/0/14321/coverorgin.jpg?v=c09ab1e0f22bc7c7d678e2828b2ce70c&imageMogr2/format/webp)
Amanhecia quando chegamos na casa do meu avô. Eu estava exausta mas vibrava com a ideia de morar na Bahia. Sonhei com isso a vida toda, talvez por saber que tinha um avô baiano, talvez por querer fugir do frio do Sul... Talvez as duas coisas... Mas o que importava agora é que meu sonho estava se realizando.
Andamos de ônibus por quatro dias. O calor era insuportável e as pessoas barulhentas e mal educadas, mas para mim tudo estava maravilhoso. Minha mãe reclamando da dor nas costas, meu pai sem dinheiro, nada me afetava.
Eu estava fugindo da vida miserável que levávamos no sul, meu pai Antônio havia ido em busca de uma vida melhor,mas o que encontrou foram portas fechadas por causa do pouco estudo. Foi ficando na esperança de melhorar, mas só trabalhou para sobreviver e acabou se acostumando com as dificuldades, para ele era normal passar frio, até mesmo fome.
Conheceu minha mãe Marta quando ela tinha dezessete anos e foi amor à primeira vista, casaram-se e no ano seguinte eu nasci. Trabalhavam como loucos para pagar as contas e dez anos depois meu irmão Erich veio ao mundo. O menino era doente, vivia gripado e minha mãe teve que parar de trabalhar.
Vivemos mais seis anos lá, lutando na esperança de que ia melhorar, mas para minha alegria eles decidiram vir pra Bahia, foi decidido que íamos morar com meu avô para cuidar dele na velhice e então juntamos nossa "trouxa" e pegamos a estrada.
Nem preciso dizer o tamanho da minha alegria! Eu com dezesseis anos via meu maior sonho ser realizado! Não que eu não fosse sentir saudades do Sul, mas não tinha muitos amigos por lá, e não levava lembranças muito boas do passado difícil que tivemos.
A cidade estava preparada para o início do carnaval na semana seguinte e mesmo com a pouca luz do amanhecer tudo era muito colorido e alegre. Tudo estaria perfeito se não fosse minha mãe chorando por ter deixado sua família no Rio Grande do Sul.
_Mãe, vai ter festa aqui? -Erich também estava deslumbrado.
_É o carnaval meu amor! Aqui a festa é muito grande, você vai adorar! -Recebi um olhar agradecido da minha mãe por responder, ela estava sem ânimo para conversar e meu irmãozinho falava pelos cotovelos.
A casa do meu avô Orestes era antiga e enorme, ficamos muito bem acomodados, eu e o Erich tínhamos um quarto para cada um, para nós era um luxo já que a nossa antiga casa era minúscula e eu dividia o quarto com ele desde que fez dois anos de idade.
Nosso avô era muito engraçado e nos queria muito bem, dizia o tempo todo que a gente era a única família que ele tinha e lamentava o tempo que tinha perdido sem nos conhecer. Eu estava em êxtase, nem sabia o que falar, só sorria. Tentei inúmeras vezes animar minha mãe que agora chorava copiosamente.
_Mãe, calma! Tudo vai ficar bem, eu tenho certeza, aqui a vida vai ser diferente, o pai até já tem um emprego!
_Eu sei minha filha, mas é muito triste estar longe das pessoas com quem convivi a vida toda! E seu pai, você sabe que não me dá muita atenção!
_Eu vou estar sempre com você pra te ajudar, mãe!
_Eu também mãe! -Erich entrou na sala e nos abraçamos, choramos juntos por alguns minutos até que meu pai entrou para acabar com o momento de tristeza.
_Ora vamos pessoal! Vocês deviam estar felizes! Ânimo minha gente! Prometo que tudo vai ser melhor! -Saímos da sala e quando passei por meu pai pedi para que ele desse um pouco de carinho para mamãe.
Ele abraçou ela e ficaram em silêncio enquanto ela chorava baixinho.
O tempo todo passavam carros e carroças e pessoas carregadas de fantasias e adereços coloridos, todos se apressando para deixar tudo pronto para o começo das comemorações carnavalescas.
Erich e eu ficamos na calçada olhando tudo boquiabertos, as pessoas passavam sorrindo e cantando, algumas nos cumprimentavam, outras apenas nos olhavam e quando viam nossos rostos encantados sorriam.
Um homem vinha carregando uma grande caixa com o que parecia ser uma fantasia, a poucos metros de nós deixou cair tudo no chão e uma máscara dourada veio parar nos meus pés, ainda não sei o por quê, mas juntei e coloquei em meu rosto, o rapaz ficou me olhando parado na calçada, e foi então que eu prestei atenção nele.
Era loiro, tinha a barba espessa por fazer e uns olhos azuis que me deixaram perdida. Nossa! Ele nem era assim tão lindo, mas tinha algo nele que me fez sentir vontade de tocá-lo, ver se sua barba era macia, sei lá.
Ficamos não sei por quanto tempo parados assim, até que meu irmãozinho nos tirou do transe.
_Martina você ficou bonita! Devia pedir pro moço dar essa máscara pra você!
Só então eu percebi que continuava com a máscara no rosto, devo ter ficado roxa de vergonha, tirei-a e fui entregar para o senhor "lindo de morrer".
_Desculpe, você deixou cair...eu nunca tinha visto uma fantasia de carnaval e...
_Não precisa se desculpar! Você ficou linda com ela, e o menino tem razão, você devia ficar com ela, o dourado combina com a sua pele morena.
Sorri e fiquei mais vermelha ainda, eu tinha esse problema, corava por qualquer coisa.
_Não dê ouvidos ao Erich, meu irmãozinho fala tudo o que lhe vem à cabeça.
_Esse sotaque...Você não é daqui, né?
_Não, acabamos de chegar do Rio Grande do Sul, viemos morar com meu avô. -Apontei para a grande casa toda descascada.
_Nossa! Que honra conhecer uma gaúcha linda como essa! -Ai meu Deus ele estava chegando perto._Sou Alex.
Apertei sua mão e larguei logo, morrendo de vergonha.
_Eu sou Martina e esse é meu irmão Erich.
_Lindo nome Martina, combina com seus lindos olhos.
De novo fiquei vermelha como um tomate, que droga isso tinha que parar!
_Obrigada, minha mãe se chama Marta e quis que meu nome fosse parecido com o dela.
Ele ficou me olhando em silêncio, aquilo era muito constrangedor, mas Erich quebrou o gelo.
_Moço a gente pode ir com você para ver os preparativos?
_Você ficou maluco? O pai nos mataria, nem pense nisso!
_Uma pena, porque eu os levaria com o maior prazer! Mas eu passo aqui todos os dias, se mudarem de idéia é só me acompanhar!
Piscou para mim e foi descendo a ladeira e eu fiquei lá de boca aberta, nunca tinha me sentido assim. Então percebi que tinha ficado com a máscara, assim que ele aparecesse de novo eu a devolveria.
Ajudamos meu pai pelo resto do dia e eu não vi mais aquele homem, mas não parei de pensar nele, eu sabia que era nova demais para essas coisas, mas não conseguia esquecer.
Acordei bem cedo no dia seguinte, era meu primeiro dia na escola nova, gostei muito e fiz uma amiga logo de cara. O nome dela era Ana e ela morava perto da casa do meu avô.
À tarde levei Erich muito amedrontado para seu primeiro dia de aula, fiquei por perto até ele se enturmar, não demorou muito e dois meninos chamaram ele para jogar bola. Ele me olhou com seus olhos enormes e eu dei um beijo no seu rosto e soltei sua mãozinha, meu coração estava apertado mas ele precisava daquilo.
_Vai meu anjo, vai dar tudo certo, prometo. E antes que você perceba já estará cheio de amigos!
E então ele foi, em alguns minutos me olhou sorrindo e me senti aliviada. Fui para casa encontrar com Ana, a gente tinha combinado que ela iria me passar a matéria que eu havia perdido.
Estudamos durante toda a tarde, Ana era um amor e eu me sentia muito bem com ela, soube que seu pai era alcoólatra e ela vivia com a avó por que sua mãe a havia abandonado quando era bebê.
Estávamos no portão conversando quando Alex passou e parou para nos cumprimentar.
_Olá Ana! Oi Martina!
Então eles se conheciam! Ana ia ter que me dar muitas informações...
_Oi Alex, não vou apresentá-los por que vi que já se conheceram.
_Eu tive o prazer de conhecer a Martina ontem, mas não tive tempo de conversar com ela o quanto eu gostaria.
Pronto, eu já estava roxa de novo. Merda! Foi então que me lembrei da máscara e fui buscá-la.
_Desculpe por não ter entregue ontem, não sei o que deu em mim.
_Uma pena você não querer usá-la, fica ainda mais linda, eu gostaria de ver você com uma fantasia sambando um dia desses.
Ai, ele me deixava muito sem jeito, eu não sabia como agir, nunca tinha tido um namorado, nem mesmo tinha sido beijada e tinha vergonha de contar isso. Ele ficava falando essas coisas, eu corava o tempo todo.
Despediu-se e desceu a ladeira e eu fiquei como uma boba olhando.
_Nossa você já está caidinha por ele!
/0/16594/coverorgin.jpg?v=1b4176d91993fb45e11aed715af0825d&imageMogr2/format/webp)
/0/6071/coverorgin.jpg?v=d1b7b2ea2a3c461033ca128447fdb3e9&imageMogr2/format/webp)
/0/9564/coverorgin.jpg?v=f663860ff7d73916abe3fe7cf15af99f&imageMogr2/format/webp)
/0/11409/coverorgin.jpg?v=5fd87d50ddde1ec1ef0a68e59a9c71d9&imageMogr2/format/webp)
/0/3688/coverorgin.jpg?v=14a27c3088a9cbc8569a2092924be032&imageMogr2/format/webp)
/0/8359/coverorgin.jpg?v=22532312abb581bb0af87ccc4a8b6038&imageMogr2/format/webp)
/0/8393/coverorgin.jpg?v=313a7b55a2bc96d94669180e30c5f87f&imageMogr2/format/webp)
/0/2939/coverorgin.jpg?v=fa83a1009a8ae5d97759fdd557cbdc95&imageMogr2/format/webp)
/0/2854/coverorgin.jpg?v=4bff26405469a1952d90921e801f4037&imageMogr2/format/webp)
/0/1790/coverorgin.jpg?v=1ca5094a17d2ed823411cd5fe1ef49f6&imageMogr2/format/webp)
/0/10260/coverorgin.jpg?v=928a21b725504fa9738e18650c6c42f1&imageMogr2/format/webp)
/0/6443/coverorgin.jpg?v=72e3bada5a20dab797de3701327caead&imageMogr2/format/webp)
/0/5654/coverorgin.jpg?v=8531678573ce026f72eedd83bc88771c&imageMogr2/format/webp)
/0/11018/coverorgin.jpg?v=5bc132e5b858ff5e57d2195a7cc006d7&imageMogr2/format/webp)
/0/17156/coverorgin.jpg?v=cc95f36fa68412657860058792573de3&imageMogr2/format/webp)
/0/12372/coverorgin.jpg?v=f796cbd579864a92cc9bcd445bd85f71&imageMogr2/format/webp)
/0/18169/coverorgin.jpg?v=12165d19b189ccb286e86ea20095c6c7&imageMogr2/format/webp)
/0/9297/coverorgin.jpg?v=b3bdc7975905385306e0751735793842&imageMogr2/format/webp)
/0/11966/coverorgin.jpg?v=636a0e8471eb65a711c46e86a2d49196&imageMogr2/format/webp)