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O JUIZ QUE ME AMAVA

O JUIZ QUE ME AMAVA

E.M.H.

5.0
Comentário(s)
2.6K
Leituras
5
Capítulo

Sara Travis é uma jovem de 18 anos e, nessa idade, é pressuposto que uma jovem não precise carregar o peso do mundo nas costas. Neill O'Donnell é um solteirão convicto e aos 39 anos leva uma vida tranquila e satisfatória exercendo o que ama. Ela tem uma filha de poucos meses, trabalha em um bar no coração de Dublin que se não é dos melhores, ajuda a pagar as despesas e luta todos os dias para esquecer os demônios e dores do passado que a perseguem. Ele é um homem vivido, tem como irmãos os dois melhores amigos e é o mais respeitado, para não dizer o mais temido, juiz federal de Dublin, capital irlandesa. Em seu primeiro dia de trabalho, Sara conhece um homem que não sairia da sua cabeça tão cedo e será preciso toda a sua força de vontade para manter-se longe dele, como seus instintos pedem. Neill não é homem de desistir fácil e nunca fugiu de um desafio. O que ele quer, ele tem e não será diferente com a garçonete loirinha que povoa seus sonhos desde que a viu pela primeira vez. Nessa batalha entre o instinto de sobrevivência e o desejo, quem será o vencedor?

Capítulo 1 Introdução

TW: AVISO DE GATILHO (ABUSO SEXUAL/ESTUPRO)

Esta história não contém apologias ou romantização de abusos sexuais/estupros; crimes aqui são/serão relatados/descritos da forma que devem ser vistos por todos: como unicamente crimes, puníveis por lei.

“Gatilho” expressa, basicamente, algo que, ao ser mencionado ou referido, desperta em alguém um sentimento ruim. Nesse caso, o(s) assunto(s) abordado(s) neste livro: abuso sexual/estupro/estupro de vulnerável.

Este aviso tem o intuito de alertar a quem alcançar esta história que haverá referências e/ou menções explícitas ao(s) determinado(s) assunto(s) que podem engatilhar sentimentos/sensações/lembranças ruins. Dessa forma, o leitor sabe de antemão o que vai encontrar e pode optar por prosseguir com a leitura ou não.

É importante ressaltar que, na prática, qualquer assunto pode ser um gatilho para alguém. Caso em algum momento sinta-se incomodada(o) com a leitura, por favor, me comunique ou abstenha-se da leitura imediatamente.

Obviamente, seria impossível colocar um TW* para todo o conteúdo de qualquer história, até os mais cotidianos. Não é possível adivinhar o que vai servir de gatilho para alguém. Às vezes, é difícil até para nós mesmas identificarmos nossos gatilhos. Mas alguns assuntos mais comumente trazem sensações negativas às pessoas, e essa é a razão deste aviso.

Isso não significa que você deve se privar de ler/escrever sobre o assunto, não configura uma censura, é apenas uma forma de proteger os leitores que terão acesso a esse conteúdo.

***

Dedicatória

Para todas as Saras desse mundo.

***

Epígrafe

Porque você trouxe as chamas e me fez passar pelo inferno

Eu tive que aprender a lutar por mim mesma

E nós dois sabemos toda a verdade que eu poderia dizer

Mas vou apenas dizer que isto é o meu adeus a você

(...) Sem mais monstros, posso respirar novamente

E você disse que eu estava acabada

Bem, você estava errado e agora o melhor ainda está por vir

Porque eu posso fazer isso sozinha

E não preciso de você, encontrei uma força que nunca havia conhecido.

Praying – Kesha

***

Sinopse

Sara Travis é uma jovem de 18 anos e, nessa idade, é pressuposto que uma jovem não precise carregar o peso do mundo nas costas.

Neill O'Donnell é um solteirão convicto e aos 39 anos leva uma vida tranquila e satisfatória exercendo o que ama.

Ela tem uma filha de poucos meses, trabalha em um bar no coração de Dublin que se não é dos melhores, ajuda a pagar as despesas e luta todos os dias para esquecer os demônios e dores do passado que a perseguem.

Ele é um homem vivido, tem como irmãos os dois melhores amigos e é o mais respeitado, para não dizer o mais temido, juiz federal de Dublin, capital irlandesa.

Em seu primeiro dia de trabalho, Sara conhece um homem que não sairia da sua cabeça tão cedo e será preciso toda a sua força de vontade para manter-se longe dele, como seus instintos pedem.

Neill não é homem de desistir fácil e nunca fugiu de um desafio. O que ele quer, ele tem e não será diferente com a garçonete loirinha que povoa seus sonhos desde que a viu pela primeira vez.

Nessa batalha entre o instinto de sobrevivência e o desejo, quem será o vencedor?

***

Prólogo

Sara, aos seis anos de idade, era uma criança como todas as outras; saudável e feliz. Victoria Travis, sua mãe, desgastada pelo passar do tempo e problemas da vida, via na filha a beleza que tivera um dia e não poderia estar mais orgulhosa.

Sara era sua única filha, fruto de um breve e irresponsável relacionamento que tivera com um quase desconhecido no passado. Era feliz criando a filha sozinha; Sara era a menina dos seus olhos e Victoria batalhava todos os dias trabalhando em um escritório de advocacia caindo aos pedaços e meia boca para dar o que havia de melhor para ela.

Sara era uma boa menina. Nunca deu trabalho e sempre se comportou muito bem. Era bondosa, carinhosa, estudiosa, mesmo ainda tão nova, além de linda por dentro e por fora.

Sara tinha sete anos quando sua mãe, após anos sem se envolver com ninguém, disse estar apaixonada e, um mês depois, se casou. Aquele foi o dia mais feliz da sua vida. Finalmente teria um pai! Finalmente teria a quem entregar os presentes artesanais que fazia na escola todos os anos em comemoração ao dia dos pais, finalmente poderia conversar com as coleguinhas que contavam animadas que "meu pai é muito legal".

Para Victoria, apaixonar-se de novo foi um milagre que ela não esperava ou sequer imaginava; a última vez fora há quase dez anos, quando ainda não tinha Sara e ela estava feliz por amar e ser amada outra vez. Mas, principalmente, estava feliz em poder dar um pai para sua filha.

Anthony era um homem já de certa idade, sério, charmoso e muito rico, o que para Victoria não era o principal, ela era feliz apenas sendo desejada, mas o dinheiro seria um bônus muito bem recebido.

Os primeiros anos após o casamento foram os mais felizes para a pequena família. Anthony assumiu Sara como sua, assim como todas as despesas da sua agora família e dos poucos familiares da esposa. Como provedor da casa, passou a ter o controle da casa e afins, o que causou estranheza para Victoria no começo; não demorou muito até ela se acostumar com a sua nova realidade e vivia feliz na casa enorme e maravilhosa que o marido lhe dera.

Mais importante que tudo, via sua filha crescer saudável, segura e a cada dia mais bela, ao lado de um homem que bancava todos os seus caprichos de mulher recém-descoberta rica sem reclamar.

Sara cresceu e com o tempo tornava-se precocemente uma garota com curvas onde meninas de nove anos ainda não tinham, seios já em formação e um rostinho de boneca, junto com os olhinhos azuis sempre iluminados e os cachinhos loiros que arrancavam suspiros por onde ia.

Victoria ensinava a filha como se vestir, uma das suas maiores alegrias como mãe de menina, lembrando-se de quando fora ela que tivera toda aquela beleza angelical e não cansava de dizer para todos aqueles que parassem para ouvir sobre como a sua filha era a sua cópia mirim.

E foi então que os olhares paternais de Anthony para a menina tornaram-se mais demorados e as brincadeiras no "colinho do papai" começaram a ser constantes.

Sara não sabia o que seu pai estava fazendo quando a abraçava forte demais, quando apalpava seu corpinho semi-desenvolvido, mas nunca reclamou para a mãe. Tinha medo que ela brigasse com ele e, chateado, ele deixasse de ser seu pai.

Não gostava quando o pai, nessas brincadeiras, tentava beijar a sua boca ou pôr a mão nas suas partes de menina. Ela sorria com estranheza e pedia baixinho que ele parasse, dizia que não estava gostando daquilo, mas sempre baixinho, com medo de magoá-lo e sem entender por que ele gostava de brincar assim.

Sara amava o pai; ainda assim que se conheceram ele a chamou de "minha pequena" e ele, embora não fosse o seu pai verdadeiro, era o melhor pai do mundo. Ele a abraçava apertado quando retornava do trabalho, passeava de mãos dadas com ela no parquinho perto de casa e a deixava brincar por horas e horas sem parar de sorrir, eles tomavam sorvete escondido da mãe, ele fazia questão de deixá-la todos os dias na escola, a ensinou a andar de bicicleta sem rodinhas e a jogar bola.

Sara agora sabia o que era ter um pai e ela o amava, só não conseguia entender que tipo de brincadeira era aquela em que o pai tocava em partes do seu corpo que nem ela mesma tocava.

As brincadeiras sempre aconteciam quando ele chegava do trabalho, enquanto a mãe preparava o jantar. Antes, quando o pai gostava de brincadeiras que ela entendia, ela o esperava ansiosa, pulando em frente a porta, sempre com um brinquedo na mão. Agora, ela se escondia no quarto, fingia dormir, porque não gostava mais do que o pai fazia e tinha vergonha de dizer para ele ou para a mãe.

Até que um dia Victoria entrou no seu quarto, onde Anthony a levou assim que tomou banho, como todos os dias, e a viu ajoelhada entre as pernas dele, lágrimas nos olhos e a cabeça baixa, tentando fazer o que o pai mandava.

Sara viu a porta abrir e viu a silhueta da mãe pelo canto dos olhos. Sentiu Anthony parar de alisar seus cabelos por uma fração de segundo antes de continuar como se nada tivesse acontecido. Sara fechou os olhos, envergonhada, mesmo sem entender, e esperou. Pelo que, ela não sabia, mas esperou por alguma coisa, qualquer coisa, porque qualquer coisa seria melhor do que o que sempre acontecia naquele quarto com todas as luzes acesas e agora que a sua mãe sabia, ela com certeza faria alguma coisa, não importa o que fosse.

Então Sara esperou.

E esperou.

Os segundos passavam e Sara começou a se perguntar se a mãe gritaria. Se perguntou o que ela diria. Se perguntou se ela faria um escândalo tamanho que alertaria até os vizinhos. Se afastaria o marido da filha. Se diria que aquilo estava errado. Se pediria a Anthony para não fazer mais aquilo.

Sara se perguntou se a mãe sabia o que estava acontecendo e se a ajudaria a entender.

Se perguntou se receberia ajuda, mesmo sem entender.

Victoria desconfiava. Os sinais estavam todos ali. Viu os olhares do marido para a filha e a menina que antes esperava pelo pai ansiosa agora se escondia no quarto e fingia dormir e ela viu tudo. Só precisava ver com os próprios olhos, só precisava ter certeza.

Victoria não gritou, não o afastou da filha, não disse nada.

Viu a menina chorando, o marido vermelho de excitação e só deu meia volta e fechou a porta do quarto.

Sara não entendeu a reação da mãe, também não entendia o que o pai fazia e não sabia o que fazer. O pai gostava de brincadeiras que ela não, a mãe aceitava o que ele fazia e a ela, uma criança, restou apenas aceitar.

Uma única vez, poucos meses depois daquele dia, ela perguntou para a mãe o que era aquilo que o pai a obrigava a fazer e por que ela tinha que fazê-lo. Victoria, triste por não poder protegê-la, por não ter brio para isso, assustada por ver a filha ser abusada todos os dias e enciumada porque o marido não mais a procurava, mandou que a menina calasse a boca e não contasse isso para ninguém. Em um acesso de raiva, de si própria e também da filha, disse-lhe que aquilo era culpa dela e que ela deveria aguentar calada e fazer tudo que o pai mandasse.

Sara chorou até dormir por noites sem fim, sem entender como aquilo poderia estar acontecendo, sem ter com quem conversar porque a mãe a proibiu de sair de casa e triste com o pai que a machucava.

Por dois anos Victoria permaneceu calada, definhando a cada dia e observando o mesmo acontecer com a filha. Sara não mais sorria, chorava todos os dias e tudo sobre ela que a tornava um ser tão lindo aos poucos morria, tal como sua infância.

Aos onze anos descobriu na escola que o que o pai fazia com ela era errado. Que o que ele fazia não era coisa de pai, que pai nenhum põe a mão na calcinha da filha e ela sabia qual era o nome daquilo. A mãe também sabia e mesmo assim não fez nada.

Certa noite, Anthony chegou do trabalho estressado, com raiva e ao descobrir que a mulher ainda não havia feito o jantar, a espancou até ela desmaiar. Sara, trancada no seu quarto, tentando em vão evitar mais uma noite de abusos, ouviu os gritos da mãe pedindo por socorro e hesitou apenas por um segundo antes de sair do quarto e ir ao socorro de uma mãe que sua não era mais.

Não tinha raiva da mãe, pelo contrário; a amava e por isso mesmo não entendia como ela nunca fez o mesmo pela filha. Aquela era uma situação difícil, principalmente para ela, que por muito tempo sequer fazia ideia ou sabia denominar o que estava acontecendo. Uma criança, era ela. Não tinha culpa, os adultos que sim, mas ainda assim não conseguiu ignorar os gritos de dor da mãe.

A encontrou largada no chão da sala de estar, o rosto tão inchado e coberto de sangue que estava quase irreconhecível. Tentou levantá-la, chorou ao ver seu rosto tão machucado e a chamou baixinho, tentando acordá-la porque não conseguiria levantá-la sem ajuda.

Sentiu um toque no ombro e só naquele momento lembrou-se do pai. Inocente, pensou que talvez ele estivesse arrependido, que se desculparia pelo que fez com sua mãe, como sempre, porque aquela não era primeira vez que aquilo acontecia. Eram vítimas, as duas. A única diferença é que apenas uma delas podia fazer algo para mudar aquilo.

E, ainda assim, nunca o fez.

Sara pensou que ele a ajudaria a cuidar da mãe e virou-se para ele, esperançosa.

Anthony sorriu e Sara sentiu o medo paralisar o corpo.

Era aquele o sorriso que ela via no rosto do pai sempre que ele terminava de "brincar" com ela. Sempre que a fazia chorar, que a machucava de maneiras indescritíveis.

Aquele era o sorriso de um monstro, um que a quebrava, noite após noite, dia após dia.

Mas também era um sorriso novo. Alí havia crueldade, havia maldade e ela soube que aquele sorriso era o prenúncio de algo muito pior do que o que ele fizera à sua mãe.

Ele a pegou pela mão, falando gentilmente como sempre fazia, e a levou até o quarto. Daquela vez ele não fechou a porta; não precisavam daquilo, a mãe não estava vendo. Disse, enquanto tirava a roupinha de dormir dela que daquela vez eles fariam uma coisa diferente, mas que ela não precisava ter medo, o papai só queria tentar um carinho novo.

Sara mal se movia, mal respirava, paralisada pelo medo. Quando o pai tirou toda a sua roupa e a própria e tentou deitá-la na cama, foi então que ela percebeu e o medo que corria pelas duas veias daquela vez era acompanhado de algo a mais. Raiva, talvez. Ódio também, mas um ódio tamanho que ela se sentiu tremer dos pés à cabeça.

— N-não. – Sussurrou no até então silêncio do quarto.

Anthony parou o movimento que fazia para erguê-la e olhou bem para ela, ainda sorrindo, parecendo não ter entendido o que ela disse.

— O que você disse, minha pequena? — O tom de voz dele sempre era calmo e carinhoso quando falava com ela, mesmo quando a quebrava um dia por vez.

Sara respirou fundo uma vez, outra, chorando baixinho, as pernas trêmulas e molhadas de urina. Tentou ser forte e ter coragem ou pelo menos demonstrar ser, levantou o rosto e embora ainda tremesse e gaguejasse, disse em voz alta, pela primeira vez em anos de abuso:

— N-não — repetiu e quando Anthony deu um passo para trás, surpreso, ela disse novamente, dessa vez sem gaguejar: — Não.

Foi após aquele "não" choroso e amedrontado que ele a bateu pela primeira vez. Foi também após aquele "não" que ela passou de criança a mulher, de filha a brinquedo sexual.

Naquela noite, Sara chorou ao ter seu corpo violado por um homem agressivo e brutal, que a batia e sorria e gemia a cada grito que escapava por sua garganta.

Aquela também foi a primeira vez de dias, semanas, meses e anos de abuso em que Victoria, remendando as próprias feridas e abusos, cobriu as orelhas para não ouvir os gritos e o choro desesperado da filha, que a chamava implorando por socorro.

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