/0/5604/coverorgin.jpg?v=f04d22b86949d0be06c830d54b9b7b37&imageMogr2/format/webp)
Sem dúvida dormir 6 horas por dia, havia deixado de ser suficiente a bastante tempo, já que com o tempo percebi que era uma pessoa noturna, trocando facilmente o dia pela noite.
Mas isto não aconteceu por opção, mas sim por necessidade.
Desligo o despertador do celular que toca pontualmente todos os dias às 7 da noite, com os olhos semicerrados.
Afundando meu rosto no travesseiro, respiro fundo, lutando contra a vontade de voltar a dormir, saindo aos poucos da cama.
Ainda sonolenta, pego minha toalha e vou para o banheiro no corredor, ouvindo o som da televisão vindo da sala. O banho sempre era responsável em me acordar parcialmente, depois café.
Sentada no sofá velho que tinha na sala, Tati prestava atenção em uma novela.
- Tem café pronto - diz quando passo pela sala, entrando na cozinha.
Em cima da mesa redonda, estava a garrafa de café bege. Pegando um copo no armário pequeno, me sirvo um pouco de café, pegando bolachas de água e sal em um pote.
Aqueles eram o único momento de paz que tinha, antes de sair e apreciava cada minuto.
Voltando para meu quarto, pego a bolsa, celular e fone de ouvido, passando por Tati novamente.
- Tchau, né? - diz com uma perna peito do peito, enquanto pintava as unhas do pé~.
- Tchau - respondo sem olhá-la, saindo do apartamento de quatro andares, cedido pelo governo.
Com os fones no ouvido, começo minha caminhada até a guarita, que rendia alguns metros.
Há cerca de três anos, aquela era minha rotina e já não tinha vida social, tendo o único assunto com pessoas próximas drinks.
Já me considerava quase expert em drinks, já que a agilidade contava muito e isso adquiri com a prática.
Morava em Paraisópolis desde criança, acabando por esquecer que existia algo a mais além da comunidade. Contudo, muitas vezes o que via enquanto trabalhava, me fazia querer não conhecer o que existia além da comunidade.
Para chegar na boate em que trabalhava, precisava pegar dois ônibus. Fora o tempo que ficava no terminal, esperando o segundo ônibus.
No centro de São Paulo, ainda precisava andar mais um pouco até a boate Le Reve Club. Era uma casa noturna de músicas eletrônicas que toca hits antigos, com 3 salas temáticas e comida gourmet em um amplo local constituído por dois andares.
O local era bem requisitado e frequentado, devido as salas temáticas e a impressão de imersão na magia.
Depois de me vestir e cumprimentar alguns colegas de trabalho, vou para meu posto, verificando se estava tudo em ordem no bar.
Não percebendo quando tenho companhia.
- Oi, parceira - diz Rodrigo, no momento em que me dá um beijo no rosto, me surpreendendo, conseguindo dessa forma um sorriso inesperado.
- Oi - Olho rapidamente ao redor, antes de dar um beijo rápido nele.
Rodrigo poderia ser facilmente catalogado como hétero top, graças ao seu comportamento e suas vestimentas específicas. Seu visual ao mesmo tempo que era despojado, transmitia uma certa “fantasia de estar no top” e mesmo com tudo que o compunha, ainda me vi apaixonada por ele e senti sendo correspondida, mesmo não sendo o padrão ideal dele.
Era o contrário do que ele queria. Não era loira, muito menos alta e não tinha olhos azuis ou verdes. Tinha míseros 1.55, minha pele era parda, meu cabelo ondulado e meus olhos castanhos.
Rodrigo era exatamente o que ele queria. Só que no sexo masculino.
- Tudo certo por aqui? - Ele pergunta, olhando as prateleiras de vidro preenchidas por diversas garrafas.
Trabalhávamos juntos com a condição de manter o profissionalismo. Caso contrário, se notassem que estávamos sendo inadequados, com certeza eu poderia perder facilmente meu emprego.
- Já chequei tudo - digo, observando-o se movimentar pelo espaço, olhando com atenção tudo o que eu já havia visto.
Namorávamos a quase um ano. Já havia conhecido a mãe dele por acaso e a irmã de dez anos, mas ainda não havia tido coragem de levá-lo até a comunidade e ver estampado em seu rosto que aquele não era o tipo de lugar que ele estava habituado.
- Você ainda não me deu uma resposta - diz ele de repente, me fazendo piscar.
- Sobre...?
- Sobre o que estávamos falando ontem - Pego meu celular, abrindo o aplicativo de mensagem, refrescando minha memória.
E é claro que ele simplesmente não desistiria de conhecer meus pais, sendo o bom homem no qual havia sido ensinado.
- Eles são muito ocupados.
Ele me olha com um meio sorriso no rosto.
- Não é possível que eles não tenham meia hora - diz encurtando o espaço entre nós - Meia hora, Bruna.
Desvio meu olhar para o vazio, assentindo relutante.
- Vou falar com eles. De novo.
Com uma mão em meu braço, o afaga até o cotovelo.
- Pode dizer à eles que não vão se arrepender - Dito isto, ele se vira, pronto para começar o expediente.
No lugar que eu morava, infelismente, pessoas como Rodrigo, não eram muito bem vistas. Ainda eram taxados de riquinhos e envolvia um certo “preconceito”. Para as pessoas que me conheciam, que me viram crescer, ver ele ao meu lado, com certeza as faria pensar que ele só estava ali para me usar de alguma forma e que na verdade, ele deveria ter uma loira escondida por aí.
Uma série de questões como essa já haviam passado diversas vezes em minha cabeça, conseguindo dessa forma contribuir com o fato de não me sentia boa o suficiente para Rodrigo.
Muitas vezes me pegava olhando para Rodrigo e não tinha como não sentir que não nos encaixávamos. Era como se não fossemos um para o outro ou algo do tipo, simplesmente a conclusão que tinha, era que Rodrigo, não era para mim.
Mesmo com todas essas inseguranças, fingir ser a pessoa mais segura do mundo.
Nosso expediente começou instantes mais tarde, quando os primeiros clientes começaram a chegar e em menos de uma hora, todo o lugar era um grande movimento constante de pessoas bebendo, conversando e se divertindo.
Até que era bom, estar em meio a tantas pessoas, me fazia esquecer dos problemas que havia fora dali. Muitas vezes as pessoas que chegavam no bar, eram simpáticas e tinham as conversas mais breves interessantes que já vi na vida.
Algumas delas, tinham o poder de contar sua vida em poucos minutos, o tempo o suficiente na preparação de um drink ou enquanto esperavam alguém sair do banheiro.
A minoria, apenas pedia um drink e o tomavam em silêncio, evitando trocar palavras mais do que necessário.
Eram noites sempre agitadas e longe da monotonia.
A maioria das pessoas que chegavam assim que a boate abria, permaneci até o fechamento ás 5 da manhã. E após o fechamento, o segundo turno começava.
Era quando começava a limpeza geral.
Apenas por volta das 7 da manhã, que deixava a boate com Rodrigo e como de costume, tomávamos café da manhã em uma lanchonete não muito longe dali.
- Já sabe o que vamos fazer na minha folga? - pergunto, tomando um copo do café com leite no copo americano.
Ele dá de ombros, usando o guardanapo de papel para pegar o misto quente cortado em diagonal.
- Ando tão cansado que a única coisa que penso em fazer, é dormir.
Dormíamos menos do que gostaríamos, passávamos um determinado tempo juntos, entretanto, da forma mais profissional possível e a única coisa que queria na minha folga, diferente dele, era ser um casal com ele.
Termino meu café da manhã, alternando minha atenção para a tv no suporte, onde o jornal passava as últimas notícias.
- Mas se quiser, podemos fazer alguma coisa - diz ele de repente, afagando meu joelho. Forço um meio sorriso, abrindo minha bolsa, pegando a quantia que havia dado meu café da manhã - O que acha?
O sexo com Rodrigo não era ruim, mais também não queria apenas transar em todas as folgas. Queria fazer algo mais.
- Vamos ver até lá - Ele aperta novamente meu joelho.
No momento em que pago minha conta e Rodrigo faz o mesmo, se preparando para deixar o local, somos surpreendidos.
- Oi, casal - diz Nádia de repente, se colocando entre nós dois - Vi vocês quando estava saindo. Já estão de saída?
- Já sim - Rodrigo responde de forma simpática.
/0/13048/coverorgin.jpg?v=b0f9cd88861679da67c6326007a5ecd6&imageMogr2/format/webp)
/0/11255/coverorgin.jpg?v=7f431bb1642fb29f2ff9c2616d788ab2&imageMogr2/format/webp)
/0/11780/coverorgin.jpg?v=51710d5a482fb690530a57780ffb05bc&imageMogr2/format/webp)
/0/11460/coverorgin.jpg?v=ea8821de594b4848ff61b680141c1718&imageMogr2/format/webp)
/0/12825/coverorgin.jpg?v=ec9dd5c6652af4db3005b9f9981a317b&imageMogr2/format/webp)
/0/2750/coverorgin.jpg?v=1316e7ec7d9d422785eb76a751d5eb65&imageMogr2/format/webp)
/0/319/coverorgin.jpg?v=7fb498077bddd50ee1c87ec04dcc824d&imageMogr2/format/webp)
/0/17089/coverorgin.jpg?v=77cacd9b7ec230b7417e741c1f207a64&imageMogr2/format/webp)
/0/2322/coverorgin.jpg?v=3eb2e7a6784936d96efee5d5c26ff651&imageMogr2/format/webp)
/0/13368/coverorgin.jpg?v=e3bd9024eed25de5ce6d4c8da6325418&imageMogr2/format/webp)
/0/3777/coverorgin.jpg?v=abecf0272f4a8ec04a209aee776baccd&imageMogr2/format/webp)
/0/364/coverorgin.jpg?v=d598c89cdd4baf3f721edd5718a68b40&imageMogr2/format/webp)
/0/12006/coverorgin.jpg?v=38c39791c9b51b12d9eb1596777d6b65&imageMogr2/format/webp)
/0/17846/coverorgin.jpg?v=248bc3dac2892695e9ec5e690023911c&imageMogr2/format/webp)
/0/667/coverorgin.jpg?v=f3da728c8527111c6e4a18492f2345e8&imageMogr2/format/webp)
/0/5855/coverorgin.jpg?v=b4173ff2b02b90fe321c6c1b8a6e0d8c&imageMogr2/format/webp)
/0/9830/coverorgin.jpg?v=5159a23391c6a073f32180f89ecf93d2&imageMogr2/format/webp)
/0/3054/coverorgin.jpg?v=5367a62c9aaebec946e56ed5c97a1974&imageMogr2/format/webp)
/0/12809/coverorgin.jpg?v=cc6338df030dae888269845df6bf0b4d&imageMogr2/format/webp)
/0/2686/coverorgin.jpg?v=b1860764e404384afdc72f599d4b7f90&imageMogr2/format/webp)
/0/3296/coverorgin.jpg?v=80b964966388f651f0846f7dae3d5afd&imageMogr2/format/webp)
/0/12199/coverorgin.jpg?v=76bfec43bf9e679b89693183a256207a&imageMogr2/format/webp)