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Capítulo

Mia Black perdeu tudo que tinha, agora morando na rua, ela faz de tudo para sobreviver, seus sonhos foram despedaçados, sua vida foi se desmoronando até que nada lhe sobrasse, apenas a dignidade. Ela sabe quais são os seus limites e até onde ela pode ir para viver. Perdida em um mundo onde só sobrevive quem for mais forte, Mia aprende que a confiança é a única coisa que ela pode ter e que quando você realmente confia em alguém, esse alguém pode ser seu porto seguro. Mas o que é preciso passar para poder confiar? Connor Willians é um homem frio que não mede esforços para conseguir o que quer, e também não tem pena de nada, nem ninguém, e para ele é: se você quer algo corra atrás, senão morra de fome, até que tudo o que ele acreditava se perder em uma simples e bela moradora de rua.

Capítulo 1 Desastre

Percebi que a vida é uma caixa de surpresas, um dia você pode estar no topo, no outro, você está caindo; caindo até estar deitada na lama, e foi exatamente isso que aconteceu comigo. Um dia eu tinha meus pais, minha faculdade, minha casa e tudo o que você possa imaginar. Já no outro eu não tinha nada, perdi meus pais, minha faculdade, minha casa. Perdi tudo o que tinha. Só ainda não perdi minha vida. E isso é questão de tempo, pois do jeito que me encontro, ou morro de fome, frio, ou de tanto apanhar como apanhei no outro dia, tudo por um lugar para dormir, mas eu vivo um dia de cada vez.

E quem sabe minha sorte não muda?

***

Era meado de junho quando meus pais foram viajar, como estava começando a faculdade, não pude ir junto. Se eu soubesse o que aconteceria naquela viagem, eu teria ido, teria ido só para partir com eles. Na época, eu não sabia que eles estavam endividados, não sabia que o restaurante da minha mãe estava no vermelho. Porém, tudo mudou em uma quarta-feira. O dia estava quente, não tinha nuvens no céu, o que era um milagre, pois o tempo em Seattle não é sempre bom.

Esse dia, esse dia estava lindo. O sol apareceu para mostrar sua beleza, o calor do dia refrescava, parecia que os céus cantavam de alegria. É como se eles estivessem recebendo alguém muito especial. Eu estava em sala de aula quando soube do acidente de avião. Fui chamada para ir à sala do diretor, não sabia o que realmente estava acontecendo. Entretanto, quando soube, foi como se toda a alegria fosse tirada de mim. Tudo se tornou frio, sem vida.

Percebi que estava sozinha no mundo, não tinha muitos amigos e os poucos que tinha, foram se distanciando de mim à medida que os dias foram passando. Eu me fechei, me fechei para o mundo, eu apenas existia. Todo o dinheiro que tinha foi gasto em pagar as dívidas que meus pais deixaram. O restaurante fechou, minhas notas na faculdade caíram e como eu dependia delas para continuar, acabei perdendo a bolsa. Confesso que a culpa foi toda minha, não queria viver sem meus pais. Um grande pedaço de mim foi tirado e eu não tinha mais nada para substituí-los. Eu não tinha um emprego, apenas um estágio e acabei perdendo-o quando briguei com uma cliente, na verdade ela me humilhou e como eu não gostei nem um pouco do que ela falou, dei um tapa em seu rosto. Não me levem a mal, acabei de perder meus pais, ninguém nesse estado gostaria de ouvir ''deixa de ser sentimental, todo mundo morre, seus pais não eram importantes, não farão muita falta''. Eu simplesmente agi. Meus pais não podiam ser importantes para ela, mas para mim, eles eram.

Foi desse jeito que aos poucos fui perdendo tudo. Foi minha culpa, eu definhei, eu me deixei morrer, deixei a pequena luz que tinha em mim se apagar, deixei a escuridão me envolver e quando dei por mim já era tarde demais para me reerguer.

Eu me deixei passar por certos tipos de situações e só vi que precisava mudar quando o meu corpo já não se tornou meu e sim do mundo para ser violado. E eu fui violada, tomaram a única coisa que era minha. Eu não tinha mais luz, mas aos poucos encontrei uma nova forma de viver, eu aprendi coisas nas ruas que em casa os pais não ensinam. Eu aprendi a sobreviver.

Um passo de cada vez, um dia de cada vez, uma mudança de cada vez. Descobri que as pessoas podem sim perder tudo e eu me permiti perder. Sei que errei e pago o preço desse erro todos os dias.

É desse jeito que cheguei onde estou. Ou vivo lutando ou morro me rendendo.

***

Mia – anos depois...

Olho para o céu e fecho os olhos, tentando não me lembrar da tristeza que é a minha vida. Minha barriga ronca me lembrando de que já faz dois dias que não como nada de nutritivo. Abro os meus olhos e vejo o céu amontoado de estrelas, às vezes eu queria ser uma. Só assim não teria que enfrentar minha inútil vida. Começo a caminhar mais uma vez indo em direção a um beco escuro. Vou até uma enorme lata de lixo. Tiro minha mochila dos meus ombros e a escondo dentro da lata, tudo o que eu tenho está dentro dela, duas calcinhas, um sutiã, uma blusa, um short, meu ursinho de pelúcia e uma manta bem fina. Isso é tudo que eu tenho na vida, mais nada. Não sobrou mais nada para mim desde o dia em que meus pais faleceram em um acidente de avião há três anos.

Eu perdi minha casa, minha faculdade, todo o pouco dinheiro que havia restado, não consigo emprego, moro há três anos na rua, apanho constantemente e fui abusada duas vezes. Não tenho nada nem ninguém em quem me apoiar, só tenho a mim mesma, e um pouco de humanidade e a humildade que me restou. Não é que eu não tento arrumar um emprego, mas quem quer uma sem teto, com roupas rasgadas? Ninguém quer. Nem um clube de stripper me aceitou. Qual outro emprego decente ia me aceitar? Eu tenho dignidade, então vender meu corpo está fora de cogitação.

Saio do beco e vou em direção a um restaurante, quem sabe tenho sorte e uma alma bondosa possa pagar um jantar para mim. Olho para as minhas roupas e suspiro. Ainda bem que consegui tomar um banho na casa de acolhimento, só assim não estou fedendo e nem com o corpo sujo. Pena que não consegui uma cama para dormir, já estava cheia quando cheguei, então apenas tomei banho e lavei o pouco de roupa que tenho.

Aproveito a oportunidade que a recepcionista que fica na porta do restaurante saiu e entro fazendo o possível para ninguém me notar o que é difícil por causa da roupa que estou.

Olho em volta e percebo dois amigos jantando, reúno o pouco de força que tenho e vou em direção a eles que estão envolvidos em uma conversa e não me notam, limpo minha garganta e um deles olha em minha direção. Ele é lindo, sua pele é clara, seu rosto é quadrado e seus olhos me fazem lembrar o mar. O outro eu não sei bem como é, só sei que sua pele é mais bronzeada, puxado mais para o moreno, seu cabelo é liso, seu corpo é forte e ele parece ser muito alto, mas não consigo ver seu rosto, já que ele não me olha. Encontro força e digo.

— Eu... É... Vocês poderiam pagar um jantar para mim, ou pedir para embrulhar as sobras para eu comer depois? — Pergunto. — O homem que olhou para mim me analisa e abre a boca para responder, mas o seu amigo fala primeiro, sem me dirigir o olhar.

— Se você não percebeu, nós estamos conversando e você foi mal educada em nos atrapalhar, se está passando fome, encontre um emprego. Tenho certeza que irá se sustentar com um, e será ainda menos humilhante do que importunar quem não quer ser importunado, como eu por exemplo. — Ele diz sem ao menos olhar para mim, olho para o seu amigo que está com a boca aberta e um olhar estranho.

Sinto que estou preste a desmoronar na frente dessas pessoas que não têm coração. Controlo-me não querendo passar mais vergonha do que já passei. O homem que está me encarando abre a boca para argumentar ou só me mandar embora. Olho para os lados e percebo que os seguranças do restaurante me notaram e começam a caminhar em minha direção, mas antes deles chegarem até a mim eu falo.

— Me desculpe, não queria incomodar. — Abaixo a cabeça e saio de perto deles, resolvo terminar a noite, pelo visto vou ficar mais um dia sem comer. Saio do restaurante pela cozinha, todos me olham sem entender de onde eu vim e o que estou fazendo ali, a porta de saída dá para um beco mal iluminado, resolvo esperar ali para quem sabe, quando jogarem a comida fora eu possa pegar as sobras. Abro a porta e por fim permito as lágrimas rolarem pelo meu rosto, meu corpo sacode pelo choro, não consigo me segurar mais. Estou com fome, sozinha, sentindo frio e para piorar sem lugar para repousar. Eu não aguento mais. Ouço passos se aproximando, mas não levanto a cabeça para olhar.

— Olha Lucca, tem uma mocinha querendo roubar nosso lugar. — Um garoto fala. Meu corpo fica em alerta total. Sinto que estão próximos, até um deles estender a mão e passar pelo meu rosto, me encolho com o gesto.

— A mocinha está com medo. Isso é bom.

— A gente podia aproveitar um pouco Ryan, quem sabe se ela cooperar, nós dividimos a comida com ela? — Acho que esse é o tal Lucca. Os dois chegam mais perto e me pegam pela cintura, começo a tremer de medo.

— Não, por favor, não toquem em mim, eu prometo sair daqui. E vocês podem ficar com as sobras, eu não me importo. — Falo com a voz de choro. Eles riem de mim.

— Nada disso, faz tempo que não encontramos um pouco de diversão. — Eles falam. Eu fecho os olhos tentando imaginar uma fuga.

— Tira o casaco dela Lucca, vamos ver o que tem por baixo disso. — Ele me agarra e eu tento me soltar de suas mãos, mas é inútil, um deles me empurra e acabo caindo.

— Me deixem em paz. — Grito quando um deles sobe em mim.

— Socorro! Alguém me ajude! Socorro! — Grito desesperada. De novo não. Penso. Isso não pode acontecer outra vez. Por favor, não deixe que isso aconteça comigo. Peço para mim mesma.

— Cala a boca vadia. — Um deles grita me dando um tapa no rosto, sinto o gosto de sangue.

— Prometo que vai gostar. — Eu bato nele com as mãos tentando me soltar, finalmente ele sai de cima de mim, e quando penso em levantar eu sinto um chute nas costelas.

— Ah! — Grito de dor. Olho para cima e quando vejo que vou levar mais um chute, é aí que eu ouço uma voz de fundo.

— Saiam de perto dela. Agora!

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