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Por 986 noites, a minha cama de casal não foi só minha.
Meu marido, Caio Alcântara, herdeiro de um império imobiliário de São Paulo, era assombrado por um fantasma. E a irmã desse fantasma, Isabela, era o meu tormento. Toda noite, ela arranhava nossa porta, dizendo que tinha pesadelos, e Caio a deixava entrar, arrumando um edredom para ela no nosso quarto.
Uma noite, Isabela gritou, apontando para mim: "Ela tentou me matar! Entrou no meu quarto enquanto eu dormia e me sufocou!"
Caio, sem pensar duas vezes, berrou comigo: "Juliana! O que você fez?" Ele nem sequer olhou para mim, não quis ouvir a minha versão.
Mais tarde, ele tentou se desculpar com um macaron, meu favorito, de pistache. Mas estava recheado com pasta de amêndoa, ao qual eu tinha uma alergia mortal.
Enquanto minha garganta se fechava e minha visão escurecia, Isabela gritou de novo, fingindo um ataque de pânico por causa de comentários na internet. Caio, diante dos meus suspiros de morte e da histeria falsa dela, a escolheu. Ele a carregou para longe, me deixando sozinha para me salvar.
Ele nunca voltou ao hospital. Mandou seu assistente me dar alta. Quando voltei para casa, ele tentou me acalmar, mas depois me pediu para dar o último presente do meu pai, meu órgão de perfumes, para Isabela, para o "estúdio de design" dela.
Eu recusei, mas ele o levou mesmo assim. Na manhã seguinte, Isabela "acidentalmente" quebrou um frasco do perfume personalizado do meu pai, a última coisa física que eu tinha dele.
Eu olhei para Caio, com as mãos sangrando, o coração em pedaços. Ele puxou Isabela para trás de si, protegendo-a de mim, com a voz gélida: "Já chega, Juliana. Você está histérica. Está perturbando a Isabela."
Naquele momento, a última gota de esperança morreu.
Para mim, tinha acabado.
Aceitei uma oferta para ser perfumista chefe na França, renovei meu passaporte e planejei minha fuga.
Capítulo 1
Era a noite de número 986.
Por 986 noites, a minha cama de casal não foi só minha. Na verdade, nunca tinha sido nossa.
O som começou fraco, um arranhão suave na porta de mogno do nosso quarto. Era um som que eu conhecia melhor que as batidas do meu próprio coração.
Meu marido, Caio Alcântara, se mexeu ao meu lado. Ele era o herdeiro de um império imobiliário de São Paulo, um homem cujo nome estava gravado em metade dos arranha-céus da Faria Lima. Mas, naquele quarto, ele era apenas um homem assombrado por um fantasma.
"Juliana", ele sussurrou, a voz pesada de sono e de um pavor familiar e cansado. "Ela está aqui."
Eu não respondi. Apenas mantive os olhos fechados, fingindo dormir. Era uma defesa inútil que eu tinha aperfeiçoado nos últimos três anos.
A porta rangeu ao se abrir.
Uma figura pequena, envolta em um robe de seda que pertencera à noiva falecida de Caio, Eleonora, entrou sorrateiramente. Era Isabela Matarazzo, a irmã mais nova de Eleonora. Minha cunhada por afinidade, meu carrasco na realidade.
Ela agarrava um travesseiro com detalhes de renda contra o peito. Era o travesseiro de Eleonora. Isabela dizia que era a única coisa que a ajudava a dormir, a única coisa que afastava os pesadelos da morte da irmã.
Na primeira vez que ela fez isso, quase três anos atrás, eu gritei. Caio ficou furioso, não comigo, mas com ela.
"Isabela, isso é inaceitável", ele dissera, a voz firme enquanto se colocava entre ela e nossa cama. "Este é o quarto da minha esposa. O nosso quarto."
Ele a tinha expulsado e, no dia seguinte, cortado seus cartões de crédito.
Naquela noite, Isabela teve um ataque de pânico tão severo que Caio teve que chamar uma ambulância. Os médicos disseram que o estresse pós-traumático dela havia sido perigosamente acionado.
Na noite seguinte, o arranhão na porta voltou.
Desta vez, Caio não a mandou embora. Ele suspirou, um som pesado de culpa, e saiu da cama.
"Só por hoje, Ju", ele me implorou. "A ansiedade dela está nas alturas."
Ele havia colocado um edredom e um travesseiro novos no divã no canto do nosso quarto.
Hoje à noite, como em todas as noites nos últimos 985 dias, ele fez o mesmo. Levantou-se da nossa cama, o colchão se movendo com seu peso, e foi até o armário pegar a roupa de cama que agora mantinha pronta para ela. Ele nem olhava mais para mim. Sabia que eu estava acordada. Ele apenas escolhia ignorar.
Isabela o observava com olhos grandes e marejados, um retrato perfeito de uma garota frágil e quebrada. Ela tinha vinte e três anos, mas interpretava o papel de uma criança aterrorizada.
Eu costumava sentir alguma coisa. Raiva. Humilhação. Desespero. Agora, eu só sentia um frio profundo e oco. O amor que eu tinha por Caio, antes um fogo ardente, era agora um leito de brasas moribundas.
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![Cada noite minha [#2 Trilogia do Inferno]](https://cos-ptres.cdreader.com/site-409(new)/0/9848/coverorgin.jpg?v=c4652d912ca6e5b7bead85fe76fd18cc&imageMogr2/format/webp)
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