Amor a segunda vista

PONTO DE VISTA DE HELOÍSA

Eu estava tão enrascada que minha cabeça não conseguia processar o que estava acontecendo, como que uma pessoa conseguia ser tão azarada dessa forma? Eu acordei super atrasada pro trabalho, porque fiquei estudando até mais tarde ontem, como se não bastasse, estava caindo um diluvio sobre a minha cabeça enquanto eu tentava pegar um táxi, mas sem muito sucesso. Se a minha vida fosse um filme, com certeza seria daqueles dramáticos, onde a mocinha só se lasca. Eu não tinha um dia de sorte nesses 24 anos de existência, parecia que o universo conspirava contra mim insistentemente.

Dois carros já tinham me jogado água nesses 30 minutos que eu estava aqui parada tentando achar uma forma de chegar ao trabalho, eu tinha lama até nos ouvidos se duvidar e achava que o dia não podia ficar pior. Mas é claro que ele podia! Um carro encostou perto de mim, e eu já estava pronta pra mandar o canalha que fosse me jogar qualquer piadinha ir à merda, quando o vidro de trás abriu e ninguém menos que o patife do meu chefe apareceu ali. É claro que o universo mais uma vez precisava rir da minha cara e colocar justamente o ser humano mais depressível no meu caminho naquele momento.

Brian Cesarini era, além de meu chefe, o cara mais rico do Rio de Janeiro e eleito o CEO mais sexy do país. São 1,85 de altura, com uma pele clara que parece reluzir, olhos castanhos esverdeados, maxilar quadrado, cabelos de um castanho claro sempre perfeitamente penteados, uma boca, e meu Deus que boca, que são um convite pro pecado, um sorriso perfeito e um corpo que, tenho certeza, foi esculpido pelos deuses. Mas não se engane, o que o homem tem de lindo ele também tem de arrogante e mulherengo. Tudo bem que o fato de ele trocar de mulher como quem troca de roupa não é da minha conta, mas o cara não facilita a minha vida em nada, está sempre de mal humor e parece que tem um rei na barriga.

- Você está atrasada! - o meu chefe disse com aquele jeitinho ogro dele.

- Me desculpe, sr Cesarini, eu tive alguns imprevistos, e ainda tem esse temporal, não tem táxi disponível, me jogaram lama até nos ouvidos.... - sim, eu começo a falar pelos cotovelos quando estou nervosa, o que o meu chefe claramente odeia.

- Ok, srta Mortágua, eu já entendi. Entre, vou te dar uma carona. - Ele me cortou e fechou o vidro do carro ignorando qualquer resposta que eu poderia dar.

O caminho para a sede do Grupo Cesarini, que fica localizada no Centro de Niterói, foi lento e silencioso, meu chefe fazia questão de ignorar minha presença sempre que possível e eu agradecia silenciosamente por não passar mais vergonha.

Depois de trocar de roupa rapidamente - sim, eu sempre tinha uma roupa extra no trabalho, uma pessoa azarada como eu não podia se dar ao luxo de não ser precavida - e dar um ajeitada no meu cabelo, fui para minha mesa e tentei recuperar o tempo perdido. Depois de passar toda a agenda do meu chefe e conferir todos os compromissos daquela semana, respirei fundo e fui em direção a sala do sr. Cesarini e bati na porta anunciando a minha entrada.

- Com licença, sr Cesarini, gostaria de lembrá-lo a respeito do evento de premiação que acontecerá no fim de semana e confirmar sua presença. - Ele estava conferindo alguns documentos e não se deu o trabalho de olhar para mim ao responder:

- Pode confirmar e peça um convite extra, irei acompanhado.

- Sim, claro. Eu só preciso do nome da acompanhante pra repassar para equipe de segurança, senhor.

- Eu ainda não tenho certeza, mas em breve te passo. - Ele nunca tem certeza, porque nunca repete acompanhantes. De onde esse homem tira tanta mulher? - Precisa de mais alguma coisa, srta. Mortágua? - Ele bufou e me perguntou enquanto em viajava nos meu pensamentos.

- Nã.. Não, senhor. - Gaguejei ao perceber que sua atenção não estava mais nos papeis, mas sim no meu rosto e me analisando de forma impaciente.

- Então faça o favor de se retirar. - Ele disse me dando um sorriso nada simpático.

Corri pra fora daquela sala, mas não sem antes esbarrar na mesinha de centro perto da porta e quase derrubar um vaso que, com certeza, valia pelo menos dois meses do meu salário.

Meu celular apitava em cima da minha mesa e sorri ao ver que era mensagem da Liz, minha melhor amiga e companheira de apartamento.

- Eaí, Helô, deu tudo certo pra chegar no trabalho? - Ela perguntou já que sabia o quão atrasada eu levantei hoje.

- Nada, amiga, peguei a maior chuva e ainda fiquei cheia de lama, só não foi pior porque o meu chefe me deu uma carona.

- O patife?? O que ele estava fazendo aqui em São Gonçalo? Ele não mora em Niterói?

- Então, eu não sei. Você sabe que ele não dá satisfação de nada e não sou eu que vou perguntar. Eu tento ser invisível perto desse homem.

Eu ainda falava com a Liz, quando ouvi o barulho de elevador parando no nosso andar. O dr. Bernardi saiu da caixa metálica com seu sorriso encantador e simpatia que nunca era abalada. Ele é um dos advogados mais importantes do Grupo Cesarini e amigo pessoal do meu chefe. Eu simplesmente não conseguia entender como duas pessoas tão diferentes podiam ser tão amigas. Enquanto um era sempre tão simpático o outro parecia que sempre estava de mal humor e com raiva do mundo.

- Bom dia, Heloísa. - Me cumprimentou com um sorriso que eu tinha certeza que arrasava corações por aí.

- Bom dia, sr Bernardi. - sorri de forma tímida, eu sempre ficava um pouco constrangida com o sexo oposto.

- Ah, querida, eu já disse pra me chamar de Alex. - Ele disse piscando pra mim e se inclinando um pouco em minha direção. - O Brian já chegou?

- Sim, senhor. Vou avisá-lo que está aqui.

- Não precisa, linda. Ele está me esperando. - Falou indo em direção a sala do meu chefe.