A fome era minha sombra, uma criatura de garras e dentes roendo meu estômago desde os sete anos de idade. Eu já sabia que o mundo se dividia entre os que comiam e os que só podiam olhar. Em casa, a gente mais olhava. Um dia, a sorte bateu à porta: ganhei um frango assado num concurso de desenho. Um frango inteiro, dourado e crocante, a promessa de uma refeição que eu nunca tivera. Corri para casa, mal podia esperar para dividir aquela alegria com meus pais. Mas a alegria virou amargura, um golpe no estômago mais doloroso que a própria fome. Minha mãe pegou o frango das minhas mãos, os olhos brilhando – mas não para mim. Eles sentaram à mesa, dividiram cada pedaço, sem um olhar, uma palavra, ou sequer um osso para mim. Nem uma migalha sobrou. Noite adentro, a fome dentro de mim não roía, urrava. Por que eu, a filha, era sempre a última, a esquecida, a que não merecia nem o fruto da sua própria vitória? A dor daquele desprezo era mais aguda que qualquer pontada de fome. Naquela noite, a fome urrava, mas algo mais nasceu. Com uma faca na mão, sob o luar, fui até a horta da vizinha. Peguei dois tomates e uma espiga de milho. Saboreando cada pedaço, jurei para mim mesma que nunca mais dependeria de ninguém para saciar a minha fome – nem a do corpo, nem a da alma.
A fome era minha sombra, uma criatura de garras e dentes roendo meu estômago desde os sete anos de idade.
Eu já sabia que o mundo se dividia entre os que comiam e os que só podiam olhar.
Em casa, a gente mais olhava.
Um dia, a sorte bateu à porta: ganhei um frango assado num concurso de desenho.
Um frango inteiro, dourado e crocante, a promessa de uma refeição que eu nunca tivera.
Corri para casa, mal podia esperar para dividir aquela alegria com meus pais.
Mas a alegria virou amargura, um golpe no estômago mais doloroso que a própria fome.
Minha mãe pegou o frango das minhas mãos, os olhos brilhando – mas não para mim.
Eles sentaram à mesa, dividiram cada pedaço, sem um olhar, uma palavra, ou sequer um osso para mim.
Nem uma migalha sobrou.
Noite adentro, a fome dentro de mim não roía, urrava.
Por que eu, a filha, era sempre a última, a esquecida, a que não merecia nem o fruto da sua própria vitória?
A dor daquele desprezo era mais aguda que qualquer pontada de fome.
Naquela noite, a fome urrava, mas algo mais nasceu.
Com uma faca na mão, sob o luar, fui até a horta da vizinha.
Peguei dois tomates e uma espiga de milho.
Saboreando cada pedaço, jurei para mim mesma que nunca mais dependeria de ninguém para saciar a minha fome – nem a do corpo, nem a da alma.
Introdução
08/07/2025
Capítulo 1
08/07/2025
Capítulo 2
08/07/2025
Capítulo 3
08/07/2025
Capítulo 4
08/07/2025
Capítulo 5
08/07/2025
Capítulo 6
08/07/2025
Capítulo 7
08/07/2025
Capítulo 8
08/07/2025
Capítulo 9
08/07/2025
Capítulo 10
08/07/2025
Capítulo 11
08/07/2025
Capítulo 12
08/07/2025
Capítulo 13
08/07/2025
Capítulo 14
08/07/2025
Capítulo 15
08/07/2025
Capítulo 16
08/07/2025
Capítulo 17
08/07/2025
Capítulo 18
08/07/2025
Capítulo 19
08/07/2025
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