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Abri mão da minha vaga no ITA para apoiar meu namorado, Bernardo Monteiro. Depois que o império de tecnologia de sua família ruiu e seus pais morreram, eu dobrei meus turnos como cozinheira, usando o dinheiro da minha faculdade para ajudá-lo a se reerguer.
Mas no dia em que ele anunciou o sucesso de sua nova empresa, ele subiu ao palco, beijou uma advogada da alta sociedade chamada Jéssica Castilho e a apresentou ao mundo como sua parceira.
A humilhação estava apenas começando. Em uma festa, Jéssica derramou champanhe em mim de propósito. Mais tarde, presas em um elevador, ela sibilou que eu era um "caso de caridade" momentos antes de os cabos se romperem.
A queda esmigalhou minha perna. Quando um socorrista olhou para baixo pela escotilha de emergência, podendo salvar apenas uma de nós por vez, ouvi a voz desesperada de Bernardo lá de cima.
"Salve a Jéssica!", ele gritou sem hesitar. "Salve ela primeiro!"
No hospital, ele justificou sua escolha dizendo que Jéssica era "delicada", enquanto eu era "forte" e aguentaria. Então, ele teve a audácia de me implorar, sua amiga de infância, para doar meu tipo sanguíneo raro para salvá-la.
Ele me carregou até a sala de doação e, no momento em que a bolsa encheu, correu com o meu sangue para o lado de Jéssica, sem nem olhar para trás.
Olhando para a marca de agulha recente em meu braço roxo, eu finalmente percebi que o garoto que eu havia salvado não existia mais. Era hora de salvar a mim mesma.
Capítulo 1
Dr. Dantas de Almeida deslizou um envelope branco impecável sobre a mesa de mogno polido. Ele parou a centímetros das mãos gastas de Larissa Amorim.
"Vamos ser diretos, Srta. Amorim."
Sua voz era suave como uísque caro, mas tinha uma frieza cortante que fazia o escritório luxuoso parecer um freezer.
"Dentro deste envelope há um cheque de cinco milhões de reais. É seu."
Larissa encarou o envelope. Cinco milhões de reais. Era um número impossível, uma cifra de um universo diferente daquele em que ela vivia, um mundo de aventais manchados de gordura e o cheiro constante de fritura.
"Junto com o dinheiro", continuou Dantas, seus olhos sem piscar, "há uma bolsa de estudos integral para qualquer universidade que você escolher. ITA, USP, você escolhe. Seu sonho, eu acredito."
O sonho dela. Aquele que ela havia sacrificado sem pensar duas vezes. Aquele que ela havia guardado em uma caixa empoeirada no fundo de sua mente.
"Qual é a pegadinha?", a voz de Larissa era quase um sussurro.
"A pegadinha", disse Dantas, recostando-se em sua cadeira de couro, "é o Bernardo. Você vai desaparecer da vida dele. Nunca mais vai contatá-lo. Você vai deixar de existir para ele."
As palavras a atingiram com a força de um soco. Suas mãos tremeram, e ela rapidamente as escondeu debaixo da mesa. Era isso. O momento que ela temia, o momento em que seu mundo se separaria oficialmente do dele.
Dantas de Almeida sorriu, um corte fino e cruel em seu rosto. "Sejamos honestos. Você é uma cozinheira que saiu de um orfanato. Um caso de caridade."
Suas palavras eram afiadas, feitas para ferir. Elas encontraram seu alvo.
"Você realmente acha que pertence ao mundo dele? Conosco?"
Larissa sentiu uma dor familiar no peito, uma dor oca que era sua companheira há meses.
"Ele tem a Jéssica agora. Ela se formou em Direito na USP, é uma igual. O futuro dela é brilhante. O que você tem? Quem você tem?"
Ele não precisava dizer. Larissa sabia que não tinha ninguém. O sistema a havia cuspido para fora, e ela esteve sozinha até Bernardo.
"Jéssica o adora. Ela pode ajudá-lo, elevá-lo. Você... você é uma lembrança de um passado que ele precisa esquecer."
A garganta de Larissa se fechou. Ela não conseguia falar, não conseguia respirar. Cada palavra era uma confirmação das inseguranças que a corroíam noite após noite.
Ela empurrou o envelope de volta. Um gesto pequeno e desafiador.
O sorriso de Dantas se alargou. Ele pegou um tablet de sua mesa e o virou para ela. A tela se iluminou com uma matéria de jornal.
A manchete gritava: "Herdeiro de Tecnologia Bernardo Monteiro e a Advogada Socialite Jéssica Castilho: O Novo Casal Poderoso da Faria Lima."
Abaixo da manchete, havia uma foto de Bernardo e Jéssica, de braços dados, sorrindo para as câmeras. Eles pareciam perfeitos juntos. Dourados. Intocáveis.
A visão de Larissa ficou turva. Uma única lágrima escapou e caiu em seu jeans surrado. Ela a enxugou rapidamente. Seu celular, agarrado em sua mão debaixo da mesa, escorregou. Ele bateu no chão de mármore com um barulho pavoroso. A tela se estilhaçou em mil pequenas fraturas, assim como seu coração.
Ela sabia que Dantas estava certo. Ela era da sarjeta. Ele era das estrelas. Seus caminhos se cruzaram na escuridão, mas agora que a estrela dele estava subindo novamente, ela era apenas uma sombra que ele estava deixando para trás.
Sua mente viajou, puxando-a para o passado.
Três anos atrás. O beco atrás da lanchonete estava úmido e cheirava a gordura velha e chuva. Foi lá que ela o viu novamente depois do colégio. Bernardo Monteiro, o garoto de ouro, o prodígio da tecnologia, estava caído contra uma caçamba de lixo, seu terno caro encharcado e sujo.
Ele tinha sido gentil com ela no colégio, uma vez a defendendo de valentões que zombavam de suas roupas de segunda mão. Ele não precisava, mas o fez. Ela nunca esqueceu.
Agora, o império de tecnologia de sua família, as Indústrias Monteiro, havia desmoronado da noite para o dia. Seus pais morreram em um suspeito acidente de jato particular. Ele havia perdido tudo. A notícia estava em toda parte.
Ela o encontrou em uma ponte mais tarde naquela semana, olhando para a água escura e agitada abaixo. O olhar em seus olhos era vazio, assustadoramente vazio.
Ela não pensou. Apenas agiu. Agarrou o braço dele, seu aperto surpreendentemente forte por anos carregando panelas pesadas.
"Não", ela disse, a voz trêmula.
Ele se virou para ela, seus olhos focando lentamente. "Por que não? Não sobrou nada."
"Porque você está vivo", ela disse, as palavras ferozes. "E enquanto você estiver vivo, pode lutar. Você tem que se salvar."
Ele olhou para ela, realmente olhou para ela, e algo piscou nas profundezas de seus olhos vazios. Uma pequena faísca.
"Eu te ajudo", ela prometeu, sua voz suavizando. "Você é inteligente. Pode voltar a estudar. Eu te sustento."
Bernardo a encarou, o maxilar cerrado. Então, uma única lágrima traçou um caminho pela sujeira em sua bochecha. Ele assentiu, um movimento quase imperceptível.
Ela o levou para sua quitinete minúscula e apertada. Ela abriu mão de seu próprio sonho, a carta de aceitação do ITA que guardava escondida em um livro, e gastou o dinheiro que economizou para a faculdade com ele.
Ela trabalhava em turnos duplos na lanchonete, suas mãos em carne viva e queimadas. Ela pegou um trabalho de limpeza noturno, seu corpo doendo de exaustão.
Mas valeu a pena.
Naquele pequeno apartamento, cercados pela pobreza e dificuldade, eles se apaixonaram. Ele esperava por ela, não importava o quão tarde, com uma tigela de sopa quente. Ele passava pomada em suas queimaduras com delicadeza, seu toque um conforto que ela nunca conhecera.
Ela pensou que aquele tipo de felicidade, pura e simples, poderia durar para sempre.
Então, ele conseguiu. Com o apoio dela, ele terminou a faculdade e, usando sua mente brilhante, construiu uma nova empresa das cinzas da antiga de sua família. Ele se tornou Bernardo Monteiro novamente. Rico. Poderoso.
Ela estava no fundo da sala na coletiva de imprensa quando ele anunciou o primeiro grande sucesso de sua nova empresa. Ele estava no palco, confiante e bonito, um rei reivindicando seu trono.
Larissa estava na multidão, sentindo uma distância crescente entre eles. O vestido barato que ela usava parecia uma fantasia. O ar, denso com o cheiro de perfume caro e champanhe, parecia sufocante.
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