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O Drama de Luna
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Capítulo

Luna é uma jovem de 16 anos que cresceu sem saber o que é uma infância feliz. Dos 4 aos 12 anos ela foi abusada pelo pai, viveu momentos de tortura ao lado do homem que era para protegê-la, desde então nunca mais conseguiu se aproximar de outro homem. Cresceu cheia de traumas, medos e inseguranças. Mas com a ajuda de um colega novo ela tentará enfrentar esse passado tão doloroso para seguir com seu presente e futuro. Será que ela conseguirá?

Capítulo 1 E Tudo Começou Assim...

Dezembro de 2006

Eu recém tinha feito 4 anos, pra ser mais exata meu aniversário havia sido há duas semanas, mas lembro de cada detalhe como se fosse ontem. Meus pais haviam feito uma enorme festa para mim em um salão perto de nossa casa, eu estava tão feliz, a decoração havia sido das princesas e eu estava vestida de Cinderela, todos falaram o quanto eu estava linda e confesso que amei ser tão elogiada. Haviam ido todos meus amigos da escolinha e toda minha família, que não era muito grande, eu brinquei tanto nesse dia, tinha cama elástica, piscina de bolinha, e vários outros brinquedos, queria que aquele dia não acabasse nunca, pois mal sabia eu que minha vida estava prestes a mudar para sempre, queria poder ir pra Terra do Nunca com o Peter Pan pra nunca crescer.

Em plenos 4 anos de idade eu era uma criança muito alegre e inteligente, mamãe dizia que eu era prodígio e eu adorava mesmo que na época eu não soubesse o que significava essa palavra. Tinha aprendido a ler com 3 anos e meio, mamãe que me ensinou e aprendi rapidamente, sempre tive sede de conhecimento, amava aprender coisas novas, porém, as vezes era chato quando a professora ensinava algo que eu já sabia, e as vezes ela me dava trabalhinhos diferenciados com coisas novas, e era legal, eu ficava muito feliz quando ela fazia isso.

Na minha turma eu era a mais velha, fui a primeira a completar 4 anos e claro que eu aproveitava a situação, meus coleguinhas começavam a pegar no meu pé e eu logo dizia ''me respeita porque eu sou mais velha que você'', bom, nem sempre dava certo, mas as vezes funcionava e eles paravam de me incomodar, até que era divertido.

Eu nunca fui uma criança birrenta ou manhosa, pelo contrário, meus pais sempre falavam que eu era muito dócil, tinha um carisma diferente, podia conversar com uma criança da minha idade ou com idosos e todo mundo se abismava com a minha inteligência, confesso que eu ficava me achando por isso, embora eu não fosse uma criança muito convencida.

Ah, já estava esquecendo de mencionar. Nessa época eu vivia com minha mãe, meu irmão, Nicolá, que era um ano mais novo que eu e meu pai.

Mamãe era um doce de pessoa, sempre foi muito amorosa com meu irmão e comigo, era extremamente carinhosa, nos mimava muito, mas não a ponto de nos estragar, pois quando era preciso ela também sabia dizer ''não'', nunca deixou a gente fazer tudo o que queria, nos mimava sempre com muito limite, e para mim, ela era a melhor mãe do mundo, por mais que ela não tivesse me ajudado quando eu mais precisei, mas eu também não a culpo, pois ela nunca soube de nada, eu não tinha coragem de contar o que acontecia em nossa casa.

Nicolá, meu irmão, era um pestinha, nos dávamos bem, brincávamos muito juntos, mas também brigávamos muito, nossos pais tinham sempre que apartar nossas brigas. Ele era uma criança muito agitada, parecia hiperativo, mamãe até chegou a levar ele em vários médicos, mas sempre diziam que era da idade e que era normal. Mas mesmo que a gente brigasse bastante, eu o amava muito, era meu melhor amigo, meu companheiro, meu confidente, ele sabia todos meus segredos, bom, quase todos, eu só não conseguia falar do meu maior segredo.

Já papai, ele era tão bonzinho, parecia amar tanto a gente, nos colocava pra dormir, lia história pra nós, nos levava pra escola e pra passear, o amava tanto, bom, até o dia em que ele se transformou em um verdadeiro monstro para mim, nunca entendi o porquê dele mudar tanto comigo, o porquê dele me odiar tanto, a ponto de querer me ver sofrer.

Éramos a família perfeita, meus pais nunca brigavam, estávamos sempre felizes e eram tão carinhosos um com o outro, também não brigavam com a gente, acho que nunca levantaram o tom da voz comigo e nem com o meu irmão e olha que não éramos crianças muito fáceis de lidar, pois as vezes aprontávamos, claro que Nick aprontava mais que eu, só que de vez em quando eu também caia na pilha dele, confesso que eu me divertia muito com meu irmão.

Exatamente um mês depois que eu completei 4 anos, papai começou a ficar mais carinhoso comigo, me tratava melhor do que ele tratava o meu irmão e dizia que eu era a princesinha dele, sua bonequinha e eu gostava disso, com meu pai eu me sentia tão segura, era ele que me acalmava quando eu ficava assustada por causa dos trovões em dias de chuva ou dos cachorros grandes dos vizinhos. Mas em uma noite notei que ele não parava de me olhar meio diferente e de mexer em meu cabelo, dizendo que eu estava ficando cada dia mais linda, como qualquer outra criança da minha idade eu não tinha maldade, então eu apenas lhe sorria, gostava de ser paparicada por meus pais.

Certo dia, mamãe estava preparando o almoço e meu irmão vendo Ben 10, o desenho preferido dele. Nisso, papai resolveu me dar banho, pois logo após o almoço iríamos sair.

Eu estava na banheira brincando com alguns brinquedos infláveis enquanto meu pai lavava meu cabelo com shampoo, seguido de condicionador. Logo em seguida, ele começou a me ensaboar, mas foi de um jeito diferente, senti um certo incômodo, mas não disse nada, apenas olhei pra ele que imediatamente parou e terminou de me dar banho.

Iríamos ao cinema após o almoço. Nick e eu estávamos super empolgados, veríamos um filme que recém havia estreado.

- Luna, já terminou de comer? - Perguntou mamãe.

- Terminei. - Respondi com um enorme sorriso.

Mamãe tirou as louças da mesa e as levou até a pia. Não conseguia conter minha ansiedade, era meu irmão e eu correndo de um lado pro outro e pulando sem parar, queríamos logo ir ao cinema, pois já fazia algum tempo que não saíamos com nossos pais, e a gente adorava passeios em família.

- Eu quero pipoca. - Disse Nick após nossos pais comprarem os ingressos da sessão.

- Eu também. - Falei.

Papai comprou um saco de pipoca pra mim e pra ele e outro pra mamãe e Nicolá. Era pipoca doce, minha preferida. Nos bancos da sala do cinema sentou mamãe, meu irmão, papai e eu. Meu pai volta e meia me dava pipoca na boca, e eu gostava, pois assim não precisava tirar os olhos do filme. Em determinado momento, ele pegou em minha mão e passou o filme todo de mão dada comigo, apenas olhei pra ele e lhe sorri, gostava do fato dele ser carinhoso comigo.

- Gostaram? - Perguntou mamãe na saída do cinema.

- Muito. - Respondemos meu irmão e eu ao mesmo tempo.

O filme que a gente havia visto era da Xuxa e se chamava Xuxa Gêmeas, era muito legal, contava a histórias de duas irmãs gêmeas, interpretadas pela Xuxa, que foram separadas ainda bebês, só que uma era super boazinha e a outra muito má, só que um dia elas acabam se encontrando e aí a confusão estava feita, eu adorava os filmes da Xuxa, eu já tinha visto a maioria.

- Eu quero ir nos brinquedos. - Falou meu irmão eufórico ao ver alguns brinquedos de uma loja do shopping.

- Outro dia. - Falou mamãe.

- Ah, por favor. - Falei.

- Querida, acho que eles podem brincar em alguns brinquedos. - Disse papai.

- Tá bem, mas só um pouquinho. - Falou minha mãe.

Andamos em alguns brinquedos e nos divertimos muito. Aquele dia foi tão legal, queria que ele não acabasse nunca. É uma das últimas lembranças felizes que eu tenho da minha infância, de quando eu sabia o que era ser criança de verdade, antes da minha infância se transformar em um pesadelo.

Mamãe colocou meu irmão pra dormir naquela noite, e papai fez o mesmo comigo, pois cada um de nós tinha o seu quarto. Meu pai leu uma história pra mim, pois sempre ele ou mamãe liam para eu dormir, e após terminar o livro, ele deitou do meu lado e começou a me acariciar no rosto enquanto me olhava sem parar, como se estivesse pensando em alguma coisa.

- Como você está crescendo, tá virando uma mocinha. - Ele disse ao me acariciar no rosto, fazendo eu esboçar um enorme sorriso ingênuo.

- Sim, eu já tenho 4 anos, papai. - Falei ao mostrar quatro dedos pra ele.

Ele sorriu e me deu um beijo na testa. Bocejei, pois estava louca de sono, eu ainda não sabia ver horas nessa época, mas meu relógio biológico dizia que já estava na hora de eu dormir, ou talvez eu só estivesse muito cansada pelo dia agitado que eu havia tido.

- Boa noite, meu amor. - Falou papai ao me dar um leve beijo no rosto.

- Boa noite, papi. - Falei quase caindo de tanto sono.

Ele me deu mais um beijo no rosto, apagou a luz do meu quarto e saiu.

Dormi como um anjo naquela noite, uma das últimas vezes que eu lembro de ter conseguido dormir tranquilamente antes do pesadelo todo começar, antes de eu viver dentro de um filme de terror, antes de eu passar por aquilo que nenhuma criança deveria passar jamais, antes de eu conhecer um mundo perverso e ver que nem todo mundo é bom, mesmo sendo quem você mais amava.

E mal sabia eu que o pior de todos os pesadelos estava prestes a começar, e que em breve eu viveria os piores anos da minha vida.

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