Sim! Meu nome é Julietta, se não bastasse uma avó apaixonada por Shakespeare a mesma viveu um amor proibido e justamente desse relacionamento nasceu meu pai que se chama Otelo. Em pleno 2022, em todos os momentos que me apresento em qualquer lugar social e profissional é a mesma pergunta, cadê o Romeu? Já não me irrita essa pergunta por sempre levo sempre na brincadeira, digo que Julietta de Souza (euzinha) sou uma versão empoderada que não precisa de um homem chaveiro para contar minha história. Mas semana passada no meu primeiro dia de emprego aconteceu algo que eu não esperava...
Desde de muito cedo tive que assumir responsabilidades, mas elas foram acontecendo de forma natural e nunca me senti injustiçada e nem fiquei dramatizando as pedras no meu caminho. Aos doze anos minha mãe faleceu de um problema cardíaco e ficou eu e meu pai Otelo, grande homem de valores conservadores, mas que me amava acima de qualquer assunto e por isso sempre me motivou a ser dona da minha própria história, respeitando minhas opiniões e decisões.
Cuidava da casa após o colégio e a noite ia para a casa de artes aqui da comunidade que moramos, nasci no Rio de Janeiro na favela do Vidigal e lá você tem dois caminhos a seguir: o caminho mais fácil que é se envolver com os "donos do morro" ou acordar cedo, ir estudar ou trabalhar e sonhar com uma vida melhor.
Meus pais me ensinaram desde cedo o caminho a seguir e nunca tive dúvidas que apesar de amar a minha vida aqui eu poderia chegar muito mais longe.
Na Casa de Artes Amor por Vidigal eu me dedicava as aulas de balé, que na verdade era a grande paixão da vida da minha mãe que foi bailarina do Municipal e que eu praticava com muita disciplina. O balé me aproximava dela e amenizava a minha saudade. Foi na Casa de Artes que conheci a Sra. Emília de Buaiz, uma voluntária dos projetos sociais que havia perdido uma filha um pouco mais velha que eu em um acidente de carro, foi ali que nasceu uma forte amizade entre a menina de Vidigal e uma senhora rica do Lebron.
Na época começamos a nos relacionar apenas com cumprimentos e sorrisos discretos na cantina, mas com o tempo encontrei nela uma figura feminina a qual eu não tinha em casa, ela me ensinava coisas de menina, de como homens e mulheres possuem os mesmos direitos e me dava dicas de como lidar com meu namorado na época o Fabinho.
Cresci em um lugar pobre, mas rodeada de muitas pessoas especiais que moldaram a minha personalidade para me tornar a Julietta de Souza atual, uma jovem no quinto período da faculdade de marketing e publicidade e que acredita fielmente nos seus valores e que não esquece suas raízes.