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Capítulo 1 – O Beijo do Inimigo
POV Isabela Montoya
O silêncio antes da música da marcha nupcial parecia me sufocar. Eu olhava para o espelho diante de mim, mas não me reconhecia. A mulher refletida ali não era eu. Era uma boneca, pintada e enfeitada para servir a um espetáculo cruel.
O vestido branco pesava como algemas de seda. A renda bordada, escolhida minuciosamente por minha mãe semanas antes, parecia me sufocar no pescoço. O buquê de rosas vermelhas tremia nas minhas mãos. Vermelho... ironia cruel, porque nada representava melhor o que eu sentia: ódio.
- Você está linda, Isabela - disse minha mãe, entrando apressada no quarto. O tom não era de orgulho, mas de ordem. - Lembre-se: este casamento é a salvação da nossa família.
A salvação dela, talvez. A minha prisão, certamente.
Meu pai, Ernesto Montoya, não precisou aparecer. Seu olhar de ferro já estava cravado em mim, mesmo à distância. Eu o conhecia bem: se eu ousasse recusar, pagaria caro. Ele sempre soube transformar amor em dívida, e obediência em obrigação.
Um toque na porta. O cerimonialista anunciou:
- É hora.
As portas se abriram, e uma onda de aplausos explodiu quando pisei no tapete vermelho. Eu nunca me senti tão observada. Centenas de olhos me devoravam, ansiosos pelo espetáculo.
Mas nenhum olhar pesava tanto quanto o dele.
Alejandro Duarte.
Alto, imponente, o terno negro perfeitamente alinhado, a barba por fazer que lhe dava um ar de perigo... e aqueles olhos. Escuros, profundos, intensos. Olhos que pareciam prometer destruição.
Ele não sorriu. Não precisava. O simples levantar do canto da boca já me dizia tudo: eu venci.
Meu coração martelava. Cada passo até o altar era um grito interno. Eu me repetia: não chore, não demonstre fraqueza, não dê a ele a satisfação.
Cheguei ao lado dele. Seu perfume amadeirado me envolveu, intenso demais, quase inebriante. E então nossos olhares se prenderam. O dele, arrogante, desafiador. O meu, uma mistura de ódio e medo que eu não queria revelar.
O padre começou a cerimônia. Suas palavras eram ruído. Eu não ouvia nada além do som da minha respiração irregular.
- Aceita, Isabela Montoya, este homem como seu legítimo esposo?
Engoli em seco. O salão inteiro esperava pela minha resposta. Vi o rosto do meu pai na primeira fila, sério, ameaçador. Eu sabia que não tinha escolha.
- Aceito. - A palavra saiu baixa, arranhada, como se tivesse cortado minha garganta.
O padre se voltou para Alejandro.
- Aceita, Alejandro Duarte, esta mulher como sua legítima esposa?
Ele não hesitou. Seus olhos ardiam sobre os meus, e a resposta veio carregada de veneno e triunfo:
- Aceito.
Quando o padre anunciou o beijo, meu corpo inteiro congelou. Eu recuei um passo, instintivamente. Mas Alejandro não me deu opção.
Sua mão agarrou firme meu queixo e me puxou contra ele. O beijo foi duro, possessivo, sem um fio de ternura. Não havia amor ali. Apenas domínio.
Os flashes explodiram ao redor. Os aplausos ecoaram como zombaria. Eu estava sendo exposta, humilhada diante de todos, reduzida a uma peça em um tabuleiro de poder.
- Sorria, esposa. - Ele murmurou contra meus lábios. - O mundo está assistindo.
E eu sorri. Um sorriso amargo, que mais parecia uma ferida aberta.
*
A recepção foi um teatro interminável. Taças de champanhe, risadas falsas, abraços de interesse. Eu era exibida como uma joia rara, sempre presa à mão dele.
- Solte-me - sussurrei, tentando me afastar durante uma dança lenta.
- Não. - Ele me puxou mais perto. - Você agora é minha esposa. E eu faço questão de que todos vejam isso.
Seu olhar descia até minha boca, como se fosse dono do meu corpo inteiro. Eu queria cuspir na cara dele, mas o salão inteiro nos observava. Então permaneci firme, fria.
- Eu não sou sua propriedade - respondi.
- Não? - Seu sorriso torto me provocava. - Então prove.
O calor subiu pelo meu rosto. Eu queria gritar. Queria arrancar aquele sorriso com as próprias mãos. Mas em vez disso, me forcei a continuar dançando, cada passo uma batalha silenciosa.
Horas depois, consegui escapar para a varanda. O ar fresco da noite bateu em meu rosto, trazendo um pouco de alívio. Olhei para as luzes da cidade, tão brilhantes, tão livres. Tudo o que eu nunca poderia ser.
- Fugindo de mim, esposa?
A voz dele veio atrás de mim, baixa e rouca. Eu fechei os olhos por um segundo, desejando desaparecer. Quando me virei, ele estava encostado na parede, braços cruzados, me observando como um predador analisa a presa.
- Não me chame assim.
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