Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
A Menina de Peshawar

A Menina de Peshawar

Lucas Rodrigues

5.0
Comentário(s)
276
Leituras
2
Capítulo

A menina de Peshawar - uma cidade importante do Paquistão - é uma paquistanesa sonhadora que vai à luta pelo seu sonho: estudar numa universidade. Depois do controle do Partido dos Estudantes no país, o tratamento para com as mulheres ficou mais rígido. Assim, a menina de Peshawar ficou impedida de estudar. Mas, ela não vai desistir do seu grande sonho, mesmo que para isso tenha que arriscar a própria vida e deixar o país. Nisso, acaba conhecendo um rapaz com as mesmas aspirações de deixar o Paquistão e ter uma vida melhor. Os dois vão enfrentar dissabores e dramas em suas vidas que vão ser misturados ao grande sonho.

Capítulo 1 Abertura

“Eu sempre pensei em um mundo onde nós mulheres tivéssemos voz. Em que os homens olhassem para nós como alguém de valor, não como um mero objeto. Aqui em Peshawar, vejo que as mulheres são menosprezadas. Enquanto estamos novas, somos bem tratadas. Não que esse sentimento seja sincero. Eles só querem se aproveitar de nós. Depois que envelhecemos e ganhamos o primeiro, segundo e posteriores filhos, então a coisa muda. Os homens só querem usar os nossos corpos. Eles não têm coragem de assumir uma mulher por toda a vida. Quando menos se espera, se descobre que já foram atrás de outra.

Eu sei que a minha religião permite o casamento com mais mulheres, mas eu acho uma falta de respeito o que fazem conosco. Ao casar, somos o amor da vida deles. Depois, conforme os anos passam, somos meras escravas domésticas.”

Peshawar, Abril de 2021.

A pandemia fez com que o mundo mudasse sua maneira de enxergar as coisas. Medidas sanitárias como uso de máscara, distanciamento, lavagem de mãos e cuidados especiais com a higiene converteram as pessoas em cidadãos mais conscientes e cautelosos.

Apesar de tudo isso, a população paquistanesa não parece estar tão preocupada com isso. Não se atentaram para as medidas sanitárias prescritas pela Organização Mundial de Saúde. A uma população adestrada por padrões religiosos – ainda que a religião ensinasse isso, mas líderes despreocupados preferem ignorar a ciência – não se pode cobrar tanta disciplina. O fato é que não obedecerão as regras. O lema nacional é “Iman, Aktad, Nizam” (Fé, Unidade, Disciplina). A disciplina ali é a imposição de leis e regras islâmicas, o que não implica na formação de um indivíduo apto à obediência de regras sanitárias. Coisas assim independem da religião, etnia, língua, etc.

Peshawar está na banda oposta (ocidental) do rio Indus (o principal do país, que corta todo o território paquistanês), se opondo à capital Islamabad. Sua região fronteiriça com o Afeganistão já gerou diversos conflitos.

Se a vida no Paquistão é bastante sufocada, principalmente sobre as regras impostas às mulheres, no Afeganistão é ainda pior. Isso fez com que muita gente intentasse a travessia, a fim de alcançar o país vizinho.

Peshawar, assim como Islamabad, é uma cidade que abriga gente de diversas etnias, línguas e religião. Como idioma oficial tem o urdu e o inglês para relações exteriores. O Paquistão é um país antiquíssimo e o seu povo carrega em seu código genético a marca de batalhas e vitórias. Ser feliz é a sua jihad!

“Bendito seja o solo sagrado. Feliz é o domínio liberal...”, no Paquistão se canta assim. Mas onde está o domínio liberal? A menina de Peshawar se pegava fazendo perguntas como essa. Ela não entendia por que teria que ser um ser inferior, sem os mesmos direitos de entrar numa universidade, se formar, ser alguém melhor na vida, ajudar sua família. O Paquistão tem diversas universidades. Nenhuma delas para mulheres.

A menina abriu a janela do seu quarto, deixou os raios de Sol entrarem, iluminando sua cama. Sentiu o ar fresco tocar as maçãs do rosto. Respirou fundo e inspirou-se.

Pássaros faziam a festa no céu de Peshawar. No comércio, o povo estava animado. Era a hora de fazer pequenas compras para o almoço. A menina de Peshawar adora cozinhar, ajudando a sua mãe no preparo da comida para os irmãos mais novos. Mas, aos vinte anos de idade, ela não vê sua vida limitada às tarefas domésticas, nem mesmo a uma vida privada dentro de sua ghar (casa).

“Mulheres têm os mesmos direitos dos homens. Esta é a minha jihad!”

Uma música tocou em seu coração ao sair pela porta de casa rumo ao Market (comércio/feira) local. A menina encostou a porta de madeira, virando a maçaneta, desceu uma pequena escada de três degraus e seguiu pela rua. A feira não ficava muito longe dali.

Tu és tão especial,

Importante és pra Allah.

Nunca deixes de sonhar,

Luta até o fim, creia...

Por todos os meus ideais,

Batalhando rumo ao céu.

Esta é a minha Jihad(*),

Vou até o fim,

Luto sem cansar.

E esta luta se aproxima

Como sempre esperei.

Vou avante,

Não desisto.

Sei que um dia vencerei.

(*) Jihad é uma expressão islâmica para demonstrar luta e força. Expressão muito aplicada às guerras santas muçulmanas. No âmbito religioso, é o dever de todo o muslim (seguidor do Islamismo) a defender a sua iman (fé). Para muitos, essa palavra se aplica no contexto de luta pelos ideais.

A menina de Peshawar, assim como outras mulheres têm que cobrir a cabeça. Usam algumas roupas “religiosas” como o hijab e hijab Amira, nikab, shayla, khimar, chador, nikab e a burqa que se usa apenas no Afeganistão. Ela estava usando um hijab cor azul ciano. Com as bochechas sempre coradas, a menina de pele caramelo claro tinha um lindo sorriso e olhos fofos.

Sua doce voz ecoou na feira:

“Salam! Quero pepinos, batatas, tomates, cenouras, alface”.

“Assim está bom?”

“Ótimo! Shukriyah (Obrigada).”

“Ap ka khaer muqaddam hae (de nada).”

Ela ainda pode desfrutar desse pouco de liberdade. Pode sair de casa, sempre com a cabeça coberta, mesmo que sozinha. Alguns direitos não são privados a ela. Mas a garota tem um grande sonho.

De volta pra casa, deixa as sacolas com as compras da feira postas sobre a mesa. Lava os antebraços e mãos para ajudar sua mãe no preparo da comida. Além dela, Hadija é mãe de dois meninos mais novos, Boulos (de oito anos) e Zedek (de seis anos). É um gasto considerável de alimento, além do jantar que é sempre servido na presença de Omar, o chefe de família.

Peshawar é uma cidade que sempre recebeu gente de várias partes do mundo. Naturalmente fundada por pashtuns, passou a ser visitada e explorada por mongóis, quando tiveram o intento de ligar Deli (na Índia) a Cabul, capital do Afeganistão. A estrada passava justamente por Peshawar. Desde o século XVI, mudanças ocorreram sobre o fluxo migratório ali.

Hadija veio de uma família conservadora de Cabul, enquanto Omar tinha origens do povo sique (de Punjabi, na Índia) e da cidade de Lahore (no leste do Paquistão).

Em casa, todos falam urdu como os demais habitantes da cidade. Além do idioma padrão, utilizam o dialeto local dos pashtuns, o peshawari. Omar sabe falar o punjabi padrão, mas só usa quando recebe ou visita algum familiar de Lahore.

Ali na cidade, há duas quadras da casa da menina de Peshawar, tem uma banca de revistas e jornais, que com o passar do tempo passou a ser um ponto de venda de literatura religiosa e notícias locais narradas por jornalistas islâmicos. A cidade, assim como o país, é de maioria muçulmana, com minorias cristã e hindu.

A venda de Alcorão (livro sagrado do Islã) é a principal fonte de renda, juntamente com os jornais de caráter religioso. A censura é muito grande em todo o país para se fazer um jornalismo sério.

Na banca do senhor Said trabalha um jovem alto, cabelos e olhos pretos, moreno, magro, de semblante sério, espírito sereno. Ele tem vinte e dois anos e trabalha ali há um ano e meio.

“Hasan?”, Said o chamou para ajudar-lhe com uns livros.

“Sim, senhor.”

“Tenho algumas caixas com uns livros antigos. Gostaria da sua ajuda para separar o que presta e o que não presta.”

Eram livros antigos. Muitos deles questionados pelas autoridades muçulmanos. Os “imans”, homens que ensinam sobre a fé islâmica, não eram muito fãs daquele tipo de conteúdo. O senhor Said jamais expunha aquele conteúdo para os seus clientes. Desde o último governo do Partido dos Estudantes, que terminou há vinte anos, Said não fazia mais uso deles. Ficaram no esquecimento, numas caixas de papelão por anos.

“Quais devo jogar fora e quais devo guardar?”

“Lhe direi. Estes daqui...” – Apontou para livros em que vinham a favorecer a ciência e desfavorecer ou questionar a fé ensinada no livro sagrado como o tipo de conteúdo a ser descartado. “...Deve separar para ser queimado.”

“Está bem.”

“Shukriyah.”

“De nada.”

Desde a queda do Partido dos Estudantes, a religiosidade não foi tratada com tanta seriedade no país. Ainda assim, Said fazia questão de ir à mesquita rezar cinco vezes ao dia. Ele tinha o seu tapete de oração, confeccionado num bordado dourado sobre uma textura grená persa. Fazia uso do tapete sempre que tivesse que atender clientes no horário das orações e Hasan não estivesse ali para ajudá-lo.

Toda rosa, com três portas, sendo uma maior (principal) e outras duas menores, dois postes de luz nas extremidades, postos na calçada, ambos dourados com seis lâmpadas (duas a duas de frente uma para a outra) à mesma altura e uma sétima central, mais alta que as demais.

Dois minaretes (**) principais nas extremidades com outros dois menores mais ao centro. Todos eles adornados com uma pequena cobertura circular branca. Algo notado em todo o telhado da mesquita. Essa é a descrição da Mesquita Sunehri, em Peshawar.

(**) Minaretes, da palavra manara no árabe, significa farol. São faróis (torres, postes) postos nas mesquitas. Ali é o local por onde o muezim (almuadem) – pessoa encarregada de fazer o chamado para as cinco orações diárias – faz ecoar sua voz, chamando os muslimes para as suas preces. É como se fosse o poste de som para o chamado de orações na mesquita.

Said tinha a prática de ir à mesquita Sunehri cinco vezes ao dia para as orações. Todas as sextas, dia de Jummat Mubarak (dia sagrado do islamismo), passava a maior parte do tempo dentro da mesquita, recitando o Alcorão. A leitura da Jummat se concentrava mais nos pouco mais de cem versos da surat (capítulo) dezoito do Alcorão.

Ele é um senhor conservador. Em muita coisa concordou com a política do Partido dos Estudantes, discordando de algumas. Mantém o cabelo sempre baixo, barba crescida do tamanho de um punho cerrado, fez(***) na cabeça. Sua roupa é sempre como as roupas religiosas para homens no Islã, a túnica kameez (geralmente uma combinação de calça e túnica da mesma cor).

(***) Fez é um pequeno chapéu, geralmente numa única cor, combinando ou não com a túnica, usada por muçulmanos – principalmente entre os mais religiosos.

As cinco orações diárias do Islã são muito importantes para a fé muslim. Um verdadeiro mulçumano entende desde cedo que a oração e a adoração estão intimamente relacionadas. Said entendia isso muito bem. Fazia as cinco orações na mesquita. Suas orações eram respectivamente: fajar, zohar, asar, maghrib e isha.

Ao nascer do Sol, seguindo o chamado do almuadem, Said saía de casa e caminhava alguns metros até a mesquita para fazer a salat-ul-fajar. Ao meio dia, seguindo o segundo chamado, fazia a salat-ul-zohar. No meio da tarde, fazia a salat-ul-asar. Ao pôr-do-Sol fazia a salat-ul-maghrib. À noite, fazia a salat-ul-isha. Todas as orações eram feitas de forma rigorosa na mesquita Sunehri.

O jovem Hasan não era rigoroso assim. A verdade é que ele nem era religioso. Muçulmano de berço, mas não de prática. Seguia os demais homens nas sextas (Jummat Mubarak) na mesquita. Porém, não praticava as cinco salat como pede a religião. Nem mesmo um tapetinho de oração carregava para a loja do senhor Said.

Ele mantinha um penteado mais ocidental e não deixava a barba crescer. Usava roupas modernas no estilo europeu. O seu sonho era ir para os Estados Unidos. Estava ali trabalhando para o senhor Said e juntando dinheiro para um dia deixar o Paquistão de uma vez por todas.

Era um rapaz bonito. Apesar de não corresponder os tímidos olhares furtivos das garotas que por ele passavam. Na escola sempre foi um rapaz sério, quieto e estudioso. Não tinha muitos amigos.

Quando começou a trabalhar ali, via sempre o fluxo de alunas de uma madrassa (escola islâmica) passar em frente à loja de artigos religiosos e jornais. Muitas delas de rosto simpático, ostentando lindos hijabes. Uma delas, em especial o olhou pausadamente. Se olharam por cerca de meio minuto.

“Hasan! Venha cá”, o senhor Said o requeria em alguma coisa no trabalho. Foram trinta segundos suficientes para gostar daquela garota. Uma garota que ele não mais viu, pois era o último dia letivo dela na madrassa. Terminaria a sua jornada estudantil, vivendo integralmente dentro de casa.

No Paquistão as meninas não fazem faculdade. Não há permissão para isso. Mesmo com a queda do Partido dos Estudantes, nunca foi votado em pauta a questão do estudo universitário feminino. Elas ficaram de fora. Mas, a filha de Hadija tinha um sonho, que era de se formar numa universidade. Ela não sabia como, mas reunia força dentro de si para continuar sonhando.

“Batalhando rumo ao céu”, assim cantava de frente para a janela do seu quarto, vendo o céu azul. Cantava baixinho, sussurrando. Só ela e Allah (Deus) poderiam ouvir aquela canção.

Hasan era um rapaz sonhador. Desejava uma vida melhor nos Estados Unidos. Era órfão de pai e mãe e vivia com seus tios. Não tinha uma relação muito boa em casa. Seus primos não gostavam dele por ele ser o mais velho ali.

“Você jamais será o primogênito desta casa. Você não tem o direito de nada aqui. Só eu e meu irmão. Entendeu?”, seu primo esbravejou na cara dele – enquanto estava sentado na cama, pensando na vida – e cuspiu em seu rosto. “Isso é o que você merece!”

Hasan não aguentava mais aquele tipo de humilhação. Não via a hora de ter o dinheiro suficiente para se mudar para a América. Ao ver algum avião cortar o céu sentia-se dentre dele. O sonho em conhecer os Estados Unidos é antigo, desde criança.

Oitavo dia do mês de Abril de 2021, Peshawar. A temperatura média é a de 27ºC. Abril é um mês de temperatura moderada, nem tão frio nem quente. A temperatura mínima é de 19ºC e a máxima de 35ºC. Pode acontecer mudança brusca na temperatura, por exemplo um amanhecer com 19ºC e meio-dia com 35ºC. Isso pode acarretar uma fragilidade no sistema respiratório de algumas pessoas, fazendo com que fiquem mais vulneráveis a infecções virais no trato respiratório. Isso ocorre mormente quando o dia atinge a máxima e a noite a mínima (35ºC e 19ºC respectivamente).

Said é um homem de idade e pretende manter sempre sua saúde em dia. Evita sair de casa em dias de chuva ou dias muito frios, saindo apenas para trabalhar. Quando o tempo muda muito, pede para que Hasan tome conta da loja sozinho até ter condições para ir ao trabalho.

Quanto à pandemia, ele não tem muito que se preocupar. Por ser um religioso fervoroso está sempre lavando as mãos e antebraços para fazer a dua a Allah (uma súplica/oração a Deus), cumprindo rigorosamente com as cinco salat fundamentais.

Abril é um dos meses mais secos (o segundo mais seco), com apenas 34% de umidade. No máximo quatro ou cinco dos seus dias são chuvosos, chovendo cerca de 27 milímetros.

A baixa umidade afeta bastante a saúde do sistema respiratório das pessoas. Diante de uma pandemia, cuidados são necessários. Muitos deles, como o de se hidratar sempre, são ignorados por muitos moradores de Peshawar. Caminhando pelas medinas (ruas) é possível ver pessoas ignorando regras de distanciamento, uso de máscaras e tossindo em público.

O tempo seco colabora para o surgimento de crises respiratórias. Para uma evolução no quadro clínico de uma simples crise para uma crise respiratória aguda grave é em questões de horas. O organismo se debilita e fica predisposto a ações de vírus que afetam o sistema respiratório.

Sabendo que a pandemia não é de uma doença que apenas compromete o bom funcionamento do sistema respiratório, mas, também, agride o sistema circulatório, os cuidados devem ser redobrados. Há um grande risco do surgimento de acidentes vasculares.

Said teve um princípio de AVC (acidente vascular cerebral) em Abril de 2019. Ele não quer passar por isso novamente. Por isso, tem buscado sempre os cuidados médicos. O mês de Abril sempre lhe virá à memória do ocorrido há dois anos, quando quase perdeu sua vida.

“Eu me vi num leito de hospital dando o meu último suspiro”, afirma Said ao relatar a história para os seus amigos.

Ele tem alguns amigos inseparáveis que carrega há anos. Eles costumam passar na loja, após a oração de asar, para tomar chá (chai). Haviam bons vendedores de chá (chai wala) nas feiras da cidade. Said tinha o seu vendedor preferido que sempre reservava as melhores ervas para ele.

“Meu caro, Salamaleikum!”

“Waleikum assalam!”

“Quero daquelas ervas caprichosas que tens.”

“Aqui estão.”

“Muito obrigado!”

“De nada. Volte sempre!”

Hasan estava animado. Pelos seus cálculos, faltavam apenas mais dois meses trabalhando com o senhor Said. Teria dinheiro suficiente para o seu passaporte, visto, passagem aérea e economia para se manter nos primeiros meses até encontrar um emprego nos Estados Unidos. Em breve poderia gritar o grito de liberdade!

O senhor Said sabia do sonho do garoto, mas o alertou bastante sobre os perigos de uma vida no Ocidente. “O padrão ocidental – do qual você gosta muito de copiar – não é sempre de acordo com a fé islâmica. Tenha muito cuidado com quem vai andar por lá e o que fará por lá.” Said sempre experiente sabia dos perigos que um muçulmano sofre em terra estranha. Por ser muito religioso, sempre tentava colocar na cabeça de Hasan que ele deveria ir primeiro à cidade santa do Islamismo, Meca (na Arábia Saudita). Isso estava fora de cogitação. O rapaz queria mesmo é ir para a América.

Em casa, era uma grande luta com seus primos. Os seus tios sempre o trataram muito bem, desde quando ele foi adotado por eles aos oito anos de idade. Já estava ali com eles por doze anos. Seus primos o detestavam.

As bênçãos costumam ser depositadas sobre o filho mais velho (o primogênito). Hasan era como um filho para os seus tios. Isso gerava um certo conflito ali dentro. Seus dois primos sempre tentavam sabotar suas coisas. Agora, Hasan estava com tudo para ter uma nova vida bem diferente e distante deles.

Do outro lado da cidade, uma linda menina também sonhava. A menina de Peshawar deitava sobre a cama no quarto e fazia do travesseiro o apoio a seus pensamentos. Seu sonho também era de deixar o país. Pensou na Europa, mas os Estados Unidos pareceram a ela um lugar acolhedor.

Estava disposta, mas não sabia como. Sem dinheiro para sequer tomar uma condução até a capital Islamabad seria praticamente impossível realizar seu sonho: estudar numa universidade.

Mesmo assim, ela não desistia. “Sei que um dia vencerei”, assim cantava e fazia dessa música a sua oração. “Esta é a minha jihad!”

Continuar lendo

Você deve gostar

Capítulo
Ler agora
Baixar livro