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Deitado sobre uma cama redonda vestida de seda vermelha, Bernardo se concentra em esquecer a vida que deixou do lado de fora do quarto. De um lado, ele tem a sua disposição um bar abastecido com as melhores bebidas. Do outro, um banheiro, onde uma mulher que conheceu há duas semanas se arruma especialmente para ele. No teto, um enorme espelho que lhe permitirá ter uma visão privilegiada de tudo que acontecerá entre ele e a tal mulher. Mas agora, a única coisa que o grande espelho lhe dá, é a visão de seu próprio reflexo. Mesmo olhando para si, olhos nos olhos, Bernardo não se reconhece.
E de forma involuntária, ele se pergunta aonde foi que errou. Talvez ele tenha a resposta, talvez não. Como tudo em sua vida, nunca teve a certeza de nada, exceto pela sua carreira.
Ele se levanta, caminha até o bar e se serve do primeiro whisky ao seu alcance, na esperança de que a bebida silencie sua mente perturbada. Exclusivamente essa noite, não consegue se desligar como sempre faz.
O whisky escorre por sua garganta como fel. Sem outras opções, ele enche novamente seu copo. Ele já não sabe se a bebida irá acalmar ou perturbar ainda mais sua mente.
Sem notar a aproximação, a mulher o abraça por trás e coloca as mãos por baixo de sua blusa social e acaricia todo o seu abdômen. Ele leva um pequeno susto. Por um momento pensou estar sozinho.
Agora de frente para a mulher e toda sua luxúria, ele a entrega o seu copo que acabara encher de whisky. Com desejo no olhar, a mulher saboreia a bebida enquanto o puxa para a cama. Por não conseguir se desligar da realidade, o Bernardo real também estará presente essa noite.
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O relógio marca 22:14h, e Martin, um jovem de estatura mediana pele branca, cabelos loiros e encaracolados, se encontra sozinho no refeitório por causa do avanço das horas. Por vontade própria, ele decidiu treinar até depois do horário de trabalho, mesmo sabendo que não ganhará nenhum extra por isso. Martin está lanchando pão torrado com geleia de morango e refrigerante de cola. Está se alimentando de maneira farta. Esse tipo de refeição é contraditória a dieta em que artistas como ele são submetidos, mas como não é do tipo que segue as regras rigidamente, e nesse momento não há ninguém que possa repreendê-lo, ele come sem culpa.
Daniel, um jovem de 29 anos, alto, de pele morena e cabelo de cachinhos pretos, um pouco atordoado, entra no refeitório batendo as portas, assustando Martin que quase desperdiça o seu último gole de refrigerante.
- Não tenho um minuto de paz nesse lugar. - Martin resmunga enquanto esconde uma parte das torradas.
Daniel é um líder rigoroso, e qualquer regra quebrada recai sobre ele. Por terem o senso, Martin e os demais membros, tentam ajudá-lo nesse quesito. Mas, conviver em grupo, e esse grupo possuir 10 homens recém passados dos 20 anos, pode ser um pouco complicado, então as vezes, é preciso que Daniel surte um pouco e seja bem desagradável.
Daniel caminha até a mesa, se senta a frente de Martin, o encara por segundos e se joga contra a mesa. Seu rosto fica colado ao mármore gelado e Martin lamenta em pensamento por ter espalhado tanto farelo de pão.
- Está tudo bem, irmão?
- Pareço estar bem? - Sem olhar para o amigo, Daniel responde com voz fanha devido a sua posição.
- Não! Por isso perguntei. - Martin acredita que o homem a sua frente está distraído e por isso tenta esconder a garrafa de refrigerante, mas Daniel o impede segurando a garrafa.
- Achou mesmo que eu não tinha visto?! - Daniel se levanta e o encara com olhar de superioridade. - Tem mais disso aí? - Ele se joga para o encosto da cadeira e com leves tapas se livra dos farelos grudados em seu rosto.
Com a certeza de que seria repreendido, Martin fica cabisbaixo, principalmente pelo estado em que Daniel se encontra, mas se surpreende com a pergunta de seu líder. Ele sorri, abre rapidamente a mochila e tira duas garrafas de refrigerante, uma para ele mesmo e a outra entrega ao amigo.
- Você já bebeu! - Daniel pega as duas garrafas para si.
- Eiii... - Martin esbraveja. - Assim você vai beber mais do que eu. - Ele se irrita. - E você também faz dieta.
- Não seja por isso. - Daniel guarda uma das garrafas e olhando seriamente para Martin ele abre a outra.
Martin engole seco. Ele sabe que esse comportamento de Daniel não é comum.
- O que aconteceu? - Martin desiste de pensar na perda do refrigerante.
- Porque a pergunta, você não vai se importar mesmo. - Daniel engole o resmungo de frustração junto com o refrigerante.
- Isso aí é calúnia! - Martin pensa um pouco. - Não, você tem razão, eu não me importo. - Ele reconhece. - Mas em minha defesa, eu só não dou importância àquilo que me contam sem eu ter perguntado. E eu te fiz uma pergunta, não fiz?
- Tem certeza? - Uma faísca de esperança se acende em Daniel. - Você realmente quer me ouvir, ou é só por curiosidade?
- Deixa eu pensar. - Martin faz uma pausa. - Claro que é por curiosidade. Você só tem dois estados de espírito, put* da vida ou feliz demais. - Ele esbraveja e Daniel revira os olhos por já esperar a resposta. - Agora você está aqui na minha frente que nem um cãozinho que acabou de ser abandonado.
- Mas já estou começando a ficar put*.
A comparação feita por Martin é verdadeira e por mais brincalhão que queira ser, ele percebeu que seu amigo realmente não está bem. Seu semblante está apático e seu olhar inquieto parece procurar por algo que nem ele mesmo sabe.
- Pode falar, brother. Eu quero saber por curiosidade, mas também posso ouvir o que precisa dizer.
- Bom, você lembra...
A porta do refeitório se abre novamente, mas dessa vez quem entra por ela é Josué. Um jovem de 28 anos, de pele branca e cabelo liso. Os seus olhos negros de Jaboticaba estão assustados. Ele fica parado na porta por alguns segundos, para processar quem está no refeitório e o que estão fazendo e se sente aliviado por ser Martin e Daniel.
- Vocês têm álcool aí? - Josué esbraveja ainda dá porta.
- Que? - Martin franze o cenho.
- Vai colocar fogo onde, Josué? - Daniel o questiona com irritação.
- Não é esse tipo de álcool! - Josué revira os olhos. - Eu quero cachaça. Da mais forte que tiver. - Ele respira fundo e caminha até aos amigos.