Das Cinzas ao Altar: Sua Vingança

Das Cinzas ao Altar: Sua Vingança

Gavin

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Capítulo

Minha mãe foi morta em um atropelamento e fuga. Meu marido, Heitor, me disse para abandonar a investigação. Então meu pai morreu porque Heitor congelou meus bens, recusando-se a pagar por sua cirurgia de emergência. "Minha mãe foi assassinada!", gritei para ele. "Você quer que eu simplesmente... esqueça isso?" Ele me disse que sabia quem era o motorista e ameaçou acabar com a minha vida se eu não parasse. Ele usou seu poder para destruir minha carreira, me humilhar publicamente e até me jogou em um porão cheio de aranhas venenosas, me deixando para morrer. O golpe final veio quando ele me forçou a mentir em uma transmissão ao vivo no túmulo da minha mãe, confessando crimes que não cometi. Enquanto eu desabava, ele mandou seus homens espalharem as cinzas dela na lama. Eu perdi tudo. Minha família, minha dignidade, minha verdade. Eles pensaram que tinham me quebrado. Estavam enganados. Enquanto eu embarcava em um voo saindo de São Paulo, apertei o botão 'Transmitir ao Vivo' em uma live global. "Meu nome é Helena Almeida", comecei, com a voz firme. "E estou aqui para contar tudo."

Capítulo 1

Minha mãe foi morta em um atropelamento e fuga. Meu marido, Heitor, me disse para abandonar a investigação.

Então meu pai morreu porque Heitor congelou meus bens, recusando-se a pagar por sua cirurgia de emergência.

"Minha mãe foi assassinada!", gritei para ele. "Você quer que eu simplesmente... esqueça isso?"

Ele me disse que sabia quem era o motorista e ameaçou acabar com a minha vida se eu não parasse. Ele usou seu poder para destruir minha carreira, me humilhar publicamente e até me jogou em um porão cheio de aranhas venenosas, me deixando para morrer.

O golpe final veio quando ele me forçou a mentir em uma transmissão ao vivo no túmulo da minha mãe, confessando crimes que não cometi. Enquanto eu desabava, ele mandou seus homens espalharem as cinzas dela na lama.

Eu perdi tudo. Minha família, minha dignidade, minha verdade.

Eles pensaram que tinham me quebrado. Estavam enganados.

Enquanto eu embarcava em um voo saindo de São Paulo, apertei o botão 'Transmitir ao Vivo' em uma live global. "Meu nome é Helena Almeida", comecei, com a voz firme. "E estou aqui para contar tudo."

Capítulo 1

Ponto de Vista de Helena:

O mundo se desfazia ao meu redor, uma aquarela borrada de grama verde e lápides cinzentas. Minha mãe se foi. Simples assim. Em um momento, ela estava cantarolando uma canção de ninar ao telefone, no seguinte, uma voz fria me deu a notícia. Atropelamento e fuga. O cemitério à noite parecia mais vazio, mais gelado do que eu jamais imaginei. A terra úmida sob meus joelhos espelhava o frio em meus ossos. Eu estava sozinha, verdadeiramente sozinha, pela primeira vez. O silêncio gritava.

Tracei as letras frias em sua lápide recém-colocada. O nome dela. O meu nome. Nossa história compartilhada, agora um monumento solitário. Meus dedos roçaram o relicário antigo que eu usava, o metal frio contra minha pele. Era dela. Ela me deu no meu último aniversário, com uma foto minúscula e desbotada de nós duas. Uma promessa silenciosa de que ela sempre estaria comigo. Agora, era tudo o que me restava dela.

Os primeiros dias foram uma névoa de lágrimas e condolências vazias. Mas o luto rapidamente se solidificou em algo mais afiado, mais duro. Era uma necessidade de justiça. Disseram que foi um acidente. Disseram que a polícia estava investigando. Eu sabia que não era o suficiente. Minha mãe merecia mais do que uma morte anônima. Ela merecia uma resposta.

Procurei todos os advogados que conhecia. Cada um deles. Minha determinação era uma armadura contra o peso esmagador da dor. Eu encontraria quem fez isso. Eu os faria pagar. Eles não podiam simplesmente tirá-la de mim e sair impunes.

Foi quando Heitor interveio. Não com conforto, não com um abraço, mas com uma ameaça fria e cortante. "Helena, você precisa largar isso", disse ele, sua voz plana, desprovida de calor. Estávamos em seu escritório opulento, cercado por madeira escura e couro, um cômodo que sempre pareceu mais uma fortaleza do que um lar. Suas palavras pairavam no ar, mais pesadas que a arte cara nas paredes.

"Largar o quê?" Minha voz estava rouca, ainda crua de tanto chorar. Olhei para ele, procurando por um vislumbre de empatia. Não havia nenhum. Seus olhos eram como pedras polidas.

"O processo. A investigação. Tudo isso." Ele se inclinou para frente, o paletó caro de seu terno se amassando. "Você está fazendo um espetáculo. É ruim para a minha empresa. Ruim para o nome da nossa família."

Minha respiração falhou. "Minha mãe foi assassinada, Heitor! Atropelada! Você quer que eu simplesmente... esqueça isso?" O relicário parecia pesado contra meu peito, uma dor física.

Ele suspirou, um som de profundo aborrecimento. "Sua mãe era querida para você, eu entendo. Mas essas coisas acontecem. Insistir nisso só trará mais problemas. Problemas desnecessários."

"Desnecessários?" Levantei-me, meus joelhos protestando. "O que há de errado com você? Minha mãe está morta! Alguém precisa pagar!"

Ele se levantou também, imponente sobre mim. Sua voz baixou, tornando-se perigosamente grave. "Helena, me escute. Eu sei quem estava dirigindo. E você não vai continuar com isso."

Meu sangue gelou. "Você... você sabe? Quem?" Um nome se formou em minha língua, mas não consegui pronunciá-lo.

"Isso não é importante. O que é importante é que você pare. Agora. Ou haverá consequências. Para sua família. Para sua carreira. Para tudo o que você preza." Seu olhar perfurou o meu, inabalável, arrepiante. Ele mencionou o pequeno negócio do meu pai, que lutava para sobreviver, o emprego de âncora de telejornal pelo qual eu havia trabalhado tanto. Ele sabia exatamente onde mirar.

Uma onda de náusea me atingiu. Este não era o homem com quem me casei. Era um estranho, um predador. "Por que, Heitor? Por que você está protegendo um assassino?", sussurrei, minha voz quase inaudível.

Seu maxilar se contraiu. "Porque é complicado. E você, Helena, não vale a complicação."

Eu o encarei, meu coração se partindo em mil pedaços. O homem que eu amava, o homem que prometeu me valorizar, estava protegendo a pessoa que tirou a vida da minha mãe. A traição foi um golpe físico. Parecia que meus pulmões estavam desabando.

"Complicado?", engasguei com a palavra, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Minha mãe se foi! E você chama isso de complicado?"

Ele desviou o olhar, dispensando minha dor. "Seu luto está nublando seu julgamento. Pense no que está fazendo. Pense no mal que você pode causar aos outros."

Senti uma determinação fria e dura começar a se formar em meu peito, empurrando para além do luto. Se ele não me ajudaria, se ele me obstruiria ativamente, então ele era tão culpado quanto. Ele havia escolhido um lado, e não era o meu.

"Eu não vou parar, Heitor", disse eu, minha voz firme apesar do tremor em minhas mãos. "Eu vou encontrá-los. E vou fazê-los pagar."

Ele se virou para mim, seus olhos agora ardendo com uma fúria perigosa. "Você acha que pode me desafiar, Helena? Você vai aprender o seu lugar."

Saí de seu escritório naquela noite, não com lágrimas, mas com uma certeza ardente. Eu buscaria justiça. Mesmo que significasse perder tudo. Especialmente se significasse perdê-lo.

Na manhã seguinte, minhas ligações para os advogados não foram atendidas. A delegacia de polícia me informou que havia recebido novas informações e o caso estava sendo despriorizado. Minha carreira antes promissora como âncora de telejornal começou a desmoronar quando contratos de patrocínio lucrativos foram misteriosamente retirados. A influência de Heitor era um cobertor sufocante, cortando meu suprimento de ar.

Comecei a coletar evidências. Pacientemente. Meticulosamente. Cada advogado dispensado, cada ligação bloqueada, cada contrato cancelado. Comprei um pequeno e discreto gravador digital. Comecei a deixá-lo ligado.

Escapei de casa uma tarde, um pavor frio se agarrando a mim como uma mortalha. Minha advogada, uma senhora gentil e mais velha que ainda atendia minhas ligações, olhou para mim com pena. "Helena, você tem certeza disso?", ela perguntou, sua voz suave. Eu assenti, minha determinação inabalável. Coloquei um documento em sua mesa, escondendo cuidadosamente os detalhes cruciais.

"Ele vai assinar", disse a ela, minha voz estranhamente calma. "Ele sempre assina, desde que pense que está ganhando algo em troca."

Eu precisava ser livre. Livre para lutar. Livre para respirar. E para lutar, eu precisava jogar o jogo de Heitor.

-

O tormento começou sutilmente. Minha aracnofobia severa, um segredo que eu só havia compartilhado com Heitor, tornou-se sua arma escolhida. Aranhas pequenas e inofensivas apareciam no meu quarto, no meu chuveiro, nos lugares onde eu me sentia mais segura. Então as aranhas cresceram. Maiores. Mais peludas. Todas as noites, eu acordava gritando, encharcada de suor, meu coração batendo como um pássaro preso. Ele fingia me confortar, seu toque frio, seus olhos desprovidos de preocupação. Ele estava se divertindo.

Uma noite, após outro "ataque de aranha" encenado, ele me encurralou na sala de estar. "Você ainda não aprendeu, não é?", ele zombou, sua voz um rosnado baixo. Ele segurava algo na mão. O relicário da minha mãe. Ele deve tê-lo pego da minha cômoda.

"Devolva!", eu me lancei para pegá-lo, um grito cru rasgando minha garganta. Era tudo o que me restava.

Ele o segurou fora do meu alcance, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Isso? Esse lixo sentimental? Você quer? Abandone o caso. Agora."

Minha visão se afunilou. "Nunca", cuspi, as lágrimas embaçando minha vista.

Ele riu, um som arrepiante. "Então é meu." Ele o esmagou na mão, a prata delicada se dobrando, a pequena foto da minha mãe se rasgando. Ele jogou o metal retorcido no chão, me observando desmoronar com ele. O mundo escureceu.

Não sei quanto tempo fiquei ali, agarrada ao relicário quebrado, meu corpo tremendo com soluços silenciosos. Na manhã seguinte, um Heitor machucado e espancado chegou em casa, alegando que havia sido assaltado. Ele me culpou, é claro. Pela minha desobediência. Pela minha teimosia. Ele disse que eu trouxe esse problema para nós.

Então, o verdadeiro horror começou.

Eu estava saindo do supermercado, minha mente ainda abalada pelas últimas ameaças veladas, quando uma van preta parou bruscamente ao meu lado. Mãos ásperas me agarraram, empurrando um pano sobre minha boca. O mundo girou. Escuridão.

Acordei em um porão úmido e mofado, minha cabeça latejando. O ar estava pesado com o cheiro de mofo e medo. Meus pulsos estavam amarrados firmemente a um cano enferrujado. Uma figura emergiu das sombras. Era Caio Tavares. O motorista do atropelamento. Seus olhos estavam selvagens, seu sorriso grotesco.

"Então, a pequena âncora de telejornal quer justiça, hein?", ele arrastou as palavras, seu hálito fedendo a álcool. Ele deu um passo mais perto. Meu coração martelava contra minhas costelas, um tambor desesperado contra o destino inevitável. "Você acha que pode mexer com a minha família? Com a minha irmã? Você vai se arrepender."

Ele se lançou, suas mãos agarrando minhas roupas. Pânico, frio e agudo, me rasgou por dentro. Gritei, me debatendo contra as amarras, mas o som foi engolido pelas paredes grossas. Ele riu, um som arrepiante e triunfante. Seus dedos desajeitados tentavam abrir os botões da minha camisa.

Isso não pode estar acontecendo.

Minha mente disparou, cada instinto gritando por sobrevivência. Encontrei uma borda irregular e solta no cano, uma lasca de metal. Com uma força desesperada e bruta, comecei a serrar as cordas. A dor era excruciante, mas o pensamento da minha mãe, da justiça que ela merecia, me alimentava. A corda se desfiou. Puxei com mais força.

Ele estava sobre mim, seu peso pressionando. Seu rosto estava muito perto, seu hálito quente e fétido. Pude sentir o tecido fino da minha camisa rasgar. Assim que seus lábios roçaram meu pescoço, a corda se partiu. Eu rugi, um som primitivo de fúria e terror, e o chutei com toda a minha força. Ele caiu para trás, momentaneamente atordoado.

Levantei-me cambaleando, meus pulsos ensanguentados latejando. Meus olhos percorreram o cômodo. Uma pequena janela suja, bem no alto. Era minha única chance. Peguei uma tábua de madeira solta, sua borda lascada e afiada, e com uma onda desesperada de adrenalina, quebrei a janela. O vidro se estilhaçou.

Caio estava de pé novamente, se lançando em minha direção. Balancei a tábua, acertando-o no rosto. Ele gritou, cambaleando para trás, segurando o nariz. Sem pensar duas vezes, me arrastei pela abertura irregular, ignorando os novos cortes em minha pele. Caí com força no chão úmido do lado de fora, sentindo o gosto de sangue e terra. Corri. Corri até meus pulmões arderem, corri até minhas pernas cederem, corri até desabar em uma rua deserta, segura por enquanto, mas tremendo com um terror que assombraria para sempre meus sonhos.

No dia seguinte, ainda abalada pelo ataque, recebi uma ligação de Heitor. Sua voz estava carregada de uma calma aterrorizante. "Helena. Precisamos conversar. Sobre o túmulo da sua mãe." Meu sangue gelou novamente. "Encontre-me no cemitério. Sozinha."

No cemitério, o ar estava pesado com ameaças não ditas. Heitor estava ao lado do túmulo da minha mãe, uma pá encostada inocentemente em uma lápide próxima. Anita Tavares também estava lá, agarrada ao braço de Heitor, seus olhos grandes e inocentes, mas com um brilho de triunfo que não pude deixar de notar.

"Anita me disse que você tentou seduzir o irmão dela", disse Heitor, sua voz plana, sem emoção. "Que você o atraiu, e depois o atacou." Anita assentiu, fungando no ombro de Heitor. Mentiras. Tudo mentira.

"Isso é mentira", engasguei, minha voz crua. "Ele me sequestrou. Ele me agrediu!" Meus pulsos ainda exibiam as marcas vermelhas e irritadas das cordas.

Heitor ignorou meu apelo. "Você vai entrar ao vivo, Helena. Agora mesmo. Você vai confessar tudo. Que você seduziu o Caio. Que você o atacou. Que você inventou tudo." Ele apontou para um conjunto de luzes e câmeras, já montado ao lado da lápide da minha mãe. Uma transmissão ao vivo.

"Não!", gritei, minha voz falhando. "Eu não vou mentir! Não vou profanar a memória dela assim!"

Ele pegou a pá. "Então eu vou. Vou desenterrá-la, Helena. Agora mesmo. E vou espalhar os restos dela ao vento."

Minha respiração ficou presa na garganta. Minha mãe. Não. Ela não. Eu faria qualquer coisa para proteger seu último lugar de descanso. Qualquer coisa.

As câmeras começaram a gravar. As luzes fortes me cegaram. Meu rosto, machucado e manchado de lágrimas, me encarava de um monitor. A seção de comentários explodiu, uma torrente de ódio. "Vadia!" "Puta!" "Vagabunda desesperada!" Eu estava me afogando no desprezo público. O túmulo da minha mãe, a poucos centímetros de distância, parecia uma boca escancarada.

"Eu... eu seduzi Caio Tavares", sussurrei, as palavras com gosto de cinzas na minha boca. "Eu inventei a agressão... eu me arrependo... de tudo." A mentira queimou minha língua, marcando minha alma. Meus olhos estavam vazios. Eu estava morta por dentro.

No momento em que a transmissão ao vivo terminou, caí de joelhos, engasgando. O peso do mundo me esmagava. Eu havia perdido tudo. Minha mãe. Minha dignidade. Minha verdade.

Mais tarde, a internet era um incêndio, consumindo minha reputação. #EscândaloHelenaAlmeida virou tendência global. Minha carreira estava acabada. Meu nome era sinônimo de depravação. Meus amigos, família, até conhecidos distantes, me viraram as costas. Eu era uma pária.

Olhei para o túmulo da minha mãe, a terra fresca ainda intacta. Ele havia cumprido sua palavra, da maneira mais distorcida possível. Mas eu não a havia protegido. Eu havia sacrificado minha verdade pela paz dela. E, ao fazer isso, senti como se a tivesse perdido novamente.

Lembro-me de ficar ali, a chuva começando a cair, lavando minhas lágrimas, ou talvez apenas se somando a elas. Eu estava quebrada. Mas enquanto as últimas gotas atingiam meu rosto, uma determinação fria e inabalável se instalou profundamente dentro de mim. Eles pensaram que haviam vencido. Eles pensaram que haviam me destruído. Estavam enganados. Este não era o fim. Era apenas o começo do pesadelo deles.

"Acabou, Heitor", sussurrei para o ar vazio, minha voz rouca, mas firme. "Absolutamente, irrevogavelmente, acabou." As palavras eram um voto, uma promessa a mim mesma. E à minha mãe.

-

Flashback:

Conheci Heitor em uma gala de caridade. Ele era o garoto de ouro do mercado imobiliário de São Paulo, todo de ângulos retos e olhos ainda mais frios e afiados. Eu era uma âncora de telejornal em ascensão, tentando fazer meu nome. Conversamos, rimos e, depois de muitas taças de champanhe, ele me convidou para sua cobertura. Fiquei lisonjeada, um pouco tonta.

A noite se tornou um borrão. Lembro-me dos lençóis macios, de seus braços fortes, do cheiro persistente de seu perfume. Lembro-me de me sentir cuidada, desejada. Então, uma memória súbita e chocante: um Heitor de olhos vidrados, murmurando um nome que não era o meu. Eva.

Na manhã seguinte, ele acordou, desorientado, segurando a cabeça. Ele me viu, um lampejo de surpresa, depois outra coisa - reconhecimento? Não, não reconhecimento. Aceitação. Ele olhou para mim, realmente olhou para mim, e seu rosto mudou. A frieza se suavizou.

"Eu... me desculpe", disse ele, sua voz áspera. "Ontem à noite... eu bebi demais." Ele fez uma pausa, seus olhos demorando em meu rosto. "Eu vou assumir a responsabilidade."

Meu coração palpitou. Uma parte de mim, a parte ingênua, queria acreditar que era genuíno. Suas palavras pareciam uma tábua de salvação. Ele me prometeu uma vida de conforto, estabilidade. Ele não disse amor. Eu disse a mim mesma que viria.

Casamos rapidamente, um romance relâmpago aos olhos do público. Por um tempo, tentei me convencer de que estava feliz. Tentei acreditar que suas gentilezas ocasionais eram sinais de afeto. Mas então eu encontrei. Escondida em uma gaveta trancada em seu escritório. Uma fotografia emoldurada. Uma mulher, deslumbrantemente bonita, com longos cabelos escuros e olhos que imitavam os meus. Eva. Sua ex-namorada falecida. A irmã gêmea de Anita Tavares.

A percepção me atingiu como um golpe físico. Eu não era Helena. Eu era uma substituta. Uma substituta. Uma dublê para a mulher que ele realmente amava, a mulher que ele havia perdido. O ar me faltou. Meu casamento inteiro, uma mentira meticulosamente elaborada.

Quando o confrontei, seu rosto estava impassível. "Você está sendo dramática", disse ele, sua voz plana. "Eva se foi. Você é minha esposa." Foi uma dispensa, não uma negação.

Então, as acusações começaram. Sutis no início, depois escalando. "Você está sempre pedindo dinheiro, Helena. Está tentando me sugar até o último centavo?", ele zombava, mesmo eu tendo minha própria carreira. "Você é tão transparente. Como todas as outras." Ele de alguma forma distorcia cada ação inocente, cada gesto sincero, em uma manobra calculada para meu próprio ganho. Ele me acusou de ser uma interesseira, de usá-lo, de conspirar contra ele.

"Heitor, isso não é verdade! Eu te amo!", eu implorava, as lágrimas embaçando minha visão.

Ele apenas balançava a cabeça, um olhar frio e desdenhoso em seus olhos. "Amor? Você não sabe o significado da palavra." Ele se recusava a ouvir, sua mente já decidida, envenenada por sua própria percepção distorcida.

Nosso casamento congelou. O calor, por mais fugaz que fosse, desapareceu. Tentei descongelá-lo. Cozinhei suas comidas favoritas, usei as roupas que ele gostava, ouvi suas intermináveis histórias de trabalho. Tentei ser a esposa perfeita, esperando ganhar seu afeto, esperando fazê-lo me ver, Helena. Mas meus esforços foram recebidos com um muro de indiferença, um ombro frio, um olhar vazio que me atravessava, não me via.

Então, Anita Tavares chegou. Ela não era apenas a gêmea de Eva; era uma versão mais jovem e vibrante, com um brilho astuto em seus olhos inocentes. Heitor, que havia sido frio e distante comigo, de repente floresceu. Ele a cobriu de atenção, comprou presentes caros e deu a ela um cargo de alto escalão em sua empresa, apesar de sua falta de experiência. Ele a mimava, satisfazia todos os seus caprichos.

Anita, por sua vez, se deleitava com seu novo poder. Ela quebrou um vaso de valor inestimável, sorriu com desdém quando Heitor simplesmente riu. Ela cometeu um erro financeiro catastrófico na empresa, custando milhões, e Heitor não apenas a perdoou, mas demitiu o executivo que ousou criticá-la. Era uma mensagem clara. Anita era intocável. E eu era irrelevante.

-

A ligação veio tarde da noite. Meu pai, frágil e envelhecido, estava no hospital. Cirurgia de emergência. Era cara, muito mais do que minhas economias esgotadas poderiam cobrir. Minha carreira estava no limbo, graças a Heitor. Eu não tinha a quem recorrer.

Meu orgulho me arranhava, mas a vida do meu pai estava em jogo. Engoli-o, entrando no escritório de Heitor, meu coração batendo forte. Ele estava lá, com Anita, ambos rindo, bebendo champanhe.

"Heitor", comecei, minha voz tremendo. "Meu pai... ele precisa de uma cirurgia. É urgente."

Ele mal olhou para cima, um copo de líquido âmbar girando em sua mão. "E?", seu tom era desdenhoso.

"Preciso da sua ajuda. Os fundos foram congelados. Não consigo acessar nada."

Ele ergueu uma sobrancelha, um sorriso cruel tocando seus lábios. "Por que eu deveria te ajudar, Helena? Você sempre parece se virar bem sozinha." Ele se virou para Anita, que riu, e então acrescentou: "Talvez pergunte à Anita. Ela está encarregada dos fundos discricionários da empresa agora."

Anita, com seus olhos grandes e inocentes, olhou para mim. "Oh, Helena. Sinto muito. O orçamento da empresa está muito apertado agora. Talvez... talvez você devesse pedir à sua família?"

"Minha família está em apuros por causa dos problemas que você trouxe para eles, Heitor!", explodi, o controle que eu havia mantido com tanto cuidado finalmente se quebrando. "Meu pai está morrendo! É vida ou morte!"

Os olhos de Heitor endureceram. "Seu melodrama é tedioso, Helena. Se seu pai morrer, é porque você esperou demais, não por causa de quaisquer restrições financeiras da minha parte." Suas palavras foram um golpe físico, uma torção viciosa da faca em meu coração já sangrando.

Desespero, frio e sufocante, me envolveu. Ele estava falando sério. Ele deixaria meu pai morrer por despeito. Meus joelhos fraquejaram. Eu tinha que tentar. Pelo meu pai.

Virei-me para Anita, minha voz mal um sussurro. "Por favor, Anita. Meu pai... ele é um bom homem. Ele só precisa de uma chance."

O sorriso de Anita era sacarino, gotejando falsa simpatia. "Oh, Helena. Você é tão dramática. Por que você não vende alguns daqueles relógios caros que você sempre usa? Ou suas joias? Você sempre amou mais o dinheiro do que qualquer outra coisa, não é?" Suas palavras estavam cheias de veneno, um golpe direto nas acusações anteriores de Heitor.

A humilhação era uma marca em brasa. Senti os olhos deles em mim, os de Heitor frios, os de Anita triunfantes. O rosto do meu pai, pálido e fraco, passou diante dos meus olhos. Eu tinha que fazer. Ajoelhei-me, meus joelhos batendo no chão de mármore frio. "Por favor", implorei, minha voz falhando, "estou implorando. Apenas o suficiente para a cirurgia. Eu te pago de volta. Eu faço qualquer coisa."

Anita riu, um som agudo e tilintante que me irritou. "Olhe para ela, Heitor! Implorando! Tão desesperada por dinheiro, até mesmo para a própria família." Ela se virou para mim, seus olhos brilhando. "Diga-me, Helena, o quanto você realmente se importa com seu pai? O suficiente para... se humilhar de verdade?"

Meu coração virou gelo. Ela queria mais do que dinheiro. Ela queria minha alma. Ao nosso redor, os empregados se afastavam, evitando nosso olhar, mas sua presença era um testemunho silencioso da minha degradação pública. Senti-me completamente entorpecida, despida, exposta. O que era dignidade quando uma vida estava em jogo?

"Que tal isso?", disse Anita, sua voz baixando para um sussurro, "Eu te dou... isso." Ela tirou algumas notas de cem reais de sua bolsa, mal o suficiente para uma única noite no hospital. Ela as jogou aos meus pés. "É o suficiente, Helena? A vida do seu pai vale tão pouco para você?"

Minhas mãos tremeram enquanto eu pegava a quantia insignificante. "Você prometeu... você disse que ajudaria!", grasnei, minha voz grossa com lágrimas não derramadas.

Anita deu de ombros, uma imagem de falsa inocência. "Eu disse? Oh, sinto muito. Devo ter me enganado. A empresa está realmente com dificuldades, sabe. Não como você, com seu estilo de vida luxuoso." Ela gesticulou para a pulseira de diamantes em seu pulso, uma peça que Heitor havia comprado para ela na semana passada. Valia facilmente dez vezes a quantia que ela acabara de jogar em mim.

Enquanto eu encarava as notas miseráveis, uma fúria, fria e clara, começou a queimar em meu peito. Levantei o olhar para discutir, para lutar, mas enquanto o fazia, Anita "tropeçou". Sua mão, com a pulseira de diamantes brilhando, conectou-se bruscamente com sua bochecha. Ela soltou um grito agudo, segurando o rosto, desabando nos braços de Heitor.

"Ela me bateu! Helena me bateu!", Anita lamentou, sua voz surpreendentemente forte para alguém tão "ferida".

Os olhos de Heitor, já gelados, se transformaram em lascas de granito. "Helena! O que você fez?", ele rugiu, embalando Anita protetoramente.

Fiquei ali, paralisada, as notas de cem reais caindo de meus dedos entorpecidos. Meu pai. Minha dignidade. Tudo se foi, substituído por uma dor lancinante e avassaladora.

"Saia", ordenou Heitor, sua voz baixa e ameaçadora. "Saia da minha vista. E nunca mais volte."

Saí daquela mansão, meu coração uma pedra congelada em meu peito. O mundo lá fora parecia igualmente frio.

O telefone tocou no meu bolso. Era o hospital. Meu pai. Ele não resistiu. Ele teve uma parada cardíaca durante a noite. Eles não puderam levá-lo para a cirurgia sem o depósito.

Minhas pernas cederam. Caí na calçada fria, a chuva começando a cair, espelhando a torrente de lágrimas que finalmente se libertou. Meu pai. Morto. Por causa deles. Por causa do despeito de Heitor e da crueldade de Anita.

Um policial veio ao meu modesto apartamento mais tarde naquele dia. Ele parecia sombrio. "Sra. Almeida, temos uma atualização sobre o caso de sua mãe." Minha respiração ficou presa. "Nós prendemos o motorista. Caio Tavares."

Meu sangue gelou. Caio. O irmão mais novo de Anita. A conexão se encaixou, uma percepção horrível e doentia. Heitor o estava protegendo.

Fui ao cemitério, sozinha novamente. Dois túmulos frescos. Minha mãe. Meu pai. Minha vida, estilhaçada. Enquanto enterrava os poucos pertences do meu pai, o relicário simples e gasto, agora torto e quebrado, parecia um símbolo do meu próprio espírito esmagado. Mas sob o luto, uma nova emoção fervia. Uma determinação fria e dura.

Eles pensaram que tinham me quebrado. Estavam enganados. Eles haviam despertado um monstro.

Saí do cemitério, a chuva lavando as últimas de minhas lágrimas. O primeiro passo foi dar entrada nos papéis do divórcio. O segundo, garantir que Caio Tavares enfrentasse a justiça. O terceiro... bem, o terceiro seria uma obra-prima de vingança.

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Eu estava me afogando na piscina, o cloro queimando meus pulmões como ácido, mas meu companheiro predestinado, Jax, nadou direto por mim. Ele pegou Catarina, a capitã da equipe de natação que fingia uma cãibra, e a carregou para a segurança como se ela fosse feita do vidro mais frágil. Quando me arrastei para fora, tremendo e humilhada, Jax não me ofereceu a mão. Em vez disso, ele me fuzilou com olhos cor de avelã, frios e distantes. — Pare de se fazer de vítima, Eliana — ele cuspiu na frente de toda a alcateia. — Você só está com inveja. Ele era o Herdeiro Alfa, e eu era a fracassada que nunca tinha se transformado. Ele quebrou nosso vínculo pedaço por pedaço, culminando na sagrada Árvore da Lua, onde ele riscou nossas iniciais entalhadas para substituí-las pelas dela. Mas o golpe final não foi emocional; foi letal. Catarina jogou as chaves do meu carro em um lago infestado de Acônito. Enquanto o veneno paralisava meus membros e eu afundava na água escura, incapaz de respirar, vi Jax parado na margem. — Pare de fazer joguinhos! — ele gritou para as ondulações na água. Ele virou as costas e foi embora, me deixando para morrer. Eu sobrevivi, mas a garota que o amava não. Finalmente aceitei a rejeição que ele nunca teve coragem de verbalizar. Jax achou que eu rastejaria de volta em uma semana. Ele achou que eu não era nada sem a proteção da alcateia. Ele estava errado. Mudei-me para São Paulo e entrei em um estúdio de dança, direto para os braços de um Alfa Verdadeiro chamado Davi. E quando finalmente me transformei, não fui uma Ômega fraca. Eu era uma Loba Branca. Quando Jax percebeu o que tinha jogado fora, eu já era uma Rainha.

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No coração de Moscou, onde poder e segredos caminham lado a lado, um homem ergueu um império sobre o medo e o controle. Nikolai Romanov é esse homem. Um CEO frio e calculista, forjado nas sombras de um passado que nunca perdoou. À luz do dia, é o magnata respeitado que comanda negócios bilionários. À noite, revela sua verdadeira face: a de um dominador absoluto no Red Velvet, clube exclusivo onde prazer e dor se confundem em jogos de submissão e poder. Para ele, amor não existe. Sentir é fraqueza. E fraqueza é algo que ele nunca permitirá. Mas tudo muda quando o destino coloca Irina Petrov em seu caminho. Jovem, inocente e desesperada para salvar a família, ela aceita a proposta que pode condená-la: acompanhar o homem mais temido de Moscou por um final de semana. O que deveria ser apenas uma troca, um acordo silencioso, transforma-se rapidamente em uma armadilha de desejo e perigo. Irina não conhece as regras. Não entende os limites. Mas justamente por isso se torna impossível para Nikolai resistir. Entre eles nasce uma obsessão proibida, uma chama que ameaça devorar os dois. Ele tenta resistir, mas a obsessão cresce como um veneno. Ela desperta nele algo que acreditava estar morto: o impulso de possuir, de marcar, de destruir, de fazê-la sua. Ele acredita que pode controlá-la. Ela acredita que pode escapar dele. Mas em um mundo onde correntes prendem mais do que corpos, e onde cada toque é tanto promessa quanto ameaça, a verdade é implacável: Quando Nikolai Romanov decide tomar algo, nada, nem o céu, nem o inferno, pode detê-lo.

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