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Lara Sinclair
A marcha nupcial ecoa pelo espaço sagrado, e o som dos primeiros acordes estremece as paredes centenárias da igreja. O lugar é imponente, erguido em pedra clara, com vitrais altos, arranjos de rosas brancas e lírios que perfumam o ar com sua pureza delicada.
As colunas robustas, esculpidas em estilo barroco, vigiam cada passo, e o altar, coberto de ouro envelhecido, brilha como se fosse o próprio coração do templo.
Cada aplauso soa como uma sentença, cada olhar pesa sobre meus ombros. Meu pai, com os olhos marejados, segura meu braço com delicadeza, mas eu sei que por dentro ele sangra. Sempre fomos nós dois contra o mundo. E agora, diante de centenas de convidados, ele me entrega a outro homem. Eu deveria estar feliz, mas por que meu coração bate tão descompassado, como se pressentisse que algo sombrio está prestes a começar?
Meu pai para diante de Marlon Shert, aquele que a partir de hoje será meu marido. Sua voz embargada me parte ao meio:
- Marlon, cuide da minha princesa... ela é o meu maior amor, tudo o que tenho na vida.
Quase não respiro. A mão do meu pai se desprende da minha, e logo a de Marlon a toma para si. Quero acreditar que aquele gesto traz segurança, mas o que sinto é apenas frieza.
As palavras do juiz ecoam pelo salão, e eu respondo "SIM" com um sorriso encantado, sem imaginar que acabo de selar minha própria sentença. O que penso ser o começo de um conto de fadas se revela como o primeiro passo rumo a um abismo que ainda não enxergo. Quando o juiz anuncia que somos marido e mulher, meu coração espera um beijo apaixonado, mas Marlon apenas encosta os lábios em minha testa. Uma carícia paternal. Um gesto público de... rejeição? Humilhação?
Tento sorrir. Tento parecer feliz. Mas por dentro, a sensação de vazio me esmaga. Não significo nada para ele. Sou apenas um contrato, uma formalidade entre duas famílias. Agora sou oficialmente a senhora Shert.
Enquanto alguns convidados nos cumprimentam, outros conversam animadamente, logo o buffet é servido.
Tiramos inúmeras fotos, como se fôssemos o casal perfeito, apaixonado. Todos sorriem para nós, acreditando na mentira. E então começa a valsa dos noivos.
Marlon me conduz com leveza, quase como se flutuássemos pelo salão. Por um instante, quase me deixo iludir. Mas então percebo uma mulher me observando fixamente. Ela não sorri. Seus olhos não estão em mim, mas nele. Marlon. O jeito como ela o fuzila com o olhar me arrepia. Quem é ela? Por que tanto ódio?
Os convidados logo se juntam a nós na pista. Meu pai, para o meu alívio, até dança com sua secretária e minha amiga de balada, Lílian. É a primeira vez que vejo um sorriso em seu rosto naquela noite.
Depois de todas as formalidades, o buquê lançado, os brindes feitos, finalmente chega a hora de fugir. Marlon segura minha mão com firmeza e diz em tom baixo:
- Está na hora, precisamos fugir daqui.
A viagem até a mansão é silenciosa, quase sufocante. Cada vez que olho para Marlon, só consigo lembrar do beijo frio em minha testa. Eu me pergunto o que acontece dentro da cabeça dele, mas sua expressão é um muro intransponível. Quando o carro para, diante de uma construção imponente, iluminada por refletores e rodeada por jardins perfeitos, sinto um arrepio percorrer meu corpo. Essa será minha nova casa. A casa de um homem que acha me conhecer...
Ele abre a porta para mim e entra à frente, a postura ereta, quase militar. Eu o sigo, com o vestido volumoso arrastando pelo chão, e meu coração bate tão alto que tenho certeza de que ecoa nas paredes.
Marlon me mostra o andar superior. Abre a porta de um quarto imenso, com uma cama "king size" e um closet que parece uma loja inteira.
- Esse é o seu quarto, diz com a voz firme, quase impessoal. - O meu fica ao lado. Sinta-se à vontade.
Olho para ele, incrédula.
- Ao lado? Repito, quase rindo de nervoso. - Então, na nossa noite de núpcias, cada um no seu canto?
Ele desvia o olhar, como se não quisesse encarar a ironia.
- É o melhor. Assim... não teremos confusões.
Reviro os olhos e suspiro.
- Ótimo, mas tem um pequeno detalhe, querido marido, eu não consigo tirar esse vestido sozinha.
Vejo quando ele se amaldiçoa em alguns murmúrios, os músculos do maxilar travados, as mãos fechadas em punhos. Aproxima-se devagar, como se tocasse fogo. Seus dedos roçam minhas costas enquanto abrem o zíper lentamente. A cada centímetro que ele desce, minha pele queima sob o toque quase involuntário.
Quando o vestido desliza pelo meu corpo, percebo o quanto Marlon respira fundo, como se lutasse contra si mesmo.
Ele vira de costas rápido.
- Eu... estarei lá embaixo.
E sai quase em fuga.
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