Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
A proposta ousada do CEO
Minha querida, por favor, volte para mim
Um casamento arranjado
Um vínculo inquebrável de amor
O caminho para seu coração
O retorno chocante da Madisyn
O Romance com Meu Ex-marido
A Segunda Chance com Meu Amor Bilionário
Lágrimas da Luna: Dançando com os príncipes licantropos
Acordo sobressaltada, um barulho alto e ensurdecedor faz meu coração disparar, porque sei do que se trata. Um tiro. Olho para o relógio na mesa de cabeceira antiga ao lado da minha cama, são três da manhã, e a súbita urgência em sair dali me deixa aflita. No escuro, ouço vozes se alterando, e mesmo sabendo ser impossível ouvir aquela distância, tento acompanhar a movimentação dentro. Eu preciso sair daqui, ou, pelo menos, me esconder.
Quando abro a porta, vejo a Irmã Angela se aproximando, ela coloca o dedo em riste sobre os lábios e aponta para o roupão, simples porém confortável sobre o baú aos pés da minha cama. Em seguida, com urgência faz sinal para que eu a siga. Eu rezava todas as noites para que eles não me encontrassem, para que me esquecessem, mas a verdade é que em nosso mundo, praticamente tudo se passa de um para outro. O dinheiro, as propriedades, os problemas, o ódio, as promessas quebradas. E eu sou um fruto de uma promessa quebrada.
Quando deixei Nova York, dois anos atrás, sob a promessa que não seria eu a pagar pelo suposto erro de minha mãe, eu sabia, desde o primeiro desvio do motorista, até o embarque em um jato particular, que os Villani não a deixariam em paz. Sabia que eles me achariam, onde quer que eu estivesse, e mesmo aqui, dentro do Convento de Santa Lucia, em um vilarejo a cento e vinte quilômetros de Roma, eu certamente nunca estive segura.
Passo pelos corredores familiares, como se fosse a primeira vez, quase tropeçando em meus pés, estou tremendo de nervosismo e medo, era como se as vozes que se distanciavam a medida que eu descia escadas e me afastava em direção aos fundos da construção antiga, estivessem gravadas em meus pensamentos. O que eles diziam a Madre? Estavam ameaçando, era fato, e lágrimas correm pelo meu rosto enquanto apressamos o passo em direção a uma das celas, onde as noviças costumavam ficar em jejum, durante dias. Irmã Angela abriu um armário, e afastou pelo menos uma dezena de vestes religiosas, e em seguida deslizou a mão por baixo da prateleira mais alta, revelando um fundo falso, e então ela quebrou o silêncio.
– Giulia, entre – ela aponta o fundo escuro onde caberia uma pessoa confortavelmente, se era que poderia achar aquilo confortável – uma de nós virá buscá-la quando eles se forem.
Quase a retruquei falando que os Villani poderiam não deixá-las vivas para que alguém viesse, mas algo no tom de voz da irmã me disse que ela já sabia disso. Enquanto ela me explica sobre como abrir as travas por dentro, me aproximo e a abraço, e ela me abraça de volta, ambas sabemos que pode ser a última vez que vamos nos ver. Os Villani me procuravam, a muito tempo, mas isso não quer dizer que iriam me manter viva.
– Criança, temos pouco tempo, por favor entre, fique em silêncio não importa o que estiver acontecendo aqui fora – ela me entrega uma medalha do Arcanjo Miguel, e me deixa sem palavras, pois ela sempre a usava – reze, tenha fé, que eles não a encontrarão.
– Irmã, por favor, fique comigo – pedi pensando ouvir todo tipo de som se aproximando, quando na verdade era apenas o medo de ser pega gritando dentro de mim.
– Nós prometemos à Donatella – ela fala enquanto me guia gentilmente para o esconderijo – que a manteríamos em segurança. Aqui foi o último refúgio da sua mãe, e enquanto estiver nesse convento, estaremos entre você e os Villani.
O fundo se fecha a minha frente, e logo depois eu a ouço fechar as portas do armário, e então sou apenas eu, o silêncio que veio após os passos da Irmã Angela se afastarem, e a mais completa escuridão.
Não demorou para que eu fosse encontrada, e tenho que confessar que de dentro daquele armário, tremendo e tentando manter minha respiração controlada a fim de passar despercebida, não houve um momento em que achei que eles não me encontrariam. Ouvia minha mãe aos sussurros, ao logo dos anos em que tivemos que deixar tudo para trás, e mudar as pressas, as vezes sem destino, os Villani não paravam até que conseguirem seu objetivo. Quando eu era criança eu não entendia, mas quando o fundo falso do armário foi identificado, e a porta violentamente aberta a minha frente, pela primeira vez desde sua morte, eu senti medo.
– Signorina Cavaliere – disse o homem a minha frente – tem que vir comigo.
Para onde mais eu iria afinal? Não muito longe dali eu ouvia vozes, fora do convento mais tiros e mesmo que eu me recusasse, mesmo que eu protestasse, esperneasse, eu não sabia o que estava acontecendo. Se eu respondesse que não iria a lugar algum, ele poderia me jogar sobre seus ombros com facilidade, e levar-me para onde quisesse. Ou poderia pegar a arma que eu o vi colocando no coldre antes de dizer qualquer coisa quando me viu, e me acertar. A única certeza que eu tinha é que ele não iria me matar. Se essa fosse sua missão, ele já a teria cumprido.
– Signorina, per favore – ele estendeu a mão, enquanto outro homem entrava na cela, guardando o celular no bolso – precisamos ser rápidos.
– Levi, os russos – este parecia de mal humor, como se ali fosse o último lugar onde gostaria de estar – alguém estava nos seguindo, estão vindo às dezenas!
O homem que agora eu sei que se chama Levi, olha apreensivo em minha direção:
– Terá que vir comigo, ou cairá nas mãos deles, se eles não matarem todos antes!
– A Madre... – eu consegui falar – as irmãs, o que fizeram a elas?
– Estão todas bem – o outro homem disse ríspido – se se preocupa com elas, temos que sair daqui agora!
– Eu prometo que nada acontecerá a signorina – Levi insistiu, apontando a porta.
Senti a mão de Levi me guiando pelo corredor, indo para os fundos da construção antiga, meus pés descalços sobre o chão gelado e o ar da noite invadindo meus sentidos assim que a porta se abriu. Tiros foram ouvidos novamente, fazendo meu coração acelerar, e então me voltei rapidamente para o prédio, não era assim que eu deveria deixar o lugar que me acolheu por anos, depois da morte de minha mãe, senti um aperto em meu braço e o outro homem me arrastando para o carro, ao qual Levi dirigiria, me xingando em bom italiano!
– Entra, logo – ele me empurrou no assento de couro e em seguida afastou-se, indo de volta para a noite, enquanto Levi colocava o carro em movimento.
Ele acelerou, e eu vi homens falando em seus celulares, ordenando que deveriam manter os russos ocupados nas proximidades, e que a segurança em Província di Roma deveria dobrar, ao fundo a Madre e algumas freiras em frente a porta principal, olhavam em direção ao carro, ergui a mão para acenar, mas sabia que elas não conseguiriam ver, e foi então que ouvi Levi falar com alguém no viva voz.
– Estou a caminho, chefe.
– Estamos enviando reforços – disse a voz do outro lado da linha, que me fez cair na real, se Levi havia o chamado de chefe, era ele, o próprio Michael Villani falando – bom trabalho, Levi.
Em seguida, ele desligou. Não pude deixar de pensar em como era o tal Villani, pois apesar de saber exatamente o motivo de ser levada para ele, tentei ignorar sua existência até aquele momento. O maldito Villani, que havia mandado invadir o convento, atormentando a todas, com homens por todo lugar, vasculhando o local que era de paz e tranquilidade com sua presença inadequada lá! Senti um tremor percorrer meu corpo, de raiva e indignação, era por isso que minha mãe havia fugido, esse não é um mundo justo para uma mulher. Depois disso respiro fundo, e começo a ficar com medo real do que pode me acontecer, não posso chorar, Roma fica às poucas horas dali, e agora sei que ele está me esperando.
Só quero manter o mínimo de dignidade, mas o fato é que desde a hora que acordei entendo que o mínimo controle que ainda tinha sobre minha vida e decisões foi deixado para trás, no pequeno quarto que eu ocupava, de onde gostava de ver a paisagem campestre da janela, e acordar com o canto dos pássaros. Tudo havia ficado para trás, não havia trazido nada comigo. Objetos pessoais, documentos, as fotos com meus pais, as cartas de Nikolai. Diante das circunstâncias me pergunto agora se não deveria ter levado a sério quando Nik disse que deveria fugir com ele, sabia que se tivesse aceitado, ele daria um jeito, mas voltaria a mesma vida que tivera com a mãe durante anos, e não queria fugir para sempre.
Pensava se em Chicago, meu tio já estava sabendo o que havia acontecido. Joe Cavalieri, o irmão mais velho de minha mãe, que vinha por anos cobrindo rastros e providenciando recursos para nos manter longe das vistas da máfia, principalmente da siciliana, bem representada pelo nome Villani em Nova Iorque. A situação era preocupante, o conflito entre Villanis e Cavalieris já durava décadas, e eu aprendi muito cedo, que não precisava ter matado alguém para ter sangue em minhas mãos.
– Logo chegaremos a residência Villani, signorina – ouvi a voz de Levi, calma, e percebi que eu me olhava pelo espelho – sei que deve estar com medo, mas amanhã pela manhã voltará ao seu país.
– Foi o seu "chefe" quem decidiu isso, ou Joe Cavalieri?
– Foi o Sr. Villani, pensando no que seria melhor para você – ele voltou os olhos para a estrada, pouco movimentada a sua frente.
– Ele não tem ideia do que fez – falo encerrando o assunto, com a impressão que eu e o Sr. Villani não iriamos nos dar bem.