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Coroa Trocada

Coroa Trocada

nabiya

5.0
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Leituras
9
Capítulo

Dentre tantas belezas no mundo, Diana decidiu encantar-se justo pela mais complexa: o exterior. Seu maior sonho é finalmente sair do palácio e conhecer as imensidões desconhecidas após os grandes portões. Entretanto, por ser ninguém mais, ninguém menos que a princesa do reino de Hammerbright, o desejo de seu vigésimo segundo aniversário acaba não sendo bem-visto aos olhos de seus pais, que possuem um planejamento minuciosamente preparado para a vida da caçula dos Lehmann. Após um pequeno incidente, Diana tem seu caminho cruzado ao de Katherine Williams, que, apesar do rosto angelical, tem uma língua bem afiada. Mas, o problema não está no lado genioso e pés-no-chão de Kate, e sim, em sua similaridade absurdamente curiosa. Como poderiam ser tão parecidas, mas, ao mesmo tempo, tão diferentes? Nada disto faz sentido. Porém, apesar da aparência extremamente semelhante e os mundos distintos, elas estão igualmente insatisfeitas - e é por isso que decidem trocar de lugar uma com a outra por um certo tempo. O questionamento que fica é: será que Diana e Kate conseguirão controlar seus sentimentos quando a verdade vier à tona?

Capítulo 1 Dia ensolarado

~ Katherine Williams ~

"A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir".

É de perder a conta a quantidade de vezes que ouvi essa frase na minha vida, mas, ultimamente, ela tem feito cada vez mais sentido.

Há quem diga - se não a maioria das pessoas - que morar em Glideeleven é uma honra. E, isso porque, para eles, estar perto da realeza é algo extraordinariamente emocionante. Porém, eu discordo plenamente.

Vamos aos fatos. O vilarejo em si não tem nada de interessante a não ser a quantidade questionável de porcos que andam por aí como se fosse gente. E, quando digo "como gente", estou me referindo no sentido literal da coisa, porque eles se sentem no direito de estarem ali, zanzando no meio de nós, arriscando nos atropelar se ficarmos em seus caminhos.

Mas, eu sinceramente gosto daqui e não sei se trocaria por uma vida cheia de regalias.

Apesar de não precisar trabalhar, ter banquetes dispostos para mim todos os dias - e noites -, e pessoas para me bajularem, minha paciência certamente se esgotaria com facilidade. A falsidade e a soberba que exala dos mais nobres... Céus! Que irritante...

Particularmente, o fato de ter a realeza tão perto nem deveria entrar em pauta quando o assunto é "o melhor local de moradia", pois, nós, plebeus, e eles, nunca se misturam. Para não dizer que nunca estivemos no mesmo espaço, já ficamos a centímetros uns dos outros, mas isso acontece toda vez que somos quase atropelados pelas carruagens que chegam ao Palácio.

Seria cômico se não fosse tão trágico, mas ai de nós que não saiamos do caminho.

Se eu pudesse, já teria me mandado de Glideeleven há tempos. Porém, nem que eu juntasse todo o dinheiro suado que ganho por trabalhar na padaria do Sr. Kruig, isso seria possível.

Estou em Glideeleven desde que me entendo por gente. Já presenciei os mais variados acontecimentos - acontecimentos estes que seriam o empurrão necessário para eu juntar minhas coisas e sair do vilarejo. Porém, tenho um carinho muito forte por cada mínimo detalhe daqui e, como diria Harry Wood, meu melhor amigo de infância, aprendi a gostar de toda a feiura e pobreza desse vilarejo no reino de Hammerbright.

Respiro fundo e aperto os braços ao redor do cesto de roupas sujas que estou levando comigo até o riacho. Não tive tempo de lavá-las durante a semana, e mesmo sendo domingo, meu único dia de folga, é necessário que eu faça isso hoje - ainda que tome boa parte do meu dia.

Continuo com minha lenta caminhada em direção ao riacho e, de repente, me pego pensando outra vez sobre a vida. Ultimamente, o fato de eu não conseguir ir embora do vilarejo é o único pensamento que ronda minha mente agitada...

Harry está certo, afinal. Provavelmente aprendi a gostar de toda a feiura daqui. E, certamente, não por "enxergar" algo a mais, e sim, por puro comodismo. Talvez, eu tenha apenas me acostumado com a vida aqui. Ou, ainda, me adestrei a aceitar a vida desse jeito, pois sei que uma realidade melhor seria quase impossível de acontecer. Já tive muitos problemas para querer arrumar outro a esta altura do campeonato.

Mas, claro, também não posso mentir e dizer que amo viver aqui, numa casa onde a luz do sol mal alcança e a água do banho é tão gelada quanto o vento de inverno. Contudo, também não posso delirar e sonhar com algo melhor, como no vilarejo vizinho - Lancaster - onde até o nome remete à algo da realeza. Além disso, também não posso abandonar minha casa. Apesar de simples, é uma das únicas lembranças que tenho dos meus pais.

Quando eu era mais nova, antes da morte do meu pai, minha mãe vivia contando sobre as aventuras deles dois para encontrarem aquele casebre em Glideeleven. Segundo a rainha da teimosia, Emma Williams, vulgo minha mãezinha querida, assim que ela bateu os olhos, soube na hora que aquele seria o novo lar de sua família. Ela nunca me disse onde moravam antes de eu nascer, mas, pela forma como seus olhos brilhavam ao falar daqui, deduzo que o de antes era um lugar péssimo.

Não tenho muito a dizer sobre meu pai, afinal, ele passava mais tempo fora de casa, trabalhando, do que dentro dela. Mas, das poucas vezes em que estivemos juntos, foram bons momentos. Uma pena ele ter partido dessa para uma melhor tão cedo...

Sua morte não abalou somente a mim, mas, principalmente, a minha mãe. Ela sempre foi muito animada e sorridente, mas quando recebemos a notícia de que Philip, meu pai e seu príncipe encantado - como ela o apelidou, já que seu nome se assemelhava ao de um - havia falecido, seu brilho evaporou. O peso da tristeza era tanto, que minha mãe até andava meio curvada.

Emma Williams foi forte. Aguentou em silêncio todos os olhares alheios e a dor da perda sem abrir a boca para expelir uma reclamação sequer. Pelo contrário, ela ainda sorria para a filha pequena - eu - que ainda não entendia o que estava acontecendo. Suponho que ela só voltou a ficar feliz quando, já em leito, deu seu último suspiro e partiu ao encontro de seu grande amor.

É até uma história bonita, mas acho que seria mais melancólica e romântica na teoria, porque, infelizmente, a realidade é mais dura que o colchão da minha própria cama. Talvez, se eles não tivessem falecido, muita coisa teria sido diferente na minha vida. Todo o sofrimento e medo que senti, nada disso existiria...

Balanço a cabeça de um lado para o outro rapidamente, afastando os pensamentos negativos que se alojaram na mente. Desse jeito, pareço enraivecida pela morte dos meus pais e que até os culpo, porém, eu diria mais ser arrependimento com um pouco da dor da solidão em meu peito. É uma situação difícil.

Ergo o olhar do chão e avisto as águas cristalinas do riacho descerem em direção ao sol, que está dando seus primeiros sinais no horizonte. Ao que indica, será um dia bem bonito... e quente.

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