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Merlia
- Você está pronta? _ Gideon pergunta entusiasmado, com seus olhos verdes brilhando.
Aceno convicta, com um sorriso tolo ameaçando surgir em meus lábios, enquanto algumas das serviçais terminavam de lavar meus pés e enxuga-los com extremo cuidado.
Meu irmão me pegou no colo com facilidade, carregando-me até a grande bacia de madeira. Meus olhos cruzaram com os de meu pai sentado de baixo de uma tenda com conforto. Seu semblante tão sereno ao assistir minhas irmãs já pisando nas uvas com sorrisos tão largos, trazia ainda mais serenidade ao momento, junto da boa música tocada por menestréis.
- Pise nessas uvas com tudo que tem, Merlia! Venderei um barril desse vinho a quem der o mais lance! _ Gideon comentou, e gargalhou de sua própria ideia.
Agarrei o tecido de meu vestido, enquanto pisoteava as uvas. Ri como uma criança enquanto sentia a sensação do fruto em minhas solas dos pés, causando-me cócegas e leve agonia. As uvas estavam tão bonitas esse ano, que certamente seria um dos melhores vinhos na adega de meu pai.
Papai sempre decretou que festivais e comemorações fossem feitas em nome de uma pessoa especial para ele, ou algo que o significou muito. E nesse mesmo dia, as vezes se passava um brilho triste nos olhos de meus pais e tio Nicolas.
E aos meus olhos, eu não via papai com aquela aparência cansada e seus cabelos já bem grisalhos. Para mim, a imagem dele, sempre seria a de um homem forte, jovem e protetor. Mesmo sendo pequena na época, nunca me esqueci da primeira vez que fomos à Midorina, e conhecemos totalmente o lado amigável e despreocupado de meu pai. Foi a primeira e única vez, que ele deixou de ser rei por completo para se divertir com nós.
Minhas irmãs começaram uma canção, sapateando e rodopiando enquanto se fazia a pisa das uvas. Savannah, minha cunhada, havia se juntado a nós, assim como a esposa de Gideon.
De soslaio, observei o momento em que Kaya se aproximou de meu pai, com seus cabelos loiros prateado escorrendo para frente de sua armadura dourada, quando se curvou brevemente em reverência e aproveitando o gesto para gesticular alguma informação. Meu sorriso começou a desmanchar quando vi a careta de meu pai. Careta esta que, observei por muitos anos, cada vez que um pretendente chegava ao castelo para nos cortejar.
Eu era a última filha a ter que se casar em breve. Joseph, meu irmão mais novo, tinha 17 anos, e ninguém ouviu planos de casamento para ele até então.
Mas meu sorriso terminou de morrer em meu rosto, quando a figura alta e forte, com um sorriso cheio de si, se apresentou no ambiente. Aquele cretino, trapaceiro, filho de uma meretriz...
Não tenho nada contra padrinho Lucien, mas acho que ele poderia ter jogado Noah para o mar na primeira oportunidade, antes de ter criado um ser tão arrogante e desprezível.
- Seu noivo chegou..._ Joseph cantarolou bem perto de minha bacia. Me fazendo torcer a cara e voltar minha atenção para as uvas sob meus pés.
Agora, os pobres frutos, era esmagados com tanta raiva, que provavelmente este séria o barril de vinho mais amargo que meu pai experimentará em toda a vida.
Ergui brevemente meus olhos ao sentir olhares sorrateiros em mim. Meus irmãos me provocavam de forma silenciosa, cientes de minha antiga briga com Noah.
Aquele trapaceiro miserável roubou minha caça bem de baixo do meu nariz, e apresentou ao meu pai como se fosse dele. Lembro que eu já tinha 14 anos e ele 16, e quando Noah se apresentou como vitorioso, todos olharam para meu pai, esperando que o príncipe herdeiro de Midorina dissesse que já me tornaria sua esposa. Certamente papai o deceparia o pescoço se tivesse sido isso, mas o rato Midoriano pediu o melhor barril de vinho da adega, e o bebeu com seus irmãos sempre me encarando, como dissesse: " tola..."
Torci a cara para meus irmãos, voltando a dançar e sapatear sobre as uvas enquanto rodopiava, as saias de meu vestido esvoaçantes no ar, enquanto a brisa da manhã já em seu ápice banhava meu corpo. Me juntei a canção, tentando ignorar a presença desagradável de Noah passando ao meu lado, com seus olhos de falcão sobre mim.
- Continua mais feia do que me lembrava._ ele sussurrou com desinteresse, me fazendo pisar com ainda mais força sobre as uvas e trincar os dentes.
- Olha só! Achei que meu pai havia parado de comprar porcos!_ Murmurei e Noah apertou os olhos. O sorriso felino, quase venenoso curvou meus lábios. _ Oh não! É só o Noah...
Ele me olhou baixo a cima com desdém e se afastou, caminhando para onde Yan estava, antes do ruivo me olhar de esgueira como se Noah tivesse falando algo ao meu respeito. Certamente algum tipo de insulto.
O ignorei embalando ao som da canção junto com as outras, que apesar de conter o sorriso em seus lábios, sempre se divertindo com minhas brigas com Noah, elas continuaram a canção.
Deixo minha voz sair como um pássaro na manhã, com meus pés pisando sobre as uvas, sapateando e giro dentro da bacia, com meu vestido na altura de meus joelhos.
Noah
Um arrepio intenso subiu por minha nuca, com a voz de Merlia no ar, se destacando acima de qualquer outra. Yan como se soubesse que eu estava preso no canto de uma sereia, sorriu ladino rolando seus olhos ao redor.
Olhei por cima do ombro brevemente, sapateando na banheira como se estivesse dançando em um salão liberta. Seus cabelos presos, e as alças pomposas de seu vestido deslizando apenas um pouco por seus ombros, sua pele era imaculada, sem uma única mancha, e aquele par de olhos verdes passaram em meu rosto - uma ameaça, um insulto, uma tentação, um perigo.
- Será o vinho mais caro na adega do rei..._ Yan comentou em um sussurro e concordei com um aceno sútil.
- Qualquer vinho pisado por uma das filhas dele é mais caro que um touro revestido em ouro! _ praguejei, e Yan soltou uma risadinha baixa em concordância.
- Sua noiva é a mais bonita entre elas, a mais graciosa... Quantos touros de ouro acha valerá aquele barril?
Observei Merlia segurar a mão de seu pai - que havia resolvido passear entre as bacias - cantando para ele com os olhos brilhantes. Archie sorriu, deixando visível as rugas em seu rosto. Era impossível negar que Merlia tinha a beleza doce da mãe. Uma versão mais jovem, mais tempestuosa, e com os olhos verdes intensos - que eram verdadeira perdição - e seus cabelos um tom mais escuro. Uma fina mecha de cabelo caiu em seu rosto, e Archie à afastou para atrás da orelha dela, com carinho e se afastou quando ela ergueu um pouco mais a voz na canção, fazendo um novo arrepio correr por meus braços.
Não era em vão que ela era a favorita de meu pai, a protegida imaculada, a que ele se referia com tanto entusiasmo e alegria. Ele podia ser padrinho dela, mas era quem Merlia era que o enchia de espírito.
- Não sei se aquele barril sairá da adega, ou se ao menos será vendido. _ sussurrei e Yan tombou a cabeça. _ É este que temos que pedir no pedido da caçada...
- Você continua levando a sério o desejo de seu pai de recuperar coisas que ele queria ter, mas Archie os tem?_ Yan murmurou e sorri de um jeito felino.
- É o espírito de pirata que corre em nossas veias! _ Sussurrei com o vento farfalhando as árvores, e levando uma brisa refrescante ao dia ensolarado e quente de mais para meu gosto pelo tempo de Midorina.
Onde nevoa, brisas frescas e misterios- que pareciam estar em cada montanha, árvore, mar e nas ruínas – me davam a sensação de estar perfeitamente em paz no reino de meu pai.
- Alguém traga outra bacia para Merlia! Céus! Com que força de vontade você pisou nessas uvas?_ Gideon praguejou, a segurando na mão e no cotovelo, e Leon se aproximou a segurando do outro lado e a levantando da bacia.
Merlia riu folgosa sendo levada pelos irmãos para lavar os pés manchados de leve vermelho. Ela foi sentada e serviçais lavaram seus pés com extremo cuidado, enxugados e suas sapatilhas calçadas. Archie se aproximou dela dizendo alguma coisa e Merlia o deu um sorriso quase feroz e o brilho em seus olhos foi mais do que perigoso.
Ela se levantou das almofadas, soltou seus cabelos presos que caíram como cascatas negras por seus ombros e costas, rasas ondas do mais obscuro mar, e ela se retirou sem pressa, caminhando como um felino cheio de si.
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