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BOX O filho do meu noivo

BOX O filho do meu noivo

Jéssica Amaral

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78
Capítulo

Uma adolescente forçada pelo pai a se casar acaba descobrindo o amor. O único problema é por quem ela se apaixona: um cara amoroso, mas complicado. Mas esse não é o problema e sim o fato dele ser o filho do homem a quem foi prometida.

Capítulo 1 1°

Estamos no século XXI certo? Eu acho que sim. Às vezes, fico na dúvida, sabe? Isso porque meu pai quer me obrigar a casar com um cara. Sim, é um absurdo! E toda vez que tento opinar, ele me manda calar a boca e respeitá-lo porque sou menor de idade. Será que tem alguma lei que proíbe esse tipo de coisa? Gostaria de entender mais sobre isso...

Estava em meu quarto no meio de uma crise de raiva. Isso porque meu pai tinha acabado de me dizer que meu "noivo" ia chegar a qualquer momento para me conhecer. Interessante não? Me conhecer. Me sinto como um cavalo à venda. Onde o comprador vem avaliar para ver se o animal está em boas condições. Se ele me pedir para ver os dentes, não vou achar estranho.

— Filha?

— Hum... — resmunguei irritada. Odeio que venham falar comigo quando estou nervosa.

— Tome um banho e coloque a roupa que eu escolhi.

Olhei o vestido em cima da cama e fiz careta.

— Eu não vou tomar banho coisa nenhuma! Se ele quiser mesmo essa droga de casamento, vai ter que me aturar do jeito que eu sou!

— Você ama tomar banho, Lara.

— Sim, mas não para agradar a ninguém e sim a mim mesma!

— Abre a porta, Lara.

— Não!

— Vou pegar a chave reserva.

Revirei os olhos e abri aquela droga. Sem olhar para ela, voltei a me sentar na janela.

— Sei que está irritada, mas você tem que entender que isso é o melhor.

— Pra quem? — perguntei azeda.

— Para todos.

— Só se “todos” for você e o papai.

Ela respirou fundo. Era muito difícil minha mãe brigar comigo, mas em compensação meu pai, era 24 horas por dia.

— Vamos, minha filha. Um dia você vai entender tudo.

— Por que em vez de dizer isso você não me conta o que vou entender um dia?

— Não adianta falar nada agora. Qualquer coisa que eu ou seu pai falarmos, você inverterá porque não quer casamento.

— Tem razão.

— Ande, tome um banho.

Levantei irritada e fui para o banheiro resmungando.

Demorei muito mais do que o normal. Fiquei tentando imaginar como era esse “noivo”. Só consegui pensar em careca, baixinho e barrigudo. Não veio nada mais na mente. Espero que esteja errada... Mas no fundo sei que vou odiar isso mais do que já odeio.

Coloquei o vestido que minha mãe arrumou. Eu até gosto de vestido, mas não sou de usar muito, sabe? Gosto de ficar à vontade e geralmente vestido me tira essa liberdade.

Fiquei sentada na janela olhando para fora. Dali dá para ver quem chega. Tenho visão privilegiada do portão e da estrada. Um carro luxuosíssimo apareceu na estrada. Será que meus pais seriam tão mesquinhos ao ponto de me casar por dinheiro? Porque pelo carro... Ele deve ser podre de rico.

— Filha, ele está chegando. — Minha mãe apareceu no quarto falando isso.

— Percebi — falei olhando o portão se abrindo para o carro passar.

— Vamos.

— Ei, mãe...

— Oi.

— Se eu for maior de idade, meu pai não pode me obrigar a casar, não é?

— Eu não sei. — Franziu a testa.

— Eu acredito que não, pois quando se é maior de idade, você já é dono do seu próprio nariz.

— Pode ser, mas...

— Era só isso que queria saber.

E era a melhor arma que eu tinha. Tenho seis meses para infernizar a vida desse cara para que ele não queira se casar comigo. Isso vai ser divertido. E se vierem outros, vou fazer um inferno também. Assim dá tempo de fazer dezoito anos e não ser obrigada a nada!

Segui com minha mãe para a sala de estar. Meu pai estava lá e me olhou de cima para baixo me avaliando. Revirei os olhos com isso.

— Comporte-se e não revire os olhos.

Revirei de novo e ele ficou sério.

— Mais alguma coisa? — perguntei com deboche.

— Fale o menos possível.

— Ótimo. Não quero papo com ninguém mesmo.

— Lara... — minha mãe chamou minha atenção.

Meu pai se aproximou e ficou me encarando. Sei o que é isso, ele quer me intimidar e mostrar quem manda. Odeio quando faz isso comigo, principalmente quando tem pessoas olhando.

Desviei o olhar para os pés e ele se afastou de mim. Minha mãe arrumou minha roupa e depois ajeitou meu cabelo.

— Você está ótima.

Não respondi e olhei o lugar onde meu “noivo” apareceria.

Um tempo se passou e dois homens entraram no local. Um era alto e tinha a pele morena. Usa um terno preto e tem os braços para trás e uma postura impecável. O outro é baixinho e careca.

Ótimo!

— Seja bem-vindo, Sr. Lorenzo. Espero que tenha corrido tudo bem em sua viagem.

— Obrigado. Foi uma viagem tranquila. Essa é sua filha? — falou olhando para mim. Não me mexi e nem abri a boca. É para ficar em silêncio, certo?

— Sim. Essa é minha filha querida.

Resisti a tentação de revirar os olhos quando meu pai falou isso.

— É uma bela garota. Parabéns.

— Obrigado.

— Podemos conversar em um lugar mais reservado?

— Claro. Me acompanhe.

Eles saíram da sala. Meu pai e o homem baixinho na frente e o alto moreno atrás.

— Aquilo é um guarda-costas?

— Sim.

— Só pode ser brincadeira — resmunguei e me joguei no sofá.

— Lara! Sente direito!

— Eu não posso fazer nada! Não posso falar nada! E não posso sentar como gosto! Que coisa mais chata isso!

— Fala baixo, Lara...

— Estou cansada! Eu não quero me casar com ninguém! Ainda mais aquele cara! Mãe, eu sou mais alta do que ele! — falei indignada.

— Isso não tem importância.

— Só se for para você — respondi rabugenta.

— Tudo será entendido depois.

— O que mais tem nessa história que eu não sei?

— Nada.

— Parece que tem.

— Não tem nada, Lara. Você precisa obedecer a seu pai e controlar seus impulsos. É o melhor para você que faça tudo como ele disser.

— Sou uma marionete.

— Filha...

— Tenho que ficar aqui esperando?

— Sim. — Ela suspirou.

— Ótimo! — falei com ironia.

Pareceu que se passaram horas desde que entraram no escritório do meu pai. Já estava cochilando no sofá quando minha mãe me sacudiu e me puxou para ficar em pé.

Levei um tempo para me recompor e os três apareceram. Estavam sorridentes e eu não gostei disso. O segurança estava sério, mas os dois eram só sorrisos e risadas. Queria eu poder rir assim...

— Combinado, então. Volto em uma semana.

Olhei meu pai e ele me ignorou.

— Vamos estar esperando.

— Até mais, Senhorita.

— Até — respondi com um sorrindo forçado.

Os dois saíram da casa e eu me joguei no sofá. Uma semana? Será que é para me levar embora? Só pode ser. Depois de casados, o marido pode devolver a noiva? Eu espero que sim, pois se vou morar com ele, vou fazer um inferno e ele vai me odiar. Espero que me mande de volta para casa.

Meu pai apareceu com um largo sorriso no rosto. Como não tinha mais baixinho e careca aqui, revirei os olhos ao ver a cara de felicidade dele.

— Então, como foi? Se sente bem em negociar a própria filha?

O sorriso sumiu na mesma hora.

— Isso não é um negócio. É seu futuro.

— Achei que meu futuro pertencia a mim e não a você — respondi carrancuda.

— Você não sabe nem controlar suas atitudes! Quanto mais o seu futuro.

— Futuro não existe. O que existe é o aqui e o agora.

— Por isso eu me encarrego de tudo a seu respeito.

— Não sou seu objeto! — falei um pouco alto. Ele se aproximou e começou o olhar intimidador. Odeio isso!

— Vá para o seu quarto e só saia na hora da escola.

— Ótimo! Não quero ver a sua cara mesmo. — Virei as costas e segui para o meu quarto.

Custei a dormir nesse dia. O que será de mim ao ser levada por aquele baixinho? Achei que ele ia ficar vindo aqui me conhecer mais, aí poderia colocar meu plano em ação. Não que eu não vá fazer isso, mas seria mais fácil aqui do que na casa dele.

Pode ser que fique irritado e me jogue na rua. Não sei onde ele mora, se é perto daqui ou muito longe. Quem sabe em outro país! Meu pai não me disse nada. “Sou encarregado de tudo e você só tem que obedecer”. Odeio ouvir isso!

***

Acordei com o sol em meu rosto e levantei da cama lentamente. Dormir mal é a pior coisa que existe. Eu fico de muito mau humor. Tomei um banho rápido, coloquei o uniforme da escola e fui tomar café da manhã.

Assim que cheguei na cozinha sorri ao ver Maria arrumando a mesa para mim. Ela é a cozinheira e arrumadeira mais legal da face da Terra!

— Bom dia, menina!

— Bom dia! Isso está cheiroso.

— Coma tudo! Você está muito magrinha.

— Você e sua mania de querer me engordar. — Mordi um pedaço de bolo e suspirei. Não existe ninguém nesse mundo que cozinhe como essa mulher!

— Está pele e osso, menina! Tem que comer.

— Estou comendo — falei de boca cheia e ela riu.

Depois de comer até quase explodir, fui para a escola. Uma pequena van vinha me buscar. Moro em um lugar distante e se for a pé, preciso de pelo menos um dia de caminhada. Sim, eu moro no fim do mundo. E não me importo com isso. Gosto de cuidar dos animais da fazenda. Eles pelo menos me entendem.

Sentei no fundo da van e suspirei. Eu era sempre a primeira a entrar. Depois a van ficava cheia, conforme Arthur pegava as outras pessoas. Minha amiga Isabeli era sempre a segunda. Ela é a única amiga que eu tenho nesse lugar.

Que foi? Eu sou “roceira”, as pessoas não gostam muito de mim por aqui. E eu não ligo, pois gente chata tem que ficar longe mesmo. Por isso eu sempre digo: prefiro falar com vacas do que com esses humanos que estudam comigo.

— E aí? Como estão as coisas com esse seu casamento maluco?

— Nem me fale sobre isso! O cara é do jeito que imaginei.

Ela caiu na gargalhada quando falei isso. Sabia muito bem minha imaginação do futuro noivo. E isso não tem graça nenhuma!

Resmunguei um palavrão e ela riu mais alto fazendo as pessoas da van olharem para a gente.

— Se fosse um cara lindo? Você ia reclamar?

— Claro que ia! Eu não sou obrigada a casar!

— Na verdade, é.

Fiquei em silêncio olhando para fora do vidro. Não queria discutir com ela. Essa história de casamento já me tira do sério por existir. Não quero brigar com minha única amiga por causa dessa coisa inútil que meu pai inventou. Sabe-se lá pra que!

Chegamos à escola. Estava no terceiro ano do ensino médio e em uma semana entraria de férias. Eu não era uma aluna ruim, mas minhas notas também não eram as melhores. Estava na média. A primeira aula era de matemática. Eu disse que as pessoas não gostam muito de mim, certo? Elas não gostam no dia a dia, pois na aula de matemática é “Lara, me ajuda com essa?”, “Lara, você entendeu?”, “Pode me explicar, Lara?”. Por isso gosto de animais! Eles não são interesseiros!

Sim, sou a melhor da turma em matemática. Muitos dizem que essa matéria é difícil e chata, mas eu não acho. Gosto de números. Pessoas são mais complicadas, números são melhores de decifrar.

— Pronta para aula de educação física?

— Não me lembre dessa droga!

O que tenho de boa em matemática, tenho de péssima em educação física. Geralmente sou massacrada nos jogos e todos odeiam me ter no time. Sempre sou a última a ser escolhida. Mas eu tenho certeza que se me colocarem em cima de um cavalo, não vai ter para ninguém. É a minha paixão!

Tenho uma égua chamada Teci. Todos cobiçam ela. E sei porque: ela é toda branca e linda. É a melhor égua que temos na fazenda. Uma vez meu pai tentou vendê-la, claro que fiz um escândalo, mas como todas as vezes que meu pai me ignora, ele não me ouviu e um homem a levou. Fiquei três dias sem comer por causa disso, mas felizmente a Teci também é apaixonada por mim e o homem a devolveu dizendo que ela era selvagem.

Foi o dia mais feliz da minha vida quando ela voltou e nós saímos cavalgando na frente do homem para mostrar que os animais não são produtos de vendas, eles também têm sentimentos! Meu pai não gostou nadinha disso, mas eu não dei ideia para ele. Estava feliz demais para deixar que estragasse tudo.

***

Meu dia foi intenso, vendo que tivemos que jogar vôlei e eu nunca consigo jogar a bola. Sempre pulo cedo demais ou tarde demais para bloquear e o outro time faz ponto. E no saque é melhor nem comentar... Se quiser pode perguntar à garota que acertei a testa, ela vai dizer como sou boa nisso.

Agora estava na van voltando para casa. Esse é o melhor momento do dia. Depois da escola eu fico o tempo todo no estábulo. Minha melhor companhia é a Teci. Não sei o que vou fazer quando esse meu noivo vier me buscar. Não quero deixá-la. Ela é muito apegada a mim e pode sofrer se não me ver mais. O que posso fazer?

Assim que desci da van corri para dentro de casa e troquei de roupa. Segui para o estábulo sem falar com ninguém. Não gosto de encontrar meu pai. Ele começa a falar da minha vida como se fosse uma propriedade dele e fala de um jeito autoritário que me tira do sério. Prefiro ficar longe. Só quando não posso evitar que encontro ele.

Antes mesmo de me ver escutei a Teci relinchar. Ela sempre sabia quando eu estava chegando, o mais incrível era que só fazia isso comigo.

A história da Teci é meio triste. Encontrei ela ainda um potro, presa em uma armadilha de caçador. Aquilo me irritou tanto! E foi muito difícil tirá-la daquilo, estava muito assustada e tentou me morder várias vezes. Por fim, consegui soltar. Ela tentou fugir, mas não conseguiu, então, com muita calma, me aproximei e mostrei que não ia fazer nada de mau. Teci custou a confiar em mim. Não pense que a trouxe para casa no mesmo dia. Tive que ficar levando comida e remédio para ela por um tempo. Ela não levantava de jeito nenhum. A pata estava machucada e ela não confiava em mim para vir comigo.

Aos poucos, fui me aproximando e cuidei de sua pata. Quando ela ficou curada, achei que poderia correr por aí e procurar sua mãe, mas ela me seguiu até em casa e desde aquele dia não desgrudou mais de mim.

Quando ela me viu relinchou mais forte e sacudiu a cabeça.

— Tudo bem, garota. Já estou aqui — falei esfregando seu focinho.

Entrei no estábulo e fiz carinho no pescoço dela. Teci cheirou meu cabelo me fazendo rir. Arrumei a sela. Teci não gosta muito disso, mas eu só cavalgo nela sem nada quando estou com raiva e preciso sair de perto do meu pai às pressas, aí vai no pelo mesmo.

Caminhei para fora do estábulo e a Teci veio atrás de mim. Não preciso puxá-la. Assim que solto, ela me segue onde vou. As terras do meu pai são bem grandes, nisso tenho que elogiar. Porque quando ele me irrita, pego a Teci e sumo por entre as árvores e ele não consegue me achar.

Montei nela e corri pelo gramado. Era nesse único e exclusivo momento que me sentia livre. Podia ir onde quisesse e na melhor companhia de todas. Não tinha meu pai, não tinha noivo, não tinha problemas. Só o vento batendo em meu rosto e bagunçando meu cabelo.

Era a melhor sensação do mundo.

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