No dia do aniversário do meu marido, Heitor, eu lhe enviei um presente: o embrião preservado do filho que eu tinha acabado de abortar. Era a minha vingança. Ele havia armado para o meu pai, jogando-o na prisão e levando minha mãe ao túmulo, tudo por sua amante, Âmbar. Quando ele invadiu nosso apartamento, o rosto transfigurado pelo ódio, me jogou contra o balcão. "Sua monstra! Como você pôde destruir nosso filho?" "Você perdeu esse direito no momento em que escolheu a Âmbar em vez de nós", cuspi de volta. Mas meu desafio só trouxe mais horror. Ele me internou em um hospício onde Âmbar, a arquiteta da ruína da minha família, me torturou com eletrochoques, tentando quebrar minha mente. Eu fingi submissão, depois revidei, jogando nós duas pela janela do terceiro andar. Eu sobrevivi; ela ficou em estado grave. Deitada na minha cama de hospital, Heitor não veio com remorso, mas com uma exigência cruel. "Âmbar precisa de um enxerto de tendão. Você é compatível. A cirurgia é amanhã." Ele achou que tinha me encurralado, que poderia me forçar a sacrificar um pedaço de mim pela mulher que me destruiu. Mas enquanto ele saía para consolar sua amante, eu fiz uma ligação. Na manhã seguinte, enquanto ele me implorava para não fazer a "cirurgia", eu fui embora, deixando-o nas ruínas da vida que ele havia estilhaçado. Ele não sabia que aquilo não era uma cirurgia. Era a minha fuga e o começo do fim dele.
No dia do aniversário do meu marido, Heitor, eu lhe enviei um presente: o embrião preservado do filho que eu tinha acabado de abortar.
Era a minha vingança. Ele havia armado para o meu pai, jogando-o na prisão e levando minha mãe ao túmulo, tudo por sua amante, Âmbar.
Quando ele invadiu nosso apartamento, o rosto transfigurado pelo ódio, me jogou contra o balcão.
"Sua monstra! Como você pôde destruir nosso filho?"
"Você perdeu esse direito no momento em que escolheu a Âmbar em vez de nós", cuspi de volta.
Mas meu desafio só trouxe mais horror. Ele me internou em um hospício onde Âmbar, a arquiteta da ruína da minha família, me torturou com eletrochoques, tentando quebrar minha mente.
Eu fingi submissão, depois revidei, jogando nós duas pela janela do terceiro andar. Eu sobrevivi; ela ficou em estado grave.
Deitada na minha cama de hospital, Heitor não veio com remorso, mas com uma exigência cruel.
"Âmbar precisa de um enxerto de tendão. Você é compatível. A cirurgia é amanhã."
Ele achou que tinha me encurralado, que poderia me forçar a sacrificar um pedaço de mim pela mulher que me destruiu.
Mas enquanto ele saía para consolar sua amante, eu fiz uma ligação. Na manhã seguinte, enquanto ele me implorava para não fazer a "cirurgia", eu fui embora, deixando-o nas ruínas da vida que ele havia estilhaçado. Ele não sabia que aquilo não era uma cirurgia. Era a minha fuga e o começo do fim dele.
Capítulo 1
Ponto de Vista de Laura Moraes:
Meu celular vibrou, um número desconhecido piscando na tela. Era o aniversário de Heitor. Olhei para o embrião preservado no frasco de vidro feito sob medida, um pontinho minúsculo e translúcido suspenso em um fluido âmbar. Este era o meu presente para ele.
Apertei 'aceitar'.
"Feliz aniversário, Heitor", eu disse, minha voz fria, sem qualquer emoção.
Houve um momento de silêncio do outro lado, depois um som tenso, quase sem fôlego. Heitor. O homem que um dia foi meu mundo. O homem que havia estilhaçado tudo.
"Laura?" A voz dele estava rouca, carregada de uma confusão que era quase cômica. Ele não esperava ouvir de mim. Não hoje. Provavelmente, nunca mais.
"Você recebeu meu presente?", perguntei, um sorriso cruel brincando em meus lábios. O movimento esticou os músculos do meu rosto, uma sensação que eu não experimentava há anos.
Outra pausa. Mais longa desta vez. Eu quase podia ouvir sua mente acelerada, tentando juntar as peças. O pacote. O formato estranho. O peso.
"O que... o que é isso, Laura?" Sua voz era um rosnado baixo agora, um tom perigoso se insinuando.
"É o nosso filho, Heitor", afirmei, cada palavra uma adaga lenta e deliberada. "Ou o que teria sido nosso filho. Eu abortei. No seu aniversário. Só para você."
Um grito estrangulado rasgou sua garganta. Era um som de pura, inalterada angústia, um som que eu ansiava ouvir por dois longos e agonizantes anos. Meu coração, um bloco de gelo no meu peito, sentiu um lampejo de algo quase parecido com satisfação.
Ouvi um estrondo do outro lado, vidro se quebrando contra o que parecia ser um piso de mármore. Ele deve ter deixado o frasco cair. Ótimo. Que se quebre. Que cada caco da nossa realidade quebrada o corte.
"Sua... sua desgraçada!", ele rugiu, a voz grossa de fúria e uma dor que eu sabia ser real. "Você realmente fez isso!"
"Sim, Heitor, eu fiz", confirmei, minha voz ainda estranhamente calma. "E sabe de uma coisa? Foi a decisão mais fácil que já tomei."
Ele continuou gritando, palavras incoerentes de raiva e incredulidade. Eu podia imaginá-lo, seu rosto bonito contorcido, sua compostura perfeita de promotor finalmente se quebrando. Era uma bela visão, na minha mente.
"Por que, Laura? Por que você faria isso?", ele gritou, a voz falhando.
"Por quê?", repeti, uma risada fria e dura borbulhando de dentro de mim. Não era uma risada de alegria, mas de triunfo amargo. "Você quer saber por que, Heitor? Porque eu te odeio. Eu te odeio mais do que já amei qualquer coisa neste mundo."
A linha ficou muda. Ele havia desligado. Ou talvez tivesse jogado o celular do outro lado da sala. Não importava. A mensagem foi entregue. O presente foi recebido.
Fechei os olhos, o fantasma de uma lágrima traçando um caminho pelo meu rosto. Eu a enxuguei rapidamente. Chega de lágrimas por ele. Nunca mais.
O apartamento parecia quieto demais, vazio demais. Era sempre assim depois de uma de nossas 'interações'. Uma dor oca se instalou no meu peito, uma companheira familiar.
De repente, a porta da frente se abriu com um estrondo, batendo contra a parede. Heitor. Ele deve ter dirigido como um louco.
Ele ficou parado na porta, o peito subindo e descendo, os olhos selvagens e injetados de sangue. Os restos do frasco estavam espalhados pelo chão, brilhando como joias malignas. Ele apontou um dedo trêmulo para mim.
"Sua... sua monstra!", ele engasgou, a voz mal um sussurro, mas carregada de veneno.
Eu apenas o encarei de volta, meu rosto uma máscara cuidadosamente construída de indiferença. Deixe-o me xingar. As palavras não significavam mais nada para mim.
Ele avançou, agarrando meu braço com uma força que machucava. Seu aperto era firme, seus dedos cravando na minha carne. Eu não vacilei. Estava acostumada.
Ele me arrastou pelo piso de mármore polido, passando pelo vidro quebrado, e me empurrou contra a superfície fria e implacável do balcão da cozinha. Minha cabeça bateu na quina com um baque surdo, faíscas dançando atrás dos meus olhos. Senti o gosto de sangue.
"Como você pôde, Laura?", ele rosnou, o rosto a centímetros do meu, seu hálito quente contra minha pele. "Como você pôde destruir nosso filho?"
"Nosso filho?", cuspi, as palavras pingando desprezo. "Você perdeu o direito de chamá-lo de 'nosso filho' no momento em que destruiu minha família. No momento em que escolheu a Âmbar em vez de nós."
Seus olhos se estreitaram, um lampejo de algo indecifrável passando por eles. Culpa? Arrependimento? Eu não me importava.
"Você acha que isso é justiça?", ele rugiu, a voz ensurdecedora no espaço confinado. "Você acha que isso nos deixa quites?"
"Não", sussurrei, um sorriso arrepiante voltando aos meus lábios. "Isso é só o começo, Heitor. Este é apenas o meu primeiro presente para você."
Ele bateu com o punho no balcão, errando minha cabeça por pouco. A força do golpe sacudiu a cozinha inteira.
"Você está louca, Laura", ele sibilou, a voz tremendo com uma mistura de raiva e outra coisa. Medo, talvez? Eu esperava que sim.
"Talvez", concedi, meu olhar inabalável. "Mas quem me tornou assim, Heitor? Quem me transformou nesta monstra?"
Ele me encarou, seus olhos procurando, desesperados. Mas não havia mais nada para encontrar. A mulher vibrante e amorosa com quem ele se casou havia desaparecido há muito tempo, substituída por uma casca fria e vazia.
Ele agarrou meu queixo, forçando-me a olhá-lo. Seu polegar roçou meu lábio inferior, onde o impacto havia cortado a pele. Foi um gesto de ternura inesperada, um fantasma do homem que ele já foi.
"Você ainda é minha esposa, Laura", ele disse, a voz mais suave agora, quase suplicante. "Nós podemos consertar isso. Podemos recomeçar."
Eu ri, um som áspero e sem humor. "Consertar isso? Recomeçar? Você realmente acha?" Meus olhos correram para o vidro quebrado no chão, depois de volta para o rosto dele. "Não há mais nada para consertar, Heitor. Você queimou tudo até o chão."
Sua mandíbula se contraiu. A ternura desapareceu, substituída pela máscara familiar de fúria controlada.
"Você trouxe isso para si mesma, Laura", ele disse, a voz fria e cortante. "Você escolheu este caminho."
"Não, Heitor", corrigi, minha voz igualmente fria. "Você o escolheu para mim. Você o escolheu no dia em que ficou do lado da Âmbar, no dia em que colocou meu pai atrás das grades, no dia em que viu minha mãe morrer."
Seu rosto empalideceu, a menção da minha mãe claramente atingindo um nervo. Mas era tarde demais para remorso. Muito tarde.
Ele agarrou meus braços, seus dedos cravando fundo. Seus olhos queimavam nos meus, um fogo desesperado ardendo dentro deles.
"Você acha que eu gostei de ver sua família desmoronar?", ele rosnou, a voz crua. "Você acha que eu queria algo disso?"
"Você defendeu isso, Heitor", lembrei, minha voz inabalável. "Você chamou de 'justiça'. Você chamou de 'responsabilidade'. Você convenientemente se esqueceu da 'responsabilidade' dos Moraes em te criar, em te dar tudo o que você tem."
Sua respiração engatou. As palavras atingiram um ponto sensível, uma insegurança profunda que ele sempre tentava esconder.
Ele fechou os olhos por um momento, uma careta dolorosa torcendo suas feições. Quando os abriu novamente, estavam duros e implacáveis.
"Eu tentei te proteger, Laura", ele disse, a voz baixa e perigosa. "Tentei te manter fora disso. Mas você não quis ouvir. Você sempre teve que lutar comigo."
"Lutar com você?", zombei, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "Eu lutei pela minha família, Heitor. Lutei pela verdade. Algo que você parece ter esquecido."
Ele se afastou de mim, passando a mão pelo cabelo desgrenhado. Parecia cansado, derrotado. Mas eu sabia que era uma performance. Uma fachada cuidadosamente elaborada.
"Você é um caso perdido, Laura", ele murmurou, balançando a cabeça. "Você é igual ao seu pai."
As palavras doeram, uma flecha venenosa apontada diretamente para minha ferida mais profunda. Mas eu me recusei a deixá-lo ver.
"E você, Heitor", retruquei, minha voz afiada e clara, "você é igual à Âmbar. Um oportunista manipulador e calculista, disposto a pisar em qualquer um para conseguir o que quer."
Seus olhos brilharam de raiva. Ele odiava ser comparado a ela, mesmo que fossem dois lados da mesma moeda.
Ele deu um passo para trás, seu olhar varrendo os destroços da cozinha, depois pousando em mim. Uma calma arrepiante desceu sobre seu rosto.
"Tudo bem", ele disse, a voz desprovida de emoção. "Se é esse o jogo que você quer jogar, Laura, então vamos jogar."
Ele se virou e foi embora, seus passos ecoando no silêncio. Eu o observei ir, meu corpo tremendo, não de medo, mas de uma raiva fria e latente.
Ele parou na porta, virando-se para me encarar. "Só se lembre, Laura", ele avisou, os olhos como lascas de gelo, "foi você quem começou."
Ele saiu, a porta se fechando atrás dele. Eu me encostei no balcão, a adrenalina lentamente drenando do meu corpo. As lágrimas, mais uma vez, ameaçaram cair.
Mas eu não as deixaria. Não agora. Nunca mais. Eu tinha uma guerra para lutar. E Heitor Almeida acabara de me dar toda a motivação que eu precisava.
Meu celular vibrou. Era uma mensagem de um número desconhecido. "Negócio fechado. Esteja pronta."
Era Caio. Meu rival de infância. Meu aliado improvável. O único que poderia me ajudar a queimar o mundo de Heitor até o chão.
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