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OLHEI EM VOLTA DA OFICINA MECÂNICA DO VELHO IZZY e que agora pertencia ao seu filho, James. Ignorei a parede cercada de pôsteres de garotas seminuas e molhadas e fui em direção a uma das pilhas de pneus espalhadas por ali e sentei. Obviamente não tinha sido uma das melhores decisões que fiz em minha vida, já que não calculei com precisão o tamanho da abertura entre os pneus e minha pequena bunda.
Afundei como fruta podre caindo do pé, fazendo com que o sorvete que eu tinha acabado de comprar, na sorveteira ao lado da oficina, fosse direto para o meu queixo, me apunhalando como o mais preciso e competente pugilista.
É, sou meio desastrada e muitas vezes desatenta também.
James deslizou o carrinho onde estivera deitado para examinar a velha caminhonete do meu pai e ergueu a cabeça, desejando saber o que causou a onda de risos histéricos em mim.
— Tudo bem aí? — ele uniu suas sobrancelhas e me lançou uma expressão caricata que só contribuiu ainda mais para minha gargalhada desenfreada.
Nós somos amigos desde a escola primária. James era o típico garoto franzino, introspectivo, que se sentia menos deslocado ao lado das meninas boazinhas, ou que ele acreditava ser boazinha, pois frequentemente eu colocava nós dois em alguma confusão.
Tínhamos muito em comum. James também tinha perdido a mãe muito cedo. A diferença era que eu tenho um pai e três irmãos controlando todos os meus passos, e ele mais cuidava do pai, que nunca mais foi o mesmo desde que a esposa faleceu, do que o contrário.
Os malvados da escola o chamavam de gay por andar ao meu lado; não poderiam estar mais enganados. Não que eu tenha comprovado o quanto homem ele é, mas metade das minhas ex- colegas de colegial recentemente tinham passado pela cama dele, quando começou a cuidar dos negócios da família e desenvolver mais o corpo, assim como sua desenvoltura diante das pessoas. E o garoto magrela, de pouca conversa e vergonhosamente desprezado na escola, tinha se tornado um belo homem, ainda introspectivo, mas isso parecia que atraía ainda mais as mulheres, da cidade ou não.
— James? — desisti do sorvete e mirei na lata de lixo próximo a ele — Por que a gente nunca ficou?
Acompanhei seu olhar confuso, o mesmo que fazia quando eu tentava ensinar biologia a ele.
— Ou não namoramos agora? — insisti, revirando meus olhos — Eu sei que você tem a vida bem movimentada agora, mas...
Meus olhos caíram sobre uma embalagem de preservativo vazia, caída debaixo da mesa antiga e de pernas enferrujadas, que ele usava para fazer anotações provisórias.
— Aliás, muito bem movimentada — sorri para ele e vi suas bochechas ficarem coradas.
— Ora! — Ele me encarou com uma carranca — Porque nós somos como...
Apertei os meus olhos com uma expressão ameaçadora que o fez se calar.
— Se você disser irmão... — empinei o meu queixo e coloquei minhas mãos na cintura, batendo o pé. Sempre fazia isso quando estava irritada com algum dos meus irmãos, e teve o mesmo efeito sobre James, ou seja, nenhum — Eu juro que atiro na sua cabeça esse... esse...
Apontei a ferramenta ao lado, chispando fogo pelos meus olhos.
— Torquímetro — ele alargou o sorriso, o que só me deixou mais irritada.
— Que seja.
Respirei fundo e tentei que minha voz voltasse a sair calma e natural.
— Por que nunca tentou me beijar?
James se levantou e limpou as mãos calejadas em um trapo, que deixou seus dedos pior do que já estavam, mas ele não pareceu se incomodar com isso. Não tanto quanto eu havia ficado.
Não é que eu seja uma esnobe ou uma garota cheia de frescura. Mas viver cercada de homens desordeiros e um tanto machistas, que atribuíam o trabalho doméstico às mulheres, fez com que eu ficasse meio, digamos, paranoica por limpeza e organização. Ou isso, ou... seríamos escravas recolhendo e limpando a bagunça que aqueles quatro deixavam pela casa.
— Não acho que seus irmãos gostariam disso.
— Se há uma pessoa no mundo que meu pai e irmãos não se importariam que eu namorasse, James, esse alguém seria você.
Ele deu de ombros como se pedisse desculpas e voltou a sorrir.
— Deve ser por isso que nunca se opuseram de você andar comigo — disse ele, afagando minha bochecha — Não vai acontecer.
Sobre a primeira parte ele estava correto. Em hipótese alguma, meus irmãos cogitariam a possibilidade de James e eu ficarmos juntos.
— Mas eles podem estar errados.
— Não estão — ele me encarou, sério — Pode me bater com o torquimêtro, a chave de fenda ou o que mais achar por aqui, mas somos amigos, Jully, quase irmãos.
— Mas nós nunca nos beijamos. Como pode saber? Ele arqueou a sobrancelha em resposta.
— Oras, então me beija — voltei a colocar a mão na cintura, mas me recusei a bater os pés como uma menininha de três anos — Vamos provar para todo mundo que estão errados.
Inclusive para nós mesmos, quase acrescentei, mas a frase ficou presa na garganta. James fez uma cara cômica, que parecia ser o meu pai pedindo que o beijasse.
— Não! — cruzou os braços no peito e me encarou, sério — Seria como ser gay e ter que beijar uma mulher.
— Mas você não é gay! —Rebati.
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