encontro de amanhã está confirmado? Eu fico olhando para a mensagem no celular, confusa e de sobrancelhas franzidas, afinal não sei de quem é esse número. Até que cai a ficha: Liam deve ter mudado de número... de novo. E deve ter esquecido de me avisar... de novo. É tão legal ter um irmão. Eu: Arram. Que horas? Desconhecido: Duas da tarde Eu: Te vejo lá. Jogo o telefone no travesseiro ao lado e penso em nossa conversa na quarta-feira. Eu jurava que ele tinha dito duas e meia porque ia estar do outro lado da cidade e não tinha como chegar às duas, mas talvez ele tenha mudado de ideia. De qualquer forma, eu vou. Adoro os almoços quinzenais com meu irmão. - Baby, terminou? Uma resposta abafada e hostil vem da porta do banheiro. Quero retrucar, dizer algo igualmente hostil, mas não adianta. - Tanto faz - eu murmuro, rolando até meu lado na cama e estendendo a mão para desligar o abajur. Eu enrolo na cama observando os minutos passarem no relógio na mesa de cabeceira. Dez minutos depois, Caleb sai do banheiro silenciosamente e se senta na beira do colchão. Ele fica parado por mais uns dois minutos, apertando as mãos, antes de deslizar para a cama e se deitar ao meu lado. Ele não diz nada. Tampouco eu. Estamos naquele ponto do relacionamento - sabe como é, aquele em que é mais complicado estarmos juntos do que separados. Para ser honesta, há mais ou menos um mês, nós apenas dividimos o mesmo espaço. Caleb só usa frases curtas, e eu também não tenho sido muito simpática. Não temos relações íntimas há semanas. Nada em nosso relacionamento se parece com estar em um relacionamento. Estamos apenas esperando o momento em que nós dois chegaremos ao limite e não aguentaremos nem mais um segundo juntos. Eu não aguento nem mais um segundo. - Caleb? - Quê? - Sua resposta sai curta, como se não estivesse a fim de conversar antes mesmo que eu possa dizer qualquer coisa. Outro sinal de que estou prestes a fazer a pergunta certa. - O que está acontecendo aqui? Ele suspira, e o imagino passando a mão no rosto. - Não tenho mais certeza, Delia. - A gente... - Lambo os lábios ressecados e solto um suspiro, preocupada. - A gente devia terminar? Caleb rola na minha direção. Por instinto, estendo a mão para afastar a mecha de cabelo loiro que cai sobre seus olhos. Ele agarra a minha mão, interrompendo meu movimento, e eu vejo seu olhar. Seus olhos, de um tom escuro de azul, estão tristes, como se soubesse que isso ia acontecer. Eu já sei o que ele vai dizer. - Eu acho que sim. Caleb me abraça enquanto as lágrimas começam a cair. Estou triste, e embora não devesse, fico surpresa. Estamos juntos há seis meses - um tempo e tanto quando se trata de namoros na faculdade - e, bem, estou acostumada com ele... Acostumada com seu toque, seu cheiro, seu sorriso. Vou sentir falta, mas sei que Caleb tem razão. Precisamos terminar antes de começarmos a nos odiar, que é exatamente o que está prestes a acontecer. Começamos a brigar por qualquer motivo, esperando e implorando para que o outro desistisse. Estávamos muito acomodados e com muito medo de dar o nome preciso ao que está acontecendo: término. Até agora. - Eu poderia ter te amado, sabe? - Sua voz falha, e eu me afasto e descubro que seus olhos estão brilhando com lágrimas. - Se estivéssemos em momentos diferentes da vida, se não tivesse toda essa merda esperando pela gente depois da formatura, poderíamos ter dado certo juntos, Delia. - Poderíamos mesmo. Caleb suspira. - Eu sinto muito. - Eu também. - Você... - Caleb engole em seco. - Você quer que eu vá embora? - Você poderia ficar essa noite? Você pode me abraçar uma última vez? Seu sorriso doce me lembra do dia em que o conheci na cafeteria do campus. Com sua mochila no ombro, o cabelo despenteado e uma camisa social amassada e com os primeiros botões desabotoados, ele me deu o mesmo sorriso de agora e perguntou se podia dividir a mesa comigo. Eu olhei de relance o entorno da cafeteria, certa de que devia ser uma piada. Eu não era ninguém. Todo mundo sabia que Calebe era alguém. - Por quê? - Perdão? - ele perguntou, surpreso pelo meu questionamento. - Por que você quer sentar aqui? - Ahn, minha mochila tá bem pesada. - Ele levantou a mochila para mostrar. - E não há outro lugar para sentar. Todo mundo está estudando para as provas finais, e eu gostaria de estudar também... Se você fizer a gentileza de me deixar sentar com você. Eu olhei ao redor, notando que ele tinha razão em sua descrição do ambiente: estava lotado de estudantes de cabeças inclinadas e narizes enfiados em livros. Com relutância, cedi. - Tudo bem - eu disse com um suspiro. - Você pode sentar comigo...
sentar comigo... com duas condições. - Diga lá, moça bonita. - Corrigindo: três condições. Não me chame de moça bonita. Não converse comigo... - Caleb balançou a cabeça como se soubesse o que eu diria a seguir: - E não me chame para sair com você. Ele sorriu, e foi um daqueles sorrisos que te paralisam no ato. - Você já presumiu que isso ia acontecer? Balancei a mão em um gesto de desdém e respondi: - Com esse meu jeito reluzente de ser, é óbvio. Agora sente-se e fique quieto, pessoa misteriosa. - Caleb. Direcionei a ele um olhar fixo. - Sem conversas. E eu sei quem você é, Caleb Mills.
Você joga beisebol. - Seus olhos brilharam, então acrescentei: - E eu odeio beisebol. Caleb riu, se sentou e não disse mais uma palavra pelo restante da tarde. Nossos encontros de estudo "acidentais" aconteceram por uma semana, até que ele me chamou para sair. Eu aceitei, e estamos juntos desde então. Até agora. Eu gostaria, com todas as minhas forças, de poder dizer que Caleb é o cara certo para mim, mas ele não é. Eu já sabia disso há muito tempo, mas estava com bastante medo de fazer qualquer coisa a respeito. Ele é um cara ótimo - inteligente, gentil, focado - e, acima de tudo, sei que se importa comigo. Eu sei que Caleb me ama, mas não do jeito que nós dois precisamos que ele me ame. Também não o amo dessa maneira. Nós dois sabemos disso. Somos melhores como amigos, como Caleb Mills e Delia Devlin, não como Caleb e Delia, o "casal mais fofo do campus", como fomos eleitos pela rede de fofocas da universidade na primavera passada. - Promete que ainda vai ser minha amiga, Delia? Eu sorrio para ele. - Eu nem imagino como poderia ser de outra forma, Caleb. Liam: Vou precisar remarcar nossa reunião para semana que vem. Reunião? Remarcar? Por que meu irmão parece um grande empresário, e não o professor de ensino fundamental que ele de fato é? Ignorando seu jeito estranho, mando uma resposta rápida. Eu: Por mim, tudo bem. Depois me avisa quando for melhor para você. Liam: Entrarei em contato. É oficial: ele está esquisito. Um arrastar de pés desvia minha atenção da resposta que havia começado a digitar. Eu apago a tela do celular e olho para cima, vendo Caleb vindo do corredor, a mochila, que ele trouxe para passar a noite, nos ombros e uma caixa nos braços. Dou a ele um sorriso triste, e Caleb o retribui. - Eu acho que era só isso. - Caleb, eu... - Deixa disso, Delia. Não precisa dizer nada. É mútuo, certo? Funcionamos melhor como amigos. Nós forçamos um romance que não existia, e essa decisão é a melhor que poderíamos ter tomado. Estamos de acordo, lembra? Então nada de desculpas. Vamos tomar um café e depois você pode me dar um abraço e me acompanhar até a porta. Combinado? Limpo a lágrima que rola pela minha bochecha e sorrio vendo o homem doce que Caleb pode ser. Vou sentir falta desse seu lado. - Combinado. Ele coloca a caixa no chão perto da porta e entra na cozinha como se não estivéssemos terminando nesse exato momento. - Então, como vai a vida? - Caleb provoca enquanto coloca sua caneca no balcão e se senta ao meu lado. - Com uma esperteza dessas, como eu poderia te deixar ir embora? Ele toma um gole do café e sorri para mim por cima da borda da caneca. - Eu sei, sou um partidão. - Você é incrível, Caleb. - Vou sentir saudades. Eu sorrio. - Eu sei. Ficamos sentados em silêncio. Pode parecer estranho ou triste, mas é confortável, como se fôssemos velhos amigos. Depois de tomarmos mais uma caneca de café, Caleb se levanta com firmeza. - Eu acho que é isso. - Eu acho que é. Vou só pegar meu casaco. Eu te levo lá fora. Ele balança a mão. - Não, não há necessidade de você descer comigo. - Caleb... - Delia, presta atenção. Deixa eu preservar meu orgulho, ok? Não quero fazer a caminhada constrangedora com a minha ex. Eu seguro meu peito, as lágrimas começando a aparecer nos olhos novamente. - Essa palavra soa tão dura. - Constrangedora? - Não, ex. Doeu. - É o que somos. - Eu sei, Caleb. Eu sei. Ele abre os braços, e eu sorrio, me aconchegando neles. Caleb me envolve no abraço mais triste da minha vida. Eu sei que será o último que vamos trocar com toda essa intimidade. - Vê se não some, ok? - Não vou sumir. Ele beija o topo da minha cabeça e depois me solta. Eu enxugo a lágrima que escorre pela bochecha enquanto Caleb pega a mochila e a caixa com as suas coisas. Eu seguro a porta para ele e vejo com tristeza quando pisa na soleira. - Dá um sorriso, moça bonita - diz ele, voltando-se para mim. - Não acabou. É só o início de uma nova aventura. Eu abro o sorriso que Caleb espera antes que ele vire as costas para mim, me deixando parada na porta olhando para o garoto que eu poderia ter amado. Fecho a porta e balanço a cabeça. - Não é o fim, Delia. - Você está falando sozinha de novo? Tá muito cedo para essas merdas. - Zoe, minha colega de quarto e melhor amiga, se arrasta pelo corredor, o cabelo cor de caramelo encaracolado e bagunçado, os olhos castanhos inchados de sono. - Eu preciso de café o mais rápido possível. - Acabei de passar um fresco - digo a ela, apontando para a bebida mal tocada. - O que não é o fim, Delia? - Ahn? Ela serve café e despeja creme suficiente para um grupo grande de pessoas. Eu faço uma careta enquanto ela sopra o líquido quente. - Nem começa. Você sabe que eu gosto que meu café tenha a mesma cor da minha pele, então fecha a boca. - Eu torço mais o nariz, mas Zoe me ignora, tomando um gole de sua bebida matinal. - O que você estava falando? O que não é o fim? - Ah. - Eu passo a mão pelo cabelo, colocando os longos fios castanhos atrás da orelha. - Caleb e eu terminamos hoje de manhã. - Zoe arfa, derramando café quente na mão. - Bem, tecnicamente foi na noite passada. - Noite passada? Terminaram? Como assim, Delia? Por que você não me acordou? Eu poderia te dar uma força. Desde o nosso primeiro dia no primeiro período, Zoe tem sido meu porto seguro. Nós nos conhecemos nas palestras de orientação aos calouros e nos tornamos inseparáveis desde então. Depois de passar os últimos três anos em dormitórios, morando em casas diferentes, finalmente conseguimos um apartamento fora do campus este ano. Se pensávamos que éramos próximas antes, aquilo não era nada comparado a como somos agora. - Você estava dormindo. Caleb e eu conversamos e estamos bem agora. - Bem, tipo, resolveram as merdas todas e depois fizeram as pazes? - Não. Bem, tipo, somos amigos. Foi a decisão certa a se tomar. Ela se joga no balcão, de olhos arregalados e boca aberta. - Eu... eu não consigo acreditar. Você e Caleb, hein? Isso é... uau. - Ela bufa, soprando uma mecha de cabelo da frente do rosto. - Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Achei que vocês ficariam juntos um tempão. Ele era um cara tão legal. Eu balanço a cabeça, me sentando ao seu lado. - Ele é, Zoe. Ele continua sendo um cara legal. Foi uma decisão mútua. - Então a gente não o odeia agora? Eu sorrio com tristeza. - Não, nós não o odiamos. - Que bom, porque ele tem uma bundinha e tanto. - Ela bate no meu ombro, e eu rio. Quando percebo que não dói tanto, sei que vou ficar bem. Liam: Quem é? Eu: Ahn, Delia... Liam: Quem? Eu: Sua irmã? Liam: Eu não tenho uma irmã. É algum tipo de brincadeira? Eu: Liam? Como não? Você tá brincando? Liam: Quem é Liam? O celular acende na minha mão, mostrando
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