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O sorriso debochado de Nikolai Romanov estava estampado em seus lábios, carregando a confiança perigosa de um homem que sabia que tinha o controle. O rosto impecável, de traços fortes e marcados, parecia esculpido para provocar. Ele se recostou na cadeira de couro, movendo-se como um rei que ocupa o trono de um império particular, e seus olhos cinzentos, frios e intensos, estavam cravados em Irina com a precisão letal de um predador prestes a atacar.
Ele se divertia. Com ela. Com a situação. Com o jogo que, para ele, nunca deixava de ser entretenimento.
- Ouviu o que eu disse? - perguntou Irina, com o queixo erguido num gesto de desafio calculado, embora as pernas, escondidas sob o vestido justo, tremessem discretamente.
Nikolai inclinou levemente a cabeça, e sua voz saiu baixa e arrastada, como um toque de veludo sobre uma lâmina afiada:
- Claro que ouvi, Irina. - Um meio-sorriso surgiu, carregado de intenção. - Estou ansioso para descobrir como pretende me impressionar hoje.
O ar da sala pareceu mudar. Ivan e Sasha, posicionados discretamente ao seu lado, trocaram um olhar silencioso. Percebiam a tensão elétrica no ambiente, mas antes que pudessem dizer qualquer coisa, Nikolai levantou a mão, um gesto imperativo, cortante, impossível de ignorar e disse:
- Deixem-nos.
A ordem, dita com frieza e firmeza, não permitia questionamentos. Em silêncio, os dois obedeceram, saindo com passos contidos, até que a porta se fechou com um clique abafado que, para Irina, soou como uma sentença.
Agora, estavam a sós.
- Vim aqui porque sei o que você fez pela minha família. - disse Irina, cruzando os braços com força, tentando erguer uma barreira invisível entre si e o homem que parecia desnudar cada camada dela com o olhar. - Sei que pagou a hipoteca e todas as dívidas da minha família... mas quero deixar claro que vou devolver cada centavo.
Um som grave, quase um trovão contido, escapou de Nikolai. Era uma risada baixa, carregada de sarcasmo.
- Vai me pagar? - repetiu, saboreando cada palavra, como se o conceito fosse ridiculamente ingênuo. - Irina... isso não foi um favor. Foi uma oferta. E, ao aceitar, você entrou no meu jogo.
O coração de Irina acelerou. O corpo reagia antes mesmo da mente. Ainda assim, ela sustentou o olhar, cerrando os dentes, deixando que a raiva lhe emprestasse coragem:
- Não quero nada seu.
Ele se levantou da cadeira lentamente, como um predador que saboreia o medo da presa. Seus ombros largos projetavam uma sombra imponente, e o olhar cinzento, afiado como aço, faiscava sob a luz.
- Patética. - disse, com a voz carregada de escárnio. - Essa sua pose de orgulho me diverte. Você age como se ainda tivesse escolha.
A respiração dela ficou presa na garganta. Ainda assim, Irina atravessou a sala e parou diante da enorme mesa que os separava. O corpo queimava, as mãos estavam suadas, mas os olhos se mantinham firmes, fixos nos dele.
- Eu sei como pagar.
Nikolai arqueou uma sobrancelha, e naquele instante algo mudou no olhar dele.
Surpresa? Intriga?
Não. Era algo mais profundo, mais perigoso. Um brilho escuro, quase predatório.
- Sabe? - disse, aproximando-se devagar, com os dedos deslizando sobre a borda da mesa. - Agora fiquei curioso. Continue.
- Sei. - respondeu ela, com a voz firme, embora a pele ardesse sob o peso do olhar dele.
Foi então que Nikolai deu a volta na mesa, movendo-se como um lobo que cerca sua presa. Desabotoou o paletó com languidez calculada, revelando a camisa branca impecável, justa sobre o peito e os ombros largos. Quando parou diante dela, Irina foi tomada pelo perfume dele: amadeirado, quente, masculino... viciante.
Ele baixou o tom, deixando a voz deslizar como um comando íntimo:
- Eu já disse para não morder o lábio.
Antes que ela pudesse reagir, a ponta do polegar dele roçou seus lábios inferiores com uma intimidade que fez o ar desaparecer de seus pulmões. O toque era suave, quase reverente, mas carregava poder e posse.
O corpo de Irina reagiu com brutal honestidade. O calor se espalhou, a respiração tornou-se irregular, os músculos tensionaram. Ela odiava isso. Odiava querer o que não deveria. Mas não conseguia impedir.
Nikolai percebeu. É claro que percebeu.
O sorriso que surgiu em seus lábios era cruel e perigoso, como o de um predador que finalmente sente o cheiro do sangue.
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