Ela não esperava por nada disso. Se apaixonar perdidamente. Sentir o mundo todo desabar e o chão sumir por baixo de seus pés.
Já passava das onze da noite. O hotel silencioso, corredores apagados. Uma camareira levava um pedido pro quarto 72B. Guilherme continuava ali, absolvido em seus pensamentos. Deveria ter terminado aquele relatório a horas. Mas os problemas e a sua cabeça pareciam mísseis passando pelos seus olhos.
"Será mesmo que isso é o sucesso?"
Ele estava em Paris. Sua companhia pagava todos seus custos. Era um executivo internacional, negociava e fechava contratos milionários. Mas nenhuma de suas conquistas até aquele momento, tinha feito seu olho brilhar. Nem mesmo seu patrimônio em São Paulo, a desejada casa no litoral. O carro do ano. Nada. Nada daquilo o fazia feliz.
O telefone tocou.
Ele não se mexeu, na tela o nome que ele sabia quem era. Só não queria atender. Sabrina. Ela era uma mulher que o entendia. Já eram seis anos de noivado. Mas nem mesmo isso o motivava. Os olhos dele não brilhavam. Nem com a possibilidade de formar uma família, nem com a possibilidade de se casar com aquela mulher. Seus olhos verdes, já cansados da tela do notebook ardiam.
O telefone continuava a tocar.
"Por favor, Sabrina me deixe me paz"
Ele murmurou apertando o logo vermelho na tela, que desligava a chamada.
"Amanhã falo com você"
Ele decidiu desistir do relatório, suas pernas cansadas denunciavam a tempo que ele estava sentado na mesma posição.
Tirou as roupas e foi tomar um banho pra finalmente, terminar mais um dia longo de trabalho. Longe de casa. Mas afinal, o que era sua casa? Se passava maior parte do seu tempo viajando. E quando não viajava, acabava preso em compromissos de família. Cortou seus pensamentos pra conseguir que o corpo descansasse.
Se jogou na cama e sem olhar pro telefone novamente, dormiu.