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Jornada da Vida

Jornada da Vida

Kicka

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Capítulo

Ana nunca teve tempo para chorar, não importasse o quanto a vida lhe batesse. Ela tinha que sempre se manter de pé. Com uma vida cheia de altos e Baixos, mais Baixos do que altos, Ana sempre tentou segurar a barra e fingir que estava tudo bem. Foi criada pra ser forte, mesmo que isso significasse se tornar uma casca vazia. Aqui veremos tudo que construiu a sua vida. O que as pessoas de fora viram e os segredos jamais contados. Mas acima de tudo, veremos que tudo bem não ser forte o tempo todo.

Capítulo 1 O Luto Inicial

Em uma tarde de outono, Ana tinha apenas 9 anos quando tentou acabar com sua dor pela primeira vez.

Nova demais pra saber tanto da vida, mas velha demais, pra se dizer inocente.

Pobre Ana!

Ela nem sabia que nome aquilo tinha. Só veio descobrir 6 anos mais tarde, que aquilo, se chamava SUICÍDIO, e a verdade só veio a tona, quando a mesma repetiu a tentativa pela milésima vez.

A vida de Ana nunca foi fácil.

Desde pequena se sentia em um ringue de luta livre, onde o adversário era a vida. Seus pais se separaram quando ela era muito nova. Sua lembrança mais antiga consistia no dia em que seu pai foi embora: seu pai saindo pela porta, enquanto sua mãe chorava, na escuridão do quarto, deitada em sua cama.

⎯ Tudo bem, mamãe. Fica calma! Ele vai voltar.

Ana tinha apenas 2 anos, quando percebeu que ela sempre seria o porto seguro de sua mãe.

Patrícia, mãe de Ana, havia sido mãe muito tarde, para a idade. Uma gravidez muito desejada, mas também com muitos riscos, afinal, ela tinha quase 40 anos.

No dia em que Ana nasceu, Patrícia dizia que ao ver aquele pequeno e frágil bebê, sentiu que tudo valia a pena. Que mataria e morreria por aquela menininha branquela e de cabelos negros, como a noite.

Para Ana, aquilo parecia um absurdo. Como alguém poderia amar tanto outro ser humano, a ponto de desejar a própria morte, para que o outro vivesse?

Mal sabia ela, que aos 18 anos, ela viria a entender.

Sua vida era uma sequência de momentos desastrosos, seguidos de muita culpa

interior. Se culpava pela separação dos pais, pela morte da avó e por cada momento a seguir.

Aos 5 anos, viu sua vó morrer. E se culpou por isso durante anos.

Em uma manhã de dezembro, Patrícia cuidava de sua mãe, que era uma senhora cega, acamada e com alzheimer.

Uma mera sombra, da mulher nordestina, forte, guerreira e com um senso de humor contagiante, que Dona Cecília foi algum dia.

Patrícia, ocupada com os cuidados da mãe, pediu para que Ana buscasse um remédio na cozinha, mas como qualquer criança, ela se recusou.

Patrícia, já muito irritada, deixou sua mãe, e se dirigiu a cozinha para pegar o remédio em questão. Mas ao retornar, encontrou a mãe em parada cardíaca, roxa sob a cama.

Foi uma correria.

Chama os paramédicos, chama a polícia, acorda os vizinhos, pega os documentos...

E no banco de trás de uma viatura, seguiu Patrícia, com sua mãe deitada em seu colo, para o hospital, enquanto Ana...

Bom, Ana assistia toda aquela cena abraçada a sua vizinha, já sentindo a primeira

pontada de culpa despertar.

Horas mais tarde, ao retornar da escola, a casa se encontrava cheia de amigos, familiares e vizinhos.

Por um momento, Ana esqueceu do que havia acontecido pela manhã e sentiu se feliz de ver tantos rostos conhecidos reunidos em sua casa.

⎯ É festa? - questionou ao seu primo.

⎯ Não... - este respondeu sério.

⎯ A vovó foi para o hospital, sabia? - indagou novamente.

⎯ Sim... Ana?

⎯ Oi.

⎯ A vovó... -começou o primo, mas logo se calou.

⎯ O que tem? - perguntou Ana.

⎯ Nada... -respondeu-lhe olhando por cima dela.

Rodrigo, pai de Ana, o encarava do outro lado da sala.

⎯ Ana, minha filha - chamou Patrícia - Vamos conversar!

Seguindo os pais para dentro do quarto, Ana entrou, Rodrigo fechou a porta e Patrícia sentou-se na cama, acompanhada da filha e do ex-marido.

⎯ Lembra que a vovó foi para o hospital? - começou.

⎯ Sim, mamãe. Ela está bem?

⎯ Então filha... A vovó não vai mais voltar...

⎯ Ela morreu?

Patrícia começou a chorar e ali Ana entendeu tudo... Ana deixou seu corpo cair sob o chão e ali, de joelhos, desabou a chorar, enquanto sentia seu mundo desabar...

Ao sair do quarto, todos a encaravam com pena... Ela não conseguia conter os soluços, regados em muitas lágrimas.

Foi preciso um copo de água com açúcar para que ela finalmente, lembrasse como

era respirar.

A sucessão de fatos a seguir, foram apagados, pelo próprio cérebro de Ana, como que um mecanismo de defesa, para que esta sofresse menos. Mas sua vida, nunca mais foi a mesma.

Em um dia, ela tinha sua avó, da qual recordava de se deitar no sofá, enquanto Ana, deitava no encosto, apoiada na parede, pedindo-lhe para que a avó contasse histórias. Por ser uma senhora de idade avançada, misturava os contos de fadas e quando questionada, respondia:

⎯ Te contaram errado. Foi assim. Eu estava lá!

No outro, via sua mãe chorando pelos cantos e catando os cacos do que lhe havia restado de seu coração.

A perda de alguém tão amado, é capaz de derrubar uma família inteira.

E como um filósofo disse uma vez: "O luto não é sobre quem se foi, pois este, continua vivo dentro de nós. O luto se trata, de quem você deixou de ser para aquela pessoa. Sobre o abraço e o beijo que não existirá mais"

Cecília, avó de Ana, se foi, mas nunca deixou de viver, no coração de cada um que a amava.

Cecília vive e sempre viverá.

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