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O Curupira - Um conto de terror

O Curupira - Um conto de terror

Renan Moreira

4.8
Comentário(s)
3.4K
Leituras
9
Capítulo

No coração da selva amazônica, um grupo de exploradores irão descobrir da pior forma que ali habita algo mais antigo que a própria floresta. E que nem em seus piores pesadelos poderiam imaginar que naquele lindo emaranhado verde se escondia algo tão assustadoramente macabro e cruel. Agora é somente lutar por suas vidas ou torcer para que seja rápido.

Capítulo 1 Epílogo

No coração da floresta amazônica, a maior e mais densa floresta do planeta ouve-se gritos tão horrendos quanto a magnitude da imensidão verde que predominantemente cobre toda sua extensão.

Gritos tão medonhos que são capazes de dar calafrios na espinha e estarrecer até a mais valente das criaturas.

Numa tarde sombria e nublada surgem no meio da mata fechada e úmida, três homens correndo em desespero, em meio a lama, galhos, espinhos e animais peçonhentos, eles correm por suas vidas.

Em meio a uma agonia sem fim, Terry vê brotar a sua frente um galho que atinge em cheio seu rosto com tamanha a brutalidade, que por alguns segundos o faz perder os sentidos. No chão, sente o sangue quente escorrer pela testa, ainda atordoado, tenta levantar, mas cai novamente, neste momento ouve um zunido metálico que se confunde com o som que ecoa em seus ouvidos devido a pancada, sem forças para se por de pé e com a visão turva pelo impacto, desesperado procura ao redor por seus amigos, durantes esses breves segundos que parecem uma eternidade, Terry nota algo que jamais havia ocorrido em toda sua estadia na selva, um silencio sepulcral, como se tivesse congelado o tempo, já não se ouvia o cantar das aves, o barulho do vento ao tocar as árvores, nem mesmo um sinal de vida animal entre os milhares possíveis que habitam aquele local, como se os próprios animais reverenciassem aquele momento.

Finalmente quando recobra sua visão, tem o seu momento de calmaria interrompido por um grunhido estarrecedor, se permite um olhar sobre os ombros, mas o que ele vê faz seu estomago revirar.

Em meio a um emaranhado de galhos perfeitamente cortados, algo lhe chamou atenção. Em tronco de uma arvore que visivelmente já tinha resistido as intempéries na natureza durante centenas de anos, notou que havia uma espécie de lâmina, que penetrava tão profundamente seu tronco fazendo parecer estar ali desde sempre, não fosse por uma metade de crânio humano empalado e um corpo sem vida ao solo, se perguntava se era algum tipo de pesadelo ou loucura psicótica visto que o corpo ao solo estava em condições extremamente deplorável, com raízes saltando das extremidades, musgos recobrindo todo o corpo e algumas lindas flores amarelas brotando de sua região abdominal, como se tivessem sido perfeitamente alocadas em algum tipo de decoração mórbida e doentia, porém tinha absoluta certeza que tratava-se de seu amigo Dickens devido a vestimenta e seu chapéu que ainda encontrava-se no crânio pendurado. Em choque, agora não só pela pancada, finalmente de pé e sem acreditar como tudo o que viu ocorreu somente em alguns minutos. Prepara-se para voltar a correr quando sente uma presença demoníaca que lhe congela da cabeça aos pés, ao levantar lentamente o olhar, com medo do que vai encarar, fica frente a frente com seu temido algoz, estranhamente todo o seu medo e pavor já não se faziam presente, agora era somente dor, uma dor lancinante das dezenas de raízes atravessando sua pele, o dilacerando de uma forma brutal o abraçando como uma impiedosa sucuri, o envolvendo em uma espécie de casulo de galhos e raízes, antes que sua vida se esvai-se do corpo, um som horripilante do estalar da coluna de um homem se partindo ao meio ecoa pela floresta, intensificado pelo silencio que perenizava, logo o que antes era um silencio absoluto tornou-se um frenesi surreal, outrora os animais que pareciam reverenciar o momento, agora parecem comemorar, todos em um coro coletivo como se a floresta fosse uma só coisa. Enquanto a floresta bradava seus diversificados sons e ruídos Terry tinha seu corpo sugado para solo, como se os braços do inferno estivessem apressados em leva-lo.

Alguns metros a frente Sean, aterrorizado pela criatura que estava em seu encalço, corre desesperadamente para o leito do rio onde estava atracado o barco utilizado para chegar até ali, ainda sem saber do destino cruel e macabro que tiveram seus companheiros de expedição, nota um silêncio repentino e após alguns segundos Sean olha para trás a fim de saber se seus amigos ainda o acompanham, é quando ouve o som insólito surgindo das entranhas mais profundas da floresta e nesse momento de alguma maneira entende que já não há esperança para seus camaradas. Imediatamente retoma sua luta pela sobrevivência, em uma corrida as cegas meio a uma mata fechada, abruptamente quando sem perceber como aconteceu, já esta rolando sendo agredido por todos os lados, pedras e galhos o transformam em farrapos de pele e sangue, já quase sem forças para continuar em frente, percebe que a ribanceira além de quase ter ceifado sua vida, também o ajudou a chegar mais rápido ao barco, que agora já está a sua vista. Certamente esse foi o pior atalho que já tomou em sua vida, ironicamente o salvou. Meio grogue pelo impacto da cabeça contra uma pedra no final da descida forçada, faz uma busca rápida por seus pertences espalhados pelo chão, algumas anotações cartográficas, diários de viagem e uma bolsa que parecia proteger com sua própria vida.

Já na segurança de sua embarcação, Sean tenta apressadamente ligar o velho motor a diesel, que após duas tentativas frustradas finalmente ronca como um animal feroz irritado por ter sido acordado. Ainda hesitante em partir sem seus amigos, passa os olhos rapidamente pela margem do rio, mas entende que ou parte de imediato ou ficará eternizado como parte da floresta. Na mesma proporção que acelera o máximo possível, seu caminho vai sendo marcado por uma fumaça espessa e negra oriunda da queima irregular de combustível.

Metros à frente do ponto de partida, Sean finalmente respira aliviado e se dá ao luxo de verificar a tão protegida bolsa que carregou durante toda sua fuga. Três magnificas pedras, uma jazida de diamante do tamanho de um punho fechado, um topázio azul turquesa que não deve pesar menos que dois quilos e uma esmeralda aproximadamente do mesmo tamanho cravada de pequenas outras pedras. Sean as contempla com tanta veemência que em seu rosto transparece que tudo o que passou tinha valido a pena, esquecendo até mesmo que chegou ali com dois dos seus melhores amigos, e agora os deixa para trás com destinos incertos, uma vez que em seu amago sente que não existe esperança para eles, mesmo que seus olhos não tenham presenciado o destino cruel que tiveram.

Em paralelo a contemplação exacerbada que Sean fazia a suas conquistas, um ser surge no alto da encosta onde pouco antes Sean tinha passado por sérios apuros, meio penumbra do fim da tarde misturando-se a vegetação local, apenas ficam visíveis antebraços torneados, possuidor de uma pele com tom mórbido de verde e negro, com tatuagens por toda extensão em alto relevo, que se assemelha a alguma espécie de tribo indígena, cicatrizes tão marcantes que demonstram que já lutou várias batalhas, não é possível ver seu rosto, em suas mão surge um tipo de lança, que parece ter sido removida de uma árvore naquele instante, pois ainda tinha uma seiva viscosa escorrendo por ela.

A lança é arremessada com tanta ferocidade que um casal de onça pintada que saciavam a sede correm mato à dentro com tanto medo que os fez parecer gatinhos domésticos assustados. Sean só consegue ouvir um som estridente do ar sendo cortado por esse objeto que voa em sua direção, mesmo estando a alguns metros em vantagem, quando se vira é atingido no tórax com tanta força que quase é lançado na água.

Agora são somente algumas joias, um corpo atravessado por uma lança e um barco velho a diesel lançando sua névoa negra enquanto desce o maior rio do mundo à deriva.

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