/0/17486/coverorgin.jpg?v=278f5a8ae257de80c23a2878cbe53e3f&imageMogr2/format/webp)
Acordei de novo antes do despertador. O quarto ainda estava meio escuro, iluminado apenas pela luz tênue que passava pelas frestas da persiana, e o silêncio da manhã era tão pesado, quanto o aperto no meu peito.
Acima da cafeteria, o pequeno apartamento que herdei junto com o negócio, era o único lar que Noah e eu conhecíamos. Era simples, antigo e com um cheiro constante de café moído o que, honestamente, era melhor do que o cheiro de desespero que às vezes parecia tomar conta.
Me espreguicei com esforço e me sentei na beirada da cama por um segundo, tentei respirar fundo como se isso fosse organizar meus pensamentos, mas não funcionou.
Me levantei devagar, fazendo o mínimo de barulho possível para não acordar Noah no quarto ao lado e a última coisa que ele precisava, era ver minha cara de derrota logo pela manhã.
Na cozinha, preparei o café quase no automático. A cafeteira chiava e soltava aquele aroma que, em outros tempos, me trazia conforto, hoje, só me lembra das contas.
O envelope do banco ainda estava ali, sobre a bancada, como se me observasse. Me sentei à mesa com a caneca quente nas mãos, os olhos fixos naquela carta dobrada. Eu já sabia o que dizia, mas mesmo assim, abri mais uma vez, como se torturar minha esperança fosse um hábito matinal.
Prezada senhora Bonnie Dawson, informamos que o processo de execução hipotecária referente à propriedade, será iniciado em 30 dias, caso não haja regularização da dívida.
Casa e cafeteria, as duas coisas que me restaram dos meus pais. Trinta dias. Era tudo o que eu tinha.
Fechei os olhos e tentei manter a calma, meus pais não tinham deixado herança, fortuna ou garantias. Tinham me deixado esse prédio de dois andares, a cafeteria embaixo, lar em cima e um irmão de oito anos que ainda sonhava em pintar a fachada de amarelo com flores vermelhas na porta.
Trinta dias.
Passei as mãos no rosto, afastando o cansaço, Noah ainda dormia no quarto ao lado, respirei fundo, me obrigando a parecer forte quando abrisse a porta do quarto dele.
- Noah? Hora de acordar, amor - chamei com suavidade.
Ele se mexeu devagar, enfiando o rosto no travesseiro antes de se levantar com um bocejo enorme.
- Já? Mas eu estava sonhando que na cafeteria tinha um dragão! - murmurou, os cabelos bagunçados e os olhos ainda pesados de sono.
- Que bom! Talvez o dragão ajude com os boletos - respondi baixinho, mais para mim mesma.
Dei o café da manhã a ele, ajudei com o uniforme, penteei seu cabelo rebelde e conferi o lanche na mochila.
- Pronto, guerreiro? - perguntei, entregando a mochila nas costas dele.
- Pronto! Mas hoje você me leva com a joaninha, né?
- Claro. A joaninha sempre cumpre sua missão - forcei um sorriso.
Descemos juntos os fundos da cafeteria, e ele correu até o fusquinha vermelho estacionado no beco lateral. O carro tossia antes mesmo de ligar, como um velho ranzinza, mas ainda era nosso único meio de transporte.
- Vai, mana, acelera! - Noah gritou, animado, assim que entrou.
- Isso aqui não é uma Ferrari, pequeno - retruquei, dando partida e torcendo para o motor colaborar.
Pegamos a rua principal com o trânsito começando a esquentar. Noah cantava baixinho no banco de trás, e eu olhava de um lado para o outro, tentando prever os movimentos malucos dos motoristas ao redor.
Faltava apenas uma quadra para chegar à escola, quando meu telefone vibrou no painel. Olhei por um segundo e era do Banco Central, o meu coração acelerou, a respiração ficou curta. Seria um retorno? Uma chance?
/0/17499/coverorgin.jpg?v=7003d9459a272ac8b60118ff6cd03cc3&imageMogr2/format/webp)
/0/10090/coverorgin.jpg?v=1d789aa2606027365c2ba5eb1c0c5af2&imageMogr2/format/webp)
/0/13756/coverorgin.jpg?v=4b893e3759c254c3ca6c70964686c47e&imageMogr2/format/webp)
/0/4049/coverorgin.jpg?v=ed8f9be72661998d6bdb650b3d43519e&imageMogr2/format/webp)
/0/3570/coverorgin.jpg?v=c9d291b6f16157494e2b254d6ef72cbc&imageMogr2/format/webp)
/0/13187/coverorgin.jpg?v=862f786d5eb8305e40e354dc30350ee7&imageMogr2/format/webp)
/0/15373/coverorgin.jpg?v=fac5861e05d65d5eb723c3aeeccc37b3&imageMogr2/format/webp)
/0/15448/coverorgin.jpg?v=bd112c6b635c32076afcbc66f0b3c408&imageMogr2/format/webp)
/0/16046/coverorgin.jpg?v=ed68600ac427767febb306d73b044404&imageMogr2/format/webp)
/0/16322/coverorgin.jpg?v=67d4a0f1798cfaf8a546ae249716334c&imageMogr2/format/webp)
/0/17461/coverorgin.jpg?v=4b798cdab5919ebe9896a0654b6f59f2&imageMogr2/format/webp)
/0/16365/coverorgin.jpg?v=22f7f01960b3239f40eef21dbaf0342c&imageMogr2/format/webp)
/0/15055/coverorgin.jpg?v=598525d06eb00a0f31e4d4f724038868&imageMogr2/format/webp)
/0/16083/coverorgin.jpg?v=eb7584d47e7f8f4dda3c37a1e18f35a1&imageMogr2/format/webp)
/0/16066/coverorgin.jpg?v=b19dd0f8f78b32c2a33aa1e8b2d7b1bc&imageMogr2/format/webp)
/0/15065/coverorgin.jpg?v=924675fcb780ba3c215bfe33eb4b61cb&imageMogr2/format/webp)
/0/17814/coverorgin.jpg?v=71902c9b0e9b2f0c3680cfa04922b8b2&imageMogr2/format/webp)
/0/17518/coverorgin.jpg?v=bd09b656bee3bdc9d964a5407a06d4aa&imageMogr2/format/webp)
/0/17207/coverorgin.jpg?v=1670a60628f6ecf9123764cbfa6bcb96&imageMogr2/format/webp)