam lisos por suas costas até o quadril modelado pelo short jeans desbotado. Os olhos grandes e risonhos eram dourados, não cor de mel ou castanhos claros, mas dourados mesmo, como duas esferas do mais puro ouro.
Ela tinha uma mancha roxa no canto da boca sorridente, que ia até a bochecha, provavelmente já comera bastante amora.
Caleb engoliu em seco, nunca lhe faltara confiança perto de meninas, afinal, ele era o filho de Álvaro Pontes, um dos homens mais ricos do país, não tinha por que se sentir intimidado por ninguém. Mas aquela garota... Suspirou, embevecido com a visão diante dele.
- Você suspira porque não sabe falar? – Perguntou ela, atrevida e ele suspirou involuntariamente, se irritando consigo mesmo quando ela deu uma gargalhada.
- Eu sei falar. – Resmungou, irritado, dando-lhe as costas, mas voltando-se em seguida, pois não queria se privar da visão de sua beleza.
A blusa azul modelava seios fartos e empinados, atrevidos como ela e ele engoliu em seco outra vez, nunca prestara atenção aos seios de uma garota antes, mas os dela eram lindos! Seus olhos analisaram a cintura fina, os quadris arredondados e as coxas grossas, tudo nela era perfeito.
Ao juntar a blusa para colocar as amoras, ela deixara à mostra uma boa parte da barriga lisa e o buraquinho sexy que era seu umbigo.
Passou a mão pelos cabelos, nervoso, sem saber o que dizer e ela se aproximou o bastante para tirar a pouca tranquilidade que lhe restava e para invadir o ar da montanha com seu cheiro de flor de laranjeira.
Nervoso, Caleb sentiu seu corpo ficar tenso e olhou para ela, raivoso.
- Essa terra é particular, sabia? – Os olhos dela se abriram, assustados.
- Não! Eu venho sempre aqui e nunca encontrei ninguém. Pensei que a terra fosse... da cidade. – Seu rosto ficou triste. – Então acho que tenho que ir embora e não voltar mais, não é? – Os ombros dela caíram e ela baixou a cabeça.
Caleb se sentiu péssimo por decepcionar a garota e quando ela se voltou para ir embora, ele segurou seu braço.
Uma onda de eletricidade subiu por sua mão e seu corpo estremeceu. Não foi um choque elétrico, mas foi um choque perceber que seu corpo reagia de uma forma até então desconhecida àquela garota linda.
Envergonhado, ele largou seu braço depressa e baixou a cabeça, com medo de que ela percebesse sua reação.
- Pode vir quando quiser. A terra é do... meu tio, ele não vai se importar que você colha amoras e as coma por aqui. – Mesmo de cabeça baixa, ele viu os lábios cheios se abrirem num sorriso doce.
- Obrigada! Eu amo esse lugar, sabe? Sempre tem alguma fruta gostosa pra comer e a paz... O barulho da cachoeira parece uma música, não acha? Eu venho aqui sempre que fico triste ou quando algo me aborrece. – Ela passou a mão pelo pescoço e trouxe a massa de cabelos escuros para frente do corpo.
Caleb admirou os fios brilhantes, que pareciam muito sedosos e lhe davam vontade de passar os dedos por eles.
– Minha avó parou de cortar meus cabelos quando eu tinha oito anos. – Disse ela, percebendo o olhar dele percorrendo toda a extensão de seus longos cabelos.
Ele engoliu em seco mais uma vez.
- É lindo. – As palavras saíram antes que pudesse pensar nelas, mas valeu à pena, já que o sorriso dela voltou, iluminando todo seu rosto.
- Você acha?! Eu vou cortá-los quando fizer dezoito anos.
- Não faça isso! – Ele não sabia o que havia na garota que o fazia falar sem pensar o tempo todo, mas quando o sorriso dela se tornou doce e sedutor, ele apenas suspirou.
- Não farei, então. Eu sou Sabrina. – Disse ela, estendendo uma mão pequena e cheia de manchas roxas deixadas pelas amoras.
- Caleb...
- Caleb? – Ele procurou por Pedro, e quando ia falar com ela, não havia mais ninguém ali. – Cal? Chegamos.
Caleb abriu os olhos e fitou o rosto preocupado de Pedro. Olhou à sua volta e percebeu que estava em casa.
- Acho que dormi. – Comentou, esticando o corpo e se preparando para sair do carro. – Comprou a comida?
- Não, mandei prepararem e Jorge vai lá buscar agora. Eu queria trazer você direto para casa. Está com uma aparência péssima. – Caleb deu um sorriso irônico.
- Depois das negociações dessa semana, deveríamos tirar uns dias de folga e ir para Padangbai. Lembra de Shark Point?. – Viu a expressão de espanto de Pedro e deu uma risada, arrependendo-se em seguida, quando a cabeça latejou violentamente. – Calma, Pedro, não vou te fazer mergulhar com tubarões de novo.
- Não vai mesmo! Se seus parceiros de negócios soubessem como é doido, ninguém investiria com você! Mergulhar com tubarões, Sky Surf, Bungee Jumping... Não basta a adrenalina das bolsas de valores, você tem que tentar se matar pelo menos uma vez por ano? – A voz de Pedro continha doses de preocupação, impaciência e resignação.
- O que posso fazer se meu organismo cobra um dose extra de adrenalina de vez em quando? – Perguntou ele, caminhando devagar e esfregando a testa.
- Você precisa é de uma mulher que traga bastante ocitocina, endorfina e serotonina para sua vida! – Caleb tentou não rir, rir doía, mas não conseguiu.
- Você sabe que essa mulher não existe, não sabe? As mulheres que vão nos fazer "sossegar" como sua mãe tanto deseja. São sonhos de uma mãe que ama muito seus filhos. – Havia um sorriso cínico em seus lábios e seus passos se tornaram mais seguros em direção ao quarto. – Me chame quando o almoço chegar, por favor. – Fechou a porta, antes de ouvir a resposta de Pedro.
Deitou, sentindo a dor piorar, enquanto virava de lado e se encolhia.
"A mulher ideal..." Pensou, sentindo a mágoa voltar e junto com ela o ódio.
"Esqueça." Virou para o outro lado, mas a claridade do sol penetrou por suas pálpebras, ferindo seus olhos.
- Alexa, feche as persianas. – Apesar da voz baixa, as persianas começaram a baixar até que o quarto ficou totalmente escuro, como se fosse noite e não início da tarde. Seu corpo relaxou um pouco.
"Esqueça" Repetiu para si mesmo, apertando os dedos contra a têmpora.
Ele gostaria muito de ter a quem perguntar por que, toda vez que tinha enxaqueca, pensava nela. Invariavelmente, as imagens dela voltavam, enquanto a dor o fazia ranger os dentes.
"Deve ser porque ambas me torturem." Pensou, com sarcasmo.
"Durma. Pare de pensar. Esqueça." Era tolice, sabia que não adiantava ficar brigando com as lembranças. Como não podia fazer nada além de ficar ali, deitado, esperando a dor passar, seu cérebro escolhia justamente esse momento para lembrá-lo de todos os seus estúpidos planos, sua tola esperança, seu patético primeiro amor...
- Eu te dou quatro morangos e três amoras! – A risada dela ecoou pela floresta, soando mais alta que o barulho da cachoeira.
- Quatro morangos e três amoras é muito pouco para eu te mostrar meu tesouro de novo, garoto sem noção! – Mas ele sabia disso, assim como sabia que a proposta a faria rir daquele jeito que ele adorava, por isso a fizera.
- Você é muito egoísta, bruxa de Abati! O que te custa me deixar olhar um pouquinho? Eu nem estou pedindo para tocar! – Ela pegou um morango, colocando-o na boca e mordendo um pedaço.
Caleb aprendera que algumas coisas que ela fazia, provocavam reações intensas e constrangedoras em seu corpo, mas naquele momento, não se importava, tudo o que queria era... Engoliu em seco quando ela lhe estendeu o outro pedaço do morango, uma onda estranha de ansiedade fez sua respiração ficar difícil.
Os olhos dourados e sorridentes, olhavam para ele com ternura e algo que ele não saberia identificar, mas que piorava sua respiração consideravelmente.
Quando ele entreabriu a boca ela colocou o morango e seus dedos tocaram a pele sensível de seus lábios, um arrepio percorreu seu corpo e uma dor latejante, incômoda e gostosa, pressionou seu baixo ventre.
Morto de vergonha, Caleb deu um pulo do tronco onde estavam sentados e saiu de perto dela, quase correndo.
- Eu não quero ver nada! Vou embora! – Sem esperar para ver a reação dela, correu o mais rápido que pode, se distanciando para impedi-la de perceber o que acontecia com ele.
Mas ainda lançou um último olhar, vendo-a abrir a mão e olhar triste para a pedra amarela que ela chamava de "seu tesouro."
Caleb correu até ter certeza de que Sabrina não o seguira, de que ela não iria alcançá-lo, caso estivesse atrás dele.
Seu coração batia rápido, por causa da corrida e das emoções loucas que dominavam seu corpo. Olhou para baixo, envergonhado ao perceber que, se tivesse ficado, Sabrina teria visto o que a bermuda fina, de tactel, só evidenciava.
Recostou no tronco da árvore, fechou os olhos e tocou seu lábio, confuso e ansioso.
Como ela fizera aquilo? A respiração arfante, a pele arrepiada e o coração disparado eram comuns, sempre que ela estava por perto, mas aquilo? Aquela dor, aquela reação de seu corpo... Eram novidades para ele.
Em seus quatorze anos Caleb nunca pensara muito sobre sexo. Sabia que muitos garotos de sua idade falavam sobre isso, pensavam nisso, mas ele tinha tanta coisa para pensar, tanto para aprender, tanto para aproveitar...
Garotas estavam muito, muito abaixo em sua lista de prioridades! Elas era complicadas, chatas, frescas e ele preferia muito mais a companhia de Pedro a de qualquer uma delas... Qualquer uma, menos Sabrina.
Ela era o inverso de tudo o que garotas eram. Enquanto as outras garotas usavam roupas delicadas e chiques, Sabrina se vestia como ele e Pedro, sempre de short e camiseta.
As outras estavam sempre reclamando de tudo e ela estava sempre alegre, rindo e aproveitando cada momento da vida. Outras meninas sorriam, Sabrina ria alto e às vezes batia em seu ombro, como um menino.
Desde que haviam se conhecido, no início do verão, Caleb não sabia o que pensar daquela menina... Ela era mais linda que qualquer outra menina que ele conhecera e era mais valente, forte e atrevida do que a maioria dos garotos de sua escola.
Não podia voltar para a casa de Pedro no estado em que estava, mas também não sabia como desfazer... aquilo duro em sua bermuda...
Caleb abriu os olhos, o quarto continuava escuro, mas a dor diminuíra consideravelmente. Por outro lado, a tensão de seu corpo fora responsável por seu despertar.
Um sorriso irônico brincou em seus lábios, as emoções do sonho haviam sido reais demais, fortes demais, deliciosas demais, mesmo para alguém no meio de uma crise de enxaqueca.
Sabrina sempre fizera isso com ele. O sorriso morreu e uma onda de desgosto o envolveu. Como podia ainda desejar aquela garota?! Como podia ainda sonhar com alguém que nunca se importara com ele o suficiente para sequer se despedir?!
- Maldita garota. – Murmurou, se dirigindo ao banheiro. O alívio pela dor ter diminuído desaparecendo ante a raiva pela lembrança.
Depois do banho, ele finalmente conseguiu abrir realmente os olhos, sem franzir a testa. Estava passando.
Pedro estava na sala de jantar, esperando por ele, lendo alguma coisa no tablet, enquanto Lúcia, a governanta de Caleb, arrumava a comida à mesa.
- Como se sente, meu menino? – Perguntou Lúcia, preocupada. Ele se aproximou e beijou o alto de sua cabeça grisalha.
- Estou melhor, Lu, quase bem. Vai almoçar com a gente?
- Ah, não! Você sabe que velho come e dorme cedo, eu já almocei. – Ele riu, enquanto Pedro olhava para Lúcia.
- Velhos deveriam ficar em casa descansando e não paparicando marmanjos feito eu e Caleb. – Lucia riu baixinho.
- Está de mau humor de novo, menino Pedro? Não consegue se acostumar com as dores do seu amigo, não é? Acredite, essas crises vão passar no dia em que ele se apaixonar. – Pedro deu uma risada da expressão indignada de Caleb.
- Difícil, Lu, é alguma mulher se apaixonar por essa criatura ranzinza! – Por causa da implicância, ele recebeu um puxão de orelha.
- Como se você fosse muito diferente dele! – Foi a vez de Caleb rir.
- Deixa ele, Lu, provavelmente vamos ficar velhos, sozinhos e implicando um com o outro até morrermos. – Lúcia olhou para os rosto bonito do menino que criara desde os dois anos e sorriu, com carinho.
- Você só morre sozinho se assim quiser, meu menino. Bonito do jeito que é, não sei como não tem uma fila de mulheres no portão da casa! – Caleb riu.
- Porque a cara feia dele afugenta as mulheres, Lu! Quando uma mulher sorri para ele nas festas, ele franze a testa e aperta os lábios como um avô rabugento! – Lúcia riu, enquanto terminava de servir a comida.
- Guto vem te buscar hoje, Lu? – Perguntou Caleb.
- Ah, não! Ele está em uma viagem com a turma da faculdade. – Ela abriu um sorriso orgulhoso. – No próximo semestre ele vai começar a fazer um estágio com o professor dele. Estágio remunerado! – Caleb e Pedro sorriram.
- Guto é um menino muito esforçado, pena que o interesse dele não é na área financeira, se não poderíamos contratá-lo logo que terminasse a faculdade.
- Pedro tem razão, mas, por outro lado, em breve teremos um médico particular.
- Nunca vou poder agradecer o bastante o que fez pelos meus netos, meu menino. – Disse ela, beijando a cabeça de Caleb com carinho.
- Não tem por que agradecer, Lu, eu só estou retribuindo todo o amor que você me deu todos esses anos. Se sou meio que seu filho, então ajudar seus netos é só meu dever como tio. – Ele olhou para Pedro. – Peça a Jorge que a leve em casa, por favor. – Pedro acenou, sorrindo.
Depois que Lúcia saiu, os dois comeram quase em silêncio. Pedro o observava de vez em quando, sem saber se ele ainda estava com dor de cabeça ou só estava em um daqueles momentos de melancolia que o amigo entrava às vezes, depois das enxaquecas, e que Pedro nunca conseguira descobrir o que causava.
- Vai voltar ao escritório ainda hoje? – Perguntou, para confirmar sua desconfiança.
- Não, acho que vou para Búzios mais tarde.
"Aí está." Pensou Pedro. Quando Caleb entrava naquele estado, ele se sentia o pior dos amigos, por não saber como ajudá-lo, era quase como a maldita enxaqueca. E, como a dor, ele não fazia ideia do que causava aquela melancolia.
- Por que não vem comigo visitar meus pais? Mamãe reclamou da última vez em que estive lá, que você não aparece há anos. – Caleb pensou por um momento.
- Porque ao invés de eu ir para Búzios e você para Abati, não saímos desse calor infernal e vamos esquiar em algum lugar dos Alpes Suíços? – Pedro riu.
- Não posso, prometi para minha mãe que iria lá neste final de semana, além disso... – Ele não soube como continuar e Caleb riu.
- Vai ver a Tampinha, não é? – O sorriso do amigo aqueceu o peito de Caleb.
- Da última vez ela disse que aceitaria meu convite para jantar quando eu voltasse. – Caleb balançou a cabeça, afastando o prato. – Só vai comer isso? Cal, você tem que se alimentar direito! Sabe que esse remédio para enxaqueca é forte pra caramba, vai acabar com uma gastrite antes dos quarenta! – Ele puxou o prato de volta, sabendo que Pedro tinha razão, e recomeçou a comer.
- Então, divirta-se. Diga a tia Zoé que irei no próximo fim de semana prolongado que tivermos. – Pedro sorriu, acenando com a cabeça.
- Sabe que se não cumprir a promessa ela é capaz de vir aqui te buscar pelas orelhas, não sabe? – Os dois riram.
Caleb e Pedro eram amigos desde o jardim de infância.
O pai de Pedro era motorista do pai de Caleb e os dois tinham providenciado para que Pedro acompanhasse Caleb para todo lado, desde o jardim de infância até a faculdade nos Estados Unidos. Não era de estranhar que, nas férias e feriados, Caleb fosse com Pedro para Abati, a cidadezinha onde tio Eliseu, como Caleb chamava o pai do amigo, nascera e fora criado.
Todos os verões, os dois meninos deixavam o Rio e seguiam para a propriedade rural da família de Pedro. Ali Caleb se sentia livre, saudável, amado. Eram os períodos mais felizes de sua vida. Até conhecer ela...
Pedro se despediu depois do almoço, avisando que ia voltar para o escritório e que estaria no Rio até o dia seguinte de manhã, caso Caleb precisasse de alguma coisa. Depois da saída do amigo, Caleb voltou para a cama, a cabeça ainda doía e se sentia cansado demais para fazer qualquer outra coisa.
A semana fora exaustiva por causa de uma queda violenta e inesperada na bolsa de valores do Reino Unido, que impactou diversos clientes e a ele mesmo. Caleb amava o que fazia, mas admitia, muito raramente, que o mercado financeiro, às vezes, era muito estafante.
Ainda assim, preferia ter crises de enxaqueca por administrar seu próprio negócio, do que assumir a presidência das empresas da família.
Seu pai achava que era apenas uma fase, que ele estava tentando se provar capaz de criar algo próprio... E, talvez, até fosse, mas detestava a ideia de dar continuidade a um negócio que ele herdaria apenas por uma questão de sorte genética.
Quando acordou novamente, já passava das dez da noite. Como quase não haviam mensagens em seu telefone, imaginou que Pedro havia direcionado as ligações para o celular dele, dando-lhe um pouco de paz.
Depois de fazer um lanche leve, ele pegou a pasta que Pedro deixara e foi para o escritório, no primeiro andar da casa. A semana acabara, mas ele ainda tinha muito o que fazer para recomeçar do zero na segunda.
Eram duas da manhã quando finalmente fechou o notebook, tomou outro banho e se deitou. Não tinha sono, mas precisava pelo menos descansar o corpo exausto. Pensou na enxaqueca e no que o médico lhe dissera sobre elas anos atrás.
- Você não tem nada físico que possa causar essas dores, Caleb. Talvez devesse procurar uma razão emocional. Posso te dar o contato de uma amiga minha, que é psicóloga...
É claro que, aos dezessete anos, ele recusara a ideia de ser tratado por uma médica de malucos e passara a encarar as dores de cabeça como um lembrete.
Um lembrete de que um coração partido podia causar mais estragos do que apenas o sofrimento normal.
Abriu o celular e buscou a foto, cujas cópias podia encontrar em cada um de seus equipamentos eletrônico, de forma a que pudesse sempre ver.
Era ela, no alto da cachoeira, com a floresta lá embaixo. Os cabelos longos, soltos, estava agitados pelo vento de fim de tarde, ela sorria para ele, um sorriso doce e apaixonado... "Um sorriso falso." Pensou, com cinismo.
Sob a foto, os dizeres: "A grandeza de um amor só não é maior do que o sofrimento que ele causa."
Ele criara aquela montagem e levava consigo para nunca esquecer. Para que, se algum dia, seu coração idiota sequer pensasse em se apaixonar de novo, lembrá-lo de tudo o que sofrera por causa daquela garota.
Ampliou a foto até que o rosto dela cobrisse toda a tela dupla. Linda...
Ele não precisava de fotos para se lembrar de cada detalhe daquele rosto, precisava apenas fechar os olhos e...
A corrida morro acima o deixara sem fôlego e ele respirava com dificuldade quando ela se aproximou.
- É isso que dá morar em cidade grande! Você está fora de forma, Caleb! – Ele amava o som de seu nome nos lábios dela, mesmo dito em um tom tão petulante como agora.
- Eu viajei doze horas de avião até o Rio e depois mais três de carro até aqui, bruxa de Abati. Nem parei para trocar de roupas e subi a colina correndo, quero ver você fazer a mesma coisa e ficar calma e sorridente! – Apesar do tom raivoso, os olhos azuis dele brilhavam intensamente.
- Chegou hoje?!
- Cheguei agora! – Então o sorriso dela mudou, tornou-se caloroso, terno e ainda mais lindo.
- Veio direto ver se tinha alguém invadindo a sua cachoeira, menino rico? – Ele apertou os lábios, irritado. Será que ela era retardada?!
- É, vim ver se tinha algum invasor além de você, rondando a propriedade. – Retrucou irritado por ela não perceber que estava ali por ela.
O sorriso lindo morreu devagar, enquanto ela se virava e olhava para a cachoeira. Caleb sentiu falta do calor de seu sorriso, mas não sabia por que ela tinha ficado séria de repente. Na verdade, por mais que tentasse, na maior parte do tempo ele não sabia o que provocava as reações dela.
- Seu tio colocou uma cerca em torno da propriedade, sabia? – Reclamou ela, fazendo um beicinho e puxando o decote da blusa para mostrar um arranhão recente no ombro esquerdo. – Eu me arranhei no arame farpado, tentando invadir a propriedade. – Ele viu o arranhão, mas, mais do que isso, viu a curva do seio branco quando ela puxou o decote. Uma menina de treze anos deveria ter seios tão lindos?
Estava ficando acostumado com aquele calor e aquelas emoções loucas que ela provocava nele. Mesmo a dor em seu ventre, era gostosa. Estendeu a mão e tocou o machucado.
Era a primeira vez que tocava em alguma parte do corpo dela que não fosse a mão e seu coração batia tão rápido e forte que teve medo de que estivesse tendo um infarto.
Quando seus dedos tocaram o ombro de pele macia, ela estremeceu violentamente e os dois se assustaram, se afastando.
- Machuquei você? – Os olhos dela estavam tão dourados que pareciam irreais e ela o olhava como se o visse pela primeira vez, um misto de estranheza, curiosidade e... Ele não saberia definir aquele sentimento, mas era... quentinho.
- Não. – Sua voz saiu rouca e Caleb engoliu em seco.
- Desculpe. – A voz dele também estava mais rouca que o normal e a curiosidade nos olhos dourados aumentou.
- Por que se desculpa? Eu disse que não me machucou. - Ele deu um passo à frente, estendeu a mão e puxou a blusa dela de volta para o lugar, em busca de um pouco de paz de espírito
- Mas eu te assustei. – Ela negou, com um gesto e ele insistiu. – Eu te fiz estremecer. – Então, Sabrina estendeu a mão e tocou seu pescoço com a ponta dos dedos e, dessa vez, foi ele quem estremeceu.
- Eu te assustei? – Ela perguntou, com um sorriso lento e sensual.
Não é verdade que as mulheres já nascem sabendo de certas coisas? Ele tinha certeza de que sim, que elas sabiam de tudo.
Onde tocar, quando tocar, quando e onde beijar...
- Não. – Ele respondeu, com uma timidez que nunca sentira antes. Ela tocou de novo e ele estremeceu. Na terceira vez ele segurou sua mão. – Por favor, não faça isso. – Não sabia por que, sabia apenas que tinha que pará-la antes que ele fizesse algo muito estúpido.
- Você não gosta? – Ele captou certa timidez nela também e se sentiu melhor, não queria ser o único a se sentir daquele jeito.
- Você gostou quando eu te fiz estremecer? – Aquela era a pergunta mais importante que já fizera em sua vida e seu coração pareceu parar para esperar, ansioso, a resposta. Ela mordeu o lábio inferior e Caleb engoliu em seco.
Alguns anos se passaram para ele, até que ela acenou com a cabeça.
- Gostei. – O coração parado, disparou em seu peito.
Ele sorriu, estendeu a mão e deslizou o dedo de sua bochecha, passando pelo pescoço, até o decote canoa da blusa. Ela estremeceu mais de uma vez durante o processo, mas não recuou.
Enchendo-se de coragem, Caleb deu um pequeno passo à frente, depois outro e outro, até ficar diante dela, o mais próximo que conseguiu. Sabrina teve que erguer a cabeça para olhar em seus olhos.
Do alto de seus quatorze, Caleb sabia o que queria, mas não sabia como pedir a ela, que continuava com a cabeça erguida, parecendo esperar que ele dissesse alguma coisa.
- Eu... posso... – Ela esperou, mas ele não conseguia perguntar.
Aqueles olhos dourados o estavam hipnotizando, confundindo... Então, quando ela fechou os olhos e entreabriu os lábios, ele soube que a pergunta já havia sido feita e que aquela era a resposta dela.
Baixou a cabeça devagar, deliciando-se por poder olhá-la tão de perto, até seus lábios tocarem os dela, então...
O mundo inteiro deixou de existir.
Ela tinha a boca mais macia e doce do mundo e seus lábios carnudos estavam trêmulos. Caleb segurou-a pela cintura e puxou gentilmente contra seu corpo. Em seus ouvidos o barulho do sangue pulsando era maior e mais forte que o da cachoeira sob seus pés, suas mãos tremiam ao envolver a cintura tão fina que uma mão quase podia tocar os dedos da outra.
Ele achava que ia morrer, mas tudo bem, morreria com o corpo dela colado ao seu, não havia forma melhor de morrer. Então ele sentiu os braços dela envolverem seu pescoço e teve certeza absoluta de que morreria mesmo.
Ele estava com febre, com certeza, seu corpo ardia por dentro e ele não conseguia respirar direito, já não fazia ideia de como seu coração não parara ainda, visto que batia em uma velocidade alucinante.
Todo o sangue que irrigava seu cérebro tinha desaparecido, pois ele não conseguia pensar em nada, ouvir nada, sentir nada além daquela boca macia sob a sua e dos braços roliços em torno de seu pescoço.
De repente percebeu que o sangue que deveria estar indo para o cérebro havia sido direcionado para uma parte bem específica de seu corpo e a vergonha voltou com força total.
Mas antes que conseguisse ter qualquer reação, os lábios dela se entreabriram e ele sentiu seu hálito de hortelã. Tocou o lábio inferior com a ponta da língua e ela apertou os braços em seu pescoço. Sua língua encontrou a dela, desajeitada, afoita, sem nenhuma delicadeza ou experiência. Ela gemeu baixinho e ele, preocupado, se afastou.
- Eu te machuquei? – Era difícil até para falar, a voz saindo mais rouca e meio áspera. Quando ela abriu os olhos, Caleb suspirou. O dourado vivo tinha adquirido um tom de ouro velho, mais escuro e muito mais lindo.
- Não... Eu nunca... – O coração, já descompassado dele, se encheu de um sentimento que ele não conhecia e de orgulho.
- Nem eu. – Primeiro ela o olhou com uma expressão confusa, depois abriu um sorriso ainda mais lindo que o anterior. Ficou na ponta dos pés e colou sua boca na dele de novo.
Deliciado com a iniciativa dela, ele finalmente passou os braços em torno de sua cintura e a puxou contra ele, mas a emoção e a reação de seu corpo foi mais do que ele conseguia suportar. Aquela parte de seu corpo que lhe causava tanta vergonha, latejava com força, encostada no ventre dela e, de repente, tudo se concentrou ali, naquele contato, naquela sensação dolorosa e prazerosa ao mesmo tempo.
Com medo que ela percebesse, ele se afastou de forma abrupta e ela cambaleou, antes de cair sentada no chão.
O rosto dela expressava uma gama de emoções confusas, mas sobretudo havia a incredulidade e a confusão. Ele estendeu a mão, para ajudá-la a levantar.
- Me desculpe, eu... – Sabrina deu um tapa na sua mão, recusando sua ajuda, ficando de pé e colocando as mãos na cintura, ainda mais linda com a fúria estampada em seu rosto.
- Não desculpo, não! Seu grosso! Estúpido! Idiota! – Os olhos dela se encheram de lágrimas e ela se voltou, correndo para longe dele.
Caleb riu baixinho, lembrando-se da cena. A fúria dela era sempre violenta e muito passageira. Todas as vezes em que haviam se desentendido, Sabrina virava uma leoa enfurecida. Ela odiava com tanta intensidade quanto amava, inteira, completamente...
Apertou os lábios. Ou assim ele pensara quando acreditava no amor que ela dizia sentir por ele.
Só havia uma coisa que ele tinha a agradecer àquela garota, ela nunca quisera conhecer a família de Pedro ou seu amigo, dizia que preferia que o amor deles fosse secreto, que a família dela a mataria se sonhasse que tinha um namorado antes dos dezoito anos.
Então aquele romance fora o segredo deles, o primeiro verão fora maravilhoso, o segundo, incrível e o terceiro...
No terceiro ano ele chegara disposto a se apresentar para a família dela, queria contar a verdade para Sabrina, dizer a ela que "seu tio" era na verdade motorista de seu pai e que ele não tinha a menor intenção de manter segredos para ela ou de torná-la um segredo em sua vida. Queria andar de mãos dadas com ela pelas ruas da cidade de Abati, queria que ela fosse jantar com a família de Pedro, que conhecesse seus pais e queria conhecer os dela.
Principalmente queria que ela soubesse que se casaria com ela e que a levaria para conhecer o mundo como ela dizia sonhar...
Ele passou um mês inteiro indo todos os dias até a cachoeira, mas ela não apareceu.
Então pedira a Pedro que o ajudasse a encontrar ela, mas tudo o que sabia era que seu nome era Sabrina. Eles descobriram que a dona de uma pousada afastada da cidade tinha uma neta chamada Sabrina e foram lá procurar por ela, mas tudo o que a velha senhora dissera fora que sua neta interesseira e vadia tinha ido embora, fugira com um garoto rico de São Paulo.
Caleb viu a foto dela e teve a impressão de que seu coração se partira em milhões de pedaços, minúsculos pedaços que continuavam a flutuar dentro de seu peito, sem chance de conserto, mesmo doze anos mais tarde. Era uma ironia que ela tivesse fugido com um garoto rico, quando tinha o filho de um bilionário a seus pés.
"Interesseira e vadia" as palavras da avó dela o acompanharam ao longo de toda sua vida. "Interesseira e vadia" como uma avó podia dizer uma coisa dessas sobre a neta, para dois garotos estranhos? Interesseira... Ela nunca havia feito nenhum comentário com ele sobre querer algo mais do que a vida que tinha, nada além de fazer faculdade e conhecer o mundo... Vadia... Ele sabia que ela se tornara mulher em seus braços. Haviam perdido a virgindade juntos e essa era uma das poucas certezas que tinha sobre ela.
Sabrina... A bruxa de Abati...
- Por onde será que você anda? – Perguntou ele baixinho e suspirou.
Cada vez que suspirava, lembrava dela e de sua pergunta sobre ele saber falar.
Doze anos haviam se passado e ele ainda pensava nela com uma frequência irritante. Adoraria encontrá-la e mostrar a ela o que perdera ao fugir com o garoto rico de São Paulo. Adoraria mostrar para ela tudo o que poderia ter sido e tido na vida, se o tivesse escolhido.
Adoraria... conseguir esquecê-la de uma vez por todas e seguir adiante.
Mas sempre que a enxaqueca aparecia, ele revivia tudo o que acontecera entre eles, cada momento, cada conversa, cada beijo, cada carícia...
A enxaqueca era um lembrete constante daquela menina-mulher que roubara e depois despedaçara seu coração. Mas a enxaqueca sempre voltava, ao contrário de Sabrina.
Ele voltara, ano após anos, a Abati, nas esperança de reencontrá-la e ter sua vingança, mas ela nunca estava lá. Então, ele e Pedro entraram para a faculdade e foram para os Estados Unidos e Sabrina se tornara o fantasma dos verões passados.
Um fantasma que afastava toda e qualquer mulher por quem ele pudesse pensar em se interessar.
Amantes, ele tivera muitas, mas nenhuma jamais chegou a ser mais do que uma parceira de sexo. Nenhuma chegou sequer a fazê-lo rir como ela fazia, nenhuma o provocara como ela, nenhuma o tocara como ela, o beijara como ela...
- Maldita garota. – Murmurou enraivecido, olhando o relógio.
Quatro da manhã... Levantou e voltou para o escritório, em busca da única coisa que conseguia afastar as lembranças dela. Trabalho.
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