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Capítulo

Amanda é recém-formada em administração. Órfã de pai e mãe, ela vive em São Paulo junto com duas amigas, Marina e Laura. Quando as esperanças de um bom emprego começam a se enfraquecer dentro de si, uma luz no fim do túnel lhe da a oportunidade de sua vida. E mesmo diante de muitas diversidades, ela começa a trabalhar como secretária adjunta do CEO Felipe Marelli, que segundo seus colegas de trabalho é um homem frio, egoísta e um galinha. Entretanto, o que ela não podia imaginar era que seu chefe era um homem muito diferente do que diziam e que aos poucos foi lhe conquistando, deixando-a de pernas bambas. Juntos, os dois vão lutar por um amor que vai contra toda a família tradicional de Felipe, além de ter que lidar com uma grande traição por parte de uma de suas amigas. No fim, apenas as pessoas importantes ficarão, enquanto os outros deverão conviver com as consequências de seus atos. Mas será que esse amor conseguirá vencer todas as dificuldades e ainda permanecer aceso dentro do coração dos dois?

Capítulo 1 Um novo começo

Mais um dia se encerrava e Amanda voltava para casa sem qualquer esperança de um novo emprego. Seu corpo estava cansado e dolorido, mas a preocupação em como se manter em uma cidade como São Paulo cansava sua mente.

O medo era algo presente no coração da garota. Desde muito jovem ela batalhava para dar orgulho aos seus pais e o sonho que tanto sonharam estava escorrendo entre seus dedos a deixando sem saber o que fazer dali pra frente. O último raio solar tocou seu rosto e lhe trouxe a lembrança de quando ela e seus pais, sentaram em frente ao computador para verificar sua classificação na universidade. Ela se recordava perfeitamente do sorriso de seu pai, das lágrimas orgulhosas de sua mãe. A saudade então lhe apertou o peito.

As lágrimas já ameaçam aparecer em seus olhos, mas Amanda se negava a chorar, pois para si, aquilo significava que havia desistido e isso ela não podia fazer. Nunca.

Espantando os pensamentos ruins, ela se pôs a andar mais rápido para logo chegar em casa e ter o conforto do seu quarto, mas uma confusão na porta da pequena casinha, que ela dividia com as duas amigas, lhe chamou atenção.

― Eu já disse que nós não temos nada, eu nunca aceitei ser sua namorada. ― A voz exaltada de Marina chamava atenção de qualquer pessoa que passasse por ali. Ela discutia com um garoto que Amanda não sabia de onde tinha saído. Ele era alto, magro e tinha os cabelos pintados de azul e muitas tatuagens pelos braços e pescoço.

― Mas eu gosto de você e por favor, seja minha namorada! ― Ele exclamou manhoso, fazendo Marina revirar os olhos e bufar em pura impaciência.

― Olha João...

― Me chamo Jonas, não João. ― O garoto disse assustado. Marina colocou a mão no rosto em sinal de desconforto e vergonha, mas logo se posicionou na frente do tal Jonas.

― Tá vendo? É por isso que eu nunca namoro ou me apaixono. Desculpe Jonas, eu avisei desde o início. É melhor você ir embora e a gente deixar de se ver.

O garoto parecia que ia chorar a qualquer momento, por isso Amanda resolveu entrar em cena.

― Boa noite. ― Ela anunciou sua presença. Os cabelos ruivos de Marina esvoaçaram sobre seu rosto e seu olhar era suplicante, muito diferente do garoto que a olhava com admiração, passeando seu olhar por todo o corpo da recém chegada. ― Marina, eu preciso conversar com você.

A ruiva não precisou de muito pra sacar o que eu queria.

― Claro amiga. ― ela se voltou para o garoto e sorriu. ― Espero que você fique bem Jhony.

Na mesma hora Amanda quis rir, mas não podia sair do personagem.

― É Jonas. - ele a corrigiu, mas logo estava chamando por ela. - Marina, por favor...

― Eu realmente preciso ir Jonas. Sinto muito.

Marina colocou a mão no ombro do garoto como se estivesse o confortando, mas a ação só durou uns segundos, pois logo ela lhe deu as costas, acolhendo Amanda em um abraço deixando um coração partido na calçada.

As risadas eram altas. Laura nunca soube ser discreta quando o caso era Marina. As duas estavam deitadas em um amontoado de pernas e braços trançados. Era engraçado como elas pareciam não se desgrudar nunca. Amanda as observava enquanto comia seu lámen, sabendo que ali existia sentimentos que iam bem além da amizade.

Já tinha quase quatro anos que ela conhecia as duas. Marina era a dona da casa e para aliviar a barra resolveu alugar os quartos. Seus pais viviam em outro estado e não pareciam estar muito preocupados com a garota. Tudo que rondava ela era um mistério e ela fazia questão de não mudar isso, nem mesmo Laura a conhecia profundamente.

― É sério gente, eu não consigo me ver ficando apenas com uma pessoa. Eu quero liberdade, quero ser minha e só minha. ― Marina falou já se desfazendo do tom alegre de minutos atrás. ― Eu não consigo lembrar nem do nome das pessoas com quem eu fico.

Laura já estava séria, parecia incomodada com algo, mas não ousou dizer nada. Ela vinha do interior de São Paulo e até a adolescência ela vivia em um bairro pobre junto com toda a família, mas parece que esse é um assunto proibido e que não merece ser lembrado. Várias vezes já viu a mãe dela na porta, uma senhora muito simples que sempre tinha o olhar amedrontado, mas para ela aqueles sentimentos eram inválidos e no fim ela apenas fechava a porta na cara da pobre mulher,

― Talvez a pessoa não seja tão especial para ser lembrada. ― Amanda sentenciou tentando melhorar o humor da amiga ― Olha, não fique triste, essas coisas acontecem com quem nasceu pra viver a livre. Não se sinta mal.

Amanda falou sem entender a profundidade de suas palavras, mas aquilo bastou para a ruiva sorrir e lhe abraçar.

― Obrigado amiga, ― ela abraçou a outra e estalou um beijo na bochecha de Laura antes de sentenciar: ― eu acho que preciso de um banho.

Então ela se levantou e saiu, deixando as outras duas em um silêncio desconfortável, que foi quebrado por um suspiro descontente.

Amanda olhou para a amiga percebendo que seu olhar demonstrava mais do que eu gostaria, o que lhe deixou surpresa já que ela sempre parecia uma rocha feita de gelo. A verdade é que mesmo sendo amigas, elas pouco sabiam uma das outras, sempre que a conversa ficava séria alguém acabava saindo, se distanciando.

― Você deveria dizer como se sente. ― Amanda a alertou de forma cuidadosa.

― E ganhar um fora? Não, eu prefiro esperar isso passar.

― São sentimentos Laura, você sabe que podem evoluir e...

― Eles não vão. ― Ela cortou a Amanda já demonstrando irritação. ― Tudo vai passar, não se preocupe tanto.

Então ela saiu, deixando a amiga sozinha com seus próprios problemas.

Depois do jantar, Amanda tomou um banho e depois se deitou tentando relaxar, mas a preocupação com o rumo que sua vida estava tomando não a permitiu descansar. A garota sentou em sua cama, arrumando seus longos cabelos em um coque, buscou seu velho notebook e abriu seu e-mail para novamente ver que não tinha contato algum sobre vagas de emprego. A frustração tomou conta de Amanda, não deixando-a segurar as lágrimas que desciam quentes enquanto seu corpo inteiro tremia, não de frio, mas de medo. Como ela poderia continuar sem qualquer apoio?

A cada lágrima, o medo a sufocava mais um pouco e quando ela sentiu que não poderia respirar, chamou pelo seu pai. Implorou sua ajuda e depois de muitos anos, ela rezou. Em sussurros embargados ela pedia pra Deus a amparar. As lembranças do dia em que perdeu sua família enchiam sua mente, deixando seu coração pesado e seu choro ainda mais dolorido. Ela fechou os olhos e por muito tempo tentou dormir, mas não conseguiu.

Quando seu choro cessou e sua mente parecia mais limpa, mais leve, pegou o computador decidida a procurar novas vagas, mas acidentalmente ela clicou na pasta de spam e estava lá.

Um e-mail da companhia de cosméticos Marelli. Seus olhos arregalados não acreditavam no que viam. Sem mais demora ela abriu a mensagem e leu em voz alta.

Prezada Srtª Jatobá,

É com muita satisfação que anunciamos que você foi selecionada para a vaga de secretária administrativa. Seu prazo para entrega de documentos vai até o dia 02 de maio. Esperamos ansiosamente seu contato.

Atenciosamente,

Renata Pacheco, diretora de Rh da Marelli Cosméticos.

Amanda estava em choque. Ela nunca tinha recebido uma ligação daquela empresa e não era comum darem notícias assim por e-mail, então ela baixou o olhar para os contatos que vinham junto à mensagem e pegou seu celular comparando as inúmeras ligações que ela ― acreditando fielmente ser de presidiários que poderiam tentar lhe dar um golpe ― recusou.

Ela olhou para a data na barra de tarefas e tinha até amanhã para levar os documentos. A garota praguejou, mas logo olhou para o céu e pediu desculpas a Deus. Como ela poderia ser tão desatenta? Isso quase lhe custou um bom trabalho. Ela, então, começou a arrumar os documentos necessários em uma pasta, assim como uma de suas melhores roupas, afinal ela queria causar uma boa impressão.

Depois de tudo arrumado, ela finalmente conseguiu colocar a cabeça no travesseiro e dormir.

Às seis da manhã ela já estava de pé na parada de ônibus. Precisaria pegar um ônibus e ainda andar três quarteirões para chegar no prédio. Só de pensar nisso já lhe dava uma canseira tremenda. Porém ela não podia me dar o luxo de reclamar. Naquela manhã ela só conseguiu agradecer pela oportunidade.

O ônibus estava lotado e durante uma hora a garota ficou espremida em meio a tantas pessoas. O suor já apagava sua maquiagem, seu cabelo já não estava no lugar e ela começava a se aborrecer com o cara que estava ao seu lado tentando segurar sua mão. Foi em uma parada antes da que ela deveria descer que tudo desandou de vez.

O ônibus parou e alguns passageiros desceram e o homem que insistia em lhe assediar foi para trás de si e começou a apalpar sua bunda de forma descarada.

No momento ela se sentiu muito desconfortável e com vergonha, mas não deixaria esses sentimentos tomarem conta de si. Com a coragem tirada sabe se lá de onde, ela virou e gritou. Todos no ônibus ficaram estáticos, inclusive o motorista que a olhava pelo retrovisor. O homem levantou a mão como se estivesse rendido e foi sua deixa para dar um tapa na cara do descarado nojento.

― NÃO ME TOCA SEU NOJENTO. ― Ela gritou mostrando muito descontrole ― QUEM VOCÊ PENSA QUE É? SEU TARADO! E VOCÊS? ― Amanda olhou para todos que a encaravam como se ela fosse louca. ― VÃO FICAR AÍ PARADOS? ELE ESTAVA ME ASSEDIANDO E VOCÊS AÍ VENDO, QUAL É A DE VOCÊS? Se você fizer isso de novo eu te mato, ouviu?

Nessas alturas o homem já estava branco, o motorista já estava de pé junto com o cobrador e a maior parte das mulheres ali ainda lhe olhavam como se fosse uma aberração. Talvez isso seja muito comum no dia a dia delas ou elas estavam admirando a coragem que ela teve em delatar esse homem.

Sem esperar um desfecho, Amanda desceu do ônibus. Seu emprego era muito mais importante, por isso ela se pôs a andar e já eram quase oito da manhã quando Amanda finalmente chegou no prédio.

Antes de ir ao balcão de informações, ela entrou no banheiro que tinha por ali, olhando o estado em que se encontrava. Roupas amassadas, cabelo desgrenhado e maquiagem borrada. Um fiasco!

De forma apressada, ela se arrumou como pôde. Tirou o blazer, abriu dois botões da blusa e levantou um pouco as mangas, ela colocou sua pulseira e seu cordão da sorte, retocou a maquiagem e pronto, estava bem de novo.

Ela se olhou com atenção, respirando fundo e fazendo uma pequena oração para que tudo desse certo. O incidente do ônibus não deveria lhe abalar, por isso ela decidiu que lidaria com isso depois e empurrou tudo para o fundo da sua mente.

Caminhando lentamente, ela foi ao balcão de informações e logo a encaminharam para a sala de RH onde passou por mais uma série de perguntas chatas, assinou documentos e finalmente pediram para esperar uma pessoa que lhe mostraria o que ela faria dali em diante.

Não demorou muito para uma mulher alta aparecer e perguntar por ela. A mulher era muito bonita e elegante, seu cabelo era preto, cacheado e longo, sua pele morena combinava perfeitamente com o tom esverdeado de seus olhos. Seu corpo era esguio, cheio de curvas e se encaixava perfeitamente no vestido preto que ela usava.

Amanda se sentiu tímida e por um momento duvidei da sua sexualidade, mas esse pensamento logo se desfez quando a moça a olhou.

― Você deve ser a funcionária nova. ― Ela falou com um tom sério, olhando- a de cima a baixo. ― Eu me chamo Débora e estarei lhe orientando durante essa semana.

― Prazer em lhe conhecer, me chamo Amanda. ― A garota respondeu em tom baixo, calmo e refinado, mas no fundo ela só queria voar naquele cabelo perfeito.

― Amanda, você foi selecionada para a vaga de segunda secretária do senhor Marelli. ― Ela dizia enquanto caminhava lindamente com seu salto agulha. Amanda a seguia pelos corredores olhando ao redor e memorizando tudo o que podia. ― A sua função será a organização da agenda de reuniões e criação de planilhas com gráficos e todas as informações que forem lhe passadas. Você também irá servir seu café e almoço quando solicitado, irei lhe passar o cardápio dele. A cada reunião você deverá fazer um resumo e anexar a todos os documentos e arquivar. ― Ela continuava falando enquanto subiam até o penúltimo andar daquele prédio. Quando as portas se abriram, um salão enorme apareceu. Cada cantinho era dividido por mesas e cadeiras, onde muitas pessoas trabalhavam. Ela andou mais um pouco e Amanda a seguia abobalhada com o tamanho do local. As duas andaram até o fim daquele salão onde uma porta de vidro estava. Ali dentro tinha uma sala menor com uma decoração sofisticada e aconchegante. Duas mesas estavam postas de cada lado de uma porta preta que tinha uma placa elegante.

Felipe Marelli

CEO do grupo Marelli

Então Amanda entendeu tudo, mas antes que pudesse questionar, Débora voltou a falar:

― Essa será sua mesa e com o passar do dia vou te falando sobre outras funções que você deve fazer. Ah, antes que eu esqueça, venha trabalhar bem vestida, bem maquiada e use saltos, seu horário de almoço é às treze horas e nunca, em hipótese alguma entre ou deixe alguém entrar na sala do senhor Marelli sem autorização.

― Ok, entendi.

― Em cima da sua mesa, ― ela apontou para a mesa da esquerda. ― Está uma pasta com algumas instruções, modelos de agenda e planilhas, a senha do computador, seus horários, salário e a sua conta no banco da empresa.

Amanda assentiu já largando sua bolsa e olhando tudo com muita atenção.

― No grupo Marelli, nós trabalhamos com muita dedicação e responsabilidade. Se você foi contratada é porque nossa diretora de RH viu essas qualidades na sua personalidade. Nosso chefe é alguém muito sério e por muitas vezes ele é uma pessoa difícil, mas você vai aprender muitas coisas com ele que com certeza vai agregar na sua vida profissional. E no momento ele se encontra em uma viagem para a Itália e deve voltar em dois ou três dias. ― Ela disse enquanto buscava algo em sua mesa. Da primeira gaveta, ela tirou uma caixinha mediana e deixou em cima da outra mesa. Seu olhar era mais suave e Amanda parecia hipnotizada de novo. ― Seja bem-vinda ao grupo Marelli.

Sem jeito ela agradeceu e abriu a caixa, se deparando com um vasinho de Lírios amarelos artificiais e uma plaquinha de metal que tinha algo rabiscado.

Amanda Jatobá

Secretária Adjunta do grupo Marelli

Naquele momento, Amanda se sentiu muito agradecida e feliz. Olhou para Débora, mas ela já não estava mais ali. Aquele era um novo começo, uma nova oportunidade e ela faria de tudo para não estragar tudo.

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