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A noite descia sobre Viena como uma cortina de veludo negro, pesando sobre a cidade com uma sofisticação silenciosa que apenas o inverno austríaco era capaz de produzir. As carruagens percorriam as ruas estreitas com o compasso preciso dos cascos de cavalos treinados, e as lanternas presas às fachadas das mansões aristocráticas lançavam reflexos dourados sobre as pedras úmidas. Era como se toda a capital respirasse em uníssono — um suspiro carregado de expectativa, luxo e segredos.
No coração daquele cenário, a caminho do evento mais aguardado da estação, seguia Amélia.
Ela ajustou sua capa de lã sobre os ombros, protegendo-se do vento cortante que percorria Viena com a mesma precisão de uma navalha afiada. A noite era fria, sim, mas algo dentro dela ardia — uma chama íntima, teimosa, impossível de apagar. Amélia não era como as outras mulheres que desfilariam por aquele salão.
Não era nobre.
Não era herdeira.
Não era debutante.
Era algo melhor: era inteligente.
Filha de uma costureira e de um artesão que nunca teve posses, crescera entre livros emprestados, cadernos usados e sonhos grandes demais para a realidade que a cercava. Fluente em francês, com domínio refinado do italiano e capaz de discutir filosofia com a mesma desenvoltura que resolvia cálculos contábeis, ela fora descoberta e contratada pela condessa Helena von Wendorf — uma mulher poderosa, controversa e fascinada pela mente brilhante daquela jovem incomum.
E foi assim que, naquela noite, Amélia se encontrava diante das portas do monumental Baile da Invernalia, um dos eventos mais fechados e cobiçados da alta sociedade vienense. Ali, alianças eram firmadas, intrigas ganhavam corpo e destinos inteiros podiam ser decididos entre uma valsa e outra.
Horas antes, enquanto prendia um broche de prata no vestido dela, a condessa lhe dissera:
— Neste salão, minha querida, todos usam máscaras, mesmo que invisíveis. Mas você… você brilha demais para precisar de uma.
Amélia sorriu com gratidão, mas dentro de si a ansiedade parecia dançar como sombras inquietas.
Agora, diante das portas altas, respirou fundo. Dois criados uniformizados empurraram as pesadas estruturas de carvalho ao mesmo tempo, revelando um universo de luz, música e perfumes que a envolveu de imediato.
O salão era grandioso o suficiente para parecer um templo.
Candelabros de cristal pendiam do teto como constelações capturadas.
Espelhos enormes refletiam a dança de vestidos de seda e casacas bordadas.
O ar tinha o aroma complexo de jasmim, especiarias, madeira aquecida e vinho — o cheiro da aristocracia.
Amélia entrou.
E algo no mundo pareceu ajustar-se ao redor dela.
---
Ela caminhou entre os convidados com a elegância própria de quem aprendeu a observar antes de agir. Conversas sussurradas misturavam-se ao murmúrio da orquestra. Leques se abriam e fechavam como asas inquietas. Homens discutiam política, mulheres trocavam segredos, diplomatas espiavam rivais.
E ela, silenciosamente, absorvia tudo.
Notava as expressões escondidas por trás dos sorrisos.
Identificava mentiras nos olhos fugidios.
Reconhecia intenções nas mãos que seguravam taças com força demais.
Estava tão mergulhada em sua análise silenciosa que quase não percebeu os olhares que começavam a cair sobre ela.
Homens a observavam com curiosidade.
Damas com cautela.
Jovens com interesse.
Veteranos com suspeita.
Uma mulher sem sobrenome, ali, naquele baile?
Era natural que se perguntassem.
Ela, porém, sustentava o olhar de volta — não com insolência, mas com firmeza.
O vestido que usava era simples para os padrões do baile, porém impecável: um azul profundo que realçava sua pele clara e seus olhos castanhos. A saia caía com suavidade, delineando a silhueta sem exageros. Nada de joias extravagantes — apenas o broche de prata que Helena lhe emprestara.
E foi exatamente essa combinação de simplicidade e altivez que chamou a atenção dele.
---
Ele entrou sem anúncio.
Sem trombetas.
Sem apresentação.
Sem necessidade.
E, mesmo assim, o ar mudou.
Não como se o salão tivesse ficado mais silencioso — mas como se todos os corpos presentes, mesmo sem perceber, se inclinassem mentalmente para olhar.
O Conde Roberto Von Steinburg.
Seu nome atravessou o salão como um sussurro elétrico.
Um diplomata murmurou:
— Ele voltou da França recentemente…
Uma dama comentou atrás do leque:
— Dizem que está ainda mais perigoso este ano…
Um nobre respondeu:
— Ele sempre foi perigoso. E irresistível.
Então Amélia o viu.
E tudo dentro dela parou.
Roberto não era apenas um homem belo.
Não era apenas aristocrata.
Não era apenas enigmático.
Ele era… uma presença.
Alto, elegante, vestindo um terno escuro perfeitamente ajustado ao corpo largo dos ombros e à cintura fina. Os cabelos negros, escuros como tinta fresca, estavam penteados para trás, revelando um rosto esculpido com precisão quase cruel — ângulos marcados, maxilar firme, boca desenhada para o pecado.
Mas eram os olhos dele que realmente prendiam.
Cinza profundo.
Intensos.
Observadores.
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