O médico me disse que eu tinha semanas de vida. Mas a verdadeira sentença de morte foi ver a mão do meu noivo deslizar para a da minha melhor amiga do lado de fora do quarto do hospital. Eles pensaram que eu não vi. Eles já tinham virado meu irmãozinho contra mim, o menino que eu criei. Ele a chamava de "mãe" agora. Na festa de noivado deles, realizada na minha casa e paga com o meu dinheiro, ele me olhou nos olhos. "Eu te odeio!" Minha própria família a elogiava por ser uma "mãe nata", enquanto o mundo celebrava a história de amor deles. Eles viam uma mulher fraca, morrendo, quebrada demais para revidar. Eles pensaram que tinham vencido. Então, eu dei a eles tudo o que queriam: minha empresa, minha fortuna, minha bênção. Mas também deixei um último presente, as últimas palavras de uma mulher morta. Quando eu morrer, eles herdarão meu império, mas serão para sempre marcados por um legado de vergonha eterna.
O médico me disse que eu tinha semanas de vida. Mas a verdadeira sentença de morte foi ver a mão do meu noivo deslizar para a da minha melhor amiga do lado de fora do quarto do hospital. Eles pensaram que eu não vi.
Eles já tinham virado meu irmãozinho contra mim, o menino que eu criei. Ele a chamava de "mãe" agora.
Na festa de noivado deles, realizada na minha casa e paga com o meu dinheiro, ele me olhou nos olhos.
"Eu te odeio!"
Minha própria família a elogiava por ser uma "mãe nata", enquanto o mundo celebrava a história de amor deles. Eles viam uma mulher fraca, morrendo, quebrada demais para revidar. Eles pensaram que tinham vencido.
Então, eu dei a eles tudo o que queriam: minha empresa, minha fortuna, minha bênção. Mas também deixei um último presente, as últimas palavras de uma mulher morta. Quando eu morrer, eles herdarão meu império, mas serão para sempre marcados por um legado de vergonha eterna.
Capítulo 1
Ponto de Vista: Juliana Salles
As palavras do médico, "terminal", ecoavam na sala estéril, mas foi a imagem da mão de Daniel deslizando para a de Débora do outro lado do vidro que selou de verdade o meu destino - e o deles. Se eu ia morrer, faria questão de que eles herdassem tudo, incluindo um legado de vergonha eterna.
Eu os observava através do vidro espelhado do consultório. Daniel, meu noivo. Débora, minha melhor amiga. Eles estavam perto demais, a cabeça dela descansando no ombro dele. Ele acariciava o braço dela, um gesto que deveria ser para mim. Meu estômago se revirou, não apenas pela doença que me corroía, mas pela verdade crua e feia que se desenrolava diante dos meus olhos.
Doía mais que qualquer tumor.
Meu irmão, Léo, também estava lá. Ele se apoiava em Débora, de costas para mim. Nem sequer olhou na minha direção. Débora o abraçava, a imagem do conforto materno que eu trabalhei a vida inteira para proporcionar. Ele olhava para ela como se ela fosse a única que se importava.
Ele olhava para ela com o amor que um dia reservou para mim.
Meu coração, já enfraquecido, parecia estar se partindo em dois. Todas as pessoas por quem eu me sacrifiquei, amei incondicionalmente e para quem construí um império para proteger, estavam do lado de fora daquela sala, me traindo. Naquele momento, eu soube o que tinha que fazer. Eu daria a eles tudo o que queriam. E então, eu os faria desejar nunca ter querido.
O médico pigarreou. Eu me virei, com um sorriso forçado no rosto. "Então, semanas, você disse?" Minha voz não vacilou. Era uma calma treinada, a calma de uma CEO. Mas por dentro, uma nevasca rugia.
Ele assentiu, os olhos cheios de pena. "Sim, Juliana. A progressão é rápida. O tratamento experimental oferece uma chance mínima, mas é altamente agressivo e, francamente, arriscado." Ele fez uma pausa, olhando para mim com uma preocupação que eu não via da minha própria família há anos. "Você tem certeza de que quer tentar?"
Pensei em Daniel, em Débora, em Léo. Minha empresa, a InovaTech, um império bilionário que construí do nada depois que nossos pais morreram, apenas para que Léo nunca sentisse falta de nada. Minha juventude, meus sonhos, tudo derramado nesse único objetivo. E para quê? Para eles ficarem do lado de fora, planejando minha morte, ou pelo menos, esperando ansiosamente por ela?
"Não", eu disse, a palavra um sussurro, mas firme. "Eu não vou fazer o tratamento."
O médico pareceu chocado. "Juliana, esta é sua única opção. Sem ele, você sabe..."
"Eu sei", cortei-o, meu olhar distante. "Minha decisão está tomada. Vou ceder essa vaga de tratamento para outra pessoa." Minha voz era plana, desprovida de emoção. Eu já era um fantasma, planejando meu ato final.
Eu amava Daniel desde a faculdade. Construímos a InovaTech juntos, ou melhor, eu a construí, e ele pegou carona no meu sucesso, banhando-se na minha glória. Eu acreditava que ele me amava. Acreditava que ele respeitava minha determinação, minha visão. Acreditava que ele era minha rocha.
Como eu fui ingênua.
Lembro-me de quando Débora entrou na minha vida. Uma garota assustada e magrinha que veio do nada, minha melhor amiga de infância. Eu vi seu potencial, sua centelha. Eu a tirei da pobreza, dei-lhe um lar, educação, um cargo importante na minha empresa. Ela era como uma irmã para mim, mais do que uma irmã, era a família que escolhi quando meus pais se foram e Léo era jovem demais para entender. Eu havia derramado meu coração nela, pensando que ela era leal, pensando que era grata.
Uma vez, anos atrás, tive até uma estranha premonição, um pensamento fugaz de que ela desejava mais do que eu estava dando, que um dia ela poderia levar tudo. Eu descartei como exaustão, como paranoia. Agora, era minha dura realidade.
Uma batida na porta. Daniel entrou, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos. Ele cheirava levemente ao perfume da Débora. Ele sempre cheirava, ultimamente.
"Juliana, querida. Como você está se sentindo?" Sua voz estava carregada de uma preocupação fingida que me irritava profundamente. Seus olhos percorreram a sala estéril, evitando os meus.
Eu estava deitada contra os travesseiros brancos e impecáveis, a camisola do hospital áspera contra minha pele. "Estou bem, Daniel. Tão bem quanto se pode estar." Minha voz era firme. Eu o observei, cada microexpressão. Ele se mexeu desconfortavelmente, seu olhar pousando no médico.
"Então, o médico mencionou... o tratamento experimental." Ele hesitou, limpando a garganta. Seu rosto bonito, geralmente tão confiante, estava nublado por uma estranha mistura de apreensão e... esperança?
Dei uma risada amarga, um som oco no meu peito. "Você quer dizer aquele que a Débora precisa mais do que eu?" Meus olhos se estreitaram, sustentando seu olhar.
Seus olhos se arregalaram, depois se estreitaram rapidamente em defesa. "O quê? Não, Juliana, claro que não. Do que você está falando?" Ele tentou soar indignado, mas sua voz falhou um pouco.
"Ah, qual é, Daniel." Meu sorriso era puro sarcasmo. "Não finja que não discutiram isso. A condição da Débora é muito pior, não é? Ela é mais fraca. Ela está sofrendo mais." Eu o observei, saboreando o lampejo de culpa em seus olhos.
Ele gaguejou: "Bem, o tipo de neuropatia dela é... diferente. Mais debilitante, os médicos disseram. E você, Juliana, você sempre parece tão forte. Tão resiliente. As pessoas simplesmente assumem que você pode lidar com qualquer coisa." Ele gesticulou vagamente, como se minha aparência fosse uma afronta pessoal.
Ele não tinha ideia. Ele via a CEO estoica, a irmã inflexível. Ele não via a agonia silenciosa, o fogo implacável me consumindo por dentro. Ele não via o punhado de pílulas que eu engolia a cada poucas horas, apenas para impedir que meu rosto se contorcesse de dor. Os analgésicos potentes eram uma faca de dois gumes, entorpecendo o ataque implacável do câncer, mas também acelerando o declínio dos meus órgãos vitais. Eles estavam me matando mais rápido, mas pelo menos eu conseguia ficar de pé. Pelo menos eu conseguia pensar.
"Você está certo", eu disse, cortando-o, minha voz calma, quase serena. "Ela precisa mais. Eu quero que ela fique com a minha vaga."
Daniel me encarou, de queixo caído. O alívio que inundou seu rosto foi imediato, avassalador e absolutamente nojento. Uma onda de náusea me atingiu, mas eu a engoli.
"Juliana... você está falando sério?" Ele ainda parecia hesitante, como se esperasse a pegadinha, mas seus olhos brilhavam com um triunfo doentio. "Você não vai ser teimosa sobre isso?"
Teimosa. Esse era o meu rótulo, não era? A mulher fria, obcecada pela carreira, que não podia ser amada. A verdade é que era a única maneira que eu conhecia de sobreviver, de proteger todos que eu amava. E isso me custou tudo.
Meus olhos se desviaram para a janela onde Débora e Léo ainda estavam abraçados, uma família perfeita e roubada. Eles pareciam tão felizes. E em breve, teriam tudo.
Mas não sem um preço.
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