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O terapeuta - Livro 1

O terapeuta - Livro 1

Hugo Alefd

5.0
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Leituras
36
Capítulo

Sob olhos atentos, passo a mão por meu peito suado e pego minha calça no chão. Mantenho- me de costas para a mulher que me encara, sentada, ofegante e provavelmente dolorida entre as pernas. Visto a calça, totalmente indiferente aos pensamentos dela que são visíveis em seu olhar. Essa é a parte boa: não preciso ouvir ou falar depois do sexo. Não tenho que me preocupar em ligar no dia seguinte ou pensar em uma possível perseguição de uma mulher obcecada. Ou elas aceitam que seja dessa forma ou caem fora para deixar a fila da lista de espera andar. Sim, eu tenho uma lista de espera com mulheres que querem ser "curadas". — Vista-se. Estarei esperando você no consultório — digo, seco. Não de modo rude, mas deixando explícita a distância quilométrica que existe entre nós dois, em questão pessoal. Ajeito meu pau ainda meio duro dentro da cueca e fecho o zíper. Pego minha camisa e olho para a deslumbrante morena sentada se cobrindo com seu vestido. Ela move os lábios como se fosse dizer algo, mas os fecha imediatamente. Os olhos meio tensos. Nina Gold é uma atriz famosa, casada com um cineasta também famoso, que veio ao meu consultório dizendo que não conseguia mais sentir prazer com sexo comum na cama, com o marido dela. Ela estava obcecada por assuntos sexuais de cunho mais elevado, como BDSM e ménage, após ler um livro sobre o assunto. Meu dever era ajudá- la a saborear um sexo normal, casual. É de se espantar o número de mulheres que tem problemas sexuais, e a terapia simples não está mais surtindo efeito em muitas delas. Mantenho o rosto inescrutável e ela abaixa os olhos, sabendo exatamente o que tem que fazer. Quando desce da poltrona na qual fizemos sexo, eu saio do cômodo. Minutos depois, enquanto ouço Eva, minha secretária, listando meus afazeres do dia, a morena sai parecendo revigorada. Escrevo rápido na ficha de acompanhamento e entrego a ela. Espero que Eva saia para dizer: — Sra. Gold, sua próxima e última consulta é daqui a três dias. Será uma consulta teórica, acho que já ensinei o bastante na prática. — Pareço frio e distante. Ela enrijece visivelmente e dá um passo à frente para pegar o cartão. Seus olhos estão meio arregalados e eu diria que com um pingo de desespero. — Dr. Graham... A gente podia negociar mais duas ou três sessões... pago o que for necessário... Aprecio sua coragem de me propor isso. Ela entrou aqui sabendo de todas as restrições e como meu consultório funciona. Nada de colher de chá. Se ela tivesse me agradado, eu teria proposto o acréscimo de mais sessões e não teria esperado ela propor. Entretanto, assim como muitas, acabou sendo um sexo entediante. — Sra. Gold, eu sou o terapeuta e decido quando termina. Posso garantir que você está apta a voltar a ter uma vida tranquila. — Não gosta do nosso sexo? — indagou. A voz soa meio ofendida e até humilhada. Eu sei que minha profissão é arriscada, afinal lido com o ser mais complexo e cheio de emoções: a mulher. Tem que ter muito jogo de cintura para conseguir driblá- las.

Capítulo 1 O terapeuta

UM MARIANNE Essa não foi uma noite legal para mim. Perdi minha amiga para o casamento, briguei com meu namorado, levei um sermão do meu pai e estou voltando para casa sozinha em um táxi, depois de ter sido madrinha de casamento dos meus melhores amigos: Candice, minha escudeira, e Leo, meu amigo de infância. Foi um casamento lindo, cheio de luzes, flores, muita comida e champanhe de primeira. Reviro os olhos ao relembrar.

Por que me sinto uma recalcada? Será que é porque eu tenho quase certeza de que para chegar ao altar precisarei passar por algo complexo como uma gincana escolar? Ainda nem posso acreditar que Ryan, meu namorado, me deixou sozinha e foi balançar o esqueleto com uma oferecida. O taxista me olha pelo retrovisor e pergunta: — Noite difícil, filha? — Vida difícil. — Resmungo e desvio o olhar para a rua iluminada, mostrando que não quero papo. Estou meio desconfortável, a cabeça dói por causa do penteado equilibrado e duro com a ajuda de muitos grampos e fixador spray. Também estou meio sufocada por causa do vestido de madrinha cor de rosa claro estilo sereia que estou usando e que, por exigência de Candice, está apertado no busto, fazendo com que eu mal consiga respirar. Ela disse que era para eu parecer peituda. Eu tenho seios normais, médios talvez, considero-os proporcionais ao meu corpo. Não preciso ficar parecendo uma atriz pornô para ser madrinha. Para completar, estou tonta de tanto champanhe e com elevado teor de açúcar no sangue por ter comido muito bolo. Um belo exemplar de madrinha pós-festa. Chego em casa, sem arrependimentos de ter impedido Ryan de vir comigo. Na verdade, saí antes, nem esperei meus pais e minha irmã, que vão passar a noite aqui comigo para ir embora amanhã cedo. Pago o táxi e volto meu olhar para o belo duplex à minha frente. Respiro fundo e fico divagando sobre Candice ter laçado um tubarão da advocacia. Era meu melhor amigo de infância e ela o afanou. Será que ela vai deixar nossa parceria no escritório de designer e arquitetura? Será que Leo imporia isso a esposa? Se ele ordenasse, ela aceitaria numa boa. Está de quatro, caída de amores por ele. Logo agora que aparecemos em um artigo de uma famosa revista que colocou a Cooper & Monroe como a mais nova emergente do mercado. Balanço a cabeça e o penteado não desarma. Olha que benção! Entro no apartamento que Candice e eu construímos, ela planejou e eu decorei. Agora que ela casou, ele é só meu. Ela aceitou vender a parte dela para mim. Minha casa. Unicamente minha. Respiro pesadamente. Com um movimento simples, jogo a carteira prateada no sofá e encaro a rosa vermelha na minha mão. Candice a tirou do buquê dela e me entregou, já que, segundo ela, eu seria incapaz de pegar o buquê. Meus lábios se curvam em um sorriso, já sinto saudades da minha amiga. Guardo a flor dentro de um livro e caminho pela sala enquanto, com movimentos desconexos, sacolejo meus pés para o sapato sair. Levanto um pouco o vestido para facilitar minha corrida até a escada. Tenho um ótimo quarto, com banheiro, closet e espelho de corpo inteiro. Uma festa para uma mulher. Foi tudo planejado para o nosso bem- estar. Vou para o closet, mas antes pego o celular e o conecto ao carregador já ligado constantemente na tomada, aperto um botão e o coloco no viva-voz para ouvir as mensagens. Com um pouco de dificuldade, consigo descer o zíper do vestido até a metade e sento em frente ao espelho no meu pequeno closet. Meu cabelo precisa passar por uma sessão de exorcismo para voltar ao normal. Malditas cabeleireiras. Começo a retirar os grampos enquanto ouço, vindo do celular no quarto, a voz de Ryan querendo saber se eu cheguei bem. Pediu para ligar assim que eu ouvisse a mensagem. Ele saiu da festa antes de mim, fez ceninha dando uma de vítima. Vai dormir sozinho hoje, como todas as outras noites. Mas também não iria adiantar se dormisse comigo. Ele sabe minha situação. Fico chateada em não poder dar aquilo que ele quer. Tento pensar que ele não me trai. Será que Ryan se masturba? Ele tem uma cara de safado... É uma pergunta que ficará sempre subentendida. Outra mensagem de Ryan, agora pedindo desculpas. Na minha mão já tem 16 grampos. Diabos. Por isso minha cabeça estava doendo tanto. As mensagens continuam. "Srta Cooper, nós adoramos seu artigo." — Essa é a voz da editora-chefe da revista na qual escrevo quinzenalmente dando ideias sobre designer de interiores. O artigo em questão é sobre como redecorar de maneira simples o quarto de uma criança que entra na adolescência. "Passe aqui na segunda-feira para conversarmos." — Ela termina, se despede e eu dou de ombros. Outro bip, outra voz. Agora é minha mãe dizendo que dormirão na casa de Leo, mas que ela vem me ver pela manhã. Eu sei que eles não vieram para meu duplex porque são grandes amigos dos pais de Leo e devem estar querendo varar a madrugada na farra da terceira idade. Termino de retirar os grampos, 23 no total, os lanço diante de mim e encaro com desânimo meus cabelos escuros e duros totalmente danificados pelos produtos. Suspiro e dispo com cuidado excessivo o vestido caríssimo que Candice me obrigara a alugar. Foi tão caro que quase dava para comprar uma TV nova de centenas de polegadas. Há uma nova mensagem, percebo que é de Candice. Ela não deveria estar na festa? Vestindo apenas lingerie, corro até a porta para escutar a voz vindo do quarto. "Mary, amiga, sei que eu devia ter falado antes, mas acabei esquecendo... (suspiro) Spa, lidar com madrinhas, sofrer pelas flores atrasadas e sentir medo de Leo desistir... você entende, tive um dia cheio. (Risos)" — Eu não estou rindo. Onde ela quer chegar? "Encontrei um trabalho para você, esse é urgente e precisará passar na frente de outros. Vá ao escritório na segunda e veja o envelope que deixei em sua mesa. Por favor, aceite. É para uma pessoa especial, alguém que me ajudou. Devo isso a ele. Agora vou desligar, Leo está saindo do banho e ele está muito gostoso. Você deve imaginar... (voz erótica, mais risos e outra voz ao fundo) . Tchau, amiga, Leo mandou um beijo." Fecho os olhos e balanço a cabeça ao ouvir a risada safada de Candice. A vadia sempre se dá bem. Respiro fundo, apanhando um roupão desbotado e vou para o banheiro. Depois do banho, caio na cama e o sono vem como uma marretada. Amanhã é domingo, Ryan provavelmente virá e não tenho como impedir. O cordão umbilical que me liga a Candice foi cortado hoje. Nem tenho como fugir de Ryan. Não tenho muitas amigas íntimas... Tereza talvez... Mas isso seria traição gravíssima contra Candice, é melhor ficar quieta. Pouco antes de sucumbir ao sono, fico pensando em por que preciso tanto fugir do meu namorado. Eu posso, sim, recebê-lo aqui, mas não quero porque tenho medo de ele querer algo mais. Eu não falei ainda, mas tenho um medinho básico. Transei com um cara, minha primeira vez não foi legal, foi quase como um estupro e ficou marcado. Virou um trauma. Por isso, o coitado do meu namorado, lindo e loiro, nunca transou comigo... Eu tenho medo de ele querer algo mais e eu não poder dar, medo de ele me classificar como frígida como o outro fez anos atrás. Vindo de Ryan, esse desprezo seria mais devastador. *** O domingo passou sem grandes problemas. Meus pais me tiraram da cama bem cedo com uma ligação e eu tive que me deslocar até a casa de Leo onde os pais dele estavam hospedados. Tomamos café juntos e, logo após o almoço, levei meus pais e minha irmã ao aeroporto. Ficou decidido que, no mês seguinte, Alice, minha irmã, viria morar comigo. Ela já tinha feito isso durante um tempo, mas teve que voltar para a Pensilvânia pois minha mãe fez uma cirurgia e precisou dela. Depois que eles foram embora, Ryan veio me ver, como previ, mas não insistiu em nada. Ele ligou antes dizendo que estava trazendo umas guloseimas. Depois de assistirmos a um filme de Matt Damon, Alguma coisa Bourne, ele foi embora. Fiquei com muita pena, pois queria ter uma relação normal com meu namorado. Candice praticamente tinha se mudado para casa de Leopold seis meses depois de tê-lo conhecido, e eu ficava de coadjuvante observando a felicidade dela por ter um homem que a amava com o qual fazia sexo constantemente, coisa que fazia questão de deixar clara. Diferente de mim, que estou fadada a carregar esse medo nas costas.

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